O conhecimento da evolução anterior ao método da Associação Livre torna possível uma melhor compreensão sobre a teoria psicanalítica e suas origens.
Nos primeiros contatos com o médico Charcot, em Paris, Freud conheceu o poder da sugestão hipnótica no “tratamento” da histeria. Os sintomas da histeria que não tinham origem fisiológica, eram considerados simulações.
Até que Charcot introduziu a histeria no meio científico e através da hipnose viu que algumas das manifestaçōes do hipnotismo produziam modificações fisiológicas, tais como:
- deslocamentos da excitabilidade no sistema nervoso
- extrema hiperexcitabilidade neuromuscular e
- contraturas sonambúlicas.
Esses fenômenos foram descritos por Charcot como manifestaçōes do grande hipnotismo.
A compreensão da Histeria nos primórdios da Psicanálise
As histerias eram caracterizadas por crises de paralisia, cegueira, estados de ausência de consciência, tiques nervosos, alucinações, dentre outros.
De volta a Viena, Freud queria ir além da hipnose, pois além de ver os sintomas “desaparecerem”, ele queria acessar as causas do que estava por trás das histerias. Então teve contato com o médico Breuer e seu método catártico.
Freud se lembrou de Breuer ao recordar do caso Anna O., onde Breuer era seu médico em Viena. E Freud quis ver a paciente e estudá-la.
Freud e Breuer estudaram muito e concluíram que sempre fatores sexuais estavam envolvidos nos acontecimentos traumáticos psíquicos, por trás da histeria. Freud defendeu que esses fatores davam origem à diferentes enfermidades neuróticas (Freud, 1996, p.185).
Causas da Histeria segundo Freud
Freud pensava diferente de Breuer em relação à origem da histeria. Para Freud, o acontecimento traumático determinava o surgimento de uma histeria, pois envolvia sentimentos como situações intoleráveis e repulsivas.
As emoções nos histéricos são extremadas, há um exagero emocional. O que, para outra pessoa pareça algo sem importância, para o histérico é motivo de grande transtorno emocional.
Freud enfatiza que toda vez que isso ocorre, o psiquismo entra em defesa, repelindo a representação do desprazer e tirando-a da consciência.
Freud adaptou de uma forma nova as técnicas de Charcot e Breuer, acerca da hipnose e suas sugestões e do método catártico, e elas inspiraram Freud na investigação das psiconeuroses e no estudo do inconsciente.
A Associação Livre se torna o Método Psicanalítico por excelência
Em “Estudos sobre a histeria”, podemos ver os avanços dos estudos de Freud, onde podemos observar a hipnose e o método catártico muito próximos à descoberta do método da Associação Livre.
Freud repensou a sugestão hipnótica e o método catártico, pois haviam dificuldades em utilizar esses métodos em todos os pacientes, pois eles também tinham dificuldades em seguir sugestões, já que acontecia um esquecimento causado pelas ordens sugestivas.
Os pacientes não conseguiam rememorar fatos importantes na sequência sugerida e “procuravam” esquecer lembranças traumáticas. Assim, as representações traumáticas permaneciam no inconsciente, pois os pacientes, através da hipnose e apenas durante o seu processo, só tinham acesso a essas representações traumáticas de forma inconsciente.
E, com as sugestões do método catártico, também ocorriam limitações, como veremos mais adiante. Sendo assim, o paciente não fazia uma elaboração associativa em relação aos acontecimentos traumáticos do passado e, consequentemente, não resolvia seus sintomas. Afinal, para superar seus sintomas, há a necessidade de acabar com a resistência relacionada à representação, isto é, ao problema.
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A Livre Associação e as Resistências
Em “Cinco lições de psicanálise”, Freud comenta: “A hipnose encobre a resistência, deixando livre e acessível um determinado setor psíquico, em cujas fronteiras, porém, acumula as resistências, criando para o resto uma barreira intransponível” (Freud, 1996b, p.27).
Assim, Freud observou que, ao despertar da hipnose, embora o paciente tenha alcançado o alívio do sintoma, ele permaneceria com a representação patógena existindo de forma inconsciente, esperando um novo gatilho (trauma) para produzir novos sintomas.
Faltava a Freud a fala de sua paciente Emmy Von N., para que ele despertasse quanto a necessidade de deixar as associações livres de seus pacientes, para o tratamento fluir.
Através da paciente Emmy Von N., que pedia para Freud:
“Não me fale…”, estava implícita a necessidade da liberdade durante os relatos de um analisando, para que não fosse interrompido o curso das idéias angustiantes, de forma a não confundir o pensamento, fazendo crescer seu mal estar. O pensamento e suas associações deveriam fluir livremente. O que foi o prenúncio da associação livre.
A elaboração sobre o trauma por meio da Livre Associação
Freud pensa que seria necessário que o paciente tivesse essa elaboração sobre a representação traumática de forma consciente, para que pudesse ir entendendo, julgando e aceitando, a fim de ter um controle consciente sobre seu significado, de modo que o sintoma seja extinguido.
Para que isso ocorra, torna-se necessário uma compreensão total sobre o trauma vivido. Isso implica em refazer o histórico ligado à essa vivência traumática, para que o paciente entenda conscientemente o trauma que gerou os sintomas. Daí a necessidade de uma terapia aprofundada, que tornará consciente o trauma reprimido, que gera sintomas angustiantes.
Trazer à consciência a representação traumática passa a ser o alvo da terapia de Freud. Não bastando mais apenas ter acesso a essas representações e obter alívio dos sintomas, como na hipnose e no método catártico.
Era preciso que o paciente compreendesse a vivência traumática e que pudesse digerí-la, tendo assim, um julgamento consciente sobre o que antes desconhecia do seu inconsciente. Assim surgiu o método da Associação Livre, assim surgiu o que Freud passou a chamar de psicanálise.
Sobre a Autora: Este artigo sobre Livre Associação foi escrito exclusivamente para o nosso blog Psicanálise Clíncia por Karla Oliveira, Psicanalista e Psicoterapeuta, Rio de Janeiro-RJ, contato: [email protected]. Escreva abaixo seu comentário ou dúvidas sobre livre associação, hipnose e método catártico.
12 thoughts on “Associação Livre para Freud e a Psicanálise”
O mais didático e esclarecedor artigo acerca da evolução dos métodos da hipnose (Charcot), Catártico (Breuer) e da Associação Livre (Freud), hoje com ênfase na atenção flutuante. Parabéns a nosso IBPC por ter publicado este artigo. Gratidão a sua autora Karla Oliveira!
Muito bom. Aprofunda um pouco mais.
Obrigada, Nelson Vidal! Sucesso em sua jornada psicanalítica!
Parabéns, pela boa elaboração textual, Karla.
Obrigada, João Carlos!
Agora sim, mais enriquecedor, o método da Associação Livre, gratidão pelo artigo!
Obrigada, Sueli! Sucesso em sua jornada psicanalítica!
muito interessante o Artigo principalmente no que diz respeito à hipnose
Obrigada, Evangelista!
Obrigado pelo texto, muito enriquecedor, associação livre e atenção flutuante muito nos enriquecem como psicanalistas.
PARABÉNS !
Excelente Artigo. Bastante claro, para os que iniciam essa maravilhosa Jornada de Estudos sobre o Inconsciente !!
Parabéns, Karol, por nos trazer uma síntese da questão em tela; apresentando simplicidade e coerência!