O conceito de Ato Falho, ou lapso freudiano, de acordo com a American Psychological Association (APA, 2023), seria:
“um erro inconsciente ou descuido na escrita, fala ou ação que é considerado causado por impulsos inaceitáveis que rompem as defesas do ego e expõem os verdadeiros desejos ou sentimentos do indivíduo.”
O termo médico para o ato falho é parapraxia e, conforme o pensamento psicanalítico, também pode ser chamado de lapso da língua. Em inglês é conhecido como freudian slip, ou deslize freudiano.
Entendendo o ato falho
Em termos coloquiais, é quando você deixa escapar, sem querer, algo diferente do que originalmente pretendia dizer. Um lapso freudiano é um fenômeno extremamente comum, que pode acontecer com qualquer pessoa em qualquer idioma.
Na verdade, algumas vezes, são palavras erradas que parecem não ter nenhuma interpretação psicanalítica subjacente. Por exemplo, se um pai cansado chama um filho pelo nome de outro filho, provavelmente é apenas porque ele esteja cansado ou distraído.
Origem do conceito de ato falho
Enquanto alguns argumentam que William Shakespeare concebera o lapso freudiano antes mesmo do fundador da psicanálise nascer, o conceito de ato falho como o conhecemos hoje remonta à pesquisa de Sigmund Freud.
Freud passou a discutir esse fenômeno em seu livro de 1901, A Psicopatologia da Vida Cotidiana, e cunhou o termo fehlleistungen, que significa erro ou ação defeituosa. Este termo foi, então, traduzido para o inglês por James Strachey, que o chamou de lapso freudiano.
De acordo com Freud, essas ações defeituosas revelariam os pensamentos, desejos ou motivos inconscientes de uma pessoa (que ele acreditava serem de origem sexual) e aconteceriam quando desejos profundamente reprimidos rompessem a superfície do subconsciente da pessoa.
O conceito de ato falho em Psicanálise
Freud observou que os erros de fala resultam de uma “influência perturbadora de algo fora do discurso pretendido”, como uma crença inconsciente, desejo ou pensamento. Freud também abordou o problema às vezes comum de não lembrar nomes, dizendo que isso poderia estar relacionado à repressão.
Em sua perspectiva, pensamentos ou crenças inapropriados são retidos da percepção consciente, e esses deslizes ajudam a expor o que está oculto no inconsciente.
Freud concluiu que esses deslizes serviam como janelas para o subconsciente, argumentando que seus segredos reprimidos às vezes podiam ser revelados quando alguém expressava algo que não pretendia dizer.
Tipos e exemplos de atos falhos
No livro “Freud’s Theory and Its Use in Literary and Cultural Studies” (A teoria de Freud e seu uso em estudos literários e culturais), o professor Henk de Berg categoriza os lapsos freudianos da seguinte maneira:
Atos falhos de esquecimento
- Esquecimento Ligado à Repressão
Alguns deslizes são menos sobre palavras erradas e mais sobre lembranças erradas, ou seja, são lapsos de memória e não de língua.
Ao experienciar algo que cause vergonha, medo ou dor, a mente usualmente afasta as lembranças desse trauma. Futuramente, ao se deparar com uma situação semelhante, poderá ocorrer um lapso de memória.
Reprimir uma memória é um processo inconsciente. A pessoa não sabe que está fazendo isso e isso não apaga totalmente a memória.
- Esquecimento Ligado ao Desejo
Outra forma de ato falho ligado à memória ocorre sempre que houver um desejo positivo ou negativo em relação a alguma coisa.
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Se desejar não fazer algo, o inconsciente fará com que se esqueça de fazê-lo para protegê-lo. Já se desejar muito fazer alguma coisa, o inconsciente encontrará caminhos que o levarão a realizar seu desejo, como esquecer algum pertence próximo àquela pessoa que você gosta para que tenha oportunidade de falar com ela.
Atos falhos de linguagem
- Distorções Faladas
São os atos falhos mais conhecidos. É o que muitos pensam quando ouvem sobre atos falhos – são aqueles lapsos da fala que geralmente não fazem muito sentido.
Acontece aquelas vezes que você não consegue gravar o nome de uma pessoa e, além disso, você também usa consistentemente o nome errado.
De acordo com Freud, isso não acontece intencionalmente, e seu cérebro está simplesmente tentando encontrar um ponto médio entre seus pensamentos conscientes e inconscientes.
- Distração
Já aconteceu de você estar conversando com amigos, mas sua mente se afastou para considerar o que você usará em seu encontro mais tarde?
De repente se depara com a mão do seu amigo na frente do seu rosto, perguntando “Ei, está me ouvindo?”
“Sim! Desculpa! Eu estava com certeza te vestindo”, você responde, expondo no que verdadeiramente estava pensando.
Por fim, temos, ainda, os Atos falhos de comportamento
Também chamados de equívocos na ação. Usualmente pode ser observados naquelas pessoas chamadas de “desastradas”, as quais podem estar fazendo uma ação de forma forçada, então o inconsciente a leva de encontro aos obstáculos, promovendo tropeços, quedas, pancadas, ou, até mesmo, lesões mais graves, como fraturas.
Considerações finais: conceito, tipos e exemplos de ato falho
Então, você já cometeu algum ato falho? Pois não fique se lamentando, uma vez que grande parte da população também o comete com frequência.
Algumas estratégias recomendadas por psicólogos e psicanalistas para limpar sua mente e evitar deslizes freudianos são:
Evite multitarefas
Deslizes freudianos geralmente acontecem porque seu cérebro está sobrecarregado. Fazer muitas coisas ao mesmo tempo pode superestimular sua mente e dividir seu foco.
Faça exposições graduais
Você pode ter muitas coisas nas quais deseja evitar pensar. Mas quanto mais você as evita, mais você pode ser inconscientemente lembrado delas.
Em vez disso, considere aceitar esses pensamentos. Eles podem ser dolorosos ou desconfortáveis de lidar no início, mas, à medida que você se permite enfrentá-los de maneira controlada, é provável que eles se resolvam e não o incomodem mais.
Encontre uma distração
Se você simplesmente não está pronto para lidar com algo, talvez seja melhor encontrar um pensamento ou atividade que o(a) distraia e ocupe toda a sua atenção.
Dessa forma, você pode evitar a pressão adicional de ser forçado a enfrentar algo antes de estar disposto e eliminar temporariamente o estresse do que quer que esteja incomodando, simplesmente mantendo sua mente ocupada.
Adie o pensamento
Se alguns pensamentos parecerem inevitáveis e você não conseguir se livrar deles, pode ser uma boa ideia reservar algum tempo durante o dia para se concentrar exclusivamente neles.
Por exemplo, você pode atribuir uma hora ou um dia específico para se preocupar com o que quer que o(a) esteja incomodando e depois dizer a si mesmo(a) que não vai pensar nisso até a hora designada. Isso pode evitar que você fique obcecado(a) com uma preocupação específica o dia todo, ajudando a melhorar sua produtividade.
Pratique mindfulness e meditação
Se você ainda não experimentou, pode ser uma boa ideia introduzir práticas de meditação e atenção plena em sua rotina diária. Isso pode acalmar sua mente, melhorar o controle mental e ajudá-lo(a) a manter seu foco no presente para que você não seja incomodado por pensamentos indesejados ou preocupações passadas e/ou futuras.
Este artigo sobre o conceito, os tipos e exemplos de ato falho foi escrito por Jorge Gilberto Castro do Valle Filho (Instagram: @jorge.vallefilho). Médico (PUC/RS), Especialista em Neurociência e Neuroimagem pela Johns Hopkins University (EUA). MBA em Gestão de Pessoas pela Universidade de São Paulo (USP). Mestrado em Gestão em Saúde pela MUST University (EUA). Certificação em Inteligência Emocional, Mentalidade de Alta Performance e Gestão de Emoções pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC). Especialista em Radiologia pela Associação Médica Brasileira e pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).
2 thoughts on “Conceito de Ato Falho: tipos e exemplos”
Gostei das dicas! Muito bom artigo!
Gostei muito das explicações claras e objetivas. Parece-me ser um ato falho que alguém indo ao velório de uma pessoa conhecida, dirigindo-se a um familiar do falecido diga: “Meus parabéns”, em vez de “meus pêsames”.