Mente Online

Mente online durante o sono

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Hoje falaremos sobre a mente online durante o sono.

“Eu, que já andei pelos quatros cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que Ele me falou…” (1).

Composição mais do que perfeita expressa na música “Gita”, escrita por Paulo Coelho e interpretada pelo saudoso Raul Seixas.

A mente online

Não há dúvidas de que os sonhos, desde a aurora das tradições orais, a escrita e a comunicação, são objetos da curiosidade humana. Sejam tidos como presságios, viagem astral, comunicação com espíritos ou, até mesmo, abdução por seres extraterrestres, os sonhos também fazem parte do imaginário infantil (como sonhar que se está voando, por exemplo) e claro, tornou-se objeto de investigação sob o prisma da psicanálise.

Um fato curioso sobre os sonhos é que, eles também são entes que perfazem um momento laboral de nosso cérebro quando estamos hibernando, descansando, ou seja, com o nosso cérebro supostamente “desligado”. Pois achávamos até então, que nossa mente deixava de ser ativa no momento em que íamos dormir.

Porém, foi em 1900, através da publicação de sua obra intitulada: “A Interpretação dos Sonhos”, que Freud “dá vida”, um significado, uma ocupação para os sonhos não os deixando mais sem uma “função” na vida do cérebro e também na vida do indivíduo que o concebeu, se tratando é claro, dos estudos do inconsciente.

A mente online e as descobertas de Freud

A partir das descobertas de Freud sobre os sonhos começamos a ter um insight melhor sobre o tema e, consequentemente, a ter maiores margens para a interpretação desse objeto onírico, tanto no academicismo, quanto no senso comum.

Em se tratando de senso comum, e, como citado anteriormente no trecho da música de Raul Seixas, ele inicia a letra dizendo que foi em um sonho que Ele lhe falou.

Com quem ele conversou neste sonho?

Raul, em determinado momento de sua vida, decide trilhar um caminho espiritual e buscar conhecimento. Para tanto, ele lê um livro chamado “Bhagavad Gita”. Segundo o livro, uma divindade hindu chamada Krishna conversou com o rei Arjuna, onde este, estava no meio de um conflito em seu reino, uma guerra civil.

Krishna veio orientá-lo, como um pai orienta seu filho, no sentido de que a guerra em questão, é, nada mais, nada menos, um conflito interno. De que existem coisas mais valiosas do que o poder, o dinheiro, etc. Raul, faz dessas palavras sua orientação em seu suposto sonho.

“Às vezes você me pergunta, por que é que eu sou tão calado…”. Aqui, Krishna se mostra como uma entidade que, quando solicitada, não responde verbalmente de forma direta, mas que se encontra e se revela na luz das estrelas, na luz do luar, nas coisas da vida e no medo de amar.

O inconsciente

A letra segue com a divindade revelando questões e aspectos da vida comum, ou seja, revelando (no sonho) aspectos até então desconhecidos e enterrados no inconsciente de maneira que, a entidade (pelo menos aqui no que tange à letra da música) está fazendo o papel de um terapeuta que está tecendo as peças de um grande quebra-cabeça ajudando seu paciente a ter ciência das questões que o permeiam.

Agora, em se tratando das vias psicanalíticas esse quebra-cabeça fica maior. Seja em seu sentido manifesto ou latente, o sonho quando bem investigado, de forma profunda e sem julgamentos se denota como um “raio-x” daquilo que vem acontecendo em nosso psiquismo e na nossa vida emocional. O sonho é uma linguagem única (e não a única) daquilo que o inconsciente quer nos dizer, quer gritar.

O que, nas concepções de Freud, é tido como um desejo a realizar-se por trás das imagens desfalcadas onde, passados os conteúdos manifestos e desembaralhando os conteúdos latentes, temos uma conjectura mais fidedigna de toda essa nossa árvore emocional. Numa segunda concepção, a junguiana, além de posicionarmos a investigação onírica em apenas um ente, temos a possibilidade de abrir esse leque para alcançar o que ele chama de inconsciente coletivo.

Jung e concepções

Para Jung, além das concepções personalizadas (paciente a paciente) temos a sensibilidade de toda uma comunidade mediante símbolos e imagens que são comuns a todos. Além das abordagens científicas, clínicas ou de senso comum, temos muitas outras curiosidades relacionadas aos sonhos, como por exemplo, cientistas que contribuíram para a comunidade científica e o progresso da humanidade através de seus sonhos.

A saber: a tabela periódica que foi concedida a Dmitri Mendeleiev (1834 – 1907) durante um sonho; Srinivasa Ramanujan (1887 – 1920) que, apesar de ter tido uma educação formal deficitária estudou na Inglaterra na Universidade de Cambridge.

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Aceito por suas descobertas e fórmulas matemáticas revolucionárias e que influenciam resultados científicos até hoje como nos estudos da química de polímeros, computação, medicina e outros, Ramanujan afirma ter recebido seus conhecimentos em sonhos pela deusa hindu Namagiri; Albert Einstein (1879 – 1955) concebeu que a tão conhecida teoria da relatividade teve seu princípio também em um sonho.

Conclusão sobre a mente online

Seria possível conjugarmos a escrita de um livro ou a letra de uma música como sendo um sonho passível de uma investigação psicanalítica?

Talvez a resposta seja um retumbante sim! Até porque, tudo que vemos, ouvimos, cheiramos, experimentamos, sentimos, pensamos (conscientemente ou não), tem como background o psiquismo como uma espécie de software que faz a gestão dos produtos advindos de todos os nossos sentidos dando-lhes um significado instantâneo ou, na maior parte das vezes, um significante que pode vir na forma de um sintoma corpóreo, uma neurose, um comportamento, um sonho.

Talvez, tenhamos a ideia errada de que somos nós quem interpretamos os sonhos, quando na verdade, são os sonhos que nos interpretam.

Referências: Psicanálise Clínica: Sonhos e Representação, Módulo 8. VYÃSA, Krsna Dvaipayana. Bhagavad Gita: Texto Clássico Indiano, 2018. Edição bilíngue. Tradução de: Carlos Eduardo Gonzales Barbosa. Editora: Mantra. FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos, parte I. Volume IV. 1900. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Editora: Imago. COELHO, Paulo; SEIXAS, Raul. Gita. Legenda: Lucas. Disponível em: https://www.letras.mus.br/raul-seixas/48312/ (1). Acesso: 13/10/24. FREIRE, Érika. Entenda o Significado da Música Gita, de Raul Seixas. Janeiro de 2020. Disponível em: https://www.letras.mus.br/blog/gita-raul-seixas-significado/ Acesso: 13/10/24. WTICHEMICHEN, Diego. Dmitri Mendeleiev (1834 – 1907). Disponível em: https://www3.unicentro.br/petfisica/2018/08/28/dmitri-mendeleiev-1834-1907/ Acesso: 13/10/24. GRACIÁN, Enrique. Ramanujan, o Indiano que Fazia Matemática Sem Nunca a Ter Aprendido. Setembro de 2019. Disponível em: https://www.nationalgeographic.pt/ciencia/ramanujan-o- indiano-que-fazia-matematica-sem-nunca-a-ter-aprendido_2196 Acesso: 13/10/24. Reprodução da coluna de Marcelo Viana, na Folha de São Paulo. Os Expoentes Matemáticos Indianos ao Longo da História. Outubro de 2019. Disponível em: https://impa.br/noticias/os- expoentes-matematicos-indianos-ao-longo-da-historia/ Acesso: 13/10/24. Redação Galileu. É Isso que Acontece Quando Gênios Lembram dos Seus Sonhos Mais Loucos. Novembro de 2015. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2015/11/e- isso-que-acontece-quando-genios-lembram-dos-seus-sonhos-mais-loucos.html Acesso: 13/10/24.

Artigo sobre a mente online escrito por Daniel Silva. Professor de Matemática e Biologia. Pós graduado em Docência e Prática de Ensino em Matemática pela Faculdade Digital Descomplica e Licenciado em Matemática pela UNIRIO. Email para contato: [email protected]

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