Talvez você já tenha ouvido falar das pessoas que negam para si mesmas determinados acontecimentos das suas vidas. Consequentemente, de acordo com a Psicanálise, esse tipo de movimento psíquico acaba se conectando a um aspecto de psicose na mente da pessoa. Para explicar melhor essa introdução, confira o significado de forclusão no trabalho de Lacan.
O que é forclusão?
Segundo Jacques Lacan, forclusão é um mecanismo da psicose responsável pela rejeição de um significante do simbolismo de uma pessoa. Em vez de ser integrado ao inconsciente do indivíduo como acontece no recalque, essa rejeição retorna em forma de alucinação no mundo real. Alguns estudiosos brasileiros também utilizam como sinônimo de forclusão “repúdio”, “preclusão” e “rejeição”.
De acordo com Freud, tal expulsão de determinada experiência para longe do Eu acontece em virtude do prazer. Logo, a existência de tal realidade ficará sob negação em relação a representação feita pelo indivíduo. Mesmo que ele tente se livrar de uma realização negativa para si, essa rejeição inconsciente retorna de forma significativamente negativa.
Lacan introduziu o conceito a fim de designar a ausência que dá à psicose a sua condição primal. De acordo com ele, se trata de um significante que foi rejeitado na ordem simbólica da linguagem. Contudo, essa rejeição acabou aparecendo no mundo real em forma de alucinação para o sujeito como correlativo ao significado de castração.
Seminário
De acordo com os registros, Lacan introduziu o termo forclusão pela primeira vez em 4 de julho de 1956. Ele estava na última sessão do seu seminário dedicado as psicoses, lendo um comentário de Freud a respeito da paranoia de Daniel Paul Schreber.
Porém, Lacan abordou as diferenças entre neurose e psicose com as ferramentas de foraclusão e significante assim que manifestadas na linguagem.
De acordo com ele “quando os psicóticos falam, eles sempre têm alguns significados que são muito fixos, e alguns que são muito vagos. Eles têm uma relação diferente com a linguagem e uma maneira de falar diferente dos neuróticos“.
Origens
A gênese do termo forclusão vem da utilização que Hippolyte Bernheim fez em 1895 com a noção da alucinação negativa. Em suma, essa alucinação diz respeito a falta de percepção do sujeito sobre um objeto após ser hipnotizado. Posteriormente, Freud retomou o termo, embora tenha parado de usá-lo em 1917, pois deu uma nova classificação as perversões, neuroses e psicoses.
Logo, ele deu o nome de Verwerfung, sendo um mecanismo verbal por onde o recalcado é negativamente identificado pelo sujeito. Porém, essa identificação acontece mesmo que o recalcado seja aceito. Então, Freud caracterizava a renegação como uma recusa do sujeito em reconhecer a realidade de uma percepção negativa.
Analogamente, Pichon apresentava na frança o termo escotomização para descrever o mecanismo que torna o inconsciente do sujeito “cego” aos fatos negativos. Além disso, René Laforgue tentou implementar a ideia de uma anulação perceptiva, entrando em divergências com o próprio Freud. É dito que ambos discordavam da forma de apontar nomenclaturas e fenômenos mentais diferentes.
Nomeação
Édouard Pichon escreveu em 1928 o artigo “Sobre a significação psicológica da negação em francês”. Com base na língua e não na clínica, ele adotou o adjetivo forclusif com o intuito de expressar o processo de negação. Desse modo, o segundo membro da negação em francês se dirigia ao fato de o locutor não encarar alguns fatos como sendo reais.
Logo, segundo Pichon, esses fatos foram foracluídos. Como exemplo, Pichon e o seu tio usaram a citação de um jornalista para explicar melhor essa nomeação:
“O caso Dreyfus, diz ele [Esterhazy], é doravante um livro fechado. Deve ter-se arrependido de algum dia o ter aberto. Os autores sublinharam que o emprego do verbo arrepender-se implicava que um fato que realmente existira fora efetivamente excluído do passado. E aproximaram a escotomização do foraclusivo: “A língua francesa, através do foraclusivo [forclusif], exprime esse desejo de escotomização, assim traduzindo o fenômeno normal do qual a escotomização, descrita na patologia mental pelo Sr. Laforgue e por Pichon, constitui o exagero patológico.”
Castração da libido
Conforme os estudos psicanalíticos avançaram, os psicanalistas conseguiram catalogar três maneiras distintas da castração simbólica da libido. São elas:
- complexo de Édipo por meio da forclusão, resultando em psicose;
- o recalque, resultando na neurose;
- e finalmente a negação, resultando na perversão.
Atualizações
Em fevereiro de 1954 Lacan atualizou a questão envolvendo a forclusão e escotomização em um debate com Jean Hyppolite. Por meio desse encontro o psicanalista propôs traduzir o termo como denegação em vez de negação. Inspirado por Maurice Merleau-Ponty, Lacan se apoiava nas ideias do livro “Phénoménologie de la perception”.
Lacan focou especialmente nas páginas dedicadas à alucinação, descrevendo o fenômeno como “desintegração do real”, parte da intencionalidade do sujeito.
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Analisando o caso Homem dos lobos, 1918, Freud explicou o começo da castração do paciente ao passar pela Verwerfung, rejeição. Em suma, o paciente só conseguia ver a sexualidade por meio da teoria infantil: o comércio sexual do ânus. Por exemplo, Freud trouxe uma alucinação do paciente onde ele teve seu dedo cortado, porém não existindo nenhum ferimento, rejeitando uma realidade vista como inexistente.
Complementos
A trajetória de Lacan para estabelecer de forma segura o conceito de forclusão percorreu diversos debates junto a outros psicanalistas. De modo resumido, parte da linha do tempo que engloba passagens significativas aponta para:
- um diálogo em 1954 com Hyppolite, onde Lacan deu um correspondente francês de Verwerfung o termo retranchement, significando supressão ou eliminação;
- após 2 anos, retomou a distinção de Freud entre psicose e neurose a fim de aplicar a terminologia onde a realidade nunca é realmente escotomizada na psicose;
- por fim, após criar o conceito Nome-do-pai, Lacan introduziu Verwerfung por foraclusão. Sendo esse um mecanismo da psicose, definido a princípio pela paranoia para o sujeito rejeitar um significante ao mundo real. Todavia, Lacan buscava diferenciá-lo do recalque ficando desconectados do inconsciente e retornando em forma de alucinação.
Considerações finais sobre forclusão
A ideia de forclusão se desenvolveu de modo progressivo, mas constante, dentro da literatura de Jacques Lacan. Tanto que, segundo historiadores, muitos dos discípulos dele “alucinaram” com o surgimento dessa teoria no trabalho de Freud. Porém, nós queremos deixar claro que Freud não conceituou o fenômeno de rejeição, mesmo que buscasse definição de um mecanismo próprio da psicose.
A perspectiva de Lacan foi amplamente enriquecida pelos trabalhos de outros psicanalistas com propostas semelhantes e produtivas. Embora tenha tido os seus conflitos, o psicanalista foi enfático na sua busca por mais mecanismos para desvendar a mente humana.
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