Hoje falaremos sobre a Linguística e Psicanálise. “Pare de me fazer perguntas e me deixe falar”, começaremos este artigo com está famosa frase de uma paciente de Freud, Sra. Emmy Von N. que permitirá que Freud desenvolva uma nova teoria de extrema importância para a Psicanálise: o método de Associação Livre.
Introdução à Linguística e Psicanálise
Ao ouvir essa frase de sua paciente, Freud repensa a forma em que a analise antes se formava – por indagações feitas pelo analista para o analisando e com as respectivas respostas, o analista tentava investigar e alcançar o inconsciente – e passa a tratar a analise por seu fundamento que futuramente se tornaria o principal para uma análise efetiva: o método de Associação Livre.
Tendo este conceito em mente, este trabalho irá abordar o conceito de Associação livre e as possíveis conexões com a Linguística Estruturalista e a Análise do Discurso.
O Método de Associação Livre
O método de Associação Livre, surge, como vimos inicialmente através de uma frase dita à Freud por sua paciente. O conceito assim, nasce como uma nova ferramenta para a análise, ao invés de fazer questionamentos aos pacientes, agora o analista apenas deixa a fala deste fluir naturalmente e a partir desta, pode fazer através do método investigativo, relações entre fala e inconsciente.
Freud descreve um pouco mais o processo do Método de Associação Livre em seu texto intitulado “A Interpretação dos Sonhos” de 1900: É necessário insistir explicitamente para que renuncie a qualquer crítica aos pensamentos que perceber.
Dizemos, portanto, que o êxito da psicanálise depende de ele notar e relatar o que quer que lhe venha à cabeça, e de não cair no erro, por exemplo, de suprimir uma ideia por parecer-lhe sem importância ou irrelevante, ou por lhe parecer destituída de sentido.
Freud, a Linguística e Psicanálise
Ele deve adotar uma atitude inteiramente imparcial perante o que lhe ocorrer, pois é precisamente a sua atitude crítica que é responsável por ele não conseguir, no curso habitual das coisas, chegar ao desejado deslindamento do seu sonho, ou de sua ideia obsessiva, ou seja lá o que for. (1996 [1900], p. 136)
Neste trecho, podemos compreender melhor o que Freud propõe inicialmente com sua teoria, é preciso que o analista esteja sempre atento a fala de seu analisando, prestando demasiada atenção por exemplo, em atos falhos ou em falas que possam obter alguma relevância para a investigação do sintoma.
Como o conteúdo do Id está sempre restrito, é importante que o analista consiga entender, o que, da fala do analisando pode trazer indicativos do sofrimento do sujeito, visto que os conteúdos que conseguem de alguma forma emergir ao nível consciente, dificilmente irão vir de forma simples e clara. Podemos começar a ousar por aqui e dizer que se torna necessário que o analista faça uma análise do discurso de seu paciente.
Análise do Discurso: O encontro de Saussure e Lacan
A corrente Estruturalista para a Linguística, foi uma corrente de pensamentos que visava analisar a língua através de seu funcionamento estrutural. Seu “pai” foi Saussure, ao criar as suas famosas dicotomias e abordar a língua como um objeto de estudos a partir de sua estrutura.
Saussure nos traz diversas dicotomias linguísticas, porém, a de maior importância para nosso trabalho hoje é sua primeira: Langue vs Parole.
A Langue (língua) seria esse objeto de estudos que perpassa a individualidade, seria considerada por Saussure apenas aquilo que em sociedade nós podemos considerar língua, já a Parole (fala) não está relacionada ao social, e sim, ao indivíduo, sendo assim excluída dos estudos estruturais, por não possuir universalidade.
Como surgem as teorias acerca da Análise do Discurso
A análise do discurso foi muito pensada por Pêcheux (1969) e teve diversas bases para seu fundamento, porém, as que nos interessam hoje, são a linguística de Saussure e as teorias Psicanalíticas de Lacan. Saussure, contribui para a construção das teorias da Análise do Discurso com suas teorizações sobre o sistema langue e parole, como vimos anteriormente, porém, uma outra base importante para seu fundamento, foram as teorias de Lacan.
Para melhor compreensão, observemos um trecho do texto “Análise do Discurso” de Fernanda Mussalin: A partir da descoberta do inconsciente por Freud, o conceito de sujeito sofre uma alteração substancial, pois seu estatuto de entidade homogênea passa a ser questionado diante da concepção freudiana de sujeito clivado, dividido entre o consciente e o inconsciente.
Lacan faz uma releitura de Freud recorrendo ao estruturalismo linguístico, mais especificamente a Saussure e Jakobson, numa tentativa de abordar com mais precisão o inconsciente, muitas vezes tomado como uma entidade misteriosa, abissal. (2001). Análise do discurso. Introdução à linguística: domínios e fronteiras, p.107.)
Lacan e o inconsciente
Lacan, assume então, que o inconsciente se estrutura como linguagem, através de uma cadeia de Significantes – que segundo Saussure seriam as imagens acústicas que associamos as suas representações – latentes que vão se repetir e se interferir ao discurso, em outras palavras, para Lacan, o discurso se dava através discurso do Outro, do inconsciente.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Podemos compreender melhor este conceito por Fernanda Mussalin (2001) “O inconsciente é o lugar desconhecido, estranho, de onde emana o discurso do pai, da família, da lei, enfim, do Outro. […] sendo, portanto, da ordem da linguagem.”
Assim, todo o sistema topográfico de Freud se exemplifica nas teorias de Lacan, como o inconsciente se formando por discursos do Outro, assim, o que pode e o que não pode “escapar” se dá pelo o que lhe foi inserido socialmente em sua infância.
Conclusão: associação livre, Linguística e Psicanálise
Podemos por fim, concluir, que a relação entre a linguística e a psicanálise, nos dá grandes construtos para a formação de uma análise eficiente e que considere diversas questões ao ser trabalhada em clínica.
Podemos observar, que a fala e a linguagem são de extrema importância para que se tenha uma análise efetiva, e é aí que podemos enxergar o ponto de encontro entre estas duas ciências: linguística e psicanálise.
Através do método de associação livre, originalmente tratado por Freud, e adicionando as teorias de língua e fala da corrente estruturalista que Saussure e Lacan trazem, podemos compreender a importância de entender, analisar e investigar a fala do paciente, que se feita com sucesso, pode-se atingir o êxito ao tratar os sintomas do analisando em sofrimento.
Referências: Mussalim, Fernanda. “Análise do discurso.” Introdução à linguística: domínios e fronteiras 2.2 (2001): 101-142.
O presente artigo foi escrito por Maria E. Martins([email protected]). Graduanda do Curso de Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), agora, também, em formação como Psicanalista pelo Instituto de Psicanálise Clínica.
One thought on “Associação Livre: onde Linguística e Psicanálise se encontram”
Muito bom artigo! Verdade, sem a fala e a linguística, a associação livre seria ineficiente para a psicanálise.