o que é sublimação

O que é Sublimação em psicologia?

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O que é sublimação? A sublimação é uma metáfora utilizada para caracterizar o processo, postulado por Freud, para explicar atividades humanas que não apresentam qualquer relação aparente com a sexualidade, mas que encontraram a origem de seu elemento propulsor na força da pulsão sexual, como ocorre nas atividades artísticas e de investigação intelectual, assim como outras atividades artísticas valorizadas socialmente.

Entendendo o que é sublimação

A sublimação em psicologia e psicanálise, quanto aos instintos, consiste em uma técnica de deslocamento da libido realizada pelo nosso aparelho psíquico para afastar o sofrimento, através de suficiente elevação do ganho de prazer a partir da execução de trabalhos psíquicos e intelectuais.

Freud utiliza o termo “sublimação” para definir um princípio de elevação estética comum a todos os homens, mas do qual, a seu ver, só eram plenamente dotados os criadores e artistas.

Falaremos sobre o conceito de sublimação, definida por Freud como a “capacidade de trocar um alvo sexual por um outro não sexual”, ou seja, capacidade de trocar uma pulsão sexual por outra dessexualizada. Esta abordagem é relevante porque a sublimação consiste em um conceito central na obra de Freud, capaz de explicar a “libido inibida na meta”, fundamental para a construção da civilização tal como hoje a conhecemos.

O princípio de civilização e o que é sublimação

Partimos do princípio de que a civilização não poderia existir sem que o indivíduo fosse capaz de sublimar seus instintos sexuais, direcionando-o para metas tão diversas como realização de atividades culturais, políticas ou religiosas. Buscaremos demonstrar a influência que a sublimação possui nesta mesma civilização.

Na primeira parte do trabalho abordaremos a delimitação do conceito com características e exemplos de atividade sublimatória. Na segunda parte será abordada a sublimação no processo civilizatório, e, por fim, na terceira parte será abordada a plasticidade da força pulsional.

Delimitação do conceito: o que é sublimação?

A pulsão sublimada não se confunde com a operação de sublimação que a torna possível: a sublimação não é a satisfação propriamente dita, mas sim a aptidão da pulsão para encontrar novas satisfações não sexuais.

O destino da pulsão a que chamamos de sublimação é, portanto, a própria operação de troca e não o resultado desta operação. A sublimação, mais que um modo particular de satisfação, é a passagem de uma satisfação sexualizada para outra dessexualizada.

Trata-se, em resumo, de uma atividade de origem sexual, que foi dessexualizada através do narcisismo, orientada para o ideal do eu e geradora de uma obra humana não sexual. Conforme esclarece Juan-David Nasio, as pulsões sexuais podem dirigir-se a três destinos possíveis: recalcamento, fantasia e sublimação.

O recalque

O recalque ou recalcamento é a operação por meio do qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. Produz-se nos casos em que a satisfação de uma pulsão – suscetível de proporcionar prazer por si mesmo, ameaçaria provocar desprazer relativamente a outras exigências.

Já a fantasia é um roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última instância, de um desejo inconsciente. Apresenta-se sob diversas modalidades:

  • fantasias conscientes ou sonhos diurnos;
  • fantasias inconscientes como as que a análise revela, como estruturas subjacentes a um conteúdo manifesto;
  • fantasias originárias.

Por fim, a sublimação consiste em uma modificação da pulsão sexual através da qual opera-se um desvio do trajeto da pulsão, com mudança de objetivo. Reside na substituição de um objeto sexual ideal (incesto) por outro objetivo, não sexual, de valor social.

Sublimação da pulsão

A sublimação da pulsão não se confunde com o recalcamento, muito embora seja igualmente uma espécie de cerceamento imposto à atividade pulsional. Opera-se como um desvio de curso do fluxo pulsional para uma satisfação não sexual. O elemento que impõe este desvio, contudo, não é a censura que reprime, mas o ideal do eu que exalta, guia e encerra a capacidade plástica da pulsão.

São exemplos de atividades sublimadas: realizações culturais e artísticas, as relações de ternura entre pais e filhos, os sentimentos de amizade e os laços sentimentais do casal são, todos eles, expressões de pulsões sexuais desviadas de seu objetivo virtual.

Desta forma, a atividade de um artista ao pintar uma obra de artes caracteriza-se pela sublimação da pulsão sexual; a energia empenhada na criação dos filhos, com todo o amor fraternal igualmente decorre da mencionada sublimação, a relação amorosa entre os casais que não caracteriza atividade sexual também pode ser concebida como pulsão sublimada, já que todas estas caracterizam pulsões sexuais desviadas de seu objetivo original que seria sexual.

Características da pulsão sublimada

A pulsão sublimada possui as seguintes características:

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    • como em todas as pulsões, ela provém de uma zona erógena (sexual);
    • ímpeto da pulsão continua a ser sempre a libido sexual, independente do seu destino;
    • o alvo da pulsão sublimada é uma satisfação parcial não sexual; o objeto específico é também não sexual;
    • não é propriamente uma satisfação, mas sim uma capacidade plástica da pulsão de mudar de objeto e de encontrar novas satisfações;
    • apenas consuma-se se o eu criador for dotado de potencialidade narcísica particular, capaz de dessexualizar o objeto sexual trazido pelas forças pulsionais;
    • a criação da obra produzida por sublimação deve corresponder aos cânones de um ideal buscado pelo eu narcísico do criador.

    A sublimação é viabilizada pela plasticidade, maleabilidade e deslocabilidade da força pulsional, elementos estes que a distinguem dos instintos de destruição. A libido deslocável trabalha para o princípio do prazer, a fim de evitar represamentos e facilitar descargas, sendo indiferente o caminho pelo qual sucede a descarga, desde que ela aconteça.

    O que é sublimação e a libido dessualizada

    Esta energia deslocável como “libido dessexualizada” pode ser descrita como energia sublimada pois mantém a maior função do Eros que é de unir e ligar contribuindo para uma unidade. Freud exemplifica com o processo de pensamento, que é provido pela sublimação da força instintual erótica.

    É através da sublimação das pulsões que se viabiliza a realização de atividades artísticas, políticas e ideológicas, entre outras, conforme será demonstrado no próximo item.

    Sublimação no processo civilizatório

    Como visto, a sublimação é processo fundamental sem o qual a humanidade não seria capaz de realizar todas as suas potencialidades, já que toda energia libidinal seria direcionada à atividade sexual, sem que restassem energias para outras atividades.

    A evolução cultural surge como um processo peculiar que se desenrola na humanidade caracterizado pelas mudanças que efetua nas disposições instintuais humanas, cuja satisfação é caracterizada pela tarefa econômica da nossa vida.

    A sublimação do instinto é, neste contexto, um traço bastante saliente da evolução cultural, já que é o que torna possível que atividades psíquicas mais elevadas, como as científicas, artísticas, ideológicas, tenham papel tão significativo na vida civilizada. Freud afirma que “A sublimação é o destino imposto ao instinto pela civilização”.

    A energia psíquica

    Como o indivíduo não dispõe de quantidades ilimitadas de energia psíquica, afigura-se imprescindível uma adequada distribuição da libido, para que sejam viabilizadas a realização das tarefas impostas pela sociedade, o que evidencia que o trabalho da cultura é responsável pela imposição de “sublimações instintuais”.

    “A pulsão sexual põe à disposição do trabalho cultural quantidades de força extraordinariamente grandes, e isto graças à particularidade, especialmente acentuada nela, de poder deslocar a sua capacidade de trocar a meta sexual originária por outra meta, que já não é sexual mas psiquicamente se aparenta com ela, capacidade de sublimação”.

    A sublimação consiste em recurso a deslocamento da libido permitido pelo aparelho psíquico através do qual sua função ganha muita flexibilidade: a tarefa consiste em deslocar de tal forma as metas dos instintos que estes não podem ser atingidos pela frustração do mundo externo. A sublimação importa em elevar suficientemente e o ganho de prazer a partir de fontes de trabalho psíquico e intelectual, como na arte, na pesquisa, etc.

    O que é sublimação e a evolução cultural

    Desta forma, a sublimação de metas instintuais caracteriza-se como traço bastante saliente da evolução cultural, tornando possível que atividades psíquicas mais elevadas (científicas, artísticas, ideológicas, etc.) tenham papel significativo na vida civilizada. Neste sentido, “a sublimação é o destino imposto pela civilização”.

    Daí se infere a nítida semelhança entre o processo civilizatório e o desenvolvimento libidinal do indivíduo, já que em ambos operam-se “deslocamentos” de instintos que passam a situar em outras vias as condições de satisfação, através da sublimação de metas instintivas.

    Daí se infere que a sublimação afigura-se essencial para o processo civilizatório, já que é ela quem permite a realização de atividades que inicialmente teriam cunho eminentemente sexual mas que, desviando-se de tal meta, acaba por realizar obras imprescindíveis à sociedade civilizada.

    Pulsões sexuais

    Caso não existisse a sublimação, não seria possível a distinção entre seres humanos e animais, já que estes últimos não exercem a atividade de sublimação, sendo certo que todo seu instinto é direcionado para a satisfação de pulsões sexuais.

    É através da sublimação das pulsões, portanto, que o ser humano foi capaz de constituir um processo civilizatório, engajando-se em atividades políticas, artísticas e ideológicas.

    A sublimação é, portanto, condição para tal processo civilizatório, revelando o que há de mais humano na humanidade.

    Conclusão: o que é sublimação

    A sublimação foi definida como aptidão da pulsão para encontrar novas satisfações não sexuais. Como foi demonstrado, o processo de sublimação caracteriza-se como uma das principais defesas da nossa psique, que opera o deslocamento da libido para realização de atividades humanas sem qualquer relação aparente com a sexualidade, como nas atividades artísticas, políticas e de investigação intelectual.

    Foram apresentados como exemplos de atividades sublimadas as realizações culturais e artísticas, as relações de ternura entre pais e filhos, os sentimentos de amizade e os laços sentimentais do casal, além de atividades científicas e políticas: todos eles caracterizam-se como expressões de pulsões sexuais desviadas de seu objetivo virtual.

    Foram igualmente demonstradas as características das pulsões sublimadas, quais sejam, todas provêm de zona erógena, permanece sempre a libido sexual e o alvo é uma satisfação parcial não sexual.

    Sublimação em Freud

    Freud ressalta a importância da sublimação no processo civilizatório, já que para a concretização deste afigurou-se imprescindível que indivíduos renunciassem a parcela de suas pulsões sexuais e agressivas para as redirecionar para atividades psíquicas mais elevadas, como as produções artísticas, científicas, políticas e ideológicas.

    Diferencia-se do recalcamento porque o elemento que impõe o desvio do curso do fluxo pulsional para uma satisfação não sexual não é a censura repressora, mas sim a exaltação do ideal do eu.

    E ela só é possível em razão da larga plasticidade da força pulsional, em razão da qual distingue-se dos instintos de destruição, de caráter mais rígidos. Desta forma, concluiu-se que a sublimação das pulsões afigura-se imprescindível para se viabilizar o processo civilizatório, já que sem ela nós não seríamos capazes de nos diferenciar dos animais.

    Referências bibliográficas

    FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. Paulo Cezar de Souza, 1ª ed., São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011.

    LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Trad.: Pedro Tamen, 5ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2022.

    NASIO, Juan-David. Lições sobre os 7 conceitos cruciais da psicanálise. Trad. Vera Ribeiro, 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

    NASIO, Juan-David. O prazer em ler Freud. Trad. Lucy Magalhães, ver. tec. Marco Antônio Coutinho Jorge, 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

    ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Tradução: Vera Ribeiro, Lucy Magalhães, 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

     

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