O que é oniromancia ? Gênesis 41.1-56 retrata uma das experiências de José do Egito ao interpretar sonhos. Suas habilidades como intérprete já haviam sido testadas no capítulo 40 quando ele interpreta o sonho do padeiro e do copeiro chefe e agora ele está diante de Faraó.
Oniromancia na história: José e Freud como reveladores de sonhos
De acordo com a tradição, Faraó era considerado um deus vivo, logo sua angústia como monarca único traz alguns desconfortos a sua alma. Primeiro, isso é visto em onde o sonho se desenvolve, “às margens do Nilo”.
Para os egípcios, o Nilo representava fertilidade através do ciclo da água. Outro elemento importante no sonho é o fato de faraó ter visto vacas que são uma representação da deusa Hathor, filha de Rá, uma deusa responsável pelo cuidado da via láctea.
A tradição egípcia dizia que essa deusa enchia a bacia do Nilo permitindo que os avançados sistemas de irrigação mantivessem as plantações irrigadas e prontas para a colheita, simbolizando a fertilidade e abundância da terra (Newman, 2012).
Oniromancia, uma tradição
Vemos esse fato ainda mais destacado quando Faraó menciona as sete espigas de milho. De acordo com a tradição do midrash, Faraó não deu ouvidos imediatamente as interpretações de José, no entanto, a simbologia (vacas e milho) do sonho e a lógica da interpretação de José o fizeram compreender que o sonho poderia ser uma profecia real.
Logo, Faraó creu pela simbologia. Nessa mesma linha de pensamento, há uma centelha de escatologia, visto que se Faraó se recusasse a ouvir a revelação, o Egito assim como a grande maioria dos povos seria extinta.
Logo, vemos que o sonho de Faraó é repleto de simbologia presente e futura e sua ação em prol daquilo que foi dito, os sonhos têm uma função biológica e transcendental, capazes de promover alterações no mundo psíquico e físico, não só por causa de sua natureza metafísica mas também por sua simbologia.
O transcendental
Desde os primórdios, o homem busca meios de compreender o transcendental por meios externos e internos a si, no entanto, a simbologia e análise dos sonhos precisa passar por um forte escrutínio, pois nem todo sonho será produto de revelação.
José era filho de Jacó, adorador de Javé, o Deus que se revela em sua Palavra e por isso tem autoridade sobre a ordem criada.
Sonho em Freud: oniromancia na psicanálise
No sonho de Faraó, bem como na interpretação de José, algumas orientações saltam aos olhos. O primeiro é o fato de que é necessário analisar a simbologia, contexto e ação. Esses elementos geram então o caminho para o segundo aspecto que é a ação. Faraó aprendeu a ser prudente na gestão do Egito.
Além de desenvolver virtudes, os nossos sonhos podem nos contar muito a respeito de nós mesmos. De acordo com Sigmund Freud, o sonho é a estrada real para o subconsciente (Freud, 1999). Freud traz duas dinâmicas relacionadas com o sonho.
A primeira é o conteúdo latente, que contém conteúdo onírico e inconsciente, além de estímulos sensoriais. Todos esses elementos se reúnem para formar aquilo que entendemos como sendo o sonho, quer sejam imagens ou até mesmo sons.
A segunda dinâmica
A segunda dinâmica é o conteúdo manifesto, que são as lembranças que temos do sonho. Ilustrando isso com o sonho de Faraó, vemos que os conteúdos latentes de sua psique eram ricos e vívidos.
Faraó, na condição de deus, estava limitado por sua psique ou mortalidade, logo, podemos especular que a angústia que lhe acometia o levava a crer que suas ações não eram suficientes para levar o Egito a grandeza, ele ia depender de quem era grande.
Segundo, o conteúdo manifesto do sonho é plenamente rememorado por ele, indicando a natureza real e vívida do sonho, enquadrado dentro da lógica.
O que os meus sonhos me dizem?
O sonho tem um conteúdo psíquico altamente enriquecido por detalhes da vida do próprio sujeito. Logo, entender e interpretar os sonhos pessoais requer humildade e lembrança para rememorar e reconhecer os elementos que cercam o sonho.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISEErro: Formulário de contato não encontrado.
O autoconhecimento é fator fundamental quando se trata de lidar com os sonhos pessoais. Questionar-se e buscar entender os elementos que conduziram a psique até aquele sonho podem ser boas formas de entender o que o inconsciente tenta comunicar, ou melhor dizendo, o que ele está tentando lançar na consciência.
Referências bibliográficas relacionadas a oniromancia
- Newman, S. O sonho de Faraó: Uma interpretação estendida. Jewish Bible Quarterly, 253, 40.
- Freud, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
Este artigo sobre Oniromancia foi escrito por Rafael Moreno ([email protected]), mestrando em educação, graduado em Letras, Teologia e Administração, Pós graduado em docência, filosofia e teologia.