Assunto central para entender o que é neurastenia na sala de aula.

Professores estressados: a neurastenia na sala de aula

Publicado em Publicado em Psicanálise e Educação

Neste artigo vamos falar sobre professores estressados, e sobre o que é neurastenia e como isso afeta o dia a dia nas salas de aula.

O ser humano apresenta uma fragilidade para lidar com as pressões da vida.

Pressão como a exigência de desempenho profissional, exigências de resultados em geral como o cumprimento de metas, pressão em como ser melhor pai e mãe, melhor como filho(a), melhor profissional, melhor aluno.

Enfim, a cobrança da sociedade é que todos sejam melhores em tudo o que fazem, e, muitos, ao sentirem-se pressionados com a cobrança de ser melhor acabam por desenvolver um estresse psíquico, afetando sua qualidade de vida, quando não, afetam também aos que dele dependem.

Não raro o estresse psíquico tem se apresentado de forma intensa na vida de profissionais da educação, precisamente em professores atuantes em sala de aula de escola pública, em que o atendimento é a uma clientela que apresenta graus variados de desempenho no aprendizado, uma vez que a condição socioeconômica em que vivem não favorece um desempenho satisfatório.

Contexto para o surgimento de professores estressados

O professor enfrenta uma realidade paradoxal:

  • enquanto molda mentes, muitas vezes,
  • pode perder a própria saúde mental no processo.

O estresse ou esgotamento mental do docente não são problemas novos, mas sua intensidade e abrangência atingiram proporções alarmantes. Mas, o que está por trás desse fenômeno, e como ele pode ser compreendido e contornado?

Visto que a educação pública está, aos poucos, se ajustando às exigências da sociedade moderna, às mudanças do estilo de vida dos estudantes, ao uso de equipamentos tecnológicos cada vez mais sofisticados, é preciso que o profissional da educação esteja disposto a aceitar mudanças.

Isso inclui quebras de paradigmas, mudanças de concepção e apropriação de um novo método de ensino, com novas abordagens, para que o ensino/aprendizagem seja mais eficaz.

Isso tudo, para o professor, é um desafio sofrido, principalmente para os veteranos, cuja concepção de educação difere de novos conceitos.

Cenário desafiador: novas relações humanas, indisciplina dos alunos, superlotação de salas de aula

Esses desafios têm se tornado um peso para o professor, muitas vezes causando-lhe ansiedade intensa, comprometendo seu desempenho profissional, social e pessoal, resultando em afastamento da sala de aula por dias, meses e até anos.

Alguns chegam à condição de readaptação, até que chegue o tempo de sua aposentadoria. Tais professores dizem ter os sintomas de ansiedade, angústia, irritabilidade e alteração de humor.

“Marcelo Afonso Ribeiro, professor do Instituto de Psicologia (IP) da USP, explica que ao analisar possibilidades para as causas desse adoecimento é preciso partir do pressuposto que não são apenas condições pré-existentes dos docentes que pioram sua saúde mental. “O adoecimento, ao se manifestar, é produto das relações da pessoa com o contexto e das impossibilidades de se equilibrar mentalmente”.”

O material estudado no módulo 7, Psicopatologias II, apresenta a reação astênica (neurastenia) e seus “sintomas principais”:

  • Sentimentos de fraqueza, fadiga, falta de entusiasmo e queixas somáticas.
  • Dinâmica básica: Proteção do eu com relação à angústia despertada por situação insatisfatória de vida à qual o indivíduo se sente preso.
  • Extremo desânimo – sente-se muito cansado e doente para continuar a lutar.” (APOSTILA P. 121 e 122).

O estresse entre professores e outros sintomas

O estresse entre professores é frequentemente confundido com esgotamento mental, mas eles não são sinônimos.

  • O estresse é uma resposta imediata a desafios constantes, enquanto o esgotamento mental resulta da exposição prolongada ao estresse sem recuperação adequada.
  • Já a neurastenia, um termo menos usado hoje, designa um estado crônico de fadiga e irritabilidade resultante do desgaste emocional e físico.

Como se vê, os aspectos são correlacionados. Entendemos que o importante é identificar, amenizar ou extinguir causas que possam acarretar em situações extenuantes e angustiantes ao professor.

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Imagine um professor como um equilibrista que caminha sobre uma corda bamba, segurando não apenas livros e planejamentos, mas também expectativas irreais, pressão institucional e falta de reconhecimento.

É desgastante ter de lidar com turmas numerosas, currículos engessados e a falta de apoio emocional transforma a profissão. Tudo isso pode se tornar sobre-humano.

A pressão se acumula e se manifesta em transtornos psíquicos como ansiedade, síndrome de Burnout e depressão, muitas vezes silenciados pelo medo de parecerem frágeis.

Significado de Neurastenia: professores estressados e emocionalmente esgotados

“A neurastenia foi compreendida pelo autor Beard (1880), como resultado de uma mistura de predisposição constitucional – nervos fracos – e dos excessos despendidos em uma sociedade que requisitava altos gastos do estoque de energia nervosa.

Podemos centrar a neurastenia sobre esses dois principais pilares, igualmente importantes: a ideia de que a energia nervosa é escassa, e a pressuposição de que se trata de uma doença funcional, e no limite, orgânica.

Essa natureza dupla da neurastenia é também evidenciada por Schmiedebach (2001), para quem a doença é vista como um produto dos tempos modernos, da super excitação e das necessidades especiais do trabalho com o cérebro; ao mesmo tempo, supõe-se a existência de uma base somática, tal como uma perturbação nutricional da célula nervosa ou da constituição hereditária.”

Parece que os professores mencionados acima, encaixam-se nesses quadros de neurastenia, devido aos sintomas descritos, principalmente as crises de ansiedade que são recorrentes.

No entanto, o que se percebe é que eles querem e buscam encontrar o alívio imediato para os sintomas que estão sentindo no momento, então, recorrem a um psiquiatra e são medicados.

Porém há reação da medicação, inibindo o desempenho do profissional na atuação como professor, que acabam pedindo afastamento da sala de aula, considerando ser a causa verdadeira pelos sofrimentos que dizem estar passando.

Formas de tratamento de ansiedade, estresse e neurastenia em professores

Quando indagados se fazem alguma terapia concomitante ao uso de medicação, esses assim chamados professores estressados dizem ter iniciado o tratamento, mas não continuaram, mesmo com a recomendação de um médico psiquiatra, que prescreveu a medicação necessária para o momento.

Dá-se a entender que normalmente as pessoas optam por “não querer” aprender a lidar com situações que às vezes são desagradáveis e que causam desconforto, então, procurando alívio imediato buscam meios de fuga como apenas a medicação (que também é necessária) ou então, solicitando do médico afastamento do trabalho, mas quando retornam, o problema persiste, quando não com uma intensidade maior.

No entanto, uma vez que os desafios que as circunstâncias oferecem, e são inevitáveis, é crucial não ficar restrito a cuidados paliativos, que apenas trazem alívios momentâneos.

Professores estressados retratados no cinema, na arte e na filosofia

O tema do estresse e do esgotamento entre professores não é ignorada pela cultura, como se vê nessas indicações, que são recomendadas a professores e coordenadores pedagógicos que querem se aprofundar no assunto:

  • Filme “Entre os Muros da Escola” (2008): retrata os desafios diários do professor em um ambiente escolar conflituoso.
  • Filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989): trata da pressão do sistema educacional sobre professores inovadores, e também traz a esperança de como a atuação das pessoas podem questionar um sistema educacional.
  • Filme “O Substituto” (2011): revela o impacto emocional e psicológico da falta de conexão entre professores e alunos.
  • Livro “A Arte de Ensinar”, de Gilbert Highet: a obra discute o tema da inspiração, a profissionalização docente e os desafios emocionais dos educadores.
  • Livro “A Sociedade do Cansaço”, de Byung-Chul Han): obra fundamental para pensarmos como a exaustão é um sintoma de um sistema que exige produtividade extrema.
  • Documentário “Cortina de Fumaça” (2018) – o tema do burnout e da pressão psicológica no ambiente de trabalho é aprofundado neste filme, que não é específico sobre educação.

Hábitos para a qualidade de vida de professores estressados

Afinal, o que causa o estresse entre professores?

Em síntese, toda causa deve ser avaliada, principalmente a sobrecarga de trabalho, a pressão por resultados, a indisciplina dos alunos e a falta de reconhecimento são fatores determinantes.

O estresse impacta a saúde mental dos professores, podendo levar a transtornos como burnout, ansiedade, depressão e até mesmo doenças físicas relacionadas ao desgaste emocional.

Mas, é possível reduzir o estresse docente? Sim, com apoio institucional, espaço para diálogo entre coordenadores, professores, pais e alunos, formação emocional e melhoria nas condições de trabalho.

É importante que, para ter uma qualidade de vida saudável haja o empenho de buscar um tratamento mais eficaz. Recorridos a médicos especialistas, com medicação adequada e outros cuidados, a psicanálise é uma forte aliada para o tratamento.

Afinal, a Psicanálise permite a compreensão do próprio indivíduo, levando-o a organizar suas prioridades de forma que haja determinação e motivação para enfrentar os desafios presentes.

Referências bibliográficas:

  • Apostila módulo 7 – Psicopatologias II
  • Vídeo aulas do módulo 7
  • Jornal da USP – Condições de trabalho impactam a saúde mental de docentes. Disponível em: https://jornal.usp.br/?p=714798. Acesso em 15 de março de 2025.
  • Artigo – O que é a neurastenia segundo a psicanálise? Disponível em https://www.psicanaliseclinica.com/neurastenia/. Acesso em 16 de março de 2024.
  • Neurastenia – Disponível em: https://orienteme.com.br/blog/neurastenia/. Acesso em 15 de março de 2025.
  • Neurastenia – disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/CYdnWnv4wcB6ZN8Y7XbVdcd/?format=pdf. Acesso em 15 de março de 2025.

Este texto sobre professores estressados e saúde mental na sala de aula foi escrito por Luiza da Aparecida dos Santos Gaona, especialmente para o Blog Psicanálise Clínica.

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