Personagem Coringa em Batman: interpretação da Psicanálise

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Um dos maiores vilões da ficção carrega uma composição visceral que nos atinge de forma inconsciente. Desde sua criação, mais ainda depois do filme de 2008, captamos mensagens que remetem a uma natureza sombria que podemos esconder. Leia o artigo abaixo onde destrinchamos a natureza do arquétipo de louco construída pelo Coringa.

A insanidade em um mundo são

O Coringa deixou a sua marca no universo em que vive e em muitos leitores ao longo do tempo. Sua natureza errática e aparentemente sem motivação direta contrapõe as regras estabelecidas pela sociedade em que vive. Para os outros, o louco é a representação máxima do descontrole emocional. Porém, em sua perspectiva, o personagem acredita ser um dos poucos sãos.

O palhaço acredita em sua natureza e atitude, defendendo que o ambiente em que vive o alimenta sobre isso. Em suas palavras, os loucos são reflexos da verdadeira realidade mundana. Quem se entrega a um normalismo existencial não vive absolutamente bem em qualquer aspecto da vida. Isso porque luta para se encaixar a um padrão e contrapõe seus instintos.

Com isso, observamos que:

A loucura era um escape

A composição exigida pelas regras estabelecidas socialmente contraria a estrutura da natureza humana. Somos regidos por determinados impulsos que são marginalizados pelos demais, os associando a uma imoralidade. Contudo, quem estabelece as regras do que é moral ou não? E por qual motivo deve se seguir com isso?

O Coringa condensa em suas atitudes que a loucura é uma zona de conforto porque não existem regras. Os indivíduos em sua confusão mental podem viver livremente pois as regras do mundo não se aplicam a eles. Não existe um peso em contrapor o que guardam em si, por isso é mais confortável permanecer na insanidade.

A introvisão

O palhaço resgata um conceito abordado em diversas cartas onde sua figura está vendada. Isso remete à influência do seu instinto guiando as suas ações. Olhando unicamente para si e ignorando o mundo externo, encontra as ferramentas que precisa para se guiar através do autoconhecimento.

Dessa forma, construindo uma sabedoria intuitiva a partir de si mesmo, encontra as respostas e rotas que precisa.

A relação de dependência

O Coringa é um dos vilões mais perigosos já inventados. De forma astuta, esconde o seu grande intelecto e capacidade por trás de uma imagem frágil e raquítica. O adereço visual serve como forma de se manter à frente das pessoas. Se a sua presença não intimida tanto, não há com o que se preocupar e é justamente disso que se vale.

Dentre as maiores barbaridades que cometeu, encontrou diversas oportunidades de matar o Batman, mas por que o Coringa não o fez? Um de seus maiores inimigos, se não o maior, estava com a vida em suas mãos e fora poupado. A explicação se encontra na composição existencial dos personagens, tão oposta, mas também semelhante.

Mesmo sendo seu inimigo, Batman entende de verdade quais as motivações do palhaço. Ele, talvez mais que qualquer outro, sabe o porquê de o Coringa ser quem e o que é. Da mesma forma, ocorre o caminho inverso, já que o criminoso tem a mesma percepção. Há uma relação de dualidade e dependência que separa e une esses dois personagens.

Características

O Coringa carrega aspectos comportamentais que o diferem da maioria dos outros vilões. É o arquétipo perfeito da figura de uma pessoa louca, se levando ao limite sem qualquer limitação moral. Talvez seja por isso que é tão temido: há uma incerteza que paira sobre sua mente e amedronta quem é são. Além disso, também identificamos:

Sadismo

As regras da sociedade pouco significam para este homem. O mesmo se divertiu ao assassinar e torturar um dos Robins e a Batgirl respectivamente. Além disso, nem a esposa do Comissário deixou de ser poupada por sua loucura. O palhaço vai na contramão do que sentimos ao sadismo: ele não o inibe, mas se alimenta dele sem culpa.

Imprevisibilidade

O palhaço elabora ideias de forma complexa e contraria qualquer aspecto racional nosso. Dessa forma, é bastante difícil segui-lo com determinada ordem. Isso porque o mesmo não se apoia em um padrão convencional de pensamento, se guiando pela parte oculta da mente. De forma simplória, muda da água para o vinho.

O louco na história

Assim como era antigamente, o louco não tem um discurso ativo em sociedade. A sua natureza confusa entrava em conflito com os demais e por isso suas palavras precisavam ser ignoradas. Se o fluxo psicossocial do mundo não lhe cabia, ele também não devia pertencer a ele.

Da mesma forma é a relação que o Coringa desenvolve com a realidade de Gotham City. Para o lugar fictício, o palhaço é um criminoso de alta periculosidade por transgredir as normas da cidade. Ele deve sofrer uma intervenção, já que não obedece aos parâmetros construídos como normais ao local.

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    Para ele, ao contrário dos demais, não existem as linhas do conflitante limite, algo que pressiona os habitantes da cidade.

    Composição física: do caos para uma normalidade existencial

    O Coringa, assim como sua desordem, possui um dos visuais mais chamativos das hqs. Ainda que pareça infantil esse exagero, é justamente suas roupas que condensam os diversos opostos que este carrega. Mesmo que concentre a imagem de palhaço que este tem, possui um espírito discordante em si mesma.

    Contudo, há um modelo visível por debaixo daquele caos. Suas roupas espalhafatosas são as pontes da realidade mundana pervertida pela confusão de sua mente. Ademais, o seu sorriso também carrega a distorção de seus pensamentos inconsistentes. O que era para causar harmonia acaba sendo usado como forma de aterrorizar os demais.

    Comentários finais: Coringa

    A Psicanálise reserva um quadro especial ao Coringa, tanto pela sua formação, como pela representação. O personagem condensa a imagem de tudo aquilo que lutamos para aprisionar em nós. Nossa identificação e aparente empatia por ele se resume a uma introjeção à nossa própria imagem. O palhaço tem a liberdade que muitos de nós queriam.

    Contudo, tal liberdade tem um preço alto demais a ser pago. Precisaremos infringir as regras que conduzem o mundo em que vivemos a fim de sermos “livres”. Portanto, a supressão consciente e inconsciente desses impulsos se faz vital a uma vida “mais encaixada” e sadia. Resgatando o título de filme oitentista, “De médico e louco todo mundo tem um pouco”.

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    6 thoughts on “Personagem Coringa em Batman: interpretação da Psicanálise

    1. José Lourival Pereira de Moraes disse:

      Essa leitura é uma boa introdução para saber o que estudar

      1. Psicanálise Clínica disse:

        José Lourival, obrigado por sua mensagem e por nos acompanhar em nosso blog. Equipe Psicanálise Clínica

    2. David Ferreira da Silva disse:

      Muito boa a interpretação desta personagem que, como o tipo “vilão” de modo geral, deixa muitas vezes em sua esteira, alguma sensação identificatória ou de relativa simpatia, talvez pela excitação da vontade de romper com as amarras sociais que fazem oscilar, sorrateiramente (inconscientemente), a balança do prazer-desprazer na adesão ao ético-moral.
      Também o antagonismo com o Batman aponta a percepção da alteridade como elemento que define, mas também confunde.
      Obrigado!

    3. César Samblas Boscolo disse:

      Sempre adorei o Coringa.
      Parabéns pelo artigo.

    4. Daise Teresinha Jacob Jacob dos Anjos disse:

      O filme “O Coringa” traça a jornada de Arthur Fleck, um homem atormentado por traumas da infância, negligência e doenças mentais. Sua fragilidade se intensifica em uma sociedade cruel e desigual, onde é constantemente humilhado e violentado. Gradualmente, Arthur se desintegra, mergulhando em um mundo de delírios e violência, culminando na figura icônica do Coringa.
      “O Coringa” é um filme complexo que oferece uma análise profunda da mente humana em suas nuances mais sombrias.

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