Entendendo diferença entre sadismo e masoquismo e a suas influências no mercado de trabalho.

Sadismo e Masoquismo: As Consequências no Mercado de Trabalho

Publicado em Publicado em Psicanálise e Sociedade

Vamos definir Sadismo e Masoquismo e pensar como esses traços estão presentes no mundo do trabalho e nos Conflitos Corporativos, a partir de uma análise psicanalítica.

Os conflitos no ambiente corporativo são inevitáveis e, em muitos casos, necessários para o desenvolvimento das organizações e a evolução profissional dos indivíduos.

No entanto, algumas dinâmicas conflituosas ultrapassam os limites do embate produtivo e são marcadas por padrões destrutivos, onde elementos sadomasoquistas emergem.

Este artigo propõe uma reflexão psicanalítica sobre a presença dessas dinâmicas nas relações de poder, na gestão de equipes e nos vínculos interpessoais dentro das corporações.

Conceitos de Sadismo e Masoquismo na Psicanálise

Sigmund Freud (1924) abordou o sadismo e o masoquismo como aspectos fundamentais da estrutura psíquica, relacionados à pulsão de morte e à busca pelo prazer através do sofrimento, seja ele imposto ao outro ou a si mesmo.

Diferenciando sadismo e masoquismo, podemos dizer que:

  • O sadismo, em sua essência, está ligado ao prazer derivado do controle e da imposição do sofrimento sobre o outro.
  • Já o masoquismo se caracteriza pelo gozo na subjugação e no sofrimento.

Ambos os aspectos podem ser observados em diferentes contextos, inclusive no ambiente corporativo, onde relações de domínio e submissão são frequentemente naturalizadas.

Desenvolvendo a diferença entre sadismo e masoquismo

  • O sadismo envolve prazer na dominação, humilhação ou sofrimento do outro,
  • Enquanto o masoquismo busca prazer na submissão e na dor.

Sigmund Freud associou essas duas tendências à pulsão de morte e às complexidades do desejo humano. Isso porque há uma ideia de aniquilação do outro (sadismo) ou a satisfação em deixar que o outro decida pela aniquilação (masoquismo).

O sadismo pode se manifestar em níveis sutis, como:

  • o prazer na manipulação,
  • a imposição de regras, ou
  • a agressividade física.

Já o masoquismo pode se expressar:

  • em padrões emocionais de auto sacrifício,
  • no desejo de não precisar decidir, ou
  • no erotismo da dor.

Ambos os fenômenos revelam a intersecção entre prazer e sofrimento na psique.

Freud sugeriu que o sadomasoquismo pode ser uma fixação a questões mal resolvidas das fases iniciais do desenvolvimento psicossexual.

A compreensão desses impulsos permite uma abordagem mais profunda das dinâmicas humanas e de seus paradoxos emocionais.

Sadismo Organizacional e a Cultura da Exaustão

No contexto empresarial, o sadismo pode se manifestar através de lideranças que exercem poder de maneira abusiva, impondo metas inalcançáveis, desvalorizando o desempenho da equipe e reforçando dinâmicas de medo e humilhação.

O conceito de burnout ou síndrome de burnout (Maslach & Leiter, 2016) pode ser lido, em muitas situações, como um produto de ambientes onde a violência psicológica e a exploração emocional se tornaram norma.

Nessas organizações, a cultura da exaustão se torna um método de controle, onde os indivíduos, ao se submeterem a jornadas abusivas, internalizam um papel masoquista.

O Masoquismo Profissional e a Idealização do Sofrimento

O masoquismo no mundo corporativo se expressa na aceitação passiva de condições opressoras e na glorificação do sacrifício como virtude profissional. Muitos funcionários se submetem a dinâmicas de sofrimento por acreditarem que isso é parte do caminho para o sucesso ou por medo de retaliação.

O fenômeno do workaholism (Oates, 1971) é um exemplo claro dessa dinâmica, onde o indivíduo, em um ciclo masoquista, se entrega completamente ao trabalho, negligenciando seu bem-estar físico e emocional.

Relações de Poder e o Jogo Psíquico Entre Opressor e Oprimido

Freud (1930) aponta que em relações sadomasoquistas, há um jogo psíquico entre quem impõe a dor e quem a aceita. Esse jogo também se reflete nas relações hierárquicas das empresas.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

Erro: Formulário de contato não encontrado.


Muitas vezes, indivíduos que ocupam cargos de liderança foram, em algum momento, submissos a superiores abusivos e, ao alcançarem posições de poder, reproduzem o mesmo padrão.

Essa repetição não é apenas um reflexo de aprendizado, mas também uma tentativa inconsciente de reverter a posição de fragilidade vivida anteriormente.

A Naturalização do Sofrimento e a Cultura da Cumplicidade

Um dos aspectos mais preocupantes das dinâmicas sadomasoquistas nas corporações é a cumplicidade coletiva no silenciamento dos abusos. Em muitos ambientes, o assédio moral é mascarado como “cobrança por alta performance”, e a submissão é vista como “espírito de equipe”.

A perpetuação desse ciclo está diretamente relacionada ao medo de represálias e à crença de que o sofrimento é necessário para a ascensão profissional. Esse tipo de dinâmica é sustentado não apenas pelos agressores, mas também pelos espectadores passivos que validam o sistema.

Sadismo e Masoquismo no mundo do trabalho: possibilidades de intervenção

Romper com padrões sadomasoquistas exige uma revisão profunda das dinâmicas institucionais e da cultura organizacional. Intervenções psicanalíticas podem auxiliar indivíduos e grupos a tomarem consciência dos padrões de sofrimento reproduzidos e questionarem sua legitimação.

A implementação de uma liderança empática, a promoção de espaços de escuta e a redefinição de metas que priorizem o bem-estar podem ser caminhos eficazes para reverter esse cenário.

Além disso, o fortalecimento de políticas internas que combatam o assédio e a exploração emocional é essencial para transformar as organizações em espaços mais saudáveis.

Os conflitos corporativos carregam nuances que vão além das disputas por espaço e reconhecimento profissional. Quando marcados por padrões sadomasoquistas, esses conflitos se tornam um campo de exploração psíquica, onde indivíduos reproduzem e perpetuam sofrimento.

A psicanálise oferece um olhar crítico para essas dinâmicas e pode ser um instrumento fundamental para a construção de ambientes organizacionais mais saudáveis e humanizados.

Referências bibliográficas sobre sadismo e masoquismo:

  • FREUD, Sigmund. O problema econômico do masoquismo. 1924.
  • FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. 1930.
  • MASLACH, Christina; LEITER, Michael P. Burnout: The Cost of Caring. New York: CRC Press, 2016.
  • OATES, Wayne. Confessions of a Workaholic: The Facts about Work Addiction. New York: World Publishing, 1971.

Este artigo sobre a conceituação de sadismo e masoquismo e sua relação com o mundo do trabalho foi escrito por Annemarie Richter, concluinte do Curso de Formação em Psicanálise Clínica.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *