Neste texto, falaremos sobre neuroses fóbicas e histéricas, na perspectiva dos estudos psicológicos, principalmente da Psicanálise.
O termo neurose surge em pleno século XVIII através do psiquiatra britânico William Cullen, que utilizava a expressão para apontar as doenças relacionadas ao sistema nervoso.
Mas a definição fundamental do termo, surge através do neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud, que desenvolveu a teoria psicanalítica e definiu a neurose como “o conflito entre os desejos do inconsciente”.
Ou seja, é a resposta de tudo aquilo que, por uma estratégia do mecanismo de defesa foi recalcado na infância pelo inconsciente e posteriormente emerge-se em formato de sintomas e comportamentos.
Interessado pelo tema, Freud intensificou seus estudos sobre os tipos de neuroses, suas causas, sintomas e intervenções. Dentre tantos tipos de neuroses, temos as Neuroses Fóbicas, Neuroses de Histeria e Neuroses Obsessivas.
Diferenciando neuroses fóbicas e histéricas
Neuroses Fóbicas
As Neuroses Fóbicas são caracterizadas pelo medo persistente e insegurança perante determinados lugares, situações ou objetos que representam perigo ou ameaça ao sujeito, levando-o a permanecer em estado de alerta e a apresentar um comportamento de fuga. Alguns exemplos de neuroses fóbicas, são:
- Demofobia (medo de multidões),
- Claustrofobia (medo de lugares apertados),
- Brontofobia (medo de tempestades),
- Autofobia (medo de ficar sozinho),
- Aracnofobia (medo de aranhas) etc.
Neuroses Histéricas
Já nas Neuroses Histéricas, os conflitos psíquicos inconscientes são transformados em manifestações corporais, onde pode até ocorrer estreitamento do campo de consciência, alterações motoras ou até mesmo alterações sensoriais.
Os sintomas relacionados a histeria se manifestam não somente através de manifestações físicas, como crises epilépticas, cegueira temporária, fadiga, paralisia, dores, insônias, dentre outras; mas podem se manifestar também através de fobias, depressões, anorexia, etc…
Quando falamos de Neuroses Obsessivas, nos deparamos com a presença de pensamentos obsessivos que provocam angústias, preocupações, sofrimentos e que por sua vez, desencadeiam comportamentos compulsivos.
O sujeito que é acometido pelas neuroses obsessivas não tem controle dessas práticas repetitivas.
Algumas pessoas apresentam comportamentos como:
- lavagem excessiva das mãos;
- ordenar objetos por cores e/ou tamanhos;
- conferir de forma repetitiva se portas e janelas estão realmente trancadas;
- entre outros sintomas que surgem como uma forma de amenizar o sofrimento causado por esses pensamentos.
As neuroses fóbicas e a diferença para outros transtornos
O DSM III (Diagnostic and Statistical Manual) e o CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) gradativamente foram substituindo o termo “neurose” por “transtorno”, com a chegada do DSM IV, esta substituição foi concluída, sendo utilizado o termo “Transtorno”, para definir um quadro de “desorganização” do estado psicológico de uma pessoa.
Atualmente se ouve falar muito sobre os Transtornos de Personalidade, que ocorrem quando a vida do indivíduo passa a ser afetada negativamente por algum tipo de rigidez em seu padrão comportamental.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) nos traz 10 principais tipos de transtornos de personalidade: Transtorno de Personalidade Paranoide,
- Transtorno de Personalidade Esquizoide,
- Transtorno de Personalidade Esquizotípico,
- Transtorno de Personalidade Antissocial,
- Transtorno de Personalidade Borderline,
- Transtorno de Personalidade Histriônico,
- Transtorno de Personalidade Narcisista,
- Transtorno de Personalidade Esquivo,
- Transtorno de Personalidade Dependente,
- Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsivo.
O leque de nomenclaturas utilizadas para distinguir os tipos de transtornos mentais, tem levado a população a se questionar muitas vezes se surgiram novas patologias, ou se tudo isso não era tão anunciado à sociedade como na atualidade. O que podemos observar, é que os sintomas sempre existiram, porém, com o decorrer dos anos, foram cuidadosamente estudados e desmembrados para melhor identificação e entendimento de cada caso.
Transtorno de Personalidade Narcisista
Dentre tantos transtornos citados, o Transtorno de Personalidade Narcisista tem sido um assunto muito discutido em grupos de redes sociais, sobretudo quando o tema se refere ao narcisismo materno.
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O indivíduo com o transtorno de personalidade narcisista, costuma confundir os pensamentos das pessoas que com ele convivem. O narcisista necessita sempre de demonstrações de afeto e admiração, porém, nele predomina a falta de empatia com o próximo e o sentimento de superioridade.
A família geralmente tende a ter certa dificuldade em detectar o problema, por classificar tais comportamentos, como normal, que aquela pessoa apenas possui um “temperamento forte”, e quando se trata de uma mãe então, torna-se ainda mais desafiador o levantamento da hipótese de tal diagnóstico em casa.
Pois, vivemos em uma sociedade, onde a figura de uma “mãe” remete a toda sociedade, proteção, acolhimento, carinho e amor incondicional, o que na maioria dos casos verdadeiramente ocorrem desta forma. Porém, não se pode esquecer que mãe também é um “ser humano” e como tal, possui uma história de vida e está sujeita a desenvolver quaisquer tipos de doenças, sejam elas físicas ou psíquicas.
Lembrando que uma combinação de fatores pode dar origem ao transtorno de personalidade narcisista, como fator ambiental e genético, ou simplesmente ser acarretado por traumas e/ou angústias vividas em sua infância.
As Mães Narcisistas
A criança que convive com uma mãe narcisista, está propícia a se tornar um adulto que coloca suas necessidades de lado para evitar conflitos com os demais, apresentando baixa autoestima, necessidade de aceitação e medo da rejeição. Essas crianças geralmente, crescem em um contexto familiar caracterizado por abandono, agressividade, manipulação, perversidade, frieza e crueldade.
As mães com transtorno de personalidade narcisista, tendem a criar situações de vitimismo, levando todos que estão próximos a essa família, a acreditarem que realmente o filho não é merecedor de “tamanho amor e dedicação ofertado de forma gratuita por ela, que é um ser tão generoso”.
Os Filhos de Mães Narcisistas
Os filhos são constantemente criticados, invalidados como pessoa, humilhados, comparados e quando são do sexo feminino, podem ate serem invejadas pela própria mãe. Quando na família existe mais de um filho, essa mãe tende a escolher um filho para dar toda atenção, esse filho é denominado como “o filho dourado”.
O filho dourado é como uma extensão da mãe, nele, ela projeta todas suas qualidades, o filho dourado não comete erros, recebe sempre o melhor de tudo e é sempre protegido pela mãe, totalmente o oposto do outro filho, que é denominado como “bode expiatório”.
Quando o filho “bode expiatório” consegue identificar esse comportamento como inadequado e tenta verbalizar tudo isso aos demais membros da família, muitas vezes são hostilizados, devido ao comportamento vitimizado dessas mães. Esses filhos passam a ser tachados como loucos, ingratos, insanos, etc.
Conclusão: neuroses fóbicas e neuroses histéricas na relação mãe e filho
Afinal, como pode um filho duvidar desse amor incondicional de sua mãe para com ele?
E isso por muito tempo passa a torturar os pensamentos e sentimentos desse filho que devido ao ambiente em que foi criado, já possui um elevado sentimento de insegurança e baixa autoestima, confundindo seus pensamentos.
Muitas das vezes esse filho simplesmente passa a se culpar por tais pensamentos e se calar, dificultando, mesmo que inconscientemente, a possibilidade dessa mãe ser avaliada e diagnosticada, para que assim não só a mãe, mas toda a família possam ser devidamente auxiliados e tratados de forma adequada.
Este texto sobre neuroses fóbicas, neuroses histéricas e outros transtornos foi escrito por Renata Soares Dinis, especialmente para o blog Psicanálise Clínica.
1 thoughts on “Neuroses fóbicas e neuroses histéricas: a visão da psicanálise”
Parabéns Renata Soares Dinis pelo artigo, muito bem detalhado, lindo e esclarecedor para mim, pois conheço mães nesse perfil e vou poder ajudá-las de forma objetiva, vejo que elas sofrem demais por não saber agir, educar ou demonstrar amor pelos filhos, e ao mesmo momento elas são leoas para defende-los!