Pulsão de Morte

Muito além do prazer e a Pulsão de Morte

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Hoje falaremos sobre a Pulsão de Morte. Estudando psicanálise me surpreendo dia a após com as grandes contribuições para a humanidade que esta temática nos agrega, começando por Sigmund Freud e sua poderosa descoberta, o inconsciente seja na organização sistemática desta ou em estrutura, emergindo muito além das visões fisiológicas, ou somente científicas grandes princípios que norteiam a vida de todo ser humano, o prazer e a realidade.

Entendendo sobre a Pulsão de Morte

Analisando sua obra sobre a Interpretação dos Sonhos, de 1900, porém tão atual, debatida e que carrega métodos que usamos, seja em uma autoanálise ou na clínica, entendemos as diferentes formas que o inconsciente encontra de trazer a margem desse mar, chamado estrutura psíquica, conteúdos que se não respondem, mas se aproximam de análises mais profundas do que desejamos, almejamos, sabemos, vivemos, não compreendemos, talvez, ou até mesmo aqueles sintomas antigos, fantasias, memórias de fatos que em outro momento ficaram “para trás” mas permanecem “latentes” em nossa estrutura, bem como tantos outros elementos que perturbam a mente todos os dias conscientemente ou não.

O conceito de pulsão de morte na primeira vez que li, foi intrigante e até perturbador. Como podemos compreender uma pulsão interna que produz o desprazer, sendo que neste, também sentimos prazer, como fruto de um material do Id, do inconsciente? Uma vez que, segundo Sigmund Freud, a pulsão de morte é um conceito central onde todas as pessoas têm uma energia instintiva que nos leva a buscar a morte e a destruição, chamada de pulsão de morte ou “Thanatos”.

Essa energia é considerada como a antítese da energia de vida, ou pulsão de vida. Sendo esta, uma das forças primordiais da vida mental do ser humano e se manifesta durante toda a vida, desde os estágios iniciais do desenvolvimento da psique. Chamar de força é interessante porque nos leva a polaridade de que se tenho energia para viver, construir também a tenho em proporções iguais, menos ou maiores para destruir e morrer, seja simbolicamente ou literal. Essa força interna operando dentro do psiquismo humano responsável por forças destrutivas e autodestrutivas, como a agressividade e a tendência ao suicídio por exemplo.

A Pulsão de Morte e autores

Jacques Lacan, para mim e muitos autores que leio a respeito, expande o conceito de pulsão de morte, descrevendo-a como uma força que se opõe à pulsão de vida. Afirma que essa força era responsável pela criação de sistemas de crenças e valores que se opõem à vida e função social, levando a comportamentos autodestrutivos.

Lacan argumentou que a pulsão de morte é uma força que habita na base da cultura, operando sobre todas as interações sociais em um nível inconsciente.

Em termos básicos, se é que posso usar a palavra “básico” para argumentar sobre o tema tão complexo e por vezes paradoxal, um exemplo de pulsão de morte é a autolesão, como o ato de se cortar ou se queimar, parece contrária ao comportamento que visa à vida, mas é um comportamento que pode ser considerado como uma tentativa inconsciente de lidar com a dor emocional.

Sobre os comportamentos

Sinto que é como se a energia da vida que também é da morte, dois lados de uma mesma moeda que é o ser humano, precisa ser “descarregada” em algum lugar. Se me deparo com situações insuportáveis a minha compreensão, aceitação consciente minha mente pode sim gerar comportamentos autodestrutivos em uma descarga energética como forma de ecoar a dor emocional que carrego, o inconformismo com o luto (por exemplo), a

falência de um negócio importante, as decepções amorosas, o sentimento de solidão etc. Outro exemplo pode ser visto na violência e na agressividade, que muitas vezes parecem ser dirigidas contra os outros, mas que podem ser interpretadas como uma tentativa inconsciente de lidar com emoções negativas, estas que por vezes não aprendemos a lidar, não fomos ensinados a lidar, somos convidados pelas crenças e diferentes culturas ao positivo, a “ser bom” o tempo todo, a ter “boas maneiras”, pensar positivo, não desejar o “mal”, dar graças por tudo e por aí vai.

Vivemos imersos em uma poderosa onda contemporânea de positividade tóxica que por vezes recalca o que precisa ser “descarregado” de maneira ordenada, com apoio, instrução, orientação e muita das vezes até medicação se entrarmos na esfera da psiquiatria por exemplo.

A Pulsão de Morte e a compreensão da vida

Freud e Lacan exploraram esse conceito em suas teorias, enfatizando sua importância na compreensão da vida mental humana e dos distúrbios da mente e suas vertentes são fascinantes e “agressivas” em uma boa perspectiva uma vez que rechaça a visão romantizada da vida como plena, moralmente aceita e sem prejuízos a si mesmo. Na linha da expansão desse pensamento e conceito, Lacan traz ainda uma reflexão incrível com a frase: “o desprazer que é gerado pela pulsão de morte é paradoxal, pois mesmo sendo desprazer, ele também pode trazer uma sensação de satisfação”.

Essa frase me acertou precisamente, posso assim dizer, pois os casos e exemplos “básicos” citados anteriormente, carregam em si uma compreensão simplista da pulsão e completa até, contudo, quando trazemos o elemento do prazer a coisa muda de figura e responde tantos questionamentos meus pessoalmente e de pessoas que trato na vida profissional ou me relaciono pessoalmente.

Segundo Lacan, esse prazer no desprazer, ocorre porque a pulsão de morte está relacionada a um desejo inconsciente de retorno a um estado anterior, de anulação do eu, o que pode gerar um alívio momentâneo da angústia da existência que permeia tantas outras angústias “menores”, sub categorizadas dentro desta. Há muitos exemplos de pessoas que sentem prazer no desprazer e que repetem padrões de dor e sofrimento, como, por exemplo, indivíduos que abusam de substâncias, vícios, fixações, praticam comportamentos autodestrutivos em geral, seja má alimentação, rotinas exaustivas de trabalho, mantêm relacionamentos disfuncionais e repetem sintomas e fantasias da infância, tudo de maneira inconsciente.

A autodestruição

Essa pulsão para a autodestruição e o sofrimento é considerada uma manifestação da pulsão de morte e isso é incrível e de novo, perturbador e, acrescento, libertador. Outro exemplo é o de indivíduos que mantêm relacionamentos abusivos, caracterizados pela presença de violência psicológica ou física. Eles podem experimentar uma sensação de prazer ou alívio emocional ao receber atenção ou afeto do parceiro abusivo, mesmo que essa atenção seja negativa.

Além disso, a repetição desse padrão pode estar relacionada à busca pelo sofrimento, que pode estar ligada à pulsão de morte que em alguns casos pode estar relacionada a uma dor emocional “insuportável” de algo vivido na infância. A repetição de padrões de dor e sofrimento pode ser vista como uma tentativa de lidar com a pulsão de morte por esta via, a da repetição e como se fossemos repetindo, repetindo em uma busca por isso acabar, morrer, terminar e “fim”, uma vez que essa pulsão é considerada uma força que está dentro de todos nós e que nos impele em direção à destruição e ao desaparecimento.

Ao repetir padrões de dor e sofrimento, a pessoa pode estar buscando uma forma de lidar com essa força interna, mesmo que essa busca seja inconsciente e possa gerar mais sofrimento.

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    Conclusão sobre a Pulsão de Morte

    Contudo, vale ressaltar que a aparente satisfação é e sempre será ilusória e instável, pois a pulsão de morte é autodestrutiva e não pode ser satisfeita completamente, sabemos disso, mas quantos de nós não entrou por esse labirinto por anos e anos, repetindo inúmeros padrões de relacionamentos abusivos, por exemplo, alguns até vivendo síndromes graves, dando vazão a neuroses, psicoses e afins.

    Por isso, a análise do inconsciente me fascina cada dia mais, pois segundo a psicanálise, compreender as origens e manifestações da pulsão de morte, e como ela afeta a vida psíquica e emocional do indivíduo trará ao analisando minimamente uma supressão desses “sintomas”, reflexões e expansão de sua consciência e até mesmo a cura desses processos.

    Artigo escrito por Vanessa Rocha. Terapeuta Integrativa e Holística com registro ABRATH, Mestre em Reiki Usui Tibetano, anteriormente Gestora de negócios com MBA na Fundação Getúlio Vargas (FGV), certificação internacional em gestão de projetos (PMP), co-autora do livro “Mulheres no seguro”, bilíngue, Bacharel em Ciências Contábeis. Instagram: @vanrocha_reikimaster. Site: www.vanrocha.com.br.

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