Idealização acontece quando enxergamos qualidades e virtudes em outra pessoa, sobre nossos próprios critérios. Assim, passamos a ter o outro como perfeito, de acordo com o que nós entendemos como perfeição. Isso faz com que a pessoa se sinta inferior, pois colocou o outro, em seu imaginário, como alguém superior.
Em outras palavras, a idealização se refere a visão que uma pessoa tem de outra como se esta possuísse atributos positivos, de forma supervalorizada, falhando em enxergar o outro de uma forma realista e equilibrada.
Antes de tudo, saiba que a idealização causa inúmeras consequências negativas na vida da pessoa, sobretudo no desenvolvimento de transtornos mentais. Assim, traremos neste artigo explicações sobre como acontece a idealização, sobremaneira ao aspecto psicanalítico do termo.
Idealização no dicionário
No dicionário, idealização é a ação de idealizar, que é o ato de projetar em algo ou alguém um modo ideal; imaginar alguém como se fosse perfeito. Idealizar é como fantasiar um personagem, um modelo criado pela imaginação.
O que é idealização?
Em suma, a idealização acontece quando alguém se convence de que algo ou alguém é melhor do que realmente é, como uma forma de fugir da verdade. Assim, pessoa acaba a utilizá-la como um mecanismo de defesa, atribuindo qualidades supervalorizadas a alguém, para reprimir ou evitar sentimentos negativos, como, por exemplo:
- ansiedade;
- raiva;
- desprezo;
- inveja;
- angústia.
A palavra idealização tornou conhecida no estudo da mente humana quando Sigmund Freud (1856-1939), considerado o “Pai da Psicanálise”, falou sobre narcisismo, em seu artigo de 1914, intitulado como “Narcisismo: Uma Introdução”. Demonstrando, em suma, a necessidade que a criança tem de fazer tudo para agradar os pais e se considerar merecedor, causando, então, um conflito entre o eu real e o ego ideal.
Idealização de alguém
Quando se está em um relacionamento, o hábito de idealizar geralmente acontece em pessoas com baixa autoestima. Ou seja, o indivíduo acaba projetando no outro uma valorização exagerada, de forma, consequentemente, a diminuir suas virtudes, colocando o outro como alguém superior.
Podemos exemplificar com uma pessoa que busca em seus parceiros algo para suprir o que, em sua mente, lhe falta como pessoa. Entretanto, a idealização pode acontecer não somente nos relacionamentos amorosos, mas em quaisquer outros relacionamentos interpessoais, como familiares e de amizade.
Em resultado, a pessoa tende a criar uma dependência emocional, pois entende que aquela pessoa é inatingível, colocando-a, assim, como prioridade em sua vida, de forma a se anular. Em outras palavras, a pessoa se entrega totalmente ao outro, visando somente a felicidade dele, perdendo totalmente sua individualidade, como se fosse incompleto sem esse alguém.
Idealização na psicanálise
Os teóricos psicanalistas, ao longo do tempo, demonstraram um consenso acerca da idealização. Em síntese, existe uma necessidade humana da criação do ideal, como aquilo que é desejado, porém, inatingível. Assim, as pessoas tendem a atribuir qualidades de perfeição ao outro que, em sua mente, jamais conseguirá tê-las.
Essa idealização é visualizada em diversos aspectos de nossas vidas, como, por exemplo, quando se está apaixonada. Onde se enxerga o outro com qualidades supervalorizadas, quando, na verdade, trata-se somente de pensamentos fantasiosos que a pessoa projetou no outro, fugindo da realidade.
Sobremodo, o objeto, considerado como ideal, como a própria palavra diz, não existe de fato, podemos dizer que pode somente existir na mente da pessoa. Sendo este fato explicado, através do conceito de idealização, na visão psicanalítica, por diversos autores, os quais traremos logo abaixo os principais.
Sigmund Freud
Sigmund Freud, como falamos, foi quem introduziu o termo idealização dentro da teoria do narcisismo, onde considerava a idealização como o transbordamento da libido para o outro ou para si mesmo, resultando em uma supervalorização do outro e um esgotamento recíproco de si mesmo (1914). Mais tarde, quando Freud revisou sua teoria para um modelo de estrutura mental compreendendo o id, ego e superego.
O autor descreve a identificação a objetos idealizados como um processo essencial para o desenvolvimento da personalidade, por meio das instâncias do Ego Ideal e Ideal do Ego. Nesse sentido, esta identificação teve início com a nossa primeira relação, e ainda permanece ao longo da vida, influenciando a energia deslocada para o objeto.
Por exemplo, a idealização dos pais no desenvolvimento da criança tem uma importante contribuição para o desenvolvimento de ideias. Assim, na perspectiva da saúde mental, a idealização pode ser benéfica, mas quando é excessiva ou não se adequa à realidade, torna-se patológica.
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Heinz Kout
O psicanalista Heinz Kohut (1931-1981) traz uma extensão a teoria do narcisismo de Freud, apresentando a teoria de idealização e espelhamento, chamada de “transferências do auto-objeto”.
De acordo com Kohut, a idealização é um mecanismo saudável na infância. Se os pais não fornecem oportunidades apropriadas para a idealização e espelhamento, a criança não consegue avançar para uma etapa de desenvolvimento na qual ela se vê como grandiosa, mas ainda depende de outros para construir sua autoestima.
Otto Kernberg
O psicanalista Otto Kernberg, hoje com 94 anos, trouxe diversas discussões acerca do conceito de idealização, nos seus aspectos defensivos e adaptativos.
Desse modo, ele descreveu a idealização como um processo que nega características indesejadas de algo ou alguém, projetando sua própria libido ou onipotência nele. Continuando, o autor explica que existe duas formas de idealização, a normal e a patológica.
Em síntese, a idealização patológica é caracterizada pela incapacidade de manter a constância no objeto, tendendo a ver a todos como sendo todos bons ou maus. Por outro lado, a idealização normal é considerada um pré-requisito para o amor maduro.
Melanie Klein
Para Melanie Klein (1882-1960), o mecanismo de idealização é um recurso de sobrevivência precoce, servindo como defesa para que o indivíduo possa se defender das pulsões destrutivas. Ou seja, se refere a um mecanismo associado às pulsões de morte e de vida que são projetadas num objeto.
Assim, a idealização de um objeto visa proteger este do ataque das pulsões que poderão destruí-lo, em outras palavras, a idealização de algo ou alguém funciona como uma proteção sobre algum mau.
Portanto, Klein, acreditava que a idealização tem uma função defensiva. Dessa forma, as pessoas rejeitam aquilo que é ruim em si mesmas, e projetam somente o lado bom ao objeto amado, transformando-o em algo perfeito. Por exemplo:
- acreditar que determinada profissão será um grande sucesso, e que levará à fama e ao reconhecimento;
- Idealizar que está em um namoro perfeito.
Entretanto, trata-se de um pensamento enganoso, pois evita trazer a realidade sobre as coisas, afinal, as frustrações e contradições são inevitáveis na vida.
Problemas da idealização
Em suma, a idealização acontece quando se cria uma versão ideal de algo ou alguém, atribuindo-lhes qualidades que muitas vezes nem sequer são reais. Em resultado, é algo que é usado para satisfazer um desejo ou necessidade emocional, em vez de um objetivo prático.
Contudo, é um processo que muitas vezes leva à frustração e decepção. O que pode desencadear em problemas emocionais e, até mesmo, transtornos mentais. Desse modo, se você está passando por isso, importante procurar ajuda de um profissional da saúde mental. Ele terá meios eficazes para encontrar as causas dos seus problemas de idealização, para que você consiga viver de forma plena, com liberdade e tranquilidade.
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