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A Racionalização no Mal-estar da Vida Cotidiana

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Hoje falaremos sobre a racionalização. Cada um de nós temos diante de determinadas situações certos comportamentos, normalmente provenientes do ego, uma das três instâncias psíquicas elaboradas por Sigmund Freud, o fundador da Psicanálise.

O Ego está conceituado na segunda tópica freudiana constituindo juntamente com o Ide e o Superego o chamado Modelo Estrutural ou Dinâmico estabelecido como a divisão dessas instâncias.

Freud instituiu o ego como regido pelo princípio da realidade, possuindo para a Psicanálise um valor inestimável, sendo o prior da instância psíquica e o ponto central da nossa personalidade. Vindo a funcionar especialmente a nível consciente, todavia, possui parte inconsciente.

As Estratégias do Ego e a racionalização

Algumas estratégias são criadas pelo ego com o propósito de preservar o indivíduo de prováveis sofrimentos, frustrações e dores que possam vir a acometer uma pessoa.

Nestes procedimentos o ego realiza um esforço para se esquivar de eventos destas proporções potencialmente dolorosas, consideradas uma ameaça e que poderiam levar o sujeito a uma análise da sua própria personalidade que este não suportaria, a estes processos o grande médico de Viena chamou de mecanismos de defesa.

A Racionalização

Diversos são os mecanismos de defesa do Ego, entre eles aquele em que se usa de um raciocínio lógico para proteção e manutenção do estado psíquico atual do indivíduo, tornando aceitável de forma inconsciente o inaceitável, algo que seria insuportável.

Podendo vir a disfarçar uma emoção, ação, sentimento, entre outros, sendo este artifício chamado de Racionalização.

Os escopos, em suma, são trazidos transmutados de maneira racional, com isso o ego consegue transigir e encobrir as verdadeiras motivações genuínas que levam o indivíduo a certos comportamentos e posicionamentos.

Racionalização como mecanismo de defesa

Trazendo uma justificativa e/ou explicação lógicas e consentidas, muitas vezes dentro de perspectivas ética, social, religiosa, moral e política para suas opiniões e condutas.

Diversas são as situações e os exemplos nos quais podem ocorrer a racionalização como mecanismo de defesa, entre eles de maneira a elucidar, podemos lançar mão de casos hipotéticos.

Exemplo de racionalização

Por exemplo, uma pessoa que na sua infância teve que conviver em um ambiente familiar hostil, onde o pai era agressivo com sua mãe, agindo por vezes de forma violenta.

Ao adulto que assim veio a crescer, pode racionalizar esta experiência generalizando que todos os homens são maus, agressivos, ruins, cruéis e violentos e que por isso devem ser menosprezados, depreciados e combatidos.

É importante ressaltar que neste arquétipo podem ser contemplados tanto o homem quanto a mulher enquanto pais, igualmente, não exigindo o gênero enquanto condição necessária para que ocorra esse processo, podendo ser menina ou menino a ter experimentado essa vivência.

As experiências negativas

Onde o menino após experiências negativas como estas, pode quando adulto vir a racionalizar a sua relação e a forma de ver as mulheres, acreditando e generalizando que todas são vítimas, frágeis, dóceis, sem maldade, inofensivas e perfeitas.

Podendo até vir a criar o pensamento e a defender a ideia de que todas as mulheres são em sua totalidade constituídas de plena pureza, o que pode de certa forma vir a prejudicá-lo em suas relações e vivências.

Da mesma forma, uma menina que passou por tais acontecimentos pode compartilhar de semelhantes condutas. Podendo inclusive vir a conceber na fase adulta, caso a vítima fosse o pai, que todos os homens seriam inocentes, inócuos, ingênuos e imaculados. E que para esta, as mulheres de forma geral procedem com astúcia, usando para isso do ser mulher como estratagema.

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    Pensa, logo está correto

    Esses posicionamentos e comportamentos defendidos com argumentos lógicos, são bem aceitos e constituídos pelo ego, haja vista que o indivíduo por estar discorrendo e raciocinando pensa logo que está correto.

    Outro fator que pode contribuir a tais sujeitos suscetíveis a esta racionalização inerente a eles é o que chamamos de racionalização grupal, que pode ser encontrada em diversas camadas sociais, possuindo grupos bastantes diversos constituídos por pessoas de arquétipos sociais, religiosos, ideológicos, políticos, econômicos e culturais.

    Tendo uma visão do mundo e dos seres humanos próprias, podendo trazer em alguns casos, suas experiências, pensamentos, tradições, crenças, costumes e práticas não como uma conduta e procedimento instituído, pertencente e intrínseco ao seu círculo, mas como mesmo e único modelo imposto e passível de ser vivido, perdurado, perpetuado, de conviver e existir atribuído a todos.

    Reproduções simplistas

    Visão esta que se deixaram determinar e cegar por pensamentos reducionistas e pela “prosperidade”, paz e conforto a eles proporcionados por esta, usando de saídas pouco racionais e simplistas, facilitando a reprodução de tais concepções por aqueles que as adotam e as professam.

    Quando isso ocorre, estes usam como argumento a fala de maneira generalizada como: “os homens são todos iguais” ou “mulher sendo mulher”, utilizando quase sempre de estereótipos: “homem não presta”, “mulheres são interesseiras”, “você sabe como são os homens” e “mulheres, sabe como são né”.

    Podendo estes exemplos serem considerados, em casos extremos, por quem está fora dessa bolha, como sendo comportamentos e posicionamentos machistas e/ou feministas.

    A singular visão de mundo

    A esta forma de proceder que o sujeito por vezes, utiliza a sua singular visão de mundo subjetiva, como a única métrica adequada a todos os viventes, o que indica um viés um tanto quanto narcísico.

    Se restringindo ao seu contorno e recusando a questionar-se enquanto autor de tais falas, evitando uma reflexão mais profunda das causas que o levam a tais crenças limitantes, criando uma barreira à autoanálise e ao crescimento pessoal.

    A autêntica humanidade

    O que significa um afastamento das perguntas que são determinantes para uma autêntica humanidade. Sendo necessário aqui o autoconhecimento, das nossas qualidades, inclinações e mecanismos de defesa.

    Exigindo do sujeito uma intimidade consigo mesmo, uma capacidade de meditação que o leve ao reconhecimento de suas potencialidades, mas também de suas pobrezas.

    Com essas palavras a Psicanálise nos aponta a máxima importância de um acompanhamento terapêutico, evidenciando a eficácia e dignidade de um psicanalista. Que nos norteia nas novas formas de ver, pensar e de ser enquanto indivíduo único e singular.

    Outras formas de racionalização

    É notória a semelhança que pode vir a ocorrer destes exemplos citados com outros comportamentos do cotidiano, não sendo os casos hipotéticos trazidos a única forma de racionalização possível.

    Um exemplo é quando vemos uma criança que por não ganhar um pedaço do lanche do colega diz: “eu não queria mesmo”.

    Ou uma pessoa que caminha com o seu cachorro de grande porte e este vindo arrebentar a guia do enforcador, vai prontamente em direção a outras pessoas ocasionando um acidente, seu tutor logo afirma que não teve qualquer culpa, já que seu animal é irracional e que não teria como evitar tal situação, sendo que poderia ter ele utilizado de uma segunda guia fixa ao peitoral.

    O indivíduo que racionaliza

    Outros como, uma pessoa com dificuldades no ambiente corporativo pode acreditar ser um ótimo profissional e que todos os demais funcionários têm inveja dele e o perseguem.

    Ou, alguém que sempre se coloca como vítima, que diz nunca ter gozado de oportunidades, olhando para os outros e sempre se comparando como inferior. Ainda, alguém que não esteja feliz em seu casamento venha dizer: “que todo casamento é ruim” ou “o homem ou a mulher, sempre traem”. Àqueles ainda: “filho é tudo igual” ou o contrário, vir a acreditar que apenas o/a dele ou dela é perfeito ou ingênua.

    Poderíamos elencar outros como um indivíduo que, querendo ter uma camionete, porém não tendo condições financeiras, venha a dizer: “gasta muito combustível”, “é muito ruim para estacionar” ou “iria ocupar muito espaço na minha garagem”.

    É importante lembrarmos

    Relevante pontuar para que nós não cometamos um equívoco, que a racionalização da ótica do sujeito ou do grupo logra-se correta e coesa.

    Quiçá podendo estar em conformidade com dados científicos e até mesmo no tocante a fatos do mundo. Não obstante, sem deixar de ser um subterfúgio criado pelo ego, uma vez que cria para a pessoa um obstáculo o qual o eclipsa para novos pontos de vista.

    Racionalização como Mal-estar na sociedade

    Com a Psicanálise foi possível acreditar nesta verdade, mas com a obra Freudiana “O Mal-estar na Civilização” ou a “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, ficou ainda mais perceptível que estes comportamentos e posicionamentos podem ser frequentes e comuns em todos os seres humanos, em padrões menores ou em um maior ímpeto de adoecimento patológico.

    Em conclusão, não estamos aqui para ser juízes ou tentar convencer de, até porque, às vezes, as explicações e justificativas do sujeito podem ser bastantes impressionantes, maravilhosas e intelectualizadas.

    O autoconhecimento na reorganização da vida

    Pode ser que você tenha se observado em alguma dessas posturas ou percebido alguma outra na sua realidade.

    Por conseguinte, como forma de lidar com os fatos, se tem dificuldade para lidar com isso, considere, vir a perceber se por vezes constrói e elabora uma explicação muito boa e racional para poder justificar e assim, não entrar em contato com o que te incomoda.

    Saiba que o autoconhecimento e o autocuidado podem proporcionar um melhor crescimento pessoal, autocontrole das atitudes e dessacralização dos pensamentos negativos. Podendo assim, olhar para si e realizar aos poucos o amadurecimento no processo doloroso de reorganizar a própria vida.

    Este artigo sobre racionalização foi escrito por Elivelton Farias, formando em psicanálise clínica pelo IBPC. Pós Graduando em Psicanálise Clínica, Terapia Cognitivo-Comportamental e Psicanálise e Psicologia. Instagram @eliveltonfarias_ com temas nas áreas da Psicanálise, Filosofia, Teologia e Psicologia.

    2 thoughts on “A Racionalização no Mal-estar da Vida Cotidiana

    1. Liliane do Nascimento Pereira de Farias disse:

      Texto bem escrito e de fácil compreensão, até por quem é leiga no assunto. Aqueles que dizem não entender o que está escrito aqui pode estar racionalizando…kkk

      1. Elivelton Farias disse:

        Obrigado Liliane, que bom que gostou!

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