O conceito de belo intriga filósofos há séculos. Sua definição envolve reflexões sobre a essência da beleza e os dilemas em torno de sua natureza subjetiva ou objetiva. Desde a Antiguidade clássica busca-se desvendar o que torna algo belo aos nossos olhos e mentes.
Origem do termo “belo” A palavra “belo” deriva do latim “bellus”, significando algo dotado de beleza segundo apreciação sensorial e mental. Era usado para descrever o que, por estilo, forma ou aparência, agrada à visão, audição ou espírito.
Portanto, implica um julgamento subjetivo e intersubjetivo, partilhado socialmente, sobre o que possuiria essa virtude intrigante. Mas o que exatamente confere beleza às coisas?
Estaria ela nos objetos em si ou apenas em nossas mentes? Esses dilemas movem o pensamento filosófico há séculos.
Beleza como participação na Ideia perfeita em Platão
O filósofo grego Platão, no século V a.C., acreditava que a beleza habita o reino transcendente das Ideias, separada do mundo material. Uma coisa seria bela conforme seu grau de participação na ideia suprema e imutável de beleza.
Assim, a beleza residiria num modelo inteligível perfeito, do qual os objetos belos perceptíveis seriam apenas cópias imperfeitas. Para Platão, o belo relaciona-se ao bem, verdade e perfeição absolutos.
Beleza como qualidade artística e proporção para Aristóteles
Seu discípulo Aristóteles, por outro lado, via a beleza como uma propriedade intrínseca à arte, domínio essencialmente humano. A beleza de uma obra derivaria de características mensuráveis como simetria, ordem e proporção.
A beleza na ótica medieval: reflexo da perfeição divina
Na Idade Média, pensadores como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino igualavam os conceitos de belo, bom e verdadeiro, entendidos como emanação da beleza supremamente perfeita de Deus. A beleza do mundo seria um reflexo sensível dos atributos sublimes do Criador.
Kant: beleza como harmonia e deleite desinteressado
Mais adiante, o filósofo alemão Immanuel Kant revoluciona o pensamento estético em sua “Crítica da Faculdade do Juízo”. Para Kant, a beleza não se funda em conceitos, mas numa livre harmonia entre imaginação e entendimento que gera um deleite contemplativo totalmente desinteressado.
Se algo é belo ou não é uma questão subjektiva, baseada no prazer proporcionado pela mera forma de um objeto. Porém, esse julgamento pessoal pode ter validade intersubjetiva. A experiência do belo envolve faculdades universais da mente humana.
Hegel: beleza como manifestação sensível da Ideia e do Espírito
Já para Hegel, a beleza, especialmente a artística, permitiria a manifestação sensível da Ideia, do Espírito e do divino. A arquitetura, por exemplo, ao impor forma e ordem à matéria inorgânica, permitiria uma aproximação à racionalidade suprema de Deus. Hegel via na arte e na beleza uma ponte entre matéria e espírito.
Beleza como construção social e histórica Em perspectivas contemporâneas, muitos veem a beleza não como um valor universal, e sim uma elaboração cultural contingente, produto de um tempo e local. Os padrões do belo mudam conforme contextos sociais, sem essências imutáveis por trás.
Porém, persistem arraigadas fascinações pelo tema, que ainda suscita acalorados debates. Será a beleza inteiramente relativa? Haveria algum núcleo comum a todas as concepções históricas de beleza? A busca por desvendar a natureza do belo e das experiências estéticas permanece mobilizando reflexões e teorias fascinantes.
Critérios históricos do belo na arte e arquitetura
Ao longo da história da arte, certos cânones estéticos foram propostos para definir padrões de beleza e harmonia nas obras humanas. Embora tais critérios variassem conforme épocas e culturas, é possível identificar algumas preocupações recorrentes.
Beleza clássica: simetria, proporção e perfeição formal
Na arte greco-romana, a beleza ideal relacionava-se à simetria, equilíbrio entre as partes, proporcionalidade e perfeição formal. Esculturas de corpos humanos buscavam encapsular um ideal de beleza física harmônica segundo os cânones clássicos.
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Prédios e templos também seguiam proporções matemáticas.
Idade Média: beleza como reflexo dos atributos divinos
Na Idade Média, a beleza artística deveria refletir a grandeza espiritual de Deus, portanto associava-se à luminosidade, proporção áurea, formas geométricas puras, ornamentação rica, materiais nobres como ouro.
A beleza sensível tanto da natureza quanto da arte apontava para a beleza suprema do Criador.
Renascimento: beleza antropocêntrica baseada na Antiguidade greco-romana
O Renascimento resuscitou ideais de beleza da Antiguidade Clássica: equilíbrio, simetria, proporção, cores vibrantes, figuras idealizadas. A beleza artística torna-se antropocêntrica, focada na dignidade e perfeição da forma humana.
Composições visuais utilizavam geometria para alcançar harmonia.
Século 20: ruptura dos cânones tradicionais do belo nas artes plásticas
O século 20 trouxe uma radical ruptura de padrões clássicos de beleza com vanguardas artísticas. Surrealismo, expressionismo abstrato, arte pop e minimalista subvertem o ideal do belo como representação harmônica, explorando dissonâncias, distorções, fragmentações, o feio e o casual.
A arte contemporânea problematiza as noções tradicionais de beleza.
Dilemas filosóficos em torno da beleza
A seguir, alguns dilemas que ainda desafiam nossa compreensão da natureza da beleza:
- Beleza é propriedade objetiva ou meramente subjetiva dos objetos e fenômenos?
- As coisas são belas em si mesmas ou nosso senso de beleza projeta valores estéticos sobre uma realidade intrinsecamente neutra?
- Há essencialidade ou imutabilidade no conceito de beleza ou ele é inteiramente maleável e culturalmente relativo?
- Nossa experiência do belo revela algo sobre a natureza profunda da realidade e da mente humana?
A busca por desvendar tais enigmas em torno da percepção estética e do fenômeno do belo segue instigando mentes perspicazes. Tal investigação revela muito sobre nossa subjetividade, nossos anseios de ordem e significado, e nossa perpetua insatisfação com o caos do mundo.
Considerações finais sobre o conceito de belo
Enfim, o fascínio do ser humano pela beleza e pelas experiências estéticas permeia toda nossa história. A busca por desvendar a natureza do belo mobilizou diversas correntes da filosofia em reflexões que cruzam ética, metafísica, psicologia e fenomenologia.
Embora não haja consenso sobre uma definição objetiva, o debate em torno da beleza revela muito sobre nossos anseios subjetivos por ordem, significado e transcendência. Estudar o belo é aprofundar questões fundamentais como o papel dos sentidos, emoções e razão em nossa relação com o mundo.
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