atenção flutuante

A atenção flutuante e o método da associação livre

Posted on Posted in Conceitos e Significados

Entenda o que é atenção flutuante. É sabido que durante a jornada de evolução da psicanálise, Freud passeou por alguns métodos com o objetivo de entender como tratar seus pacientes.

A atenção flutuante

Durante seu estágio em 1885, com o neurologista francês Charcot, conheceu a hipnose, que acreditava no sucesso do tratamento em pessoas com distúrbios mentais, advindo da histeria. Findando o estágio, experimentou em seus pacientes a sugestão hipnótica, onde induzia o estado de consciência dos mesmos, buscando investigar alguma ligação e/ou atitudes com os sintomas apresentados.

Não satisfeito, firmou parceria com o conceituado médico Breuer, notaram que ao pedir para os pacientes contarem seus pensamentos e fantasias, os sintomas diminuíam. Logo após, Josef Breuer desenvolve o método catártico que tinha como foco a rememoração das cenas traumáticos resultando no desaparecimento dos sintomas.

Porém, ainda inconformado, Freud evolui para o método que seria definitivo para a psicanálise, o de associação livre, que em 1897, já sem a parceria de Breuer, utiliza a rememoração com seus pacientes, porém como uma livre conversa, sem regras ou orientações.

A atenção flutuante e a escuta

Nesse método, ele entende que é necessário ter uma escuta especial, mais apurada, diferente do que se fazia até então, esta seria uma técnica fundamental para que a associação livre funcionasse da melhor forma possível, surgiu então a atenção flutuante de Freud.

Antes de dissecar sobre este assunto, imaginem-se em uma aula, palestra ou workshop, entendendo que está ali por livre e espontânea vontade, porque é interessante o tema.

Contudo, este evento irá durar uma hora e meia e já se passaram vinte minutos e sua mente já navegou por outros assuntos, e lugares, por exemplo o que fará após o evento, que dia vencerá determinado boleto, o ambiente está muito quente ou frio, entre outros motivos que irá desfocar sua atenção.

A mente humana

Tudo isso acontece em fração de segundo e de forma involuntária não significa que tenha algum distúrbio, mas sim o quanto dinâmica é a mente humana. Alguns especialistas afirmam que o foco absoluto dura apenas 18 minutos, após este tempo pode-se continuar com atenção no que se ouve, mas não com a mesma qualidade que no início.

Para renovar este tempo, o ideal é trabalhar a variação e estímulo de quem ouve e para isso existem diversas técnicas. Mas o intuito aqui não é este e sim trazer à luz o desafio de se ter uma atenção flutuante. Certamente houve algum tipo de identificação nos exemplos acima.

Mas o que é exatamente a atenção flutuante? Buscando o conceito de cada vocábulo, encontra-se o seguinte: Atenção é a concentração de atividade mental sobre um objeto determinado (fonte: Oxford Languages) e flutuante o adjetivo do que balança sobre as águas (fonte: www.dicio.com.br/flutuante/).

A atenção flutuante e a Psicanálise

Unindo os conceitos e de forma prática seria se concentrar em algo que balança, que vai e vem. Para o pai da psicanálise, atenção flutuante é o pilar que o psicanalista/terapeuta precisa se apoiar para que o método tenha êxito.

Portanto, o analisando cabe o papel de sentir-se livre para trazer à tona toda e qualquer ideia/pensamento sem nenhum tipo de regra, ordem ou tema. Da mesma forma o analista deve se despir de qualquer julgamento, crença ou ideia pré-concebida e não se prender a qualquer assunto tipo de assunto ou comentário específico trazido pelo paciente.

O objetivo é deixar o inconsciente do analisado conversar com o inconsciente do analista, onde, para que isso ocorra a observância do psicanalista seja totalmente focada de forma única e direta naquele momento.

A autossabotagem e a atenção flutuante

A autossabotagem se torna fácil, decido as diversas distrações físicas ou no mundo das ideias que poderão surgir.

Tarefa não muito fácil, pois a todo instante a tendência natural a buscar automaticamente uma explicação, solução ou parecer do que está se escutando, levando para o campo racional, para o consciente. A consequência seria “o risco de nunca encontrarmos algo diferente daquilo que já sabemos” (FREUD, 2017/1912, p. 94).

Neste momento as anotações, comentários ou qualquer tipo de distração não são bem vindas, pois ter escuta ativa é necessário, observar o todo, não apenas a fala, gestos, entonações vocais que possam representar agressividade, calmaria, rancor, perceber a velocidade da fala, volume entre outros sinais que podem se tornar objeto de estudo para o analista posteriormente. Assim o método de associação livre, torna-se livre para o par analítico.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    Conclusão

    Para o analisado por poder ter a fala livre, libertando–se das amarras que contribui para manter guardado o trauma, entender que o setting é um ambiente seguro, sem julgamentos ou críticas, para o psicanalista poder, e ter o dever, de praticar a escuta livre, sabendo que este é um exercício diário, dentro e fora das sessões, porém com objetivos diferentes.

    No primeiro cenário tem-se a responsabilidade de saber o momento adequado para concatenar todas as peças dos quebra cabeças para construir um caminho e que levará o alcançar sua melhora ou cura.

    Já no segundo poderá ser utilizado, em algumas ocasiões, como prática da escuta, podendo opinar ou não, mas buscando cirurgicamente cada detalhe do interlocutor e assim adquirindo cada vez mais expertise na técnica da atenção flutuante.

    Este artigo sobre a atenção flutuante e o método da associação livre foi escrito por Washington Oliver (e-mail: [email protected]), Professor de desenho e plástica, Licenciado pela UFBa, Consultor e palestrante especializado em gestão estratégica de pessoas e Terapeuta tântrico.

    17 thoughts on “A atenção flutuante e o método da associação livre

    1. Luciana Sales disse:

      Excelente texto. Com uma linguagem acessível tratando de uma temática complexa, o autor permite que seu interlocutor tenha uma maior compreensão do exposto. Parabéns aos envolvidos!

      1. Washington Oliver disse:

        Obrigado pela leitura e comentário Luciana!

    2. Carlos Oliveira disse:

      Excelente explanação. O assunto em epígrafe ainda é pouco abordado na sociedade atual, apesar de ter suma importância na formação humana.

      1. Washington Oliver disse:

        Obrigado pela leitura e colaboração Carlos!

    3. JULIANA SCHURE disse:

      Muito bom texto sobre este tema, uma visão clara e de boa compreensão.

      1. Washington Oliver disse:

        Agradeço a leitura e comentário Juliana.

      1. Washington Oliver disse:

        Obrigado pelo feedback Muniz!

    4. Vanessa Corrêa disse:

      Excelente abordagem! Esse é um assunto não muito abordado nos dias de hoje, porém de extrema importância é relevância na vida de todos.

    5. Mirlania Costa disse:

      Excelente texto! Pois o autor conseguiu efetivamente conduzir uma narrativa que é pouco abordada nos dias atuais, proporcionando uma perspectiva enriquecedora.

      1. FATIMA PARANAGUA disse:

        Muito bom, parabéns Washington Oliver, Deus te abençoe sempre

        1. Washington Oliver disse:

          Obrigado Fátima pelas palavras

    6. Luciano Cavalcanti disse:

      Texto excelente e que nos faz pensar nos profissionais que estão no mercado. Estão tendo uma “atenção flutuante” com as pessoas que acreditaram neles ? Texto elucidativo, de fácil leitura e compreensão. Parabéns ao autor !

    7. Romulo Caixa Ferreira disse:

      O psicanalista precisa saber ouvir, gostar de ouvir mais do que de falar. Interessante artigo!

      1. Washington Oliver disse:

        Agradeço a leitura e comentário Rômulo!

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *