Agatha Christie foi uma das maiores autoras da história, escrevendo mais de 60 livros ao longo de sua carreira.
Neste artigo, falaremos sobre o tema da fuga dissociativa, a partir de uma análise do desaparecimento de Agatha Christie.
O começo da trajetória de Agatha Christie
Nascida na Inglaterra no ano de 1890, recebeu sua educação em casa, e sua mãe insistia que não queria que a filha aprendesse a ler antes dos 8 anos. Apesar do desejo da matriarca, Agatha aprendeu sozinha a ler quando tinha apenas 5 anos, e assim iniciou sua paixão pela literatura.
Com o passar dos anos, a autora começou a escrever pequenos contos e histórias sobre investigações criminais e mistérios, e quando atingiu a idade adulta foi desafiada por sua irmã a escrever um livro, pois a irmã não acreditava que ela era capaz.
E foi assim que surgiu sua primeira obra, um mistério que deu início à uma carreira extremamente promissora.
Também nessa época, a autora se casou com seu primeiro marido, relacionamento que não era aprovado por sua mãe, pois, segundo ela, o homem acabaria traindo-a. Apesar disso, a autora manteve uma boa relação com a mãe ao longo dos anos que se passaram.
Dilemas familiares e depressão
Assim, alguns anos mais tarde, quando a mãe de Agatha faleceu, a notícia não foi bem recebida.
Foi reportado que Agatha sofria de um caso de depressão grave desde muito jovem, e, devido ao luto isso piorou muito pois também, logo em seguida, ela passou por outra situação traumática: descobriu que seu marido tinha uma amante, chamada Nancy Neele.
Essa sequência de eventos tristes em sua vida acabou afetando drasticamente a sua habilidade de escrever, fazendo com que tivesse um caso de “writer’s block” por meses.
O desaparecimento de Agatha Christie
Depois de um tempo sofrendo com esse caso de depressão, Agatha estava passando por uma estrada com sua filha no carro e viu uma pedreira e sentiu vontade de cometer suicídio, porém, se conteve pois não queria fazer mal para a criança.
Nessa mesma noite, após colocar a menina para dormir, a autora entrou no carro e foi em direção à essa pedreira.
No dia seguinte seu carro foi encontrado levemente batido na lateral da estrada, dentro dele estava a bolsa de Agatha com sua carteira de motorista e um casaco, porém, não havia nenhum sinal dela. Isso se transformou em uma busca nacional pela tão famosa autora, envolvendo mais de duas mil pessoas no caso.
Antes de sair, Agatha havia deixado algumas cartas, uma delas para seu irmão dizendo que ela iria para um Spa com o objetivo de descansar e tentar melhorar seu estado mental.
Depois de um determinado tempo de buscas que não tiveram nenhum sucesso, um membro de uma banda que estava tocando em um Spa mencionou ter visto uma mulher dançando que se parecia muito com a autora desaparecida, e ele estava correto.
Agatha realmente tinha ido para suas “férias” mencionadas na carta, mas naquele momento, ela era uma pessoa diferente: havia registrado no hotel com o nome Teresa Neele (mesmo sobrenome da amante do marido), e não tinha nenhuma recordação de sua vida anterior à noite do acidente.
As teorias sobre seu desaparecimento
A partir desse momento surgiram diversas teorias a respeito do que realmente estava acontecendo, porém, aqui trataremos do que a própria autora falou em uma entrevista nos anos 20, quando reforçou que havia perdido a memória.
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Levando em consideração que Agatha sofria de um caso de depressão há anos e havia passado recentemente por momentos difíceis, não é incomum que isso leve à um desejo por fugir da realidade atual. Além disso, sua mente estava habituada desde a infância a criar histórias paralelas, especialmente as de mistérios e desaparecimentos, e quando ela passou por um bloqueio criativo, pode ter influenciado a realidade criada após o acidente.
Nos estudos sobre psicopatologias temos o caso de Fuga Dissociativa, que nada mais é do que a perda de memória após eventos traumáticos, e com essa perda também ocorre a dissociação (física e psíquica), que leva o paciente a se afastar dos lugares que frequentava rotineiramente, como uma fuga da realidade atual com o objetivo de proteger a psique, criando também uma personalidade diferente que não tem conexão real com a vida anterior.
Durante esse período o paciente tem uma amnésia de tudo que ocorreu antes, exceto por capacidades aprendidas.
Sendo assim, pode levar uma vida relativamente normal, sem chamar muito a atenção de outros para si.
Agatha Christie foi encontrada: a questão da fuga dissociativa
Quando foi encontrada, Agatha Christie não tinha recordações de sua vida, porém, aceitou com facilidade o tratamento psiquiátrico que durou anos e fez com que Teresa Neele voltasse a ser Agatha Christie.
Entretanto, até o fim de seus dias a autora evitou falar do episódio, mencionando apenas em uma entrevista que não tinha recordações do ocorrido, pois acreditava que teve um caso de amnésia devido ao acidente de carro, que fez com que ela batesse a cabeça.
Em sua autobiografia de mais de 500 páginas nada disso foi mencionado.
Até hoje é possível encontrar diferentes teorias sobre seu desaparecimento, algumas inclusive mencionando que isso pode ter sido para ganhar visibilidade ou como vingança pela traição, porém, é importante lembrar que casos de transtornos depressivos não tratados e situações traumáticas podem mudar drasticamente uma pessoa, inclusive ao ponto de fazê-la perder-se de si mesma.
O presente artigo sobre o desaparecimento de Agatha Christie foi escrito por Gabriela Lauxen, estudante de Psicologia, atleta e professora.
2 thoughts on “Agatha Christie: sua trajetória e seu misterioso desaparecimento”
Olá! Lembrei de um caso de fuga dessociativa, acontecido há 50 anos atrás com um amigo. Ele andava muito deprimido e, de um momento pro outro perdeu a memória por uma semana. Nesses dias fez coisas que não sabia: andar de bicicleta, etc. Depois de uma semana, voltou a ser ele mesmo, porém sem recordar de nada.
Parabéns, pelo comentário histórico!