Freud descobriu o inconsciente enquanto procurava elucidar a histeria. Quando ainda estava usando a hipnose, ele havia compreendido, graças a JM Charcot e a M. Bernheim, que as disfunções somáticas dos histéricos (paralisia, dor, etc.) não correspondiam às áreas de inervação, mas a representações inconscientes do corpo. Sendo assim, iniciou sua obra A Primeira Tópica.
Com a aplicação do método associativo, ele aprende que essas representações vêm da sexualidade infantil, que foram retiradas do campo da consciência por razões defensivas e que se exteriorizam ao serem transpostas para os sintomas.
Ele imediatamente percebe que descobriu a etiologia e patogênese da histeria. Olhando para os outros quadros clínicos, ele pode estender o escopo de sua descoberta. Todas as neuroses têm um significado e nem sempre estão visíveis ou explícitas.
Dinâmica do inconsciente
Freud, portanto, abriu o caminho para uma compreensão dinâmica do inconsciente. Indo além das muitas obras que antes dele postularam a existência de uma psique inconsciente, ele destaca as forças que a criam. A partir daí ele pode descrever seu conteúdo, A Primeira Tópica, que caracteriza sua organização interna e seu modo de funcionamento.
Mas desde o início ele tem a ambição de construir uma teoria global da psique. Ele poderá lançar as primeiras teorias depois de ter conseguido interpretar sonhos, atos falhos, deslizes, produções mitológicas e artísticas.
Seu estudo não deixa dúvidas: o inconsciente é um constituinte normal e universal da psique que explica a existência e função no contexto de uma nova psicologia.
Freud e o caminho para o inconsciente: sonhos e atos falhos
Mas de que maneira podemos esperar acessar esse inconsciente dinâmico que constitui a base de nossa psique? Os conteúdos reprimidos manifestam-se por processos mórbidos e psicopatológicos (neuroses) mas também por sonhos e atos falhados.
Por meio dessas diversas manifestações, o conteúdo do inconsciente penetra, mascarado, até o consciente e torna-se possível interpretar o que parecia incoerente e detectar uma intenção e um sentido, decifrando e dando-lhe inteligibilidade.O mesmo acontece com o sonho, onde Freud distingue um conteúdo manifesto e um conteúdo latente.
O primeiro designando a fachada por trás da qual o fato real está escondido, o sonho como ele nos aparece a segunda, conjunto resultante de temas recalcados e presidindo o sonho do fundo do inconsciente.
Processos nos sonhos
- o processo pelo qual os pensamentos latentes se transformam em conteúdo manifesto é chamado de produção de sonhos.
- interpretação do sonho: Freud a define como a busca de ideias latentes e inconscientes do sonho, e isso se dá pela mediação do conteúdo manifesto do sonho.
- mas atos perdidos também representam uma estrada real para o inconsciente: Freud nomeia dessa forma os incontáveis atos da vida cotidiana que perdem seu objetivo e traem uma intenção inconsciente.
São com esses deslizes e com esses objetos quebrados, que não são de forma alguma desprovidos de importância, que se tem um significado interno no sonho.
Freud aparece como um pensador que tentou inscrever o significado, a inteligibilidade, onde a inconsistência e a desordem parecem aparecer. Como o sonho é um ato falho, o sintoma neurótico é analisado como uma formação realizadora no lugar de algo que não poderia ter se manifestado de outra forma.
A neurose não é um simples acidente nem uma incoerência, mas a expressão de um processo.
Freud: Divisão do aparelho psíquico
A divisão do aparelho psíquico em Freud é essencial, corresponde ao primeiro e ao segundo tópico que se complementam. O diagrama retoma a imagem do iceberg para explicar a situação e a divisão do aparelho psíquico (que chamamos de instâncias).
- o primeiro tópico considera dois sistemas: o sistema inconsciente e o sistema pré – consciente / consciente;
- o segundo tópico considera três instâncias: o id, o ego e o superego.
Seguindo o diagrama acima, o sistema consciente corresponde à parte submersa (como a parte submersa de um iceberg) da vida psíquica do indivíduo. Você notará que esta parte submersa é pequena em comparação com a totalidade do aparelho psíquico. Em última análise, apenas uma pequena parte de nossa psique está consciente.
É o mesmo para o pré-consciente, no qual se encontram os elementos latentes, espécie de limiar entre o consciente e o inconsciente.
A “linha d’água” indica a profundidade do inconsciente (aquele e o superego) e marca a coexistência no consciente do ego e do superego (ou seja, a unidade da pessoa e a barreira das proibições) .
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As três instâncias de culpa:
- Id: é o lugar onde nascem as pulsões, o reservatório da libido. Ele está totalmente inconsciente. O id põe em causa a concepção filosófica, em particular kantiana, para a qual a ação psíquica é condicionada pelo espaço e pelo tempo.
- Eu: refere-se à unidade do sujeito, de sua personalidade, é caracterizado pela razão (pensamento) e narcisismo (ideal do ego); o ego é responsável pelos mecanismos de defesa inconscientes.
- Superego: representa a barreira da crítica auto imposta e internalizada. Podemos descrevê-lo como um agressor interno, pois volta a pulsão de morte contra o sujeito, mas um agressor útil porque garante as proibições sociais introjetadas pelo indivíduo, permitindo-lhe assim viver em sociedade.
- Estrutura moral (concepção do bem e do mal) e judicial (capacidade de recompensa ou punição): refere-se a elementos culturais (proibido, parricídio, incesto, herdeiros do complexo de Édipo). Ele é a instância na origem da culpa porque crítica e julga o ego.
Considerações finas sobre primeira tópica de Freud
Como pudemos ver nesse artigo, o diagrama mostra claramente a coexistência do ego e do superego e o lugar do id na constituição da unidade da pessoa.
O id atua no inconsciente sobre o ego, pré-consciente e consciente, ou seja, condiciona a unidade do sujeito.
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