Todos nós carregamos uma válvula de segurança involuntária que se ativa sempre que quisermos evitar algum tipo de trauma. A ideia aqui é se proteger em uma perspectiva mais inocente e simples, a fim de se preservar. O enredo de 7 minutos depois da meia-noite (livro e filme) visa derrubar isso e exigir algo que poucos suportam: a verdade.
Enredo
Conor é um jovem de 13 anos e sua tenra vida já é permeada por problemas. Isso porque a mãe dele possui cancro, exigindo tratamentos rigorosos para lidar com a doença. Ademais, Conor tem de aguentar a avó autoritária, a distância física e emocional do pai e a perseguição de um rival. Todo o seu mundo está prestes a desabar.
Contudo, o jovem vem tendo pesadelos recorrentes até que recebe a visita de um monstro. A criatura começa a visitá-lo 7 minutos depois da meia-noite e diz que quer contar algumas histórias. A princípio, nada do que o monstro diz faz sentido, embora sua fala reflita diretamente na vida do garoto. Este não o teme, mas, sim, o que o monstro quer dele.
O ser diz que, após contar suas histórias, será a vez de Conor fazê-lo, e com verdade. Caso o contrario, devorará o garoto, assim como fez com outras pessoas. Ao fim das contas, tudo se resume na dor da vida e em sua verdade crua e fria. Mesmo tão jovem, Conor precisa passar por tudo aquilo para entender alguns conceitos pessoais.
Por trás da história
7 minutos depois da meia-noite fala diretamente sobre o poder aterrador que a verdade tem. Isso fica ampliado por conta da perspectiva infantil do protagonista, ao qual tudo parece imenso e vazio. Não que isto diminua a verdade, mas Conor passa por mudanças físicas, mentais, emocionais e sociais. Para alguém sem muita experiência, isso é muito.
Nesse caminho, monstros imaginários e reais invadem sua vida, tornando sua existência ainda mais sufocada. O jovem precisa aceitar que a sua mãe pode partir a qualquer hora e o deixará só. Além disso, o contato social que mantem com outras pessoas se resume a perturbação que sofre no colégio. Sua única companhia é o monstro.
O jovem precisa abrir mão da adolescência porque entrou em contato precoce com a vida adulta. Sem preparo, este precisa assimilar a verdade e a dor que esta traz. Assim como qualquer outra criança, Conor dá sinais de que precisa que alguém fique com ele. Ao fim, percebemos que o garoto não quer ficar sozinho se a mãe morrer.
A perda
7 minutos depois da meia-noite centraliza bem o conceito de perda e o que esta traz. Notamos que há um ciclo que antecede todo o evento, nos moldando sobre ele. De forma geral, o luto antecipado reorganiza a nossa perspectiva sobre a vida. Até que esta se finde de fato, alimentaremos temores e ações movidos pela insegurança.
Para Conor, isso é alimentado de forma voraz e contínua. A mãe dele configura como o seu principal referencial de afeto, compensando o abandono paterno. Ademais, a avó e um colega de classe que o perturba lembram sempre o quanto o garoto está só. Essa é a sua dura verdade escondida: ele tem medo de perder a mãe e ficar sozinho aqui.
Gradativamente, esse temor aumenta até que o jovem se direciona ao próprio monstro. Sua consciência infantilizada pede por companhia e que alguém, ou alguma coisa, diga que as coisas melhorarão. Por meio de metáforas, somos conduzidos pela história nos conectando com Conor e percebendo nossa própria fragilidade.
Os monstros da vida real
A todo momento, 7 minutos depois da meia-noite nos mostra que há muitos monstros em nossas vidas. Justamente por tentar sufocá-los, eles ganham força, sugando a nossa própria energia vital. É nítido a forma como nos identificamos com algumas peças trabalhadas no texto e refletimos sobre nós. Na história, identificamos:
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Frustração
Em 7 minutos depois da meia-noite, pensamos a respeito dos nossos próprios esforços diante de algo. Certamente, não podemos lidar com tudo o que chega até nós. Somos humanos, frágeis, passionais e imperfeitos, não dispondo de conhecimento sempre. Assim, nos sentimos frustrados por tudo aquilo que não podemos mudar.
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Vergonha
A frustração dá a mão para que a vergonha se aproxime. Isso porque, em algum nível, nos sentimos culpados por alguma situação que se desenrola. Seja em sua causa ou no desenrolar, atribuímos a nós algum valor de culpa naquilo. Consequentemente, sentimos vergonha por qualquer ato indireto ou incapacidade de solucionar isso.
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Solidão
Por fim, a solidão é o principal medo do nosso protagonista. Esse monstro nos assombra em qualquer parte da vida, tomando lugar especial quando chegamos na velhice. A solidão proporciona um momento forçado de lidar consigo de forma independente e sem apoio emocional. Nenhum de nós opta por isso, ainda que mergulhe nela.
O monstro final: a verdade
7 minutos depois da meia-noite escancara através da perspectiva do protagonista o que acontece caso enxerguemos as coisas como são. Assim, sem preparo algum, não temos condições de lidar com alguns aspectos inerentes da vida. Não existe um filtro que nos adeque gradativamente ao momento em questão em que vivemos.
A verdade dói muito porque ela nos mostra:
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Nossa vulnerabilidade
De forma direta, escancara o poder da impossibilidade que cada um de nós carrega, mas esconde. A verdade é rejeitada por muitos porque ela não bloqueia quem somos, o que somos e o que fazemos. Expõe o quanto estamos a mercê de uma imensidão emocional a todo o momento com medo do vazio.
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A incapacidade de lidar com algo
Por mais que a gente queira, não somos irrefreáveis. Em dado momento, encontraremos algum problema com o qual não teremos força para lidar. Apenas pensar nessa impossibilidade já incapacita muitas pessoas, mas tudo bem. Isso é normal e ninguém é resistente para sempre.
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Que estamos longe do que pensamos
A verdade limpa nossos olhos externos e internos, de modo que passamos a enxergar tudo como realmente é. Nisso, ao olharmos para nós mesmos, perceberemos que algumas coisas não estão realmente lá. Dessa forma, procuramos evitá-la, a fim de que não fiquemos desarmados em relação a nós mesmos.
Considerações finais sobre 7 minutos depois da meia-noite
7 minutos depois da meia-noite nos transporta a uma jornada de reflexão a respeito da verdade. Quase sempre procuramos fugir do que esta guarda por medo das mudanças que trará para nós. Emocionalmente, não estamos aptos a lidar com isso, já que estamos vulneráveis nesse pilar.
Entretanto, é preciso absorver a diretriz que o enredo nos passa a todo o momento: a aceitação. Não temos a força necessária para lidar com tudo o que chega até nós, mas tudo bem. Quando lutamos com algum evento natural, irreversível e maior que nós, não há nada a ser feito. Tudo ficará bem quando entendermos nossa dor e passarmos a aceitá-la.
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2 thoughts on “7 Minutos Depois da Meia Noite: Uma Viagem ao Inconsciente”
Ótima análise do filme. A psicanálise é mesmo incrível.
Interessante relato acerca do filme. Realmente não somos muito a favor de mudanças, temos medo do desconhecido. Na realidade não queremos sair da nossa zona de conforto, mesmo que seja para melhorar! O CONFORMISMO, as vezes vence essa batalha. Parabéns pelo trabalho!