Desamparo aprendido: significado e dicas

Posted on Posted in Comportamentos e Relacionamentos, Psicanálise

O desamparo aprendido tem sido um tema com procuras relevantes. No entanto, sabemos que é um tema igualmente desconhecido por boa parte das pessoas.  Por essa razão, nesse artigo queremos estabelecer uma conversa sobre o que trata. Falaremos sobre experimentos sobre o tema, além de possíveis causas e como enfrentar isso.

O que é o desamparo aprendido

O desamparo aprendido é um comportamento em que um organismo, seres humanos ou animais, são forçados a suportar estímulos aversivos, dolorosos ou desagradáveis. Com o tempo, o organismo se torna incapaz de evitar tais estímulos, mesmo que isso seja possível. Em alguns casos, a vítima nem quer evitá-lo. Isso se dá porque ele aprendeu que não pode controlar a situação e não toma ações para evitar.

Ou seja, trata-se de um déficit específico envolvendo uma resposta específica. É produzido pela exposição a estímulos aversivos incontroláveis específicos.

Experimentos com animais

A princípio, o desamparo aprendido foi estudado em relação aos animais. Para isso o psicólogo e pesquisador Martin Seligman realizou um estudo na década de 70. Esse estudo tinha duas fases, três condições experimentais diferentes e diferentes grupos de cães também.

Primeira fase

Na primeira fase do estudo investigou-se o comportamento de três grupos diferentes de cães.  Assim, um cão representando cada um dos grupos ia para um local separado. Neste local foram colocados dispositivos que davam choques elétricos nos pés traseiros de cada animal.

No que diz respeito ao primeiro cão, o choque que ele sentia podia ser parado ao encostar o focinho em um painel.

Por outro lado, o cão do grupo seguinte foi para outro local em que não havia a possibilidade de parar o choque.

Já o cão do último grupo não recebeu nenhum estímulo negativo, ou seja, não recebeu choque.

Segunda fase

Depois disso, na segunda fase, os cães dos três grupos podiam escapar dos choques indo até uma sala que ficava anexa ao local. Nesta fase, foram observados resultados significativos:

  1. No caso do primeiro grupo os cães facilmente escaparam do choque indo para a outra sala. Isso se deu porque eles aprenderam na primeira fase que poderiam fugir da dor, então eles fugiram.
  2. Já o segundo grupo apresentou dificuldades para entender que poderiam escapar da dor. Assim, para esses animais, não havia só uma dificuldade de aprender a ir para outra sala. Eles achavam que não podiam fugir de sentir dor.

Isso se deu pelo motivo de eles terem aprendido na primeira fase que não tinham alternativa perante a dor. Assim sendo, o sentimento de impotência e desemparo aprendido perante a dor foi gerado.

Ou seja, com esse experimento podemos ver que os cães diminuíram o seu comportamento de defesa ao terem sido expostos a dor sobre o qual não tinham nenhum controle. Dessa forma, mesmo quando esse controle foi  dado, ele entendia que não poderia fazer nada mesmo assim.

É preciso salientar que independente da nossa opinião sobre experimentos com animais, esse é um estudo renomado e que tenta ilustrar a situação. Assim, justifica-se trazê-lo a título de exemplo para facilitar a sua compreensão do que é desamparo aprendido.

O desamparo aprendido em relação aos seres humanos

Esse sentimento também pode acontecer com seres humanos, como vimos antes. Assim sendo, se revela em pessoas que passaram situações dolorosas e incontroláveis.

Nesse contexto, sentimentos de insegurança e passividade, e dificuldade para encontrar uma solução podem surgir depois da repetição de situações frustrantes. Isso não só depois de uma situação, mas de várias. Isso acontece, pois a pessoa aprende que a situação é incontrolável e não há possibilidade de mudança.

No entanto, lembre-se: é um sentimento. Assim como no caso dos cães, as pessoas podem sair da situação, mas não conseguem ver isso.

Vale lembrar que esse sentimento une uma vítima com quem lhe causa a dor. Ou seja, a pessoa é maltratada várias vezes, porém acha que não pode sair dessa situação. Dessa forma, não consegue se afastar de quem a maltrata.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    Relacionamentos abusivos

    Para ilustrar, sabe em casamentos em que a esposa apanha repetidas vezes do esposo, mas não consegue se separar? Então, é exatamente o desamparo aprendido agindo. Assim sendo, a esposa não acredita que pode fazer nada para parar o sofrimento. Por essa razão, se aproxima cada vez mais do agressor.

    Contudo, isso não acontece só em relações amorosas, mas entre pais e filhos, nas relações de trabalho, entre amigos, e na escola também. Há casos até em que as pessoas acham que merecem ser tratadas de modo indigno, de modo que esse tratamento é considerado o máximo que podem conseguir.

    Não é nenhuma surpresa que pessoas vivendo por muito tempo em um relacionamento assim podem vir a ter depressão.

    Qual as causas do desamparo aprendido

    Como vimos, o desamparo aprendido é resultado da repetição de séries de situações frustrantes. Essas situações podem ser repetidas experiencias de fracasso, bullying de intimidação, maus tratos por parte da família ou parceiro, assédio no trabalho. Diante de tudo isso, o sentimento que surge é de desespero, angústia, impotência.

    Leia Também:  Influências do Inconsciente no comportamento

    Contudo, há uma outra forma, segundo alguns especialistas, em que o desamparo aprendido surge. Aqui ele se daria através de observação. Como assim?

    Vamos ilustrar esse caso com situação hipotética: uma filha assiste a sua vida toda a mãe sendo abusada, apanhando do marido ou sendo passiva diante das ordens dele.

    Nesse tipo de situação, a filha pode vir a associar a passividade e baixa autoestima da vida da mãe com uma exigência normal da vida de casada. Como para ela é normal, ela vai deixar que isso se reproduza em sua própria vida. Isso provoca uma perpetuação do ciclo desamparo aprendido.

    Assim, diz-se que ocorre por observação porque ela não foi a experimentadora primeira. Ela viu um padrão e internalizou.

    É preciso deixar claro que nesses casos, a culpa nunca é da vítima. Assim, até nos casos em que o desamparo aprendido é resultado de observação, a pessoa não é culpada. Não é porque algo é internalizado como normal, que isso é normal. Ao contrário, se a pessoa acha que isso é normal é porque foi induzida a isso. Ela precisa de ajuda e é a vítima da situação.

    Como sair dessa situação

    O que fazer quando a pessoa se encontra nessa situação? Primeiramente, não é fácil. Como a gente vem dizendo, é muito difícil convencer alguém de que sua situação é definitiva. 

    Acontece que as pessoas que apresentam o desamparo aprendido tem baixa autoestima. Dessa forma, tentar convencê-las a mudar com perguntas como “porque você não dá um basta nisso?” não ajuda em nada.

    Na verdade, esse tipo de abordagem confunde a pessoa, porque ela não vê sentido nesse tipo de pergunta. Isso porque ela não acredita que isso pode acabar. A pessoa foi submetida a uma manipulação que a faz acreditar piamente nisso. 

    Assim sendo, a primeira coisa que a pessoa precisa fazer é reconhecer que está vivendo o desamparo aprendido. Depois disso ela deve procurar ajuda. E, de novo, não é fácil reconhecer que está passando por isso. É preciso que com muito jeito, cuidado, conversa, informe para a pessoa o que ela tem vivido. É só quando ela percebe que sim, ela está sendo vítima disso, que ela vai conseguir sair dessa situação.

    Tratamentos

    Um dos profissionais que podem ajudar são os psicólogos comportamentais. Afinal, todos os reflexos resultantes desse condicionamento podem ser revertidos. A técnica de dessensibilização sistemática, por exemplo, pode apagar esse condicionamento passo a passo.

    A terapia psicanalítica também pode oferecer auxílio a essas pessoas. Uma vez que o problema ocorre porque as pessoas ficam entorpecidas pelas próprias frustrações e pela dureza da vida, a Psicanálise busca entender a origem desse torpor. Assim, a partir desse reconhecimento, é possível fazer um tratamento.

    Além disso, não adianta forçar alguém ao tratamento. A pessoa precisa desejar recuperar a autoestima, voltando a acreditar em si mesma. Só assim ela não se submeterá a situações de abuso.

    E, além do acompanhamento profissional, há algumas atitudes que ajudam no processo, como:

    • Evitar situações que acreditamos que podem nos causar algum tipo de dor, sofrimento, dano;
    • Entender que situações passadas, são individuais, únicas e passadas. Ou seja, elas já aconteceram, e não vão voltar a acontecer da mesma forma. Assim, se eu errei ali atrás, não quer dizer que vou errar de novo exatamente como antes;
    • Resinificar os acontecimentos. Quando a gente olha para algo e busca enxergar aquilo como um aprendizado, a gente sai da situação de desconforto. Assumimos um papel de agente.
    • Buscar apoio de quem pode nos ajudar. Não sé bom sentir-se culpado ou se isolar. Assim, é preciso buscar uma rede de apoio.

    Conclusão

    O desamparo aprendido é uma coisa realmente séria e é preciso saber cada vez mais sobre isso. Além disso, é preciso se libertar desse sentimento. Está tudo bem em cair, sofrer, mas não se pode permanecer nisso. A vítima dessa situação precisa entender que ela é uma pessoa importante e digna e não merece viver assim.

    Se você sente que está vivendo isso, busque ajuda, fale, lute. Não é fácil, mas você merece viver coisa incríveis e longe dessa dor. Esperamos que esse artigo tenha te ajudado de alguma forma. Deixe seu comentário, sugestão ou dúvida aqui embaixo!

    Lembre-se: a Psicanálise pode te preparar para lidar com essa situação. Seja você quem sofre com o problema do desamparo aprendido ou queira ajudar, nosso curso de Psicanálise Clínica online é ideal para ensinar. Confira nosso conteúdo!

    5 thoughts on “Desamparo aprendido: significado e dicas

    1. Lívia de Andrade Loback disse:

      Gostei muito de conhecer sobre esse assunto, tirou algumas dúvidas de comportamentos que já tive e também me ajudou a entender do que se trata o “desamparo”, com uma abordagem mais detalhada. Obrigada pelo conteúdo.

    2. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom texto! Para se curar do desamparo aprendido, tem que haver uma autoestima.

    3. Adriene Márcia Dias Ribeiro disse:

      Bom dia!
      Gostaria de saber o nome do autor do artigo. Gostei muito. Bem clara as informações.
      Desejo usar partes do texto em um trabalho.

      1. Psicanálise Clínica disse:

        Bom dia, Adriene. Os artigos sem autoria informada ao final são criações da equipe de redatores do próprio blog. Informar como Blog Psicanálise Clínica.

    4. Nancy Padial disse:

      Grata pelo conteúdo. Ajudou-me a compreender sobre o desamparo aprendido.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *