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Jogos Mortais: análise psicológica do filme

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Apesar dos lançamentos mais recentes de Jogos Mortais terem se ancorado nas mortes gráficas para chocar os telespectadores, a série é mais do que aparenta. Desde o primeiro filme, ela possui um olhar minucioso que revela as camadas filosóficas mais profundas a respeito da vida humana. Hoje nós traremos uma análise para você refletir a respeito e ter as suas conclusões. Já deixamos claro desde já que há vários spoilers no decorrer do texto.

Sobre o filme

Lançado em 2004, Jogos Mortais se tornou um fenômeno no gênero de terror pela sua proposta ousada. Isso porque o filme de baixo orçamento traz uma trama marcante que certamente mexe com os nervos do telespectador. Provando-se ser um sucesso de bilheteria, o longa incentivou os criadores a darem vida para uma franquia bastante conhecida.

Na trama, Jigsaw é o vilão que usa do seu intelecto para construir armadilhas mortais usadas em torturas. Dando um curto prazo para as vítimas, ele desafia os participantes a encararem as consequências de suas vidas negligenciadas. Isso porque, de maneira própria, os prisioneiros viveram de forma leviana, sem dar valor ao que tinham. Assim eles precisam provar que merecem viver.

Como Jigsaw possui um tumor ele não aceita que a morte seja subestimada, levando as suas vítimas a fazerem o mesmo. Por essa razão, se quiserem sobreviver as armadilhas, as pessoas precisarão se mutilar gravemente ou matar alguém no processo. Assim, todos precisam ter sangue frio para vencer essa guerra entre matar ou morrer da pior forma possível.

Os aspectos filosóficos do filme

É comum sentir da parte de Jigsaw um desprezo em relação aos participantes dos seus jogos sádicos. Talvez esqueçamos que um filme chocante desse tipo possa ter camadas profundas, mas nesse caso elas estão lá. Em suma, Jigsaw quer punir cada pessoa que não valoriza as oportunidades de viver que têm agora.

Ele mesmo conhece a dor da finitude, pois convive com um tumor que o mata lentamente. Por meio da doença, o vilão compreendeu como algumas coisas não têm preço e não merecem ser trocadas. Em vista disso, embora ela não venha de graça, o vilão deseja dar para os desgarrados a oportunidade de se mostrarem valorosos.

Quando o telespectador faz a análise do filme Jogos Mortais fica fácil perceber como as pessoas negligenciam a existência da morte. Afinal, cada vez mais o ser humano ignora o fato do quão frágil ele é, acreditando numa suposta invencibilidade. É por essa razão que muitos acabam dirigindo bêbados, fazendo atividades radicais perigosas e até mesmo se relacionando de maneira tóxica.

Quando as máscaras caem

Embora o vilão do Jigsaw seja um assassino em série, no jogo doentio dele, as vítimas ainda podem escapar. Entretanto, elas precisam antes enfrentar os próprios medos e as faces ocultas da própria alma. Assim, as vítimas acabam revelando quem realmente são ao passarem pela filosofia punitiva do vilão.

No momento de tensão em que a sua vida está em risco, a pessoa acaba se dando conta do quão ruim ela pode ser. Mesmo que tentasse esconder de si mesma esse fato, os Jogos Mortais sempre revelam o quanto ela se enganava.

Dessa forma, o protagonista do filme se mostra especialista em mostrar a verdade a respeito dos “cidadãos de bem”. Muitas dessas pessoas possuiam uma filosofia de vida completamente tóxica e destrutiva que, para o vilão, era um desperdício. Ele lidou, por exemplo, com racistas, corruptos, traidores e tantos outros tipos.

Juiz e júri

Ao entender melhor a interpretação de Jogos Mortais, talvez você se pergunte “Jigsaw tem o direito de matar essas pessoas?”. Certamente não, por isso que há uma chance da vítima se salvar daquele pesadelo. Porém, essa salvação vem com um preço que muitos jogadores não estão dispostos a pagar.

Uma das lições que tiramos desse filme diz respeito aos limites que a natureza humana é capaz de se expor para se salvar. Ou seja, temos que lidar com a ideia da necessidade de fazer sacrifícios em um momento crucial para conseguir essa salvação tão radical.

Construção

A premissa dos filmes da franquia Jogos Mortais é sempre a mesma. Mudam apenas os personagens e cenários. Contudo, independentemente do desfecho, os filmes se conectam em um nível mais profundo para nos relembrar o significado que possuem. Ainda que as mortes elaboradas possam te chocar, preste atenção a:

Moralidade

Jigsaw sabe muito bem o que é a perda, então não medirá esforços para que os outros a conheçam também. Por isso ele se vale de metáforas em que a própria percepção da vítima se encarrega de compreender. Os aforismos utilizados pelo vilão, as frases curtas, fazem referência ao conceito de moralidade que essas pessoas quebraram.

Análise

John Kramer, o verdadeiro nome de Jigsaw, é capaz de estudar a alma humana e compreender cada indivíduo. Seu intelecto se direciona ao lado mais sombrio das pessoas para que elas mesmas possam reconhecê-lo. Algo que chama atenção é que o vilão não se identifica como assassino porque, segundo ele, as vítimas têm a chance de escapar.

A punição como salvação

O principal objetivo de Jigsaw é fazer com que as pessoas valorizem a vida no momento traumático a que são expostas. Por isso, a punição dada por ele é uma maneira dos prisioneiros provarem que merecem tal salvação. Desse modo, eles podem acabar com círculos destrutivos e viciosos que os matam frequentemente.

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    Amanda Young

    Uma das personagens mais marcantes de Jogos Mortais certamente é Amanda Young. Sendo a única sobrevivente de um dos jogos de Saw, ela acabou virando a sua discípula e crescendo na franquia. Primeiramente, ela foi uma viciada em drogas que se livrou da heroína e entendeu o lado horrível da sua alma.

    Por mais absurdo que soe, Amanda conseguiu “melhorar” ao participar ativamente desse jogo sádico. Ela pôde se livrar da tortura mental em que vivia conforme o medo da morte se aproximava. Logo após essa experiência, a mulher passou a ver em John Kramer uma espécie de salvador, compartilhando os mesmos ideais.

    Sobre a Amanda Young:

    • nota-se sinais claros de que possui a síndrome de Estocolmo;
    • ao contrário de Jigsaw, as armadilhas que ela montava eram invencíveis. Mesmo que a vítima fosse até onde precisava, acabava morrendo;
    • algo que a diferencia do seu mentor é a sua consciência de que o que faz é um assassinato.

    Todos pagam

    Até mesmo o Jigsaw foi uma das vítimas dos seus Jogos Mortais, morrendo no decorrer da franquia. Existe um simbolismo de que essas armadilhas marcam para sempre os envolvidos, especialmente aquele que as manipula. Não somente John Kramer, mas Amanda Young e Mark Hoffman, outro cúmplice, encontraram os seus fins.

    Em uma história surpreendentemente cheia de reviravoltas, podemos concluir que nenhum dos envolvidos terminaram ilesos. Ainda que Jigsaw fosse a principal mente por trás das armadilhas, ele mesmo pagou por sua intervenção, embora soubesse que essa era uma possibilidade.

    Considerações finais sobre Jogos mortais

    Apesar de chocar pelo terror gráfico, Jogos Mortais consegue se elevar no conceito do público ao demonstrar camadas próprias de um pensamento filosófico. Em síntese, é um jogo de sobrevivência em que a principal lição das vítimas é valorizar a vida.

    Para quem se incomoda com as cenas visualmente perturbantes, certamente esse não é um entretenimento recomendável. Contudo, se você resiste a esse show visual, poderá ter insights de como esses filmes podem trazer reflexões pertinentes para você.

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    One thought on “Jogos Mortais: análise psicológica do filme

    1. Pedro Aragão Aragao disse:

      Muito bom o conteúdo dessa analise!

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