Vamos examinar neste artigo de opinião, sob o prisma da Psicanálise, a motivação de um delito muito cruel: o caso do ovo de chocolate envenenado, que ocorreu na localidade de Imperatriz, no Maranhão, no Brasil.
Uma mulher impactada pela frustração de uma relação afetiva matrimonial tomada por vendeta cogita e prepara ovos de Páscoa envenenados para atingir, em tese e a princípio, uma rival e acaba gerando um desfecho inesperado: dois filhos da rival vão ser hospitalizados e entram em óbito.
Um ‘case’ que abalou o Brasil inteiro de norte a sul, leste a oeste; após o episódio do bolo (torta) envenenado no litoral do RS.
Este delito do ovo de chocolate, entre outros de grande gravidade, é indicativo de tempos pós-modernos líquidos vaporizados que alguns já denominam de era do ‘homo demens’, ou seja, dos homens e mulheres dementes e que envolvem crianças, adultos e idosos em escala mundial.
Vamos examinar a questão sob as luzes das ciências psicanalíticas e, no fecho, ofertaremos resposta à seguinte problematização: Afinal, o que levou a pessoa a praticar um delito tão cruel e gerar óbito de duas crianças?
Histórico do Caso do Ovo Envenenado e sua Repercussão
O delito foi praticado em Imperatriz, no Estado do Maranhão, Brasil, que ocorreu em abril de 2025, onde uma pessoa, em tese frustrada com uma relação amorosa, localiza o ex-companheiro dessa relação do passado, já vivendo com outra pessoa e filhos.
Preparou os ovos de Páscoa e mandou entregá-los via aplicativo.
Ocorreu o desfecho onde duas crianças, uma menina de 12 e um menino de 7 anos, intoxicados com veneno (chumbinho), ingeriram, sentiram mal súbito, foram hospitalizados e vieram a entrar em óbito.
A família toda comeu os ovos de chocolate, mas as duas crianças não resistiram aos efeitos. O caso foi amplamente divulgado.
A autora do plano foi localizada e presa.
No curso das investigações, autoridades e agentes policiais descobriram atos de dissimulação e imposturas com provas robustas, e o caso ganhou projeção internacional.
O Superego e a Força Moral
Freud, ao realizar seus estudos, após ter rejeitado o uso de hipnose para acessar o inconsciente, sistematizou a sua percepção criando mecanismo de acesso diferente, como análise de sonhos, associação das palavras e ideais, visão dos chistes (piadas), dos lapsos, entre outros, e deixou bem claro nas suas duas tópicas, que o superego tem uma ligação bem estreita com a força moral e ética.
Ou seja, está alojado no superego essa força.
Uma pessoa que possui um superego fraco, ela é capaz de práticas de atos e fatos cruéis. Mas, não é somente isso. Na linha freudiana existem outros requisitos ou critérios.
Não basta apenas ter um superego fraco (força moral). O superego controla o id e o ego, tem uma influência muito grande. Mas, existem outros pontos de análises.
O Papel do Id via Tânatos e Eros
O ‘id’, onde estão alojados os instintos da pessoa, é resultado da fusão do ‘eros’ com o ‘tânatos’.
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Pois bem, em seu livro de 1920, com o título ‘Além do Princípio do Prazer’, Freud aplicou o conceito de ‘eros’ à psicanálise.
Ele se referiu a esse conceito como sendo um instinto de vida, que inclui instintos sexuais, desejo de viver, impulsos básicos como sede e fome, prazer, onde está o amor.
O outro conceito é a contraparte, chamada de ‘thanatos’ (tânatos), onde está alojado os instintos para o inverso, a contra força psíquica, que inclui o desejo de não viver, de morte, impulsos destrutivos.
Tânatos Proeminente como Condição Existencial
São pulsões em jogo. Isto inclusive ajudou a explicar porque muitos fetos se suicidam enrolando cordão umbilical no pescoço, ou tentavam. Muitos casos foram evitados com cesarianas.
Até então, muitos casos eram considerados acidente de extração da criança do útero. Depois, com o tempo, muitos casos, após ‘anamnese’ da genitora e sua história pregressa de vida e dados divisórios, foram elucidados e se auto explicando pela teoria da fusão do eros e tânatos formando o id.
De dentro do id surgirá o ego. De dentro do ego irá surgir e se estruturar o superego, que é a introjeção da cultura da pessoa, onde ela está inserida.
Complicadores Sociológicos e Era do Homo Demens
Pesquisadores da esfera psicossocial já conseguiram mapear muitos desses fatores ou complicadores sociológicos que se somam na psiquê da pessoa, ainda mais quem tem um tânatos proeminente, e geram efeitos graves.
Os principais que temos hoje em dia são os seguintes:
- o efeito da hiperexposição nas redes sociais, com celulares e outros instrumentos; a busca da felicidade; a fragilidade dos vínculos;
- a sensação de vazio existencial; o colapso das referências e valores; o ‘aqui-e-agora’ e o ‘já-provisório’ impulsionados pelas mídias;
- a crise do ‘ainda-não’, entre outros sendo prospectados.
Cada um desses complicadores ou fatores sociológicos merecem um enfoque aprofundado, porque trazem consigo registros fortes e marcantes no inconsciente de todos. Isso é algo mundial, global.
Emergiu um conceito que vem se ampliando: a era do homo demens. Ou seja, homens e mulheres dementes, mas também crianças e idosos. E os psicofármacos assumiram uma vanguarda médica.
Conclusão e Considerações Finais sobre o caso do Ovo Envenenado
Diante de tudo que acima foi exposto, por passos e etapas, tendo como balizadores os tópicos pré-selecionados para exame, e em face da problematização proposta para reflexão, tendo como suporte o caso dos ovos envenenados, um delito muito cruel, entre outros, que vêm emergindo de forma assustadora no tecido social não só brasileiro, ofertaremos uma resposta para a indagação:
‘Afinal, o que levou a pessoa a praticar um delito tão cruel e gerar óbito de duas crianças?’
Entendemos que a chave da explicação está alojada no inconsciente da autora que, em tese e a priori, tem um tânatos muito proeminente, e também, pela incidência dos complicadores ou fatores sociológicos, em que pese, seja necessário uma ‘anamnese’ e avaliação dos fatores divisórios cronológicos da vida pregressa.
Vale ainda destacar que esses delitos estão chocando o país todo e, para muitos analistas, fazem parte do repertório social já denominado de era do homo demens (homens e mulheres dementes) e da cultura da morte.
E por fim, existe também o enfoque dos teólogos clínicos, que argumentam a crise espiritual. O tema é complexo e merece muitas pesquisas que haverão de surgir no futuro.
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Edson Fernando Lima Oliveira é formado em Psicanálise. Realizou PG Psicanálise. Atualmente, cursando PG em Psicopatologia. Contato: [email protected]