Abandono Infantil: Traumas Gerados neste Caso

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Durante alguns anos da minha vida, trabalhei com crianças órfãs e vítimas de abandono infantil. Portanto, ao observar o comportamento delas e comparar ao comportamento de crianças que cresciam em um lar “padrão” – com suporte familiar -, pude notar uma diferença cognitiva e comportamental.

Os malefícios causados pelo abandono infantil

As crianças moradoras de abrigos tinham muita dificuldade de concentração, aprendizagem e organização. Além disso, em alguns casos, apresentavam um padrão de violência consigo mesmas ou com os coleguinhas.

Todas elas eram muito carentes à afetividade e demonstravam extrema insegurança. Em tese, esses sinais derivam do abandono infantil e da ausência materna. Isso ocorre pois, no geral, as mães tendem a estar disponíveis constantemente e respondem imediatamente aos filhos quando eles são bebês. Esse cuidado é importante para que eles se sintam seguros e amados.

Analisando o contexto da “mãe suficientemente boa” de Winnicott, pude notar que, mesmo no abrigo, com as educadoras fazendo esse papel de “mãe suficientemente boa”, a ausência do contato materno na primeira infância é fator influenciador no desenvolvimento do bebê.

O significado de “mãe suficientemente boa” e sua relação com o abandono infantil

Esse conceito diz que a mãe é aquela que frustra o filho ao mostrar que ele não terá seus desejos atendidos imediatamente. No entanto, ela também mostra que existe um tempo de espera e um limite e que ele não é sua extensão, trazendo resiliência ao bebê.

Freud explica que o contato da criança com os pais, especificamente a mãe na amamentação, traz as primeiras sensações de prazer e satisfação. A negação ou ausência desse contato afeta o indivíduo em várias escalas, gerando traumas para uma vida inteira.

Mesmo que substituído por uma outra forma de criação que supra suas necessidades vitais, a ausência do contato e afeto deverão ser tratadas em terapias ao longo da vida. Desse modo, a intenção é que essa pessoa consiga equilibrar seu comportamento e aniquilar possíveis traumas.

E quais seriam esses traumas que levariam a criança à necessidade da psicanálise?

Elenquei alguns dos principais traumas observados nos comportamentos das crianças em abrigos. Eis os seis comportamentos mais recorrentes:

1 – Alteração brusca ou exagerada de comportamento.

Quando a criança muda exageradamente seu modo de se comportar, mas sem que isso necessariamente signifique um problema. No entanto, por vezes, essas mudanças podem prejudicar a saúde ou os relacionamentos do pequeno, gerando sofrimento a ele.

Essas alterações no comportamento, normalmente, ocorrem no sono (quando faz xixi ou se recusa a dormir sozinho); na alimentação (comendo exageradamente ou deixando de ter apetite) ou na escola (por problemas comportamentais ou de aprendizagem).

2 – Muita agitação, inquietude ou dificuldade em manter a atenção.

Atualmente, muitas crianças são diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Com isso, acabam sendo medicadas, por vezes, sem real necessidade. Em casos de agitação, inquietude e falta de atenção, a terapia pode ser uma grande aliada.

3 – Comportamentos agressivos.

A agressividade exagerada pode ser um sinal de que o pequeno não está lidando bem com algum sentimento ou situação. Nesse caso, é indicado procurar ajuda profissional.

4 – Regressão de alguma fase do desenvolvimento.

Isso é comum em situações em que a criança se sente insegura por algum motivo. Nesse caso, é importante ficar atento e observar a criança.

O acompanhamento de um profissional pode ajudar bastante na observação. A insegurança pode ser decorrente do trauma do abandono infantil ou uma manifestação de um quadro clínico.

5 – Problemas escolares.

Seja por problemas comportamentais, seja por alguma dificuldade de aprendizagem, a terapia infantil tem muito a contribuir nestes casos. Por isso, ela deve ser orientada pelos educadores e pela escola.

6 – Saúde prejudicada, principalmente quando não há uma causa biológica.

Às vezes, as crianças ficam doentes sem que os médicos encontrem uma causa biológica. Por isso, é preciso estar sempre atento aos sintomas. Aquilo que as crianças não conseguem verbalizar aparece como sintoma comportamental ou físico. É o corpo falando pela criança.

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    A concepção Freudiana de trauma e a relação com abandono infantil

    Concebi os itens supra relacionados à traumas, considerando a concepção freudiana de que trauma é o sofrimento por causa de acontecimentos (reais ou fantasiados) ocorridos no passado.

    Freud construiu, então, sua noção empírica de trauma a partir do tratamento de seus pacientes neuróticos, em especial, com histeria.

    Quando Freud foi a Paris, em 1884, e entrou em contato com os ensinamentos de Charcot, ele reformulou a compreensão que tinha sobre a histeria. Desse modo, reconheceu nessa patologia tanto os fatores psicogênicos quanto a importância dos fatores sexuais.

    O conceito de libido

    A introdução da noção de libido é extremamente significativa para a compreensão da noção freudiana de trauma. A natureza da teoria da libido, como um tipo de energia que é represada, desviada ou descarregada. A criança obtém esse primeiro contato através da amamentação e primeiros contatos com os pais.

    As crianças órfãs ou que sofreram abandono infantil carregam essa “ausência” consigo, fator que, segundo Freud, é a origem dos traumas. Os educadores e assistentes sociais não conseguem suprir essa carência afetiva das crianças.

    Porém, se as direcionarem à terapia desde novas, ou assim que perceberem os primeiros sinais de alteração comportamental, poderão auxiliar na diminuição das  sequelas traumáticas na vida adulta.

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    O artigo presente foi escrito pela aluna do curso de Psicanálise Clínica Maria de Lourdes de Almeida Martins, especialmente para o nosso Blog.

    One thought on “Abandono Infantil: Traumas Gerados neste Caso

    1. Boa tarde, meu nome é Josy e tenho 41 anos. Convivi com minha mãe até os 05 anos, quando então ela me disse que iria ao mercado, pergunte se iria demorar e, ela disse que muito, muito mesmo. Então pedi para me dar uma roupa dela para quando eu fosse dormir e ela me deu uma blusa de lã preta com listras coloridas e falou que voltaria me buscar para voltar com ela ao mercado. Eu fiquei esperando e esperando, olhava pelas janelas, mas ela nunca mais voltou… Não lembro do sabor de uma refeição dela e era o que eu mais queria… Sentir este sabor.

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