Assunto central para entender como impor limites para crianças sob a ótica da Psicanálise.

Limites para Crianças: Como Estabelecer Sob a Ótica da Psicanálise

Publicado em Publicado em Psicanálise e Educação

A tarefa de estabelecer limites para crianças é, por vezes, desafiadora e permeada de dúvidas para pais e educadores.

A psicanálise, com sua rica compreensão do desenvolvimento psíquico infantil, oferece uma perspectiva valiosa sobre a importância e a forma como esses limites devem ser construídos. Longe de serem meras regras impostas, os limites, na visão psicanalítica, são elementos estruturantes da subjetividade e são essenciais para o desenvolvimento saudável da criança.

A Importância dos Limites na Formação Psíquica da criança

Para a psicanálise, a criança nasce em um estado de relativa indiferença entre ela e o mundo, especialmente a figura materna. Quer dizer que para o bebê recém-nascido, não existe uma distinção psíquica nítida entre ele próprio e o ambiente externo. Ele não se percebe como um indivíduo separado do mundo ao seu redor.

Só ao longo do seu desenvolvimento, ela vai construindo sua identidade e autonomia através de um processo de separação e individuação, e, é nesse contexto que os limites se tornam cruciais para a estruturação da criança, vamos saber mais detalhes?

Estruturação do Ego

Onde os limites ajudam a criança a internalizar a noção de que nem todos os seus desejos podem ser imediatamente satisfeitos. Essa frustração, quando administrada de forma adequada, contribui para o desenvolvimento do ego, a instância psíquica responsável pela mediação entre os impulsos internos (id) e as exigências da realidade externa.

Reconhecimento do Outro

Os limites ensinam a criança a reconhecer a existência do outro, com seus próprios desejos e necessidades. Ao se deparar com um “não”, a criança começa a entender que o mundo não gira em torno de si e que existem regras e convenções sociais a serem respeitadas.

A partir daqui, se dá o desenvolvimento da Capacidade de Adiar a Gratificação. A imposição de limites saudáveis auxilia a criança a desenvolver a capacidade de tolerar a frustração e adiar a gratificação de seus desejos. Essa habilidade é fundamental para o desenvolvimento da maturidade emocional e para a adaptação à vida em sociedade.

Segurança e Continência

Os limites oferecem à criança um senso de segurança e previsibilidade. Saber o que é esperado dela e quais as consequências de suas ações proporciona um ambiente mais estável e confiável, essencial para o seu bem-estar emocional.

Internalização de Valores e Regras

Através da interação com as figuras parentais e educacionais que estabelecem os limites, a criança internaliza valores morais e regras sociais, que se tornarão parte de seu superego, a instância psíquica responsável pela consciência moral.

Como Estabelecer Limites de Forma Psicanaliticamente Orientada

A psicanálise não oferece um manual de instruções rígido sobre como impor limites, mas sim ajuda pais e educadores a usar os princípios que ajudarão nessa tarefa complexa!

Consistência e Clareza:

Os limites devem ser consistentes e claramente comunicados à criança, evite mudanças ou rodeios nas mensagens, pois essa forma de comunicação pode gerar confusão e insegurança. A criança precisa saber o que é esperado dela e quais as consequências de ultrapassar esses limites.

Empatia e Compreensão:

Ao estabelecer um limite, é importante reconhecer e validar o sentimento da criança, mesmo que o comportamento não seja aceitável. Use Frases como “Eu entendo que você está chateado por não poder brincar mais agora, mas já está tarde e precisamos dormir”.

Essa comunicação demonstra empatia e ajuda a criança a se sentir compreendida.

Explicação Adequada à Idade:

As razões por trás dos limites devem ser explicadas de forma simples e adequada à capacidade de compreensão da criança. Evite justificativas longas e complexas.

Foco no Comportamento, Não na Pessoa:

O limite deve ser direcionado ao comportamento inadequado, e não à criança como um todo.

Use uma linguagem clara, em vez de dizer “Você é muito malcriado”, diga “Não é permitido bater”.

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Utilização do “Não” de Forma Consciente:

O “não” deve ser utilizado quando realmente for necessário, para evitar que perca seu significado e impacto, o excesso de proibições pode gerar frustração excessiva e até mesmo rebeldia.

O ”não” representa uma barreira a essa busca imediata pelo prazer, que, para criança pequena, essa negativa pode ser interpretada como uma agressão ou um impedimento incompreensível ao seu mundo de desejos ilimitados, pois o ego, a instância psíquica responsável pela mediação entre os impulsos do id (desejos) e a realidade externa, está em processo de formação nos primeiros anos de vida.

A criança ainda não possui a capacidade plena de avaliar as consequências de seus atos ou de compreender a necessidade de adiar a gratificação.

Outra observação importante aos pais e educadores é que as crianças aprendem muito por imitação. Os pais e educadores devem ser modelos de comportamento verbais e não verbais respeitosos e de cumprimento das regras, pois elas ouvem tudo o que é falado ao redor, e repetem tudo, como os gestos e atitudes.

Reconhecimento e Reforço Positivo

Além de estabelecer limites, é fundamental reconhecer e reforçar os comportamentos positivos da criança. Elogios e demonstrações de afeto incentivam a repetição de atitudes desejáveis.

Considerar a Fase de Desenvolvimento:

As necessidades e a capacidade de compreensão da criança variam de acordo com a sua fase de desenvolvimento, então os limites devem ser ajustados a essas particularidades.

Observação Atenta:

Em situações mais complexas, quando os pais ou educadores encontram dificuldades significativas em estabelecer limites ou quando a criança apresenta comportamentos desafiadores e persistentes, é valioso buscar a orientação de um profissional da psicanálise.

Os Desafios e as Nuances para estabelecer limites não é uma tarefa linear ou simples, envolve lidar com a resistência da criança, com os próprios sentimentos de culpa ou insegurança dos pais e educadores, e com as diferentes dinâmicas familiares e escolares.

Sempre lembrando que cada criança é única e que a forma como os limites são internalizados varia de indivíduo para indivíduo e tempo diferenciado. É importante evitar tanto a permissividade excessiva, que pode levar a criança a se sentir desamparada e sem referências, quanto a rigidez autoritária, que pode gerar repressão e dificuldades no desenvolvimento da autonomia.

O ideal é encontrar um equilíbrio, oferecendo um ambiente seguro e estruturado, assim permitindo a expressão da individualidade e a exploração do mundo.

Conclusão, Estabelecendo Limites para Crianças

Estabelecer limites para crianças é um ato de amor e cuidado essencial para a sua formação psíquica. Ao oferecer uma estrutura clara e consistente, baseada na empatia e na compreensão, pais e educadores contribuem para o desenvolvimento de indivíduos mais seguros, autônomos e capazes de lidar com as frustrações e os desafios da vida.

Os limites são ferramentas importantes na construção de um psiquismo saudável e na integração da criança ao mundo social, e bem aplicadas estão longe de serem vistos como punições. Podemos transformar a imposição de regras em uma oportunidade de crescimento e aprendizado para as crianças.

Este artigo foi escrito por Viviane Stenzowski – Psicanalista pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica. Psicoterapeuta do Puerpério Emocional Pelo Instituto de Psicologia do Puerpério Emocional Ltda (41) 98864-6235

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