O cavaleiro, a montaria (e o superego?)

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Ao se estudar a segunda tópica de Freud ou o modelo estrutural do aparelho psíquico, encontra-se uma feliz observação feita por Valente (2002, p. 96). O autor discorre sobre a analogia da relação do id e do ego e como Freud a comparou à relação de um cavaleiro e uma montaria.  

O id na analogia do cavaleiro e da montaria

De certo modo bastante inteligente, aquela analogia pecou ao não estabelecer também a participação do superego nessa parceria. Desse modo, poderíamos entender como ele se contextualizaria com o mundo exterior. Mas será que conseguiríamos integrá-los à relação cavaleiro e montaria?

Em primeiro lugar, deve-se iniciar essa análise a partir da comparação entre o id e uma montaria. Imagina-se um cavalo xucro, de instinto selvagem. Este animal está livre para correr, pastar e cruzar com quantas éguas fossem possíveis pelos campos e pradarias. Contudo, esse cavalo nasceu em uma fazenda e sempre foi criado dentro de um estábulo.

O animal, no entanto, não conhece a liberdade dos campos verdejantes. Porém, ele ainda carrega a carga genética de ser livre, indomável, com instintos próprios de vida e prazer.  E ele vai crescendo sem conhecer arreios, freios e pessoas. Apenas vivendo segundo seus instintos primitivos.

Assim é o id, desenvolvendo-se de natureza pulsional, segundo os princípios da preservação e da propagação da vida. Ele fica restrito e oculto na escuridão do estábulo da mente humana, mas inconscientemente livre e ávido por satisfação e prazer

O papel do ego na analogia do cavaleiro

Por sua vez, há ainda o jovem ego, que também nasceu nessa fazenda, mas, ao contrário daquele cavalo xucro, mantém contato com o mundo exterior.

Algumas vezes, o jovem ego vai até o estábulo, observa aquele lindo animal, e, inconscientemente, pensa nas delícias de montar e cavalgar livre e sem rumo pelo mundo afora.

Contudo, racionalmente, ele avalia os prós e os contras dessa atitude. Ele controla as suas ansiedades, revive os seus medos e se conscientiza (ou não) da necessidade de primeiro “domar” aquela fera, por arreios. Depois, treinar repetidamente a montaria e, então, traçar um caminho seguro para se seguir.

Também avalia o quanto valeria a pena (ou não) cavalgar o ego pela fazenda e pelo mundo exterior. Ou simplesmente caminhar normalmente, a pé mesmo, como a maioria faz, e como aprendeu evolutivamente desde sua infância.

O superego na analogia freudiana

Concomitantemente, há ainda um terceiro personagem nesse enredo. Um personagem que passa sua história observando aquele cavalo brabo, vigiando para que ele não arrombe as porteiras do estábulo e fuja em disparada.

Ele percebe o crescimento do potro indomado, analisa como ele tem se comportado e como ele está desenvolvendo formas de se rebelar e fugir.

Pode-se considerar esse outro agente dessa estória como um domador ou, simplesmente, um mero tratador de cavalos?

Pois bem, sabe-se que o superego seria mais como um zelador do estábulo do que como um treinador do cavalo. Ele não está na fazenda para treinar cavalos. Essa não seria a sua função, mas sim a função do ego.

Talvez, ele até ajude o inexperiente id a montar, mas ele mais analisa, julga e palpita sobre a montaria. Talvez, o superego tenha mais medo de montar do que o próprio ego. Mas o seu trabalho – e o trabalho dos seu pais – sempre foi ficar de olho no id e contar tudo depois para o ego (e, não diferente, azucriná-lo com suas aporrinhações).

A interação entre os três cavalos na analogia

Então, ele continuará perpetuando esse comportamento. Assim, aqueles três personagens permanecem vivendo e interagindo na fazenda. O cavalo xucro preso em seu estábulo, ansioso por cavalgar pastagens, saciar os seus desejos de liberdade e os seus instintos de prazer.

O jovem rapaz ansioso por montar em seu cavalo (e ser derrubado por sua montaria). E, por fim, o zelador da fazenda, que observa tudo atento, crítico e, algumas vezes, bastante rabugento.

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    Entretanto, há algo mais a se comentar sobre tudo isso: o mundo exterior, aquele além dos limites da fazenda. Nesse contexto, vive também o ego.

    O ego é observado e constantemente julgado, experimentado e cobrado para apresentar sua montaria. Afinal, todos aqui fora querem saber como o ego se sobressai na vida: ele sabe conduzir ou é conduzido por seu cavalo?

    Resumidamente (e ludicamente), assim se poderia complementar a analogia entre o ego e o id e o cavaleiro e a sua montaria. Além disso, tentamos integrar o superego nessa relação.

    A servidão do Ego

    Como bem se sabe e aqui também se pode observar, o ego permanece servo desses três senhores: id, superego e meio externo. Ou seja, o cavaleiro busca o domínio sobre a sua montaria, recebe “palpites” ( e até ordens) do superego e ainda precisa interagir com o meio externo e provar que é um bom cavaleiro.

    Coitado do pobre ego, que tem que agradar, controlar e equalizar todas essas demandas. Logicamente, não são raras algumas quedas do cavalo. Todavia, o mais importante para o equilíbrio e saúde do ego não seria permanecer sempre montado sobre o id. Não seria, nem mesmo, ouvir sempre ao superego, nem saber responder a todas as críticas do meio externo. Mas sim se deliciar a cada cavalgada cotidiana, aprendendo continuamente com as quedas e superando com sabedoria os desafios.

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    Este artigo presente foi escrito pelo aluno do nosso curso Luiz Cláudio do Carmo, especialmente para o nosso Blog Psicanálise Clínica.

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