Conheça os principais conceitos da psicanálise de Winnicott e como sua teoria influencia a clínica e o desenvolvimento do self.

Psicanálise e Winnicott: Teoria, Clínica e Contribuições para a Compreensão do Self

Publicado em Publicado em Teoria Psicanalítica

Neste artigo, exploramos os principais conceitos da psicanálise e Winnicott, como ambiente facilitador, objeto transicional, espaço potencial e a distinção entre verdadeiro self e falso self, refletindo sobre suas implicações para o desenvolvimento humano e a prática clínica contemporânea.

Introdução ao pensamento de Winnicott

Neste trabalho, desenvolveremos o conceito de Winnicott diante de sua forma de intervir na psicanálise. Esta abordagem é relevante e fundamental para a psicanálise, através da compreensão do desenvolvimento infantil, nas relações objetais e psicopatologia.

Um pensamento que traz uma perspectiva que complementa e desafia as ideias da psicanálise clássica freudiana.

Com o objetivo de compreender o desenvolvimento emocional humano, desde o estado de dependência absoluta de um bebê até a autonomia relativa de um adulto. Se desdobrando em várias nuances e focos específicos:

No início abordarei um pouco sobre a vida de Winnicott e já na segunda parte, focarei sobre suas teorias psicanalíticas que trouxeram uma revolução de ideias com seus novos conceitos.

Para atingir esses objetivos, a metodologia empregada foi de estar se debruçando sobre sua vida e suas teorias, não podia eu deixar de falar sobre sua vida, pois esta mesma foi decisiva para as suas teorias.

Winnicott e o ambiente facilitador

Winnicott, uma vida além de seu tempo. Donald Woods Winnicott era pediatra e psicanalista britânico, surgiu como uma figura singular na história da psicanálise, desafiando e expandindo as fronteiras da teoria e da prática.

Sua abordagem, centrada na relação mãe-bebê e na importância do ambiente inicial, trouxe à luz a complexidade do desenvolvimento emocional e a busca pela autenticidade.

Este trabalho, com o objetivo de explorar a vasta contribuição de Winnicott, mergulha em seus conceitos inovadores, sua visão da clínica psicanalítica e sua relevância para a compreensão da psique humana na contemporaneidade.

Winnicott deslocou o foco da psicanálise do indivíduo isolado para a díade mãe-bebê, reconhecendo a relação como a matriz fundamental do desenvolvimento psíquico.

O “ambiente facilitador”, um conceito central em sua teoria, descreve um ambiente seguro e acolhedor, onde o bebê pode se desenvolver sem ser excessivamente perturbado.

A “mãe suficientemente boa”, figura emblemática desse ambiente, não é uma mãe perfeita, mas sim aquela que se adapta às necessidades do bebê, oferecendo cuidado e suporte de forma responsiva e gradual.

O verdadeiro self e o falso self

Essa adaptação permite que o bebê experimente um senso de onipotência primária, essencial para o desenvolvimento de um senso de si mesmo autêntico.

A falha da mãe em fornecer um ambiente suficientemente bom pode levar a um desenvolvimento psíquico distorcido, resultando em um “falso self“.

O falso self é uma máscara defensiva criada para lidar com um ambiente inadequado, onde o bebê precisa se adaptar às necessidades da mãe em vez de ter suas próprias necessidades atendidas.

Essa adaptação excessiva pode levar a sentimento de vazio, inadequação e falta de autenticidade na vida adulta.

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O “objeto transicional”, como um cobertor ou ursinho, representa o primeiro “não-eu” do bebê, um objeto que o conforta e o ajuda a lidar com a separação da mãe.

Esse objeto inaugura o “espaço potencial”, um espaço intermediário entre a realidade interna e externa, onde a criatividade e o brincar florescem.

Espaço potencial e criatividade

O espaço potencial é fundamental para o desenvolvimento da capacidade de simbolização e para a saúde mental, pois permite que a criança explore sua realidade interna e externa de forma segura e criativa.

O espaço potencial é o lugar onde a realidade subjetiva se encontra com a realidade objetiva:

  • É o espaço do brincar, da arte, da religião e da cultura.
  • É o espaço onde a criatividade humana se manifesta e onde o indivíduo encontra significado e sentido na vida.

A capacidade de habitar o espaço potencial é essencial para a saúde mental, pois permite que o indivíduo lide com a ansiedade, a frustração e a perda de forma criativa e adaptativa.

Winnicott distinguiu entre o “verdadeiro self”, o núcleo autêntico da personalidade, e o “falso self”, uma máscara defensiva criada para lidar com um ambiente inadequado.

O verdadeiro self é a fonte da criatividade, da espontaneidade e da vitalidade. É o lugar onde o indivíduo se sente vivo e autêntico.

Terapia winnicottiana e o brincar

O falso self, por outro lado, é uma adaptação defensiva que impede o desenvolvimento do verdadeiro self e leva a sentimento de vazio e inadequação. A terapia winnicottiana busca ajudar o paciente a entrar em contato com seu verdadeiro self, promovendo a autenticidade e a integração.

O terapeuta cria um ambiente seguro e acolhedor, onde o paciente pode explorar suas emoções e experiências sem medo de julgamento ou rejeição. Através da transferência, o paciente revive e reelabora experiências traumáticas da infância, permitindo que o verdadeiro self emerja e se desenvolva.

Para Winnicott, o brincar é uma forma essencial de comunicação e exploração do mundo. Através do brincar, a criança desenvolve sua capacidade de simbolização, lida com a ansiedade e expressa sua criatividade.

A importância do brincar ao longo da vida

A criatividade, por sua vez, é vista como uma força vital, essencial para a saúde mental e o bem-estar.

A terapia winnicottiana valoriza o brincar e a criatividade como ferramentas terapêuticas, permitindo que o paciente explore suas emoções e encontre novas formas de se relacionar com o mundo. O brincar não é apenas uma atividade infantil, mas sim uma forma de comunicação e expressão que continua a ser relevante ao longo da vida.

Através do brincar, os adultos podem explorar suas emoções, lidar com o estresse e encontrar novas formas de se conectar com os outros. A criatividade, por sua vez, é essencial para a resolução de problemas, a adaptação a novas situações e a busca por significado e sentido na vida.

A clínica winnicottiana busca recriar um ambiente seguro e acolhedor, semelhante ao ambiente facilitador da infância. O terapeuta assume uma postura de “não saber”, permitindo que o paciente explore suas próprias experiências e encontre seu próprio caminho para a cura.

A clínica winnicottiana e sua atualidade

A transferência é vista como uma oportunidade para o paciente reviver e reelaborar experiências traumáticas da infância, promovendo a integração e o crescimento emocional. A terapia winnicottiana não se concentra em interpretar o inconsciente do paciente, mas sim em criar um ambiente onde o paciente possa se sentir seguro e acolhido.

O terapeuta não é um especialista que sabe tudo, mas sim um facilitador que ajuda o paciente a explorar suas próprias experiências e a encontrar suas próprias respostas.

A transferência é vista como uma oportunidade para o paciente reviver e reelaborar experiências traumáticas da infância, permitindo que o verdadeiro self emerja e se desenvolva. As ideias de Winnicott continuam relevantes na contemporaneidade, especialmente em um mundo marcado pela ansiedade, individualismo e superficialidade.

Legado de Winnicott na psicanálise

Sua ênfase na importância do ambiente, da autenticidade e da criatividade oferece um contraponto valioso à cultura do desempenho e da imagem.

A terapia winnicottiana se mostra eficaz no tratamento de diversos transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtornos de personalidade. Em um mundo onde a pressão para se adaptar e se conformar é constante, a busca pela autenticidade se torna ainda mais importante.

A terapia winnicottiana oferece um espaço seguro e acolhedor onde os indivíduos podem se reconectar com seu verdadeiro self, explorar suas emoções e encontrar novas formas de se relacionar com o mundo. Donald Woods Winnicott deixou um legado inestimável para a psicanálise e para a compreensão do desenvolvimento humano.

Sua teoria, centrada na relação mãe-bebê e na importância do ambiente, expandiu a compreensão da formação do self e da saúde mental, oferecendo novas perspectivas para a prática clínica e para a reflexão sobre a natureza humana.

A terapia winnicottiana se mostra uma abordagem eficaz e relevante para o tratamento de diversos transtornos mentais, promovendo a autenticidade, a criatividade e o bem-estar emocional.

O conceito de mãe suficientemente boa

Winnicott introduziu o conceito de uma mãe “bom suficientemente boa”, que fornece um ambiente de apoio e facilita o desenvolvimento saudável do bebê, atendendo às suas necessidades sem ser perfeitamente adaptada. Isso permite que o bebê experimente um senso de onipotência e, gradualmente, se adapte à realidade à medida que a mãe diminui gradualmente sua adaptação.

Winnicott observou a interação entre mães e bebês, percebendo que a mãe idealizada da teoria freudiana era irrealista e potencialmente prejudicial. Ele propôs o conceito de “mãe suficientemente boa” como uma figura que, embora não seja perfeita, adapta-se ativamente às necessidades do bebê nas fases iniciais.

Adaptação inicial e frustrações graduais

Adaptação Quase Perfeita (Fase Inicial): Nos primeiros meses, a mãe suficientemente boa oferece uma adaptação quase total às necessidades do bebê, criando uma ilusão de onipotência no infante. Ele sente que seus desejos criam a realidade (onipotência primária). Essa fase é crucial para o desenvolvimento de um senso de confiança básica e para a formação do verdadeiro self.

Diminuição Gradual da Adaptação: À medida que o bebê cresce, a mãe gradualmente diminui sua adaptação, introduzindo pequenas frustrações. Essa diminuição é essencial para que o bebê comece a perceber a realidade externa e a desenvolver a capacidade de lidar com a separação e a frustração.

  • Importância: A mãe suficientemente boa permite que o bebê experimente um senso de continuidade do ser e desenvolva a capacidade de estar sozinho na presença de alguém. Falhas significativas nessa adaptação podem levar ao desenvolvimento de um falso self, como uma forma de proteger o verdadeiro self de um ambiente não responsivo.
  • Implicações Clínicas: Este conceito influenciou a forma como os terapeutas abordam a relação terapêutica, buscando oferecer um ambiente seguro e responsivo, análogo ao holding materno.

Objeto transicional e espaço potencial

Objetos transicionais, como um cobertor de segurança ou brinquedo, desempenham um papel crucial no desenvolvimento infantil, fornecendo conforto e segurança durante a transição da dependência da mãe para a independência.

Esses objetos representam o objeto ausente (a mãe) e ajudam a criança a lidar com a ansiedade de separação. Os fenômenos transicionais referem-se às atividades e experiências associadas ao objeto transicional, marcando o início da capacidade da criança de usar símbolos.

  • Origem e Função: Winnicott notou a importância de objetos específicos que os bebês escolhem (como um cobertor, um brinquedo) para se confortarem na ausência da mãe. Ele chamou esses objetos de “objetos transicionais”.
  • Espaço Potencial: O objeto transicional reside em um “espaço potencial” entre a realidade interna do bebê e a realidade externa compartilhada com a mãe. Este espaço é crucial para o desenvolvimento da capacidade de simbolização e para a transição da dependência para a independência.

Características e função simbólica do objeto transicional

Características do Objeto Transicional:

  • Não é parte do corpo do bebê, mas também não é completamente externo.
  •  Possui um significado especial para o bebê, proporcionando conforto e segurança.
  •  Sua importância diminui gradualmente à medida que a criança desenvolve outras formas de lidar com a ansiedade de separação.

Fenômenos Transicionais: Referem-se às atividades e comportamentos associados ao objeto transicional, como cantarolar, balançar ou chupar o objeto. Esses fenômenos marcam o início da capacidade da criança de usar símbolos e de criar um mundo psíquico próprio.

Importância: O objeto transicional e os fenômenos transicionais são fundamentais para o desenvolvimento da criatividade, da capacidade de brincar e da adaptação à realidade.

Verdadeiro self e a espontaneidade do ser

Winnicott propôs que um verdadeiro self se desenvolve a partir de experiências de ser espontâneo e autêntico, facilitadas por cuidados maternos responsivos.

Em contraste, um falso self pode se desenvolver como um mecanismo de defesa para proteger o verdadeiro self de um ambiente que não era suficientemente empático ou responsivo.

O falso self é uma fachada que permite ao indivíduo interagir com o mundo, mas pode levar a sentimento de vazio ou inautenticidade se dominar o verdadeiro self.

Desenvolvimento do Verdadeiro Self:

O verdadeiro self emerge de experiências de espontaneidade, autenticidade e reconhecimento por parte da mãe suficientemente boa.

Quando a mãe responde às necessidades genuínas do bebê, permitindo que ele experimente seus impulsos e gestos espontâneos, o verdadeiro self começa a se formar. É o núcleo da personalidade, a fonte da vitalidade e da criatividade.

O falso self como defesa contra o não reconhecimento

Desenvolvimento do Falso Self: O falso self se desenvolve como um mecanismo de defesa em resposta a um ambiente que não foi suficientemente responsivo ou que foi intrusivo.

Quando a mãe consistentemente não responde às necessidades do bebê ou exige uma adaptação às suas próprias necessidades, o bebê pode desenvolver um falso self para se relacionar com o mundo e proteger o verdadeiro self vulnerável.

Espectro do Falso Self: Winnicott via o falso self em um espectro:

  • Falso Self Adaptativo: Em certo grau, o falso self é necessário para a interação social e para a adaptação às normas.
  • Falso Self Defensivo: Quando o falso self se torna dominante, ele pode obscurecer o verdadeiro self, levando a sentimento de vazio, inautenticidade e dificuldades em estabelecer relacionamentos genuínos.

Implicações Clínicas:

Na terapia, o objetivo é ajudar o paciente a entrar em contato com seu verdadeiro self, muitas vezes enterrado sob camadas de um falso self defensivo. O terapeuta oferece um ambiente seguro e de aceitação para que o paciente possa explorar e expressar sua autenticidade.

Holding e o ambiente seguro

O “holding” refere-se ao ambiente de apoio e protetor fornecido pela mãe (ou cuidador) ao bebê. Isso inclui não apenas o cuidado físico, mas também o apoio emocional e a capacidade de conter as ansiedades do bebê.

O conceito de holding foi estendido à psicoterapia, onde o terapeuta fornece um espaço seguro e confiável para o paciente explorar seus sentimentos e experiências.

Significado original e expansão do conceito

O Conceito de Holding e seu significado original: Inicialmente, “holding” referia-se ao ato físico de segurar o bebê, proporcionando segurança e contenção.

A extensão do conceito: Winnicott expandiu o conceito para incluir todo o ambiente de cuidado fornecido pela mãe, abrangendo o apoio emocional, a capacidade de conter as ansiedades do bebê e a criação de um espaço seguro e previsível.

Funções do holding materno e terapêutico

Funções do Holding:

Contenção: A mãe suficientemente boa é capaz de conter as angústias e frustrações do bebê, ajudando-o a processar suas emoções.

Proteção: O holding protege o bebê de estímulos excessivos e intrusões ambientais.

Validação: Ao responder às necessidades do bebê, a mãe valida sua experiência subjetiva, contribuindo para o desenvolvimento de um senso de self coeso.

Holding Terapêutico: O conceito de holding foi transferido para a prática terapêutica, onde o terapeuta busca oferecer um ambiente seguro, confiável e empático para o paciente.

A terapeuta “segura” as emoções e angústias do paciente, permitindo que ele explore seus sentimentos e experiências de forma segura.

O brincar como experiência psíquica e expressão do self

Winnicott via o brincar como essencial para o desenvolvimento psicológico e a criatividade. Ele acreditava que o brincar permite que os indivíduos explorem a realidade, expressem seus verdadeiros selfes e desenvolvam um senso de agência.

Na terapia, o brincar pode ser uma ferramenta valiosa para pacientes, especialmente crianças, para comunicar seus sentimentos e trabalhar em questões emocionais.

Importância do brincar no desenvolvimento e na terapia

Importância para o Desenvolvimento: Winnicott considerava o brincar como uma atividade fundamental para o desenvolvimento psicológico.

Ele acreditava que é no brincar que a criança explora a realidade, experimenta a criatividade e desenvolve um senso de agência.

Espaço Potencial no Brincar: O brincar ocorre no espaço potencial, a mesma área onde reside o objeto transicional. É um espaço de liberdade onde as realidades internas e externas se encontram.

Brincar na Terapia: Winnicott utilizava o brincar como uma ferramenta terapêutica, especialmente com crianças. Ele via o brincar como uma forma de comunicação e expressão de sentimentos que podem ser difíceis de verbalizar.

Relação entre brincar, holding e desenvolvimento emocional

Desenvolvimento da Capacidade de Brincar: A capacidade de brincar saudável está relacionada a um bom holding materno e a experiências iniciais positivas.

Dificuldades no brincar podem indicar problemas no desenvolvimento emocional.

Espaço potencial e a criação psíquica

O espaço potencial é uma área intermediária entre a realidade interna e externa, onde ocorrem a criatividade, o brincar e a experiência cultural.

É o espaço onde o objeto transicional existe, representando a capacidade de manter a realidade interna e externa separadas, mas inter-relacionadas.

Winnicott considerava este espaço essencial para a saúde psicológica e o enriquecimento da vida.

Origem e implicações clínicas do espaço potencial

Definição: O espaço potencial é uma área intermediária entre a realidade psíquica interna e a realidade externa. É o espaço onde ocorrem a criatividade, o brincar, a experiência cultural e a vida imaginativa.

Origem no Objeto Transicional: O espaço potencial tem suas raízes na experiência com o objeto transicional, que representa essa ponte entre o interno e o externo.

Importância para a Saúde Psicológica: Um espaço potencial bem desenvolvido é essencial para a saúde psicológica, pois permite que o indivíduo se conecte com sua criatividade, encontre significado na vida e se relacione com o mundo de forma flexível.

Implicações Clínicas: A terapia pode ser vista como uma tentativa de restabelecer ou expandir o espaço potencial do paciente, permitindo que ele explore novas formas de ser e de se relacionar.

Preocupação materna primária e desenvolvimento do bebê

Este é um estado de intensa concentração e identificação com o bebê experimentado pela mãe durante as primeiras semanas após o nascimento.

Essa preocupação permite que a mãe atenda intuitivamente às necessidades do bebê, lançando as bases para um desenvolvimento saudável.

Descrição: Este é um estado psicológico especial que a mãe desenvolve nas semanas que antecedem e sucedem o nascimento do bebê. Caracteriza-se por uma intensa identificação com o bebê e uma sensibilidade aumentada às suas necessidades.

Função: A preocupação materna primária permite que a mãe atenda intuitivamente às necessidades do bebê, criando um ambiente de holding adequado.

Estado transitório e suas implicações

Transitória: Este estado é transitório e diminui gradualmente à medida que o bebê se torna mais independente.

Importância: A falha na instalação da preocupação materna primária ou sua interrupção precoce pode ter implicações negativas para o desenvolvimento do bebê.

Regressão à dependência como fenômeno clínico

Winnicott acreditava que, em certas situações terapêuticas, os pacientes podem regredir a um estado de dependência como uma forma de reviver experiências iniciais e necessidades não satisfeitas.

O terapeuta fornece um ambiente de “holding” para facilitar essa regressão de forma segura, permitindo que o paciente processe e integre essas experiências.

Tipos de regressão e papel do terapeuta

Conceito Clínico: Winnicott observou que, em certas situações terapêuticas, os pacientes podem regredir a estados de dependência semelhantes aos da infância.

Função Terapêutica: Essa regressão pode ser vista como uma oportunidade para reviver experiências iniciais e necessidades não satisfeitas em um ambiente terapêutico seguro e continente.

Tipos de Regressão: Winnicott descreveu diferentes tipos de regressão, desde regressões mais superficiais até regressões mais profundas, que podem ser necessárias para trabalhar traumas precoces.

Papel do Terapeuta: O terapeuta precisa ser capaz de tolerar e conter a regressão do paciente, oferecendo um holding terapêutico que permita a reelaboração de experiências passadas.

A importância da não comunicação e o núcleo do self

Winnicott reconheceu a importância da não comunicação na vida psíquica. Ele sugeriu que existe um núcleo do self que é essencialmente não comunicativo e que respeitar esse aspecto é crucial na terapia.

O terapeuta deve ser capaz de tolerar o silêncio e a não comunicação, reconhecendo seu significado potencial.

As contribuições de Winnicott expandiram a teoria psicanalítica tradicional, enfatizando a importância das primeiras relações objetais e do ambiente no desenvolvimento do self.

Seu trabalho tem sido particularmente influente na psicoterapia infantil e no tratamento de indivíduos com dificuldades de apego e transtornos de personalidade.

Sua perspectiva oferece uma compreensão mais relacional e interpessoal do desenvolvimento psicológico e da psicopatologia.

Reconhecimento do silêncio como elemento terapêutico

Reconhecimento da complexidade: Winnicott reconheceu que nem tudo na experiência psíquica pode ser comunicado ou verbalizado. Ele valorizava os aspectos não verbais da comunicação e a importância do silêncio na terapia.

Núcleo do self: Winnicott sugeriu que existe um núcleo do self que é essencialmente não comunicativo, uma parte íntima e privada da experiência que não pode ser totalmente expressa em palavras.

Respeito na terapia: O terapeuta precisa respeitar a não comunicação do paciente, reconhecendo que o silêncio pode ter um significado profundo e que a pressão para verbalizar pode ser intrusiva.

Expansão da teoria psicanalítica e ambiente facilitador

Em resumo, os conceitos de Winnicott representam uma expansão significativa da teoria psicanalítica, com um foco na importância das primeiras relações objetais e do ambiente no desenvolvimento do self.

Sua ênfase na “mãe suficientemente boa”, no objeto transicional, no verdadeiro e falso self, no holding e no brincar oferecem uma compreensão mais profunda e relacional da formação da personalidade e da psicopatologia.

Suas ideias continuam a influenciar a prática clínica, especialmente na psicoterapia infantil e no tratamento de indivíduos com dificuldades de apego e transtornos de personalidade.

Centralidade da relação mãe-bebê e desenvolvimento emocional

Exploramos a influência de Donald Woods Winnicott na psicanálise.

Através de uma análise de seus conceitos fundamentais, sendo a importância do ambiente inicial, e a teoria do desenvolvimento do self e a noção do objeto transicional e o espaço potencial, pode se constatar a relevância da perspectiva para a compreensão da psique humana.

Winnicott abordou singularmente e sensivelmente, deslocando o foco da psicanálise de uma ênfase primordial nas pulsões para a centralidade da relação mãe-bebê e do ambiente facilitador nos primórdios do desenvolvimento.

Sua concepção da “mãe suficientemente boa” e dos processos de holding e handling revolucionaram a compreensão de como as primeiras experiências moldam a capacidade do indivíduo de se sentir real, de estabelecer relações saudáveis e de desenvolver um senso de self coeso.

Autenticidade e sofrimento psíquico

A distinção winnicottiana entre o verdadeiro e o falso self traz uma lente poderosa para analisar as diversas formas de sofrimento psíquico, especialmente aquelas relacionadas a dificuldades de autenticidade e à necessidade de adaptação a ambientes não suficientemente responsivos.

Compreender como a cisão entre o self genuíno e uma fachada protetora se desenvolve é crucial para a prática clínica contemporânea.

Ainda, a introdução do conceito de objeto transicional e do espaço potencial enriquece na compreensão da criatividade, do brincar e da cultura como elementos essenciais para a saúde psíquica e o desenvolvimento da capacidade de simbolização.

Winnicott nos mostra como esse espaço intermediário entre a realidade interna e externa é fundamental para a experiência humana e para a construção de significado.

Aplicações clínicas e legado duradouro

No âmbito clínico, a obra de Winnicott se mostrou particularmente relevante para o tratamento de pacientes com dificuldades pré-edípicas, como transtornos de personalidade e quadros psicóticos.

A ênfase na regressão ao estado de dependência e no oferecimento de um holding terapêutico seguro e continente tem se mostrado eficaz para promover a integração do self e a elaboração de traumas precoces.

Em suma, a contribuição de Donald Woods Winnicott para a psicanálise é inegável e multifacetada. Sua capacidade de articular conceitos complexos de forma acessível e humana, aliada à sua profunda empatia pela experiência do paciente, o consagraram como um dos pensadores mais importantes e influentes do século XX.

Sua obra continua a inspirar e a guiar psicanalistas e profissionais da saúde mental, oferecendo ferramentas valiosas para a compreensão e o tratamento do sofrimento psíquico, e nos lembrando da importância fundamental das relações e do ambiente no florescimento do potencial humano.

Ao concluir esta jornada pela obra de Winnicott, fica evidente que seu legado transcende o tempo, permanecendo atual e essencial para a psicanálise contemporânea e para a nossa compreensão da complexidade da experiência humana.

Sua visão nos convida a olhar para o desenvolvimento com sensibilidade, a valorizar a autenticidade e a reconhecer o poder curativo de um ambiente acolhedor e responsivo.

Este artigo foi escrito por Paulo Henrique Granzotto Montanha, exclusivamente para o blog Psicanálise Clínica.

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