Em meio ao senso comum se entende por narcisismo um indivíduo que “cultiva” sua própria imagem, ou seja, dirige todo o seu olhar para si próprio e tem a si como objeto de desejo e satisfação, contudo este ama a sua própria imagem.
Freud ao estudar o Narcisismo irá tomar como referência o mito de Narciso: Narciso nasce na Beócia (Grécia). Um jovem de uma beleza estrondante , porém quando nascerá, um dos oráculos chamado Tirésias, disse para Cifiso seu pai que Narciso teria uma longa vida caso não olhasse sua própria imagem.
Entendendo sobre o narcisismo
Narcísico era extremamente orgulhoso e arrogante , Certa vez quando passava perto de um rio reconheceu seu reflexo nas águas e assim se apaixona por sua imagem refletida sobre a água. Suprindo desejos por seu reflexo foi se curvando diante das águas do rio, até que cairá , morrendo afogado.
Portanto o Narcisismo se tornou um termo clínico e foi escolhido por P.Näck em 1899. Que logo mais tarde terá suas bases aprofundadas por Freud no livro “Introdução ao narcisismo”, em 1914.
Narcisismo para Freud
Segundo Freud em sua obra, depois de separar a libido entre: libido do eu e de objeto. Conduz o estudo para a complexa sistematização do narcisismo com base na paranoia e na esquizofrenia. Onde o indivíduo tiraria totalmente seu interesse dos objetos e do mundo externo. Então a grande questão seria o destino de toda essa líbido que foi retirada do mundo externo e dos objetos , gerando um grande desinteresse a respeito deles.
A resposta estaria na megalomania, um estado típico da esquizofrenia, que será logo abordado. Assim pode-se afirmar que toda líbido que foi retirada dos objetos se voltou para o EU , supervalorizando a si mesmo e empobrecendo o investimento em objetos, dificultando a relação com o mundo externo. Afetando as relações com pessoas na vida pessoal como também social. Dito por Freud que tais indivíduos não podem ser curados pelos esforços da psicanálise.
Megalomania e narcisismo primário
A megalomania é uma característica da esquizofrenia onde existe uma supervalorização de si próprio , o sujeito se colocaria na posição de um próprio “rei”. Porém este não é um estado novo mas que antes já foi vivenciado pelo sujeito em seus primeiros anos de vida, tal sujeito foi completamente investido por líbido advinda de seu cuidador que supriu o papel materno.
Sentiu-se totalmente desejado, amado e acolhido. Tendo alguém para atender suas necessidades, que são na primeira infância puramente fisiológicas. ” A majestade bebê” Essa condição anterior à megalomania se dará nos primeiros meses de vida. Denomina-se no contexto analítico de ” narcisismo primário “. E terá um grande e importante papel para a vida adulta do sujeito, implicando diretamente na sua vida pessoal e interpessoal. Como exemplo , na formação das bases de um amor próprio. O sujeito primeiramente deve ser amado , totalmente investido de líbido , ser o próprio rei do mundo, onipotente.
Posteriormente se desfazer deste narcisismo primário, entendendo que ele agora não é o centro das atenções e que seus desejos não podem ser realizados quando lhe convém, aprendendo a esperar e criando uma estrada rumo a uma independência. Porém o amor próprio de um indivíduo são resquícios de todo aquele investimento recebido da figura materna ou quem supriu seu papel.
O ideal de “eu”
Neste contexto, o indivíduo que tiver seu narcisismo primário obscurecido por condições diversas não formará as bases necessárias para um amor próprio, podendo se submeter ao ideal de eu. Ou seja, não formará uma autoestima , se subjugando a meios para alcançar todo o Ideal que a sociedade lhes impõe como padrão, interiorizando no superego o padrão de perfeição social.
Caso o indivíduo não atinja todo aquele ideal rigoroso e inalcançável social que já foi interiorizado no superego como um dever a se cumprir , este indivíduo cairá em sofrimento psíquico, com sentimentos de insuficiência, culpa e alto nível de cobrança.
Podendo desenvolver uma possível neurose narcísica ou uma posição psicótica, depressiva / melancólica. Hora se submetendo ao ideal da sociedade lhe causando sofrimento, hora tendo uma falsa sensação de que superou todo aquele ideal, ou seja um comportamento bipolar.
Objeto narcísico
Outra via para se realizar diante do ideal de ego posto, seria a escolha do objeto amoroso. Tal indivíduo que já está pré-disposto a se submeter ao ideal de ego( tem um ego fragilizado) ou que abandonou seu próprio Narcisismo, poderá procurar-se em um objeto amoroso e se relacionar com este.
Logo o objeto amoroso assumiria o papel substitutivo de si mesmo( relacionar com si mesmo) ou daquilo que o próprio indivíduo desejaria ser , portanto procura em outro características suas ou que ele deseja em si mesmo. Freud deu-se o nome a esta anormalidade de “objeto narcísico”. Característica encontrada com frequência na homossexualidade, portanto o indivíduo ama somente a si mesmo.
Projeção narcísica dos pais
Outro movimento é a projeção narcísica dos pais ou cuidadores que fizeram parte do desenvolvimento da vida do sujeito. Estes investiriam sobre a criança todos os seus próprios desejos que não puderam realizá-los ou que abriram mão de fazê-lo.
Formando assim um pilar do ideal de ego, ou seja: “aquilo que ele (criança ) deve ser para não ser igual a mim”. Neste contexto, a criança nasce atravessada de desejos que não são propriamente seus , muitas vezes abrindo mão dos próprios. Gerando diversos adoecimentos psíquicos.
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Concluindo: sobre o significado de narcisismo
Neste artigo com uma breve introdução ao narcisismo podemos entender que o Narcisismo é complexo é uma libido que pode ter destinos diferentes , pode ser tanto aquela pessoa que supre uma relação consigo mesmo e tem a si como objeto de satisfação até aquela que enxerga a si mesmo nos outros.
Portanto um conceito de suma importância que complementa toda a teoria Freudiana. Ele não é só amor excessivo de si mesmo mas , se revela como um sofrimento, um descuido de uma criança que não teve culpa formando um ego frágil.
Esse indivíduo retira o “interesse” dos objetos e volta-se para si mesmo, tornando pobre tudo aquilo que não diz respeito a si mesmo. O Narcisismo não tem cura e dificilmente um sujeito vai para a análise por conta própria para receber o tratamento adequado.
Texto escrito por André Medina([email protected]), formando um em psicanálise clínica pelo IBPC.