Althusser

Althusser e Psicanálise: reflexões sobre ideologia e inconsciente

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Neste artigo, vamos refletir sobre a contribuição do filósofo Louis Althusser. Vamos pontuar aproximações entre as contribuições deste filósofo e as ideias da Psicanálise, em especial nas reflexões sobre ideologia e inconsciente.

Althusser: O que é ideologia?

O conceito de ideologia foi originalmente abordado por Destutt de Tracy para exprimir a análise de sensações e ideias, segundo o modelo de Condillac. Porém, no fim do século XlX, Karl Marx e Friedrich Engels utilizam desse conceito para abordar o “reflexo invertido” que os homens produzem a respeito de sua realidade.

Dentro do materialismo histórico e dialético, método de investigação dos pensadores em questão, a realidade não é fruto da ideia dos homens, mas o resultado das contradições imanentes dos modos de produção.

Dentro desse esquema, a ideologia seria o que os sujeitos pensam a respeito dessa realidade material, com o acréscimo de Marx e Engels, de que essa ideia seria naturalmente invertida e incorreta, pois está determinada pelas relações de produção.

As relações de produção e Althusser

Entre os diversos modos de produção da história, podemos observar duas estruturas determinantes que se condicionam mutuamente, e, em certa fase, entram em contradição.

As forças produtivas (meios de produção e força de trabalho), e as relações de produção, ou seja, o modo como as classes sociais se relacionam para produzir.

Dessas relações de classes, surgem os modos de refletir a realidade, ou as ideologias.

Sobre ideologia dominante

As classes lutam pela dominância, pois, a divergência de interesses é determinada pelo próprio modo de existir da classe. O senhor de escravos só pode existir como tal, tendo escravos, assim como o senhor feudal e o burguês, posteriormente.

Para poder reproduzir a relação que determina as posições das classes, a classe dominante deve também produzir o modo de se pensar a realidade, ou seja, produzir ideologia.

Essa possibilidade é garantida através do poder de Estado e de várias instâncias, como a jurídica, religiosa, moral, entre outras. Com esse pensamento, Marx demonstra que a ideologia dominante provém da classe dominante, ou, o modo de se pensar a realidade, é determinado pelo modo de pensar da classe dominante.

Louis Althusser e os estudos sobre a ideologia

Com o crescimento da teoria marxista, diversos intelectuais surgem no meio acadêmico, especialmente no século XX. Na análise da ideologia, vamos destacar Louis Althusser, filósofo Argelino.

Althusser defende um retorno à Marx, devido ao distanciamento de sua obra provocado por tendências contrárias ao projeto revolucionário. Entre seus escritos, podemos ver uma ruptura necessária entre o “jovem” (Hegeliano ou Feuerbachiano) e o “velho” (Materialista) Marx.

Aqui, vemos que Louis pretende romper com os escritos juvenis, e, especialmente, com a concepção de ideologia marxiana. Com forte influência da psicanálise, especialmente por sua relação com Jacques Lacan (que, curiosamente, também defendia um retorno à Freud), Althusser aborda sua “Teoria geral da Ideologia” na obra “Sobre a Reprodução”, e no texto “Aparelhos ideológicos do Estado”.

Althusser versus jovem Marx

No primeiro momento, Louis diferencia-se do jovem Marx na concepção de que a ideologia não tem história. Para esse, a ideologia seria determinada pela estrutura material das relações de produção, e, portanto, mero reflexo (invertido) causado pela produção. Ou seja, para o jovem Marx, a história da ideologia é a história da estrutura econômica.

Para Althusser, ao contrário, a superestrutura ideológica, assim como a política e jurídica, tem certa autonomia relativa, sendo determinadas apenas em última instância pela estrutura econômica. Isso se deve ao sistema complexo de estruturas não-linear, onde a ideologia determina e é determinada simultaneamente.

Para exemplificar, podemos claramente ver que a ideologia também determina as relações de produção quando mantém o modo de se pensar e agir para garantir a continuidade da classe dominante.

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    Ideologia e inconsciente

    Para contrapor a a-historicidade da ideologia, Althusser propõe uma omni-história da mesma. Isso quer dizer que a forma e estrutura da ideologia são imanentes ao ser humano. De que maneira?

    O indivíduo não reflete suas condições reais de existência ao pensar, mas sim o modo como ele se relaciona com essas condições. Pode parecer redundante, mas ao equiparar esse raciocínio com a teoria do inconsciente de Freud, podemos compreender o que se passa.

    Para Freud, o inconsciente é uma instância psíquica do sujeito regida pelo princípio do prazer-desprazer, que é alheio ao mundo exterior, buscando apenas a descarga pulsional. Isso quer dizer que temos duas realidades, a realidade psíquica, e a realidade material.

    Realidade psíquica

    O modo como o inconsciente representa para si o mundo idealmente, independe da exatidão baseada no exterior. A verdade não é o material do sistema inconsciente, apenas o que gera mais ou menos prazer.

    Assim, podemos compreender o que Althusser quer dizer quando refuta a tese do jovem Marx. O que os homens refletem na ideologia, não são suas condições reais, mas o modo como eles se relacionam com suas condições.

    Ou seja, como sua realidade psíquica compreende (representa) o que é o mundo exterior. Aqui está a omni-historicidade da ideologia, sempre representamos nossa relação com as nossas condições reais.

    Aparelhos ideológicos

    Mesmo se passando na psique do sujeito, Althusser diz que as ideias somente o são, através de práticas concretas. Também aqui, podemos traçar um paralelo com a teoria psicanalítica quando Freud demonstra que as vivências de satisfação são o motor do pensamento, seja através da alucinação ou da elaboração secundária.

    Para Althusser, a ideia é igualmente material, já que sua causa advém de influências externas, e sua existência deve coincidir com o ato do sujeito pensante, mesmo que deformada. E onde encontramos os atos e práticas? Louis diz que essas condutas são registradas por Aparelhos Ideológicos do Estado.

    Como a classe dominante é detentora do poder do Estado, ela produz aparelhos de repressão, como a polícia, e ideológicos, como a escola, para garantir sua hegemonia. Também podemos nos referir ao aparelho familiar, que é determinado por outros aparelhos como o religioso, o jurídico e o político, e repete as estruturas necessárias para a reprodução das relações de produção. Aqui, Althusser e a psicanálise novamente se encontram.

    Conclusão: Althusser, Psicanálise, ideologia e inconsciente

    Com esse breve texto, podemos ver a nítida influência da psicanálise Freudiana e Lacaniana no pensamento de Louis Althusser. Sua teoria da ideologia seria impensável sem o reconhecimento das descobertas do inconsciente.

    Inicialmente, em Marx, as teorias do conhecimento eram permeadas por conceitos idealistas com forte influência Hegeliana, e, mesmo o materialismo Feuerbachiano, ainda não estava totalmente desprendido do humanismo iluminista.

    Somente com a última ferida narcísica da humanidade (o inconsciente Freudiano), uma teoria geral da ideologia pôde ser formulada.

    Meu nome é Otávio Lopes([email protected]), tenho 27 anos. Sou professor de Filosofia e Educação Física. Atualmente estou cursando Psicanálise Clínica para aprimorar minhas considerações teóricas e fundamentar uma prática terapêutica posterior.

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