Nos últimos anos, a ideia de empoderamento feminino tem sido amplamente discutida em diversos espaços, desde movimentos sociais até campanhas publicitárias.
No entanto, uma questão importante e muitas vezes negligenciada é a maneira como o empoderamento feminino é retratado na mídia, e como essa representação pode gerar um entendimento distorcido sobre o corpo e a sexualidade da mulher.
Sobre o empoderamento feminino
Uma das formas mais comuns de distorção é a objetificação da mulher, em que ela é reduzida a um objeto sexual, separada de sua subjetividade e da totalidade de sua identidade. Essa visão pode afetar profundamente a vida sexual da mulher, gerando dificuldades em áreas como a obtenção do orgasmo, que, segundo a psicanálise, está intimamente ligada ao reconhecimento e à valorização da mulher em sua totalidade.
Nos meios de comunicação, a mulher frequentemente é representada como um objeto de desejo, com ênfase em sua aparência física e na performance sexual. Campanhas publicitárias, filmes e até mesmo algumas redes sociais reforçam a ideia de que o empoderamento feminino está diretamente relacionado à capacidade da mulher de seduzir e de se submeter aos padrões de beleza impostos pela sociedade.
Esse tipo de imagem transmite uma concepção distorcida de empoderamento, pois, ao invés de fortalecer a mulher enquanto sujeito, ela a reduz à sua função de objeto sexual.
O empoderamento feminino e o olhar masculino
A objetificação sexual da mulher implica que seu valor é medido em função de sua atratividade física e da capacidade de agradar ao olhar masculino. Quando a mulher é vista apenas como um objeto de prazer, ela perde a conexão com suas emoções, desejos e experiências subjetivas.
Esse processo de despersonalização pode gerar um impacto profundo na vivência de sua sexualidade, especialmente em relação à obtenção do orgasmo. De acordo com estudos sobre a sexualidade feminina, muitas mulheres enfrentam dificuldades em alcançar o orgasmo durante a relação sexual.
Essa dificuldade não pode ser atribuída apenas a fatores biológicos ou fisiológicos, mas também a questões psicológicas e culturais. A psicanálise, que estuda o inconsciente e os processos psíquicos que influenciam o comportamento humano, oferece uma abordagem interessante para compreender as razões que levam muitas mulheres a não experienciar o prazer sexual de maneira plena.
O corpo e a mente
Uma das principais causas apontadas pela psicanálise para a dificuldade de se atingir o orgasmo feminino é a desconexão entre o corpo e a mente da mulher. A objetificação sexual da mulher leva a uma dissociação de seu prazer, pois ela é ensinada a se ver como um objeto de desejo, e não como sujeito ativo de sua própria sexualidade.
Esse distanciamento pode levar a uma vivência superficial da sexualidade, onde a mulher se sente pressionada a atender às expectativas externas em vez de explorar e vivenciar seus próprios desejos e sensações. Para Freud, o fundador da psicanálise, dedicou uma parte de seus estudos para a compreensão da sexualidade humana, embora suas ideias sobre o prazer feminino tenham sido controversas e, em muitos casos, desatualizadas.
Para ele a sexualidade feminina estava ligada ao complexo de castração, e muitas de suas teorias sugeriam que o prazer da mulher estava, de certa forma, condicionado ao prazer masculino. Isso refletia uma visão profundamente patriarcal da sexualidade, que não levava em consideração as experiências subjetivas da mulher.
A Psicanálise e o empoderamento feminino
No entanto, com o tempo, a psicanálise evoluiu, conforme outros estudiosos e conhecimentos mais detalhados, graças a conquista de direitos, liberdade de expressão e globalização.
Para que o empoderamento feminino seja genuíno, é necessário que a mulher se reconecte com sua sexualidade de maneira plena e autêntica, entendendo que o prazer não deve ser algo imposto ou condicionado pela visão de outrem.
O verdadeiro empoderamento está na capacidade da mulher de se reconhecer como sujeito de seu corpo e de seus desejos, sem as pressões externas que a reduzem a um mero objeto sexual. Isso implica em um processo de autoconhecimento e autovalorização, que inclui tanto o reconhecimento de suas necessidades e desejos sexuais quanto a capacidade de afirmar esses desejos sem medo de julgamento ou represália.
A expressão sexual
Esse processo de afirmação pessoal é fundamental para que a mulher possa viver sua sexualidade de maneira satisfatória, alcançando o orgasmo não como um objetivo imposto, mas como uma consequência natural de sua liberdade e expressão sexual.
A distorção do empoderamento feminino, muitas vezes associada à objetificação da mulher como objeto sexual, tem sérios impactos na vida sexual feminina.
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A dificuldade de se alcançar o orgasmo, analisada sob a ótica psicanalítica, reflete um quadro de desconexão entre corpo e mente, onde a mulher se vê reduzida ao papel de objeto de desejo e perde a capacidade de vivenciar plenamente sua subjetividade sexual.
Conclusão sobre o empoderamento feminino
Para que a mulher possa experimentar uma sexualidade satisfatória, é fundamental que ela se reconecte com seu prazer, se afirme como sujeito de seu corpo e de seus desejos, e ultrapasse as limitações impostas por uma sociedade que insiste em vê-la apenas como um objeto sexual.
O verdadeiro empoderamento feminino, portanto, passa pela autonomia sobre o próprio corpo e pela liberdade de viver a sexualidade de forma autêntica e livre de pressões externas.
Artigo escrito por Letícia Lima. Mãe, professora, analista comportamental, formada em Administração e recursos humanos, amante de gatos e estudiosa da psicanálise, apaixonada pela a vida e pelas barreiras que podemos ultrapassar, através do desenvolvimento humano. E-mail: leticialima.profgestao@gmail.