monogamia

A Monogamia está fora de moda?

Posted on Posted in Conceitos e Significados

Você sabe o que é monogamia? Com o crescimento de várias ideologias revolucionárias, um dos temas discutidos atualmente entre os mais jovens e que levam os mais velhos a questionarem seus padrões de relacionamento é a ineficácia das relações monogâmicas.

Entendendo a monogamia

Alguns movimentos emergentes insistem em propagar a ideia de que a monogamia está fora de moda, e de que os relacionamentos baseados nela são retrógrados, antiquados e que deveriam ser reformulados.

Monogamia é o termo utilizado para definir o tipo de relacionamento onde o indivíduo escolhe ter apenas um parceiro amoroso. É um compromisso firmado entre duas pessoas que decidem prestar exclusividade mútua. Já a poligamia é o oposto, sendo caracterizada pelo relacionamento onde o indivíduo pode ter várias parceiras(os) ao mesmo tempo sem impedimento algum.

É importante definir que poligamia é diferente de traição, porque no relacionamento oficialmente poligâmico, as pessoas que dele fazem parte entram em comum acordo, ou seja, todos estão cientes da existência de vários parceiros amorosos.

A monogamia e a poligamia

A poligamia sempre esteve presente na história da humanidade, e ainda hoje é cultural em alguns países, o que quer dizer que em alguns lugares a poligamia é apreciada e vivida com naturalidade. Porém, já em outros é vista com maus olhos e constantes julgamentos.

No Ocidente, o modelo mais comum de relacionamento é o monogâmico. Porém, como mencionado anteriormente, esse modelo padrão tem sido alvo de críticas e reformulações por parte de pessoas que afirmam ser um referencial ultrapassado, que deveria ser substituído por relacionamentos abertos e por um tipo de amor denominado “amor livre”.

Relacionamento aberto é um termo atual usado para designar as relações onde os parceiros têm liberdade para se relacionar com quem quiserem, seja afetivamente ou sexualmente (dependendo do acordo feito entre eles) sem nenhum tipo de restrição. Os aderentes desse modelo afirmam que as relações monogâmicas são como prisões, e que amor eterno e fidelidade constante não são possíveis.

Amor sem condições

Sendo assim, seguindo a lógica apresentada por eles, seria melhor deixar claro que cada um é livre para se aventurar por diversas relações, sem algemas, sem alianças ou compromissos repletos de promessas. Por isso esse tipo de relacionamento costuma levantar a bandeira do “amor livre”, “amor sem condições”, “amor sem imposições” ou “amor sem regras”.

Embora o slogan apresentado pelos defensores da poligamia apresente uma ideia convidativa para muitos, ele também tem suas contradições e prejuízos. O relacionamento sexual com várias pessoas promove o aumento das chances de se adquirir doenças sexualmente transmissíveis.

Apesar de os parceiros acordarem anteriormente a abertura da relação, após dado tempo muitos deles passam a sentir ciúmes do parceiro e desistem da relação pois se sentem trocados e abandonados afetivamente. Esse tipo de relação propõe que seja cercada por confiança, mas é cheia de controvérsia, pois ao invés de o sujeito se sentir seguro e protegido, volta e meia ele é rodeado por pensamentos como: “eu não sou único para ele(a)”.

O amadurecimento

Algumas pessoas que concordam com esse modelo e que vivem essa prática há anos acreditam que é necessário amadurecimento psicológico para fazer dar certo. Mas será que é um amadurecimento ou seria uma regressão? Um dos nomes mais relevantes dentro do universo da psicologia é o psicólogo Abraham Maslow. Ele defende a teoria da hierarquia de necessidades.

Ele explica que todo ser humano tem necessidades fisiológicas (comer, beber, dormir, sexo), de segurança (do emprego, do corpo, dos recursos), de amor/relacionamento (amizade, família, intimidade sexual), estima (auto estima, confiança), e por fim realização pessoal (moralidade, solução de problemas).

Levando em conta a pirâmide de necessidades de Maslow, chega-se à conclusão de que o ser humano tem a necessidade de se sentir amado, de se sentir pertencente a algo, de ser especial para um grupo de pessoas, ou para alguém. O indivíduo em sua origem mais profunda e enraizada deseja um amor exclusivo e conexão com o outro.

A monogamia e a afetividade

É só observar por exemplo as crianças, elas necessitam de um amor vindo dos pais para que ela se sinta importante e para que ela venha aprender a existir no mundo. Já foram feitos estudos comparando crianças que foram criadas em orfanatos com crianças criadas em lares com suas famílias, e as crianças órfãs frequentemente apresentavam mais transtornos mentais, dificuldade de aprendizagem, embotamento afetivo, entre outros.

O que confirma a teoria de que uma criança necessita de conexão, e que o amor coletivo ou somente a satisfação das necessidades fisiológicas ofertadas em um abrigo não são suficientes para formar indivíduos saudáveis psicologicamente.

Mas esse não é um sentimento apenas das crianças, mas de todos os seres humanos. Os adultos também desejam adquirir conexões sociais profundas, por isso a maioria das pessoas querem formar uma família ou ter um grupo de amigos onde se sintam seguros, aceitos e valorizados.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    A rejeição

    Todos desejam preencher a necessidade de pertencimento, mas alguns por medo da rejeição, da frustração e da decepção, optam por ignorar essa necessidade intrínseca e decidem lutar contra ela. Na tentativa de se protegerem, entram em relações superficiais e volúveis a fim de não se envolver demasiadamente. Não querem dedicar “amor demais” a alguém que pode feri-lo ou magoá-lo, ou mesmo não atender às suas expectativas.

    A grande questão é que é impossível não criar expectativas, elas sempre encontram uma maneira de vir à existência, ainda que de forma inconsciente. E essa é a razão pela qual as relações poligâmicas são perigosas. Um dos sinais de maturidade psicológica é a aceitação das coisas como são, da realidade, das necessidades que temos como humanos.

    Quando dizemos que não precisamos de conexão, intimidade e amor, estamos mentindo para nós mesmos, não estamos aceitando uma necessidade natural. Alguns ainda dizem: “ mas é só sexo”, “é só um momento de curtição e prazer”, porém o ser humano não é uma máquina e uma prova disso é que não é incomum ver pessoas que após uma relação sexual sem compromisso se apaixonaram. Sem contar aqueles que após o momento prazeroso, sentem-se vazios, incompletos, insatisfeitos e solitários.

    Desejos efêmeros e a monogamia

    Que segurança há nesse tipo de relação? Onde as pessoas não se importam com o sentimento do outro, estão ali só para satisfazerem suas necessidades fisiológicas, são guiadas por desejos efêmeros e meramente instintivos. Isso causa um impacto psicológico e emocional negativo, porque nesses encontros não há conexão de alma, há apenas uma junção carnal de corpos.

    O lado afetivo/emocional não é facilmente separado do físico/racional, bom seria se assim fosse, mas não é isso que a psicanálise defende. Nos relacionamentos monogâmicos há um compromisso firmado em que ambos decidem abnegar-se e juram amor exclusivo ao outro. Eles compreendem que é necessário maturidade para entender que ninguém pode ter tudo ao mesmo tempo e para abrir mão de desejos temporários em prol da manutenção da relação.

    E embora isso seja difícil, dada as oportunidades diversas que surgem ao longo da vida, os dois se comprometem a tentar. É certo que muitos relacionamentos monogâmicos também podem dar errado quando uma das partes ou ambas descumprem o acordo feito através de uma traição, e isso gera dor e frustração na parte traída. Embora esse tipo de situação seja comum, não significa que porque algumas pessoas não conseguiram viver esse modelo, que ele não seja considerado um bom padrão.

    Conclusão

    O relacionamento monogâmico quando vivido dentro do conceito que propõe gera um sentimento inigualável de satisfação, pertencimento e conexão íntima, o que dificilmente pode ser sentido num relacionamento coletivo, onde o amor é difuso e direcionado para muitas pessoas ao mesmo tempo.

    A música “Chico” lançada recentemente pela cantora Luísa Sonza em um de seus trechos diz: “Diziam pra mim, que essa moda passou, que monogamia é papo de doido, mas pra mim é uma honra ser uma cafona para esse povo”.

    Em outro trecho ela fala sobre incerteza e sobre se arriscar no amor. Pouco tempo depois de lançar a música, ela aparece em rede nacional afirmando ter sido traída por seu parceiro Chico com o qual se relacionava há 4 meses, e isso fez com que algumas pessoas afirmassem que realmente a moda da monogamia passou, mas um exemplo específico não pode ser generalizado, ainda mais quando este é cercado de marketing digital e sensacionalismo para promover views e curtidas.

    Incertezas

    Realmente, o relacionamento monogâmico é cheio de incertezas, como toda a vida é, nada é certo e estático, porém uma célebre frase de William Shakespeare diz: “não é digno de saborear o mel aquele que se afasta da colmeia com medo das picadas da abelha”.

    Este artigo sobre monogamia foi redigido por Ivana Oliveira ([email protected]), para o curso de formação em Psicanálise Clínica.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *