A transferência na psicanálise é um fenômeno psíquico que está presente em nossa vida cotidiana, pois boa parte dos nossos relacionamentos possuem algum nível desse fenômeno. Grande parte daquilo que acontece conosco, durante o dia, por exemplo, são transferidos para os sonhos e passam a ser retrabalhados pelo inconsciente.
Entendendo a transferência na psicanálise
Isso explica o motivo das imagens e situações experimentadas nos sonhos serem nada mais do que o nosso inconsciente ressignificando todo esse conjunto de coisas em alegrias, tristezas e angústias. No entanto, existem outros tipos de transferências, como é o caso daquelas que acontecem no momento em que um paciente se encontra em um consultório com seu respectivo analista.
Tudo aquilo que foi vivido pelo paciente em outros momentos de sua vida acaba sendo transferido para a figura da pessoa que o está analisando. A partir desse ponto, o paciente começa a depositar, de forma inconsciente, na figura do analista, sentimentos que já foram um dia cultivados pelo seu pai, sua mãe, seus avós e outras pessoas que conviveram com ele no passado e que, de alguma forma, trouxeram experiências marcantes.
Contudo a transferência de afetos, principalmente aqueles vividos na infância, acontece em outras relações ao longo de nossas vidas, como um processo repetitivo de formas de se relacionar com as pessoas.
A transferência na psicanálise e para o psicanalista
Para o psicanalista, esse fenômeno deve ser entendido como uma maneira de tratar os conflitos que os pacientes neuróticos apresentam no momento da consulta já que, quando esses mesmos pacientes depositam afeto e confiança no analista, fica mais fácil, desse mesmo, resolver as questões que permeiam a mente de quem está sendo analisado, como em um verdadeiro trabalho, metaforicamente falando, de desenlace de nós.
Uma outra relação onde, em muitos casos, a transferência acontece, é quando todos esses afetos são depositados na figura do professor. Ao longo de nossa vida estudantil, tivemos vários professores os quais admirávamos, os quais tínhamos como pessoas incríveis, dos quais não poderíamos, de forma alguma, perder nenhuma aula. Provavelmente esses professores foram alvos de transferências de nossa parte e talvez por isso eles pareciam pessoas tão importantes para nós.
O interessante, nesse caso, é pensarmos o porquê de um determinado professor ser objeto de transferência para um aluno específico, enquanto que para os outros não. A explicação plausível é que a pessoa que gosta muito desse professor, na verdade não está enxergando o professor e sim o que se pode chamar de reedição de afetos antigos, e só esse aluno consegue ver isso porque a transferência é única e exclusiva dele.
O universo da afetividade
Não devemos esquecer que a antipatia, medos, amor, ódio e todo o universo da afetividade, são elementos que fazem parte da transferência.
Voltando ao que foi comentado anteriormente sobre a relação de transferência entre um analista e o paciente, um ponto importante deve ser colocado e diz respeito ao fato desse fenômeno também ganhar a dimensão de uma resistência, pois quando esse paciente quer falar algo para alguém em que ele endereça um tipo de expectativa, como se estivesse a espera de algum tipo retorno sobre aquilo que ele está externando, a associação livre acaba.
Afinal como a transferência também pode ser entendida como uma relação de amor no sentido lato, em muitos momentos essa tal resistência aparece, pois, nesse momento, o sujeito deixa de falar aquilo que poderia ser motivo de análise em função daquilo que ele acha que o analista pode está pensando dele ou do que ele espera. Desse modo podemos dizer que a transferência possui duas características importantes que é a repetição, a qual já foi demonstrada anteriormente nesse texto, e a resistência.
A transferência na psicanálise e a neurose
A partir desse entendimento é que Sigmund Freud falará de uma nova expressão que é a neurose de transferência onde justamente o psicanalista irá tratar de um novo sintoma diferente daqueles apresentados pelo paciente em um primeiro momento.
Isso fica claro quando o sujeito chega se queixando de várias questões ou sofrimentos os quais, na verdade, servem apenas como subterfúgios para aliviar as reais dores e, consequentemente, tentar criar um vínculo com o analista, o que, sob o ponto de vista de Sigmund Freud, também é sintomático e deve ser trabalhado em clínica, ou seja, a transferência precisa ser terminada para que o tratamento chegue ao fim.
Uma outra importante questão que merece ser abordada aqui é quando Sigmund Freud irá falar das transferências positivas e negativas. A primeira, dentro dos termos Freudianos, diz respeito àquelas feitas de forma terna e amorosa, enquanto que a segunda são aquelas feitas de forma hostil. Não devemos esquecer que esses são dois aspectos da mesma relação pulsional que iram depender daquilo que está sendo atualizado na fantasia de cada pessoa.
Conclusão
Diante de tudo que foi colocado anteriormente, podemos dizer que as ideias de transferência a serem trabalhadas no manejo clínico são essas e dentre todas as outras coisas que foram trabalhadas por Sigmund Freud como psicanalista, as transferências acabam aparecendo como um dos fenômenos mais importantes a serem estudados dentro de seu sistema de pensamento.
Este artigo sobre transferência na psicanálise foi feito por Humberto Santos de Andrade, psicanalista clínico pelo IBPC (Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica), especialista em grafologia e neuro escrita. Contato e-mail: [email protected]; instagram: @psicanalistah.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
2 thoughts on “A transferência na psicanálise: uma síntese”
Excelente artigo! Parabéns! Estou escrevendo sobre a transferência na Clínica psicanalítica. Sou aluna do IBPC. Estou no módulo 10.
Muito obrigado, Claudia Coura! Fique a vontade caso queira entrar em contato.