transtorno de personalidade narcisista

Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN)

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Entenda sobre o transtorno de personalidade narcisista. O termo “narcisismo” tem origem na mitologia grega, especificamente na história de Narciso, um jovem de extrema beleza que, de acordo com a lenda, caiu perdidamente apaixonado por sua própria imagem refletida na água. A história de Narciso é mais conhecida através das narrativas dos poetas gregos antigos, especialmente de Ovídio, que a incluiu em suas “Metamorfoses”.

Na história de Narciso, ele é frequentemente descrito como alguém que era tão absorvido por sua própria beleza que se apaixonou por sua própria imagem refletida, incapaz de desviar o olhar da água. Consumido por esse amor impossível, Narciso acabou se afogando na tentativa de alcançar sua própria imagem.

O transtorno de personalidade narcisista, Freud e o Narcisismo

Conforme delineado por Sigmund Freud, o narcisismo figura como um conceito essencial em sua teoria psicanalítica, manifestando-se em duas formas primordiais:

  • Narcisismo Primário: O narcisismo primário se configura como uma etapa intrínseca e normativa no desenvolvimento humano, manifestando-se nos primeiros meses de vida da criança. Neste estágio, a criança direciona seu afeto e aspiração de gratificação predominantemente para si mesma, antes de voltá-los para objetos externos, como seus pais ou cuidadores. A criança, ainda incapaz de discernir claramente a distinção entre o “eu” e o “outro”, vivencia uma sensação de unidade com o ambiente circundante. Tal estado de auto-absorção é considerado imperativo para a progressão saudável da psicologia infantil.
  • Narcisismo Secundário: O narcisismo secundário faz referência ao apreço e à investida emocional que uma pessoa dispensa a elementos exteriores, sejam eles outras pessoas, concepções, carreiras ou realizações. Este estágio marca o início do desenvolvimento de interações interpessoais por parte da criança e sua interação com o mundo exterior. O narcisismo secundário envolve a capacidade de nutrir e valorizar outras entidades, bem como a habilidade de receber afeto e reconhecimento em retribuição.

O transtorno de personalidade narcisista

Portanto segundo Freud, o narcisismo se apresenta como um elemento inerente ao desenvolvimento psicossexual humano, tendo sua gênese no narcisismo primário, que evolui ao longo do crescimento infantil em direção ao narcisismo secundário. Vale destacar que, na concepção freudiana, o narcisismo primário é uma fase considerada normal e essencial para o desenvolvimento sadio, enquanto o narcisismo secundário desempenha um papel crucial no funcionamento social e emocional bem-ajustado.

Partindo desse ponto notamos que Sigmund Freud não desenvolveu diretamente o conceito de Transtorno de Personalidade Narcisista, como é entendido nos contextos contemporâneos. No entanto, Freud fez contribuições grandiosas para a compreensão do narcisismo como um componente do desenvolvimento humano.

A concepção moderna do Transtorno de Personalidade Narcisista é mais influenciada por teorias e pesquisas posteriores na psicanálise, psicologia e na psiquiatria. Portanto, não há uma descrição direta de um Transtorno de Personalidade Narcisista nos escritos de Freud.

O que é o Transtorno de Personalidade Narcisista

O Transtorno de Personalidade Narcisista é caracterizado por um padrão duradouro de grandiosidade, necessidade de admiração excessiva e falta de empatia em relação aos outros. Pessoas com esse transtorno tendem a ter uma autoimagem inflada e a exigir constante atenção e reconhecimento dos outros.

O Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN), de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5) é um distúrbio de personalidade caracterizado por um padrão persistente de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia por outras pessoas. Essas características são evidentes em várias áreas da vida do indivíduo e começam a se manifestar no início da idade adulta.

Os critérios diagnósticos do TPN, de acordo com o DSM-5, incluem:

  • Grandiosidade: Um senso inflado de auto importância, exagerando realizações e talentos, e esperando ser reconhecido como superior sem comensurável conquista.
  • Fantasias de sucesso ilimitado, poder, beleza ou amor ideal: A pessoa com TPN tende a ter fantasias exageradas de sucesso, poder, beleza ou amor ideal.
  • Acreditar ser “especial” e só poder ser compreendido por pessoas especiais ou de status elevado: O indivíduo com TPN frequentemente acredita que só pode ser compreendido por outros que sejam igualmente especiais ou de status elevado.
  • Necessidade excessiva de admiração: Há uma necessidade constante de admiração e atenção dos outros, muitas vezes acompanhada por exploração interpessoal.
  • Exploração interpessoal: A pessoa com TPN frequentemente explora e se aproveita dos outros para atender às suas próprias necessidades.
  • Falta de empatia: Uma falta de empatia, caracterizada pela incapacidade de reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e necessidades dos outros.
  • Comportamentos e atitudes arrogantes e presunçosos: Atitudes e comportamentos presunçosos e arrogantes são comuns no TPN.

Formas mais severas

É importante notar que o Transtorno de Personalidade Narcisista pode variar em gravidade. E muitos desses sinais dizem respeito a outros transtornos ou traços de personalidade, daí a importância de analisar caso a caso.

Em sua forma mais severa, pode causar dificuldades significativas nos relacionamentos e no funcionamento geral da pessoa afetada, abordaremos a seguir alguns níveis e tipos de narcisistas.

Tipos de Narcisistas

Ernest Jones (1913), em seu trabalho pioneiro, pode ser considerado um dos primeiros analistas a descrever indivíduos altamente narcisistas. Em sua análise, ele retratou um homem que mostrava traços de exibicionismo, indiferença emocional, inacessibilidade afetiva, fantasias de onipotência, uma elevada autoavaliação de sua própria criatividade e uma tendência a emitir muitos julgamentos.

Jones representou essas personalidades em um espectro que abrange desde a psicose até a normalidade, observando que “quando se tornam insanos, esses homens são capazes de expressar abertamente a ilusão de que de fato são Deus, e situações desse tipo podem ser testemunhadas em qualquer manicômio” (Jones, 1913, p. 245).

Bursten (1973b) propôs uma tipologia das personalidades narcisistas que incluía várias subcategorias, como as ansiosas, paranoides, manipuladoras e fálico-narcisistas. Observou-se frequentemente que, por trás de uma fachada narcisista vaidosa e imponente, se esconde uma criança tímida e consciente de si mesma. Da mesma forma, em indivíduos narcisistas com tendências depressivas e autocríticas, pode-se encontrar uma visão grandiosa do que essas pessoas acreditam que deveriam ser ou poderiam ser (Meissner, 1979; A. Miller, 1975; Morrison, 1983).

O transtorno de personalidade narcisista e o narcisista virtuoso

A literatura clínica tem consistentemente delineado distinções entre duas variantes do narcisismo, frequentemente referidas como “absorto” versus “hipervigilante” (Gabbard, 1989), “manifesto” versus “oculto” ou “tímido” (Akhtar, 2000), “exibicionista” versus “fechado” (Masterson, 1993), e “casca grossa” versus “pele fina” (Rosenfeld, 1987). Além disso, Pharis (2004) descreveu a figura do “narcisista virtuoso”, frequentemente encontrada na política, que, de forma discreta, permite que outros assumam a responsabilidade por seus próprios erros, como menciona Nancy McWilliams.

Há diferença entre ter traços narcisistas e ter o transtorno de personalidade narcisista. Segundo a psicanalista Taryana Rocha há um espectro narcisista que ela se refere como régua do narcisismo de zero a dez. Vejamos:

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    • Níveis 0 a 3 – O indivíduo apresenta pouco narcisismo, isso pode ser prejudicial em alguns casos, pois é necessário pensar em si mesmo para viver em sociedade.
    • Níveis 4 a 6 – É o que a psicanalista Taryana chama de narcisismo saudável, pois nesse nível o indivíduo reconhece seus valores e tem o ego fortalecido para superar desafios e buscar seus ideais em sociedade.
    • Nível 7 – Há traços de narcisismo patológico, porém o indivíduo consegue refletir e reconhecer seus próprios erros porque há empatia.
    • Níveis 8 e 9 – Já é o transtorno de personalidade narcisista, nesses níveis o indivíduo não consegue reconhecer erros em si mesmo e dificilmente tem empatia verdadeira.
    • Nível 10 – Este é o transtorno de personalidade narcisista psicopata ou maligna, como alguns psicanalistas se referem. Não há empatia ou humanidade no indivíduo.

    O tratamento

    De acordo com a psicanalista Taryana Rocha, mesmo nos casos em que um indivíduo não apresente o Transtorno de Personalidade Narcisista, ou seja, não tenha atingido um estágio avançado na escala do narcisismo, é notoriamente desafiador para essas pessoas aceitar ajuda e buscar tratamento. Portanto, mesmo quando se trata de uma pessoa que manifesta traços narcisistas, é fundamental estabelecer limites a fim de promover um nível mínimo de convivência saudável com elas.

    NPI – O Inventário de Personalidade Narcísica

    O Inventário de Personalidade Narcísica (NPI) é um dos testes psicológicos mais clássicos e amplamente empregados. Ele foi desenvolvido para avaliar traços de narcisismo subclínico na população em geral. O NPI é propriedade de Robert Raskin, Howard Terry e Calvin S. Hall, e seu uso é permitido mediante uma licença de pesquisa concedida à IDR Labs International.

    Importante salientar que, embora tenha sido projetado para avaliar características narcisistas subclínicas, o NPI não deve ser utilizado para diagnosticar o Transtorno da Personalidade Narcisista (DNP). Além disso, não deve ser confundido com o Modelo de Cinco Fatores ou com sistemas de personalidade como a Tríade Negra. O Inventário de Personalidade Narcísica (NPI) é uma ferramenta específica para medir traços de narcisismo em indivíduos, e sua propriedade, assim como elementos de arte e texto não relacionados aos itens do teste, pertencem à IDR Labs International.

    É importante esclarecer que apenas um psiquiatra pode diagnosticar o transtorno de personalidade narcisista e que isso é feito através de uma análise cuidadosa e complexa visto que o narcisista em um nível patológico não buscará auxílio profissional pois ele é incapaz de ver erros em si próprio e aceitar ajuda ou tratamento.

    Conclusão: sobre o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN)

    Portanto é importante saber que existem traços narcisistas e transtorno de personalidade narcisista e que existe um espectro a ser considerado. A vertente psicanalítica oferece insights valiosos sobre como os traços narcisistas se desenvolvem na personalidade e como podem progredir para um transtorno de personalidade, enfatizando também a importância da compreensão das dinâmicas internas e do trabalho terapêutico profundo para abordar os problemas relacionados ao narcisismo patológico.

    Quando o indivíduo possui um nível de narcisismo tratável, ou seja, o indivíduo consegue refletir sobre o próprio comportamento e erros, a terapia psicanalítica pode ser uma abordagem eficaz, ajudando a explorar a origem desses traços narcisistas, auxiliando o indivíduo a desenvolver uma autoimagem mais realista e trabalhando na compreensão e aceitação de suas vulnerabilidades subjacentes.

    Este texto foi escrito por Viviane Rodrigues (instagram profissional: vivipsica_analise), é Especialista em Neuropsicologia e atualmente se profissionalizando em Psicanálise. Professora há mais de dezoito anos e a vida toda intrigada pela mente humana.

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