conceito de normalidade

Conceito de normalidade: o que é ser normal para Freud

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Frequentemente o conceito de normalidade, ou seja, o que é a pessoa normal ou o que é ser normal e viver uma normalidade e quais as seus critérios de aferição tem sido muito debatido em vários campos do saber e círculos de estudos.

O conceito de normalidade proposto por Freud

A questão tende a ficar no compasso de espera aguardando o surgimento de uma definição ou de um conceito que seja finalmente pacificado o quê até agora divide ainda as opiniões em convergentes e divergentes. A Psiquiatria vem tentando achar um conceito de normalidade que seja aceito socialmente bem como a Psicologia.

Porém, os critérios adotados são pré-questionados e depois continuam questionados e pós-questionados no tecido social. E já existem novos campos do saber emergente, como por exemplo a Filosofia Clínica que entende em tese e a priori não existir a normalidade nos termos de seu status atual e sim, condições existências; também, o termo paciente é questionado como partilhante e a definição de cura como remissão da patologia tem sido colocada em xeque na emergente pós-modernidade dos tempos líquidos da disruptura social em marcha.

Muitas propostas foram apresentadas sendo a normalidade consideram como saúde, ou seja, bem estar físico, mental, social e espiritual; alguns a consideram como utopia, que a realidade e normalidade já são loucas por natureza com famosa premissa de que o normal é louco; e outros com processo de interações ou conexões sociais. Outros ainda, como intersecções das pessoas e suas construções materiais. Porém, existe uma percepção social já até bem consciente que precisamos esclarecer o que seja uma pessoa normal.

Psicanálise e o conceito de normalidade

Até o surgimento da Psicanálise por Sigmund Freud (1856-1939) os debates foram intensos e não havia um consenso pelo menos provisório mas havia uma prática severa com base num padrão de manual. Quem não estava dentro das normas de uma dada cultura era considerado louco.

A partir da sistematização da Psicanalise como uma psicoterapia de um novo campo do saber emergiu um conceito que foi ganhando mais respeito social.  Porém, ainda continuam estudos e esforços no sentido de se tentar elucidar o que seja ser normal a luz da psicopatologia.

A mera visão de se tentar adaptar a pessoa ao ambiente e defini-la como normal separando dos que seriam considerados nos manuais até então construídos antes da Psicanálise de anormais, não haviam conseguido um conceito de que fosse uma força motriz comunitária pacificador . O establishment intelectual das diversas sociedades ocidentais Freud propôs o seu conceito considerado revolucionário continuavam com práticas brutais contra os chamados loucos.

O conceito de normalidade e o ego

Freud então surge com sua concepção onde expressa que a normalidade seria uma ficção ideal onde cada ego aproxima-se daquele de um psicótico em grau maior ou menor. Na esteira deste conceito outros pesquisadores tentaram um alinhamento, mas estava claro que a normalidade absoluta não existe.

O que foi aceito foram regras sociais ou culturais como um parâmetro para se tentar fixar um conceito de normalidade e de anormalidade ou loucura. O louco seria o anormal. O anormal seria o que não segue seguir as regras culturais e legais, definidas como ética ou moral que deveriam ser introjetadas em seus superegos.

Os estudiosos acabaram percebendo que caiam no conceito de Freud. Ora, se a normalidade é uma ficção ideal somente o psicótico poderia ser um parâmetro relativo e estaria ligada ao ego das pessoas nas interações sociais mediados por uma ética ou moralidade normativa.

Articulação do ego com uma realidade ideal

Muitas outras contribuições surgiram posteriores a do Freud, porém, todas elas ficam de uma forma ou outra ancorada na concepção inicial de Freud. Alguns dizem que a força do caráter influencia, idem emoções, a experiência das pessoas, as capacidade de adaptações, os sentimentos sociais a possibilidade de vencer medos, culpas, e assumir responsabilidades pelas próprias ações, os insight no self, a capacidade de dominar fases da vida e crises vitais, entretanto todas as contribuições posteriores ao que Freud concebeu e formulou caíram no lugar comum proposto.

Ou seja, a articulação do ego com uma realidade ideal, já definida como ficção ideal e também, que ego acaba sempre ir se aproximando de uma comparação com os chamados egos psicóticos numa escala que ele já tinha chamado de grau maior ou menor.

As contribuições que foram surgindo ficaram andando em círculos e não conseguiram superar o conceito proposto pelo Freud, ou seja, não inovaram. Com outras palavras terminaram expressando e aprofundando exatamente o que o pai da Psicanálise na modernidade enquanto sistematizador dela, tinha concebido. Que a normalidade é uma ficção ideal.

O conceito de normalidade e projeções ficcionais

Todos os conceitos tentados não conseguiram sair desse enlace. São projeções ficcionais. Freud expressou que essas ficções ideais são de cada ego, entendido como cada pessoa singular; o ego enquanto consciente. E que cada ego aproxima-se de forma consciente ou e muitas vezes de forma inconsciente puxado pelo id, de um ego psicótico, em grau maior ou menor.

Esse grau maior ou menor é a escala que ele propôs de observação. Evidente que a cultura introjetada pelo superego da pessoa, o meio em que ela comunga ou partilha ou que esta em intersecção vai ser muito importante como ética e moralidade.

Muitos estudos posteriores ao que Freud havia proposta fizeram pesquisas com crianças, adolescentes, adultos e idosos em processos clínicos abertos ou fechados visando escapar do constructo construído por Freud mas não conseguiram efetivamente.

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    Ausência da psicopatologia

    Todos os estudos partiram de pressupostos como, ausência quase completa de psicopatologia; domínio de tarefas; habilidades adquiridas e a flexibilidade de afetos; ou ainda, critério como níveis de conflitos e relacionamento com pais, irmãos, comunidade ou sentimento de pertencimento a um ambiente cultural maior ou ainda consciência das normas e valores no qual a pessoa esta contextualizada e inserida interagindo.

    Estes eram alguns dos critérios de pesquisas e todos remetem, sem exceção, ao que Freud disse na parte final do conceito concebido por ele: “a normalidade é uma ficção ideal onde cada ego aproxima-se daquele de um ego psicótico em grau maior ou menor. Percebemos que o patamar comparativo sempre tem sido um ego psicótico.

    Ora, o superego é a cultura na qual o individuo como agente social esta inserido e interagindo. Pinçando um exemplo bem ilustrativo, como tratam mortos no Brasil e na Índia ? No Brasil tem todo um ritual legal de sepultamento considerado normal. Se o corpo ou túmulo for vilipendiado é anormal e até criminal cultura que vem mudando aos poucos com a cremação e desfecho das cinzas.

    Comparações e quadros psicóticos

    Na índia levam até beira de um rio, queimam o corpo e jogam nas águas Ou jogam o corpo nas águas com vem ocorrendo com os infectado pelo covid-19. O indiano então é anormal ou louco ?!

    Na ótica do brasileiro em tese seria um louco e até criminoso. Mas, na India ele não é considera louco e muito menos criminoso se levar um familiar e a lenha, realizar orações e queimar o corpo e jogar no rio sagrado. Percebemos então que o conceito do Freud foi muito revolucionário e nunca deixou de ser um clássico tremendamente atual.

    Até a medição da normalidade se tornou algo profundamente questionável e os critérios dos instrumentos construídos e usados não conseguiram se desfazer da concepção freudiana. Até tentaram, mas malograram porque nunca conseguiram sair do conceito ego e também se livrar na formulação de pressupostos e premissas das comparações com quadros psicóticos.

    Conceito de normalidade no psicológico e social

    Ficou evidente que o conceito psicológico e social de normalidade é sempre relativo e esta ainda bem encaixado no que concebeu o Freud, porém restou se fixarem apenas na vertente biológica cerebral, o neurológico, do estudos das imagens do cérebro nada mais do que isso.

    Na questão do ego em termos de defesa do ego, George Eman Vaillant (n. 1964, EUA) psiquiatra norte americano abriu uma contribuição inestimável organizando e sistematizando melhor os mecanismos de defesa do ego em ‘psicóticos’, imaturos, neuróticos e maduros.

    Podemos perceber o quanto ainda persiste a visão do patamar psicótico em praticamente tudo. Quando Freud expressou que “a normalidade é uma ‘ficção ideal’ onde cada ego aproxima-se ‘por comparação daqueles de psicóticos’ em maior e menor grau”, ele o fez com máxima certeza depois de profundas reflexões.

    Conclusão

    Estamos em 2021, com pé na pós-modernidade dos tempos líquidos e não conseguimos substituir o conceito monumental que ele concebeu e formulou. Freud definitivamente não foi superado ainda.

    Todos os conceitos que foram construídos após ele ter ofertado o dele, não conseguiram sair do esquadro e da moldura que ele nos legou. Pode ser que a futura Psicanálise cerebral ligada a visão mais biológica consiga algo novo, mas ainda não tiveram êxito.

    O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima Oliveira([email protected]). Licenciado em História e Filosofia; PG Ciências Políticas, acadêmico de PG em Psicanálise e pesquisador da Psicanálise Clinica.

     

    2 thoughts on “Conceito de normalidade: o que é ser normal para Freud

    1. Feliciano kanivete disse:

      Existem três três modelos de normalidades na óptica:
      1. Pretende-se com o modelo estatístico vs sociocultural ( que analisa do de vista comportamental, o é aceito pela maioria).
      2. Modelo psicanálise, segundo este a psicanálise, não exite um ser humano 100% normal. Na medida em que, o comportamento do ser humano é variável ou seja, ora depressivo, em estado de ansiedade, angústia e conflito. Dependendo de vários factores quer exógenos e hendogenos.
      3. Modelo médico, que visa a normalidade por via diagnóstico laboratorial.

    2. Antonio+Rodrigues+Nunes disse:

      Excelente, elucidativo e didático. Normal seria o indivíduo integrado socioculturalmente. Porém, transitando circunstancialmente entre os três eixos.

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