Depoimento sobre Estudar Psicanálise: Diálogo de uma mente borbulhante

Neste texto, a autora traz seu depoimento sobre estudar psicanálise: o que a motivou, quais os desafios, qual a importância sobre autoconhecimento e as possibilidades de mudança de carreira.

Minha mente sempre foi um campo muito fértil de ação. Uma mente borbulhante. Nunca penso as situações da vida rasamente, sempre busco analisar num giro de 360 graus com todas as suas nuances e seus envolvidos. E pra começar minha conversa, preciso falar um pouco sobre desafio e seu papel em nossa vida.

O ser humano é regido por desafios ao longo de toda sua existência. Inicia-se pelos desafios mais básicos de sobrevivência, que são mandatórios e naturais ao nosso desenvolvimento e à nossa adaptação ao mundo em que vivemos, como andar, falar, aprender a escrever, saber conviver em sociedade, respeitar o próximo, etc.

Muitos destes desafios nos são impostos pelo nosso próprio desenvolvimento motor, pelos nossos pais, pela sociedade, sem que deles pudéssemos opinar ou aderir voluntariamente. Caímos de paraquedas e nadamos até chegar na beira da praia para não nos afogar.

A situação muda um pouco à medida que crescemos e tomamos consciência de nosso papel e de onde queremos chegar, criamos objetivos para nossa vida, traçamos metas e assumimos desafios por iniciativa própria. Esses sim, são escolhas nossa, ninguém está nos impondo e ainda assim os queremos em nossas vidas.

Os desafios da vida adulta

Entramos na nossa etapa mais madura, lá por volta dos 30-40 anos e após vencidos tantos desafios e etapas importantes de escola, faculdade, casamento, filhos, trabalho estável que financie a nossa vida de forma satisfatória, o que nos resta da vida? Rotina, na maior parte do tempo.

Talvez um desafio de emagrecer aqui, porque fomos descuidados, ou de se exercitar ali, porque mais uma vez fomos descuidados, de visitar os pais com maior frequência, porque de novo, estamos sendo descuidados, ou algo similar.

Nossos “desafios” caem de nível e na maioria das vezes é mais reparativo de uma situação que não demos a atenção devida na hora certa, do que construtivo, de realizar algo novo para nós.

Mente Borbulhante: a virada de chave

Mas o que podemos fazer de diferente? O que esperamos de nós mesmos? Podemos fazer ou ser algo mais? Sim e não, na verdade, depende do que você quer para você e sua vida.

Geralmente na casa dos 40 acontece uma virada de chave na qual você questiona o porquê de tudo, inclusive da sua própria existência e seu papel neste lindo planeta azul.

Destes questionamentos podem sair tristezas, depressão, falta de vontade de continuar vivendo, mas também pode sair ânimo, garra, motivação, insight de fazer algo novo ou realizar algo que estava guardadinho dentro de você e que você sempre adiava.

E o que você escolhe? Voltar a estudar e estudar o que? Estudar Psicanálise Clínica! Pronto! Eis aí o seu grande desafio: romper a barreira da inércia e ter a coragem de se lançar num novo campo de saber, quando você já está afastada da academia há alguns anos e suas formações pregressas são bem distintas do que está se propondo agora.

Uau! Força, vamos lá!

Tomando decisões: meu depoimento sobre estudar psicanálise

Antes preciso destacar que essa construção não se dá do dia para a noite, você pesa prós e contras, se questiona se é isso mesmo, pesquisa uma série de escolas que oferecem o curso desejado, lê a respeito, lê textos, lê críticas, conversa com pessoas e no final de cada dia, você conversa consigo mesma (a mais importante conversa, por sinal), com sua consciência e pondera sobre o desejo de fazer aquilo.

E te digo, quando ela está “certa” do que quer, ela te dá trabalho, é incansável, não para e cada dia você se vê avançando mais um pouco para concretizar aquele objetivo que não é mais seu, é dela, da mente borbulhante.

Existe então uma mola propulsora que te impulsiona naquela direção para criar o encontro ideal entre o seu desejo e a realização dele. Porém, também saliento que nem tudo são flores, no meio do caminho.

Por vezes existem alguns fatores (resistência da família, percepção da idade avançada, de falta de tempo, etc) que funcionam como um recalque que te puxa para trás para te afastar daquele objetivo e enviar lá para a gaveta dos projetos arquivados seu tão sonhado plano e você passar a colecionar mais uma frustração na vida, similarmente ao conteúdo recalcado que foi bloqueado lá no seu inconsciente.

Vencendo e (re)começando

Pois bem, você consegue vencer todas as barreiras impostas: reais ou imaginárias e se lança para a realização do seu objetivo. Teve coragem, se matriculou e na empolgação já começou a estudar.

Passeou por toda a teoria introdutória, ficou fascinada pelos novos conhecimentos adquiridos, está cada vez mais empolgada e motivada a aprender mais, porém daí vem um mecanismo de defesa e lança um míssil em você com o questionamento: será que isso é para mim?

Você não está vendo que quase todos os grandes nomes que contribuíram significativamente para a construção da psicanálise que conhecemos hoje eram médicos?!

Isso, médicos! E sua voz interna lhe lembra, você não é médica. O que está fazendo? Está perdendo seu tempo? Daí como se isso fosse pouco, vem outro míssil, outra ideia para lhe convencer do contrário, ah e a maioria eram homens, é uma sociedade fechada e patriarcal!

Essa conversa continua rolando internamente e em nada lhe ajuda, não, ela só lhe atrapalha e lhe faz duvidar de você mesma.

Vencendo o patriarcado

Daí vem o pensamento: como sair dessa teia formada pela sua própria mente? De repente você tem uma luz, assim como um flash luminoso que lhe aparece, espera um minuto, tem a Melaine Klein! Sim, ela era mulher e até onde seu estudo avançou, ela foi a única mulher de destaque neste cenário do final do século XIX e início do século XX.

Com isso faz nascer em você um broto de esperança. Seus pensamentos vão em busca de mais conteúdo que lhe fortaleça.

Afinal, você percebe que tem uma luta de forças internas instauradas dentro de si:

• uma querendo lhe fortalecer e
• outra querendo lhe enfraquecer.

Então você tem uma nova lembrança: ela não foi descrita como médica, será que foi apenas um lapso do material?

Ou será que ela era outra coisa? Você segue em pesquisa e descobre que apesar de ter iniciado a faculdade de medicina, ela a abandonou, chegou a estudar história e arte, mas no final das contas, não teve nenhuma formação superior (como o modelo que conhecemos hoje).

Era tudo que você precisava, entrou em êxtase.

Encontrando uma inspiração em meio à mente borbulhante

Melaine Klein, o nome que lhe salvou da frustração ou do medo da síndrome do impostor, de achar que está ingressando num caminho que não lhe pertence e ao qual nunca seria valorizada e/ou reconhecida.

Ela fez ser possível novamente o seu objetivo de estudar Psicanálise e proporcionou uma mudança de pensar sobre si mesma, sobre suas capacidades, seu potencial e até onde você pode chegar.

Tudo bem que você não foi capaz de fazer isso sozinha apenas com o que tinha dentro de si, mas soube aproveitar muito bem a reflexão proveniente destes estudos iniciais e achou a sua “musa inspiradora”, o seu referencial positivo.

Pronta para os novos desafios: meu depoimento sobre estudar psicanálise

A paz foi instaurada novamente e a guerra interna teve o seu cessar fogo. Essa batalha foi vencida, mas sabe que muitas outras virão, pois o campo da nossa psique é muito vasto, complexo e em certo ponto desconhecido por nós mesmos.

É preciso um mergulho muito profundo no processo do nosso autoconhecimento e nos despir de vaidades e certezas que temos sobre nós mesmos.

Pois é a partir da humildade de saber que somos seres em construção e que morreremos inacabados, que conseguiremos realmente avançar no nosso progresso evolutivo, construindo e reconstruindo, significando e ressignificando nossas vivências.

Este depoimento sobre estudar psicanálise foi escrito por Valeska Frota, terapeuta Floral, especialista em pessoas e psicologia positiva. Atua em Salvador e em todo Brasil de forma online. Estudante de Psicanálise Clínica. Contatos: bio.site/valeskafrotaterapeuta; [email protected]