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Psicóticos: quem são ou quem somos?

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A proposta do presente artigo não é outra senão a de propor uma breve reflexão a respeito da psicose e dos psicóticos, assim como compilar, ainda que superficialmente, alguns conceitos fundamentais a seu respeito. Psicóticos, quem são ou quem somos?

Psicose e os psicóticos: o que são?

Quando falamos a respeito de psicose, ainda que entre profissionais relacionados de alguma forma à saúde mental, nos deparamos muitas vezes com considerações extremamente distintas sobre o tema, tanto com relação à definição do diagnóstico, quanto com as possíveis abordagens terapêuticas. Então o que exatamente definiria um sujeito psicótico? “O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora nele” Jerome Lawrence

Podemos entender sobre a ótica Psicanalítica que passamos a existir enquanto sujeitos quando entramos no universo da linguagem, quando de súbito somos traumatizados por um oceano de sentidos que nos separam de qualquer possibilidade de retorno a um estado de completitude.

Num encontro devastador e perpétuo com a castração, pois ali onde se fala, costurados em reconhecimentos e consentimentos, nunca mais nos será possível compreender ou dizer o todo.

Os psicóticos e o inconsciente

“(…)os psicóticos é um mártir do inconsciente, dando ao termo mártir seu sentido, que é o de testemunhar. Trata-se de um testemunho aberto. O neurótico também é uma testemunha da existência do inconsciente, ele dá um testemunho encoberto, que é preciso decifrar.

O psicótico, no sentido de que ele é, numa primeira aproximação, testemunha aberta, parece fixado, imobilizado, numa posição que o coloca sem condições de restaurar autenticamente o sentido do que ele testemunha, e de partilhá-lo no discurso dos outros.” (LACAN, 1955-56/1985, p.153)

A partir do encontro com a linguagem, o então sujeito, passa a operar com base em três possibilidades segundo Jaques Lacan, o recalque, a foraclusão, ou o desmentido, sendo definido assim como estrutura respectivamente a neurose, a psicose ou a perversão.

Os sujeitos psicóticos

O sujeito psicóticos estruturado pelos moldes neuróticos, alçados a partir dos recalques, inaugura uma busca sem fim pela retomada da completude pós castração, acreditando piamente que palavras e sentidos seriam uma via para esse fim.

O sujeito moldado à perversão, também chamado de sujeito desmentido da castração, ao reconhecer essa castração ao mesmo tempo a nega e atua em função de desmenti-la com suas estratégias e estratagemas caracterizados pela estética e pela “ironia” próprias de seus símbolos.

Quando o sujeito não se posiciona na partilha dos sexos e nem porta o significante Nome do Pai, ou seja, não é capaz de responder à lei “ignorando” a lógica da castração, temos a configuração da psicose, na qual o sujeito sem a “noção” introjetada da lei, porém afetado pelas pulsões sexuais que a todos acomete, precisa coexistir com um ambiente “amordaçado” e modelado por convenções que escapam de suas possibilidades de absorção.

Lacan sobre a psicose

“de que se trata quando falo da Verwefung? Trata-se da rejeição de um significante primordial […] trata-se de um processo primordial de exclusão […] de um primeiro corpo de significantes […] do mundo da realidade já pontuado, já estruturado.” (LACAN, 1955-56/1998, p.174)

“Para saber […] o que dizemos quando dizemos por exemplo que na psicose algo vem a faltar na relação do sujeito com a realidade, trata-se com efeito da realidade estruturada pela presença de um certo significante que é herdado, tradicional, transmitido.” (LACAN, 1955-56/1998, p.283)

“É num acidente desse registro [da linguagem] e do que nele se realiza, a saber, na foraclusão do Nome-do-Pai no lugar do Outro, e no fracasso da metáfora paterna, que apontamos a falha que confere à psicose sua condição essencial, com a estrutura que a separa da neurose.” (Lacan, 1998a, p.582)

O psicótico e a responsabilidade

Podemos então categoricamente afirmar que o psicótico tem seu mundo oriundo dos significantes de todos aqueles que não o são, o que de certa forma, traria sobre todo esse ambiente a responsabilidade mútua de coexistência, sendo um ato no mínimo desumano, a condenação de sujeitos que experimentam a existência de uma estrutura psicótica, a uma vida meramente entorpecida e enclausurada.

“A questão é saber como é possível restaurar aquilo que é desatrelado na perseguição e no desastre do imaginário pelo deslocamento das identificações, de tal sorte que o gozo entre na dialética do discurso. Fazer o gozo entrar nos limites do discurso e do vínculo social, essa é a questão, com efeito.” (Soler,. 2007, p. 203)

Quem são ou quem somos?

Nascer é naufragar cuspido do ventre amparo às profundezas de “la langue”, quando de súbito, o fora a ser é rasgado nas ondas significantes de outrem, esculpindo muralhas prisionais no antes infinito nada, que agora como tudo que é, deixa de ser a si, passando a ser tudo outro.

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    Esmaga-se na pegada desse enorme outro e aprende a rastejar farejando o som que alimenta, aliena e atrofia o existir; corrompendo, deformando e deflorando a infinitude do verbo nas ínfimas letras que compõe esse pequeno aglomerado de sons que o batizam; e já investido de suas findas algemas, lhes são dadas as Boas-vindas à comédia humana.

    Considerações finais

    Entre neuroses, psicoses ou perversões, sem mais a acrescentar, munidos tão somente da linguagem enquanto prorrompidos por Eros e Thanatos, somos nós, com todos os borromeanos nós, nada além de simbólicos escopos de pulsão.

    Que possamos reconhecer e admirar o brilho de todas as formas que, disformes como tudo, fazem-se apenas mais uma bela invenção.

    O presente artigo foi escrito pelo autor Daniel S.(@psicanalise.br). Daniel é Psicanalista Clínico, autor, colunista e colaborador literário em Psicanálise, Filosofia e Cultura. www.minhaterapia.org

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