A depressão é um transtorno que atinge muitas pessoas em todo o mundo. Entende-se que esse transtorno não é consequência de um fator isolado, mas sim, está atada a uma série de fatores, tais como, biológicos, históricos, ambientais, culturais e psicológicos. Confira como a Psicologia e a Psicanálise abordam e tratam o problema!
O artigo que você lerá hoje é uma adaptação de um trabalho de conclusão de curso. A autoria é de Agnaldo Paviani, que concluiu a nossa formação completa em Psicanálise Clínica 100% online. Neste trabalho, como já mencionamos, você lerá acerca da depressão.
O artigo divide-se nas seguintes partes constitutivas:
- Introdução;
- Contextualizando a depressão;
- A depressão segundo a ótica da psicologia: análise do comportamento;
- A depressão segundo a ótica da psicologia: psicanálise;
- Melancolia;
- Luto;
- Reflexos da depressão na sociedade contemporânea;
- Conclusão.
Introdução
Neste estudo, buscou-se investigar como a depressão está relacionada e inserida na sociedade contemporânea. Ou seja, como a mesma é compreendida no que tange à visão da sociedade e também através da perspectiva do próprio indivíduo doente. Na primeira parte, aborda-se a contextualização da depressão, isto é:
- suas diferentes nomenclaturas e significados,
- suas diferentes explicações de acordo com o CID 10 (Classificação Internacional de Doenças),
- o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais),
- e também as características desse transtorno.
No segundo capítulo, discute-se a depressão sob o ponto de vista da análise do comportamento e da psicanálise, que são duas frentes da psicologia. Nessas duas áreas, encontram-se diferentes contribuições de vários autores acerca do assunto. A segunda é dividida ainda em dois subtemas: melancolia e luto.
Finalmente, no terceiro capítulo, vê-se como a depressão reflete na sociedade dos dias atuais. Neste ponto, você terá acesso a discussões sobre a visão que a sociedade tem sobre temas como felicidade e tristeza, bem como o próprio indivíduo. Também discute-se acerca das mídias sociais e do abuso do uso de medicamentos antidepressivos. Por fim, a conclusão remete-se ao tema principal e enfatiza a importância de um tratamento adequado para o sujeito em sofrimento.
Contextualizando a depressão
Nomenclaturas
O termo “depressão” surgiu na Europa, em meados do século XVIII, no âmbito psiquiátrico, derivado do vocábulo latim depremere, que significa “pressionar para baixo”. Inicialmente, a expressão era associada à melancolia e a separação dos conceitos só ocorreu no fim do século XIX (ELY, NUNES e CARVALHO, 2014). Durante muito tempo, portanto, os termos ‘depressão’ e ‘melancolia’ foram usados como sinônimos. Todavia, atualmente representam concepções diferenciadas.
O termo melancolia tem sido, preferencialmente, vinculado às manifestações psicóticas – de maior gravidade, portanto. Enquanto que a depressão tem se associado às afecções de natureza neurótica. Encontramos também referências à depressão psicótica e à depressão neurótica. Outras vezes, é referido como psicose maníaco-depressiva: enquanto uma manifestação bipolar que se distingue da posição monopolar (MARTINS, 2006, p. 09-10).
Considerando o mal do século XXI, a depressão tem sido interpretada como a representação de diversas manifestações psíquicas. Isso revela que, ainda hoje, a própria terminologia apresenta dificuldades de conceituação e interpretação. Não obstante, o que se sabe é que trata-se de um transtorno mental, um distúrbio emocional que altera nossa forma de ver o mundo e de sentir a realidade.
Sintomas
Antes de falarmos em uma definição, saiba que os sintomas da doença consistem principalmente de:
- transtorno de humor,
- falta de esperança,
- desmotivação,
- insegurança,
- isolamento social e familiar,
- perda de interesse por atividades antes prazerosas,
- apatia,
- falta de apetite e de concentração,
- insônia,
- perda de memória (TEIXEIRA, 2007).
Apesar de ter-se a descrição dos sintomas e características desse transtorno, vale ressaltar que o mesmo se manifesta de várias formas diferentes.
Definições e diferentes perspectivas
Psiquiatria
Na perspectiva da Psiquiatria, a depressão é categorizada pela Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association – APA) em seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) no item denominado Transtornos do Humor. Por sua vez, esse problema se subdivide em:
- Transtornos Depressivos,
- Episódios Depressivos,
- Transtorno Distímico,
- Transtorno Ciclotímico,
- e Transtorno Bipolar I e II.
Medicina
Já sob o ponto de vista da Medicina, a depressão é caracterizada pelo CID-10 como:
[…] estados de rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. A perda de interesse, a diminuição da capacidade de concentração, fadiga mesmo após um esforço mínimo, problemas do sono e diminuição do apetite são os sintomas principais dos Episódios Depressivos. (QUINTELLA, 2010, p. 86).
Alcance
É fato que a depressão afeta diretamente milhares de indivíduos ao redor do mundo, atingindo pessoas de ambos os sexos, todas as raças e credos, em diferentes faixas etárias (desde bebês até idosos), estudantes, trabalhadores, desempregados, aposentados, enfermos ou não. Ou seja, tal transtorno prejudica a sociedade em geral. A fim de que se ofereça um tratamento mais específico a cada ser humano, em vez de tratar a todos indistintamente, é preciso levar em consideração os diferentes níveis de manifestação da depressão e a história de vida daquele indivíduo, analisando-a de maneira multidisciplinar e em profundidade.
Ely, Nunes e Carvalho (2014, p. 420) sugerem que, além de examiná-la como estado, é importante considerá-la um traço de personalidade “estudando o traço ou os sintomas depressivos, obtêm-se resultados que variam na cronicidade, estabilidade e frequência com que certas características são exibidas. Assim, a avaliação da depressão como traço e estado são complementares”.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
De tudo o que foi discutido até aqui, pode-se compreender um ponto em comum com todos os especialistas: não é possível atribuir uma única causa para a depressão. Ou seja, deve-se considerar que a depressão não é consequência de um fator isolado, mas sim, está atada a uma série de fatores, tais como os biológicos, históricos, ambientais, culturais e psicológicos.
A depressão segundo a ótica da psicologia: análise do comportamento
A ausência de um modelo
Ferreira e Tourinho (2011, p. 22) explicam que, de acordo com a Análise do Comportamento, ainda não há um modelo explicativo definitivo a respeito da depressão. Ainda assim, é crucial “em qualquer explicação analítico- comportamental que se compreenda a depressão como um fenômeno complexo, que pode envolver várias relações comportamentais, em diferentes níveis de complexidade”.
Nesse sentido, a Análise do Comportamento entende a depressão como um produto da interação do indivíduo com o ambiente. Assim, a concepção de doença é deixada de lado e volta-se para as interações entre organismo/ambiente, tornando-se fundamental conhecer as variáveis dos comportamentos observadas em indivíduos deprimidos (BUENO e BRITTO, 2014).
A interferência do ambiente
Tourinho (2006) contribui com essa linha de pensamento ao explicarem que nenhuma ação humana é independente de uma relação com o ambiente em que aquele indivíduo está inserido.
Para a Análise do Comportamento, o mundo que tem função para o comportamento é principalmente o mundo que é produto da ação humana, e as funções das ações humanas realizam-se apenas no contexto das relações com o ambiente. Essa perspectiva é incompatível com visões do homem como um ser passivo, que simplesmente responde ao ambiente, às vezes erroneamente atribuídas à análise do comportamento.
Contudo, essa explicação é também incompatível com visões do homem que explicam suas ações sem conectá-las com o que se passa no mundo à sua volta (p. 04). A compreensão da depressão, portanto, depende, conforme apontado pelos analistas do comportamento, de fatores como:
- investigação de tais alterações,
- identificação de suas variáveis antecedentes e consequentes.
Identificação e compreensão da depressão
Sendo assim, só é possível entender a depressão a partir do reconhecimento das contingências que se instalaram e que mantêm aquele padrão de comportamento (BUENO e BRITTO, 2014). Além disso, enxergar a depressão como um fenômeno complexo e multifacetado traz algumas considerações cruciais “implica deixar de atribuir-lhe características pré-definidas, invariáveis, na medida em que pode incluir uma ampla gama de relações de diferentes graus de complexidade” (FERREIRA e TOURINHO, 2011, p. 33).
É o que afirmam também Bueno e Britto (2011, p. 41), para quem a caracterização de uma pessoa deprimida deve considerar:
[…] não apenas as atividades em que não esteja engajada, mas também o aumento da frequência de comportamentos que não lhe favorecem a interação ambiental (e.g., isolar-se). Desse modo, a ausência de comportamentos apropriados (e.g., interação social) e a ocorrência de comportamentos inapropriados (e.g., deixar de realizar a maioria das atividades antes praticadas), que geram sofrimento clínico, ao contexto ambiental é parte de seu repertório atual e potencial.
Mais contribuições da análise do comportamento
Lacerda (2015) acrescenta que as teorias da psicologia acerca da perspectiva da análise do comportamento trouxeram discussões valiosas sobre o desencadeamento de um quadro depressivo, tal como, os comportamentos. Destacam-se, nessa área, teóricos importantes como Lewinsohn, Ferster e Dougher, que basearam seus estudos na Análise Comportamental, enfatizando a importância das contingências na produção de sintomas depressivos.
O autor ainda nos remete a uma importante reflexão sobre os comportamentos que podem ser observados uma diminuição da frequência. São justamente aqueles que envolvem a interação social e aqueles que aumentam a frequência estão relacionados com a fuga e esquiva daquele meio social. Ou seja, de acordo com essa explicação Lacerda (2015) levanta uma hipótese de que as pessoas que sofrem com a depressão possuem muitas dificuldades nas habilidades sociais.
Na opinião de Bueno e Britto (2011), o diferencial proposto pela Análise do Comportamento é que, com ela, pode-se definir os sujeitos e suas limitações a partir da observação dos repertórios comportamentais que os mesmos apresentam.
A depressão segundo a ótica da psicologia: psicanálise
Introdução à associação entre depressão e psicanálise
Para a Psicanálise, os sintomas não remetem simplesmente a doenças específicas, haja vista não revelarem a verdade oculta por trás da enfermidade. Então, embora eles representem, sim, uma verdade que está camuflada, ela se amplia a muito além da mera doença física, orgânica. Logo, é preciso descobrir o que a verdade do inconsciente quer nos revelar. Nesse sentido, podemos compará-los a outros processos estudados por Freud, quais sejam os lapsos, os chistes e, principalmente, os sonhos.
Embora Freud tenha tentado descrever a depressão, é válido recordar que a Psicanálise não traz uma teoria propriamente dita sobre tal fenômeno. Ele simplesmente “reservou o termo que hoje usamos como depressão para uma manifestação neurótica, com caráter de defesa do sujeito, enquanto a melancolia propriamente dita, Freud emprega para um quadro psicótico” (MOHR, 2013, p. 189).
A compreensão do quadro depressivo na Psicanálise
Alguns tópicos primordiais para o entendimento da depressão no âmbito da Psicanálise são expostos com clareza por Teixeira (2008, p. 28-29):
[…] a psicanálise … não reprova a depressão, como o conjunto atual de nossa sociedade faz. A psicanálise concede, desde Freud, sua margem de razão ao sujeito deprimido, na medida em que reconhece o valor de verdade que seu sofrimento revela enquanto condição de desamparo que nos é inerente. Afora isso, a experiência analítica produz invariavelmente, sobre o paciente, o afeto de tristeza resultante do luto que ela provoca ao fazer tombar os ideais em que ele se alienava.
Nesse sentido para Teixeira (2008), os mesmos autores ainda dizem que, para Freud, a depressão revela uma condição de desamparo da qual tentamos nos proteger criando uma rede ampla de vínculos sociais e ilusórios que damos o nome de sentido da vida. Porém, raramente sabe-se o que isso quer dizer.
Comportamento do depressivo e análise psicanalítica
Então, é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos dê um suporte. Freud desde sempre indicou em pacientes diagnosticados com quadros depressivos características típicas da perda de vontade de viver, tais como abatimento, apatia, desânimo, desesperança, desinteresse, indiferença, letargia, prostração e tristeza, entre outras.
De acordo com Mohr (2013), a depressão está relacionada com:
- um desejo de morte, no sentido de ficar invisível ‘à vida’,
- apego a solidão, sem relações externas,
- não ter seu nome lembrado pelos outros,
- ou seja, parece um desejo de ser esquecido e de esquecer a si mesmo.
Sendo assim, é preciso levar em consideração a afirmação de Fortes (2009, p. 1126): “onde há sofrimento psíquico há lugar para a escuta do psicanalista”.
Possibilidades dentro da Psicanálise
Nesse sentido, a psicanálise possibilita ao sujeito:
[…] ressignificar o próprio sofrimento através da palavra. É através da escuta de sua história de vida e da construção da sua subjetividade que se possibilita o tratamento da depressão. O mundo contemporâneo preza por uma vida regida por segurança e riscos mínimos buscando nos psicotrópicos a cura a depressão (CIELUCK, 2016, p. 26-27).
Distinção entre Psicanálise e Psiquiatria
Infelizmente, a Psiquiatria não considera alguns aspectos importantes da depressão, como o conceito de sujeito e os conceitos de melancolia e luto (ANDRADE e CALAZANS, 2014). A Psicanálise, por outro lado, busca enxergar os sentimentos depressivos enquanto representação de diferentes tipos de perdas.
É importante atentar-se para o fato de que o tema exige “a necessidade de esclarecer a relevância da depressão para a psicanálise e sua prática”, pois a depressão ainda “prevalece, além da sensibilidade narcísica dos psicanalistas e de sua sobrevivência em meio ao sucesso da psiquiatria e das drogas psicofarmacêuticas” (DELOUYA, 2000, p. 22).
Embora o mundo contemporâneo seja tomado pela negação do sofrimento e pelo tempo relativamente acelerado, Cieluck (2016) diz que a psicanálise propõe e oferece um acolhimento à dor do outro e a busca pela dimensão subjetiva do ser humano.
Orientações para psicanalistas
Onde quer que se encontre o sujeito, encolhido pela depressão, é lá que o analista deve ir buscar a expressão significante de seu sofrimento. Não importa quanto ele demore até ter vontade ou forças para dirigir a palavra ao analista. O projeto pseudocientífico de subtrair o sujeito – sujeito de desejo, de conflitos, de dor, de falta – a fim de proporcionar ao cliente uma vida sem perturbações acaba por produzir exatamente o contrário: vidas vazias de sentido, de criatividade e de valor.
Essas são vidas em que a exclusão medicamentosa das expressões da dor de viver acaba por inibir, ou tornar supérflua, a riqueza do trabalho psíquico – o único capaz de tornar suportável e conferir algum sentido à dor inevitável diante da finitude, do desamparo, da solidão humana (KEHL, 2009, p. 53).
Por fim, vale lembrar que, na Psicanálise, a depressão tem associação direta com a melancolia e com o luto. De acordo com Mohr (2013), a partir do momento que o sujeito perde um objeto, acontece consequentemente um desinteresse libidinal pelo mesmo. Dessa forma, é preciso realizar um processo de reinvestimento dessa libido perdida, porém, agora sem ligação com o objeto. É o que veremos mais detalhadamente nos itens a seguir.
Melancolia
Melancolia e luto estão intrinsecamente correlacionados. Os traços mentais distintivos da melancolia são quase idênticos aos do luto:
Um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de autoestima a ponto de encontrar expressão em autorrecriminação e autoenvilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição (FREUD, 1969, p. 250).
Todavia, a melancolia é descrita por algo que está ausente no luto normal. Nesse caso, se o objeto estiver presente, o luto se torna patológico. Outra diferença que Freud (1969) traz, é que, entre ambos “a melancolia está de alguma forma relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, no qual nada existe de inconsciente a respeito da perda” (p. 277-278).
Distinção entre o enlutado e o melancólico
Ao contrário do enlutado, o melancólico exibe uma extraordinária diminuição da autoestima bem como de seu ego. No luto, o sentimento de vazio é de acordo com o mundo externo e na melancolia, esse sentimento é refletido no próprio ego (FREUD, 1969). O paciente representa seu ego como sendo:
[…] desprovido de valor, incapaz de qualquer realização e moralmente desprezível; ele se repreende e se envilece, esperando ser expulso e punido. Degrada-se perante todos, e sente comiseração por seus próprios parentes por estarem ligados a uma pessoa tão desprezível. Não acha que uma mudança se tenha processado nele, mas estende sua autocrítica até o passado, declarando que nunca foi melhor. (FREUD, 1969, p. 252).
Da mesma forma, Martino (2011) afirma que, assim como no luto, na melancolia também ocorre uma perda e o indivíduo sofre a depressão, desinteressando-se pelo mundo externo (pessoas e coisas). Contudo, diferente do luto, o ego sente-se enfraquecido, como se lhe faltasse um pedaço.
Mais considerações sobre luto e melancolia
Quando o sujeito se encontra num estado de melancolia, o eu se divide em duas partes distintas. Uma parte se identifica com a perda em si e a outra, visa a capacidade ou não de viver sem o objeto perdido. Dessa forma, o sujeito não deixa morrer na fantasia, aquilo que se perdeu no real. Ou seja, ele passa a viver a partir do que se perdeu de uma forma narcisista (MARTINO, 2011).
Pra Freud (1969, p. 251), “na melancolia, a perda desconhecida resultará num trabalho interno semelhante, e será, portanto, responsável pela inibição melancólica”. Assim, pode ser considerada mais enigmática porque não podemos ver o que é que o está absorvendo tão completamente.
Luto
É necessário termos consciência de que, além do corte do cordão umbilical, sofreremos outros cortes indispensáveis e inevitáveis ao longo da vida (BION, 1977). Contudo, Cassorla (1992) argumenta que alguns fatores socioculturais têm dificultado a elaboração das perdas, tais como a negação da morte, o terror que ela inspira e a falta de rituais que auxiliem na sua concepção.
Freud (1969) considera que o luto é uma reação à perda, em vários sentidos, como por exemplo:
- um ente querido,
- um objeto muito valioso,
- a liberdade,
- um lugar considerado muito importante,
- e assim por diante.
Martino (2011, p. 92) complementa esta linha de raciocínio ao afirmar que a palavra luto descreve:
[…] o período que se segue depois da perda de alguém que nos é importante, alguém que de alguma forma é ou foi alvo dos nossos investimentos, alvo dos nossos interesses, ou mesmo, que éramos ligados. A palavra luto serve para descrever a perda de uma pessoa amada, uma posição social ou uma ideia que, se constatou, não viável a realidade. “Sentir o luto” descreve de alguma forma o que deve ser desligado de nós e um processo natural da vida.
Como lidamos com as perdas
É certo que toda perda exige do nosso psiquismo um determinado período de tempo para que possa se refazer, preenchendo as lacunas que se formaram, rememorando e/ou renomeando o que se perdeu, através das lembranças. Quando esse tempo é insuficiente, diz-se que houve um luto mal elaborado. Por outro lado, a impossibilidade de elaboração do luto pode, inclusive, levar o indivíduo a desenvolver patologias, dentre elas a melancolia.
Logo, trata-se de um momento de fundamental importância para que a pessoa perceba, reconheça e tome consciência da ausência que deve enfrentar dali por diante. Normalmente, gasta-se muita energia nesse processo. Acontece que ele possui cargas emocionais extremamente intensas –, o que, muitas vezes, leva o enlutado a não ter vontade de fazer mais nada. O luto envolve o afastamento do sujeito daquele comportamento de viver (FREUD, 1969).
O luto da perspectiva social
Em nossa sociedade, a morte inspira medo e é veementemente negada, o que afeta profundamente os familiares e pessoas próximas a quem ela acomete. Ademais, muitas vezes o luto é visto como uma situação inadequada, que deve ser superada o mais brevemente possível. Com isso, sua elaboração adequada fica comprometida.
Porém, com frequência temos visto em nossa sociedade que o luto é considerado um processo pelo qual o indivíduo passa de acordo com o momento de perda que o mesmo está vivenciando. De acordo com Freire (2006), esse momento se caracteriza como um momento de dor, enfraquecimento dos relacionamentos sociais e a forma como o sujeito se insere na sociedade.
Caterina (2015) explica que, durante o luto, é comum o indivíduo negar a “veracidade do rompimento do vínculo, porque o enlutado rejeita o esquecimento no início do processo, havendo uma intensa necessidade de manter vivo o morto, por meio de lembranças e tentativas de contato”.
As fases do luto
Diante da perda, o enlutado retoma aos minuciosos detalhes do vínculo agora perdido. No trabalho de luto, primeiramente a pessoa passa pela operação de focalização para delimitar a lembrança e pelo desinvestimento da imagem e da libido. Ou seja, a imagem do outro é transportada para grande parte do eu. Estas representações inconscientes, chamadas de lembrança, consistem em um superinvestimento afetivo (CATERINA, 2015, p. 22).
É preciso conscientizar-se de que o luto é importante porque é nele que tem início o processo de simbolização, de memorização e de recordação de quem se foi. Dessa forma, consegue-se manter o vínculo entre o ausente e o enlutado. No entanto, para Silvestre (1999):
Perder seu trabalho, seu pai, sua companheira merecem um antidepressivo, uma vez que a tristeza ou o sentimento de luto é assimilado a um estado depressivo. Ser feliz, positivo, contente com sua sorte é o novo credo, e a sutil distinção entre o sofrimento psíquico normal que acompanha uma perda e o abandono ao desespero de um ser entregue à sua angústia ou deixado à solta pelo Outro não está mais na ordem do dia de uma normatividade alçada à onipotência de uma regra (p. 115).
O tempo do luto deve ser respeitado
Além disso, é como se o tempo dedicado à elaboração do luto fosse um desperdício. Diante da perda de um ente querido, é comum o enlutado ouvir frases como:
- ‘Você precisa superar isso’,
- ‘Chorar não vai resolver nada’,
- ‘Chorar não vai trazer ninguém de volta’,
- ou ‘Você tem é que partir pra outra’.
É como se o indivíduo fosse julgado como incapaz se não conseguir se reerguer emocionalmente o mais rápido possível. Contudo, o início do processo de reerguimento depende da tomada de consciência desse mecanismo. E o tempo de cada indivíduo é único. Sendo assim, se cobrar ou se comparar a outrem configura-se num absurdo.
Para enfrentar melhor o luto, Cassorla (1992) sugere algumas atitudes que podem ser de grande ajuda durante o processo, tais como:
- auxílio individual de profissionais de saúde treinados psicanaliticamente;
- ter alguém que ouça pacientemente;
- procurar psicanalistas que atendam os conflitos mais sérios;
- entre outras medidas.
Reflexos da depressão na sociedade contemporânea
A sociedade contemporânea exige que seus indivíduos sejam felizes a qualquer preço. É como se o estado natural dos seres humanos fosse ficar eufórico 24 horas por dia. E, como sabemos, isso não é real. Principalmente as redes sociais, a todo o momento, tentam provar o contrário. Nossos “amigos” estão sempre se divertindo, comendo bem, malhando por prazer, amando e sendo amados. Assim, ninguém, além de nós mesmos, tem razões para ser infeliz.
Por esse motivo, nossa relação com a felicidade tem sido bastante conturbada. A publicidade promete que nunca foi tão fácil ter alegria, mas, ao mesmo tempo, nunca se viu tantas pessoas deprimidas. Isso ocorre porque trata-se de um falso contentamento. A felicidade é vendida em cápsulas e anunciada incessantemente nos meios de comunicação de massa. Logo, não é uma realização duradoura nem tampouco verdadeira. É apenas uma ilusão comercializada como se fosse uma obrigação de todo ser humano ser feliz.
Hoje em dia, “toda tristeza é vergonhosa, injustificada, e daqui por diante patológica” (SILVESTRE, 1999, p. 1126). E mais: “aquele que não consegue ser feliz é visto como uma pessoa fraca e merecedora de culpa” (FORTES, 2009, p. 1126).
Problemas da sociedade no que tange à felicidade
É preciso ser/estar animado hoje, amanhã e sempre, se possível o tempo todo e, ainda, propagar esta informação aos quatro cantos do mundo. Ser triste passou a ser algo feio, sinônimo de incompetência e, às vezes, até de doença. Por conta disso, a tristeza precisa ser evitada a qualquer custo. E se, mesmo assim ela surgir, precisa ser ‘curada’ imediatamente.
Em uma análise bastante apropriada da realidade contemporânea, Gomes (2013, p. 01) reconhece que, hoje em dia, “diante de toda oferta de felicidade, quem não consegue alcançá-la sente-se incompetente”. A autora lembra que o bem-estar está ‘tão ao alcance de nossas mãos’ que é, literalmente, vendida em cápsulas pelas indústrias farmacêuticas.
Logo, não há desculpas, nem mesmo para quem não consegue se divertir sozinho. Mas, ao mesmo tempo em que nunca foi tão fácil se sentir festivo, nunca foi tão difícil conquistar o prazer verdadeiro (GOMES, 2013). Enfrentar este paradoxo tem sido um grande desafio para a sociedade como um todo.
O paradoxo da sociedade que precisa ser feliz o tempo inteiro
Parece-nos que somos obrigados a sermos felizes e produtivos. A tristeza é vista como uma doença, um defeito na nossa sociedade, pois, quem não está bem de saúde ou psiquicamente não produz devidamente. Percebe-se que atualmente não se valoriza, na maioria das vezes, o estado de tristeza do ser humano. Este precisa ser curado imediatamente por meio de qualquer técnica possível seja psicológica ou biológica.
A medicalização do sofrimento, crescente nos dias atuais, confirma isso. Ademais, a prática retira do sujeito sofredor, quando enlutado, por exemplo, o tempo necessário para superar o conflito, a perda, e reconstruir a vida sobre uma nova perspectiva compatível com a ausência do amado.
Quem nunca ouviu uma pessoa ao se deparar com um amigo que perdeu alguém dizer que a vida continua e que saia, se distraia, ou arranje uma outra pessoa? Pois um amor cura a dor da perda do outro? Ora, não é bem assim, a superação de uma perda é demorada e dolorosa e necessita do trabalho de luto. O indivíduo necessita viver essa perda, não ignorá-la (GOMES, 2013, p. 01).
O valor da dor existe e deve ser respeitado
Kehl (2009) concorda com tais afirmações e expõe que, entre os discursos hegemônicos da vida contemporânea, […] não há nenhuma referência valorativa dos estados de tristeza e da dor de viver, assim como do possível saber a que eles podem conduzir. O mundo contemporâneo demonizou a depressão, o que só faz agravar o sofrimento dos depressivos com sentimentos de dívida ou de culpa em relação aos ideais em circulação.(p. 16).
Entretanto, é preciso levar em conta que a tristeza é um sentimento comum a todos nós, provocado em determinados momentos em decorrência de uma perda ou pela previsão de perda de pessoas, papéis sociais, objetos ou locais familiares (CATERINA, 2015).
Assim, não deveríamos concordar que o abatimento, os desânimos e as simples manifestações da dor de viver fossem tratados como intoleráveis por uma sociedade como a nossa, a qual aposta na euforia como valor agregado a todos os pequenos bens em oferta no mercado (KEHL, 2009).
A vida apresenta dores que servem de aprendizado
Embora a insatisfação venha sendo condenada há muitos anos, é preciso sanar esse pensamento e compreender que ela é parte da vida. Dessa forma, é algo que todos vivenciaremos, assim como o amor, as surpresas, a dor e os desencontros. A angústia passageira, superada após um determinado período de tempo, também nos serve de aprendizado, porque a dor é capaz de ensinar muitas coisas.
Pular esses momentos, portanto, é bastante prejudicial a longo prazo. Hoje em dia, as pessoas não se conformam com as perdas que enfrentam. Conforme elucida Gomes (2013, p. 01):
Temos que aproveitar cada minuto e cada instante para nos satisfazer, fazer algo produtivo e ter reconhecimento pelo que fazemos e pelo que somos. Não se pode perder nada. A perda mostra-nos a incapacidade pessoal, o fracasso, as limitações de satisfação do ser humano. Ninguém quer se deparar com isso. E o que é a perda se não o corte da satisfação do indivíduo?
Como lidar com a perda
A perda é um fenômeno dolorido, penoso de ser enfrentado. Logo, não há como apressá-lo. Além disso, nenhuma etapa pode ser pulada. Em alguns casos extremos, a perda pode causar um sofrimento anormal, cujo enfrentamento demandará, inclusive, a presença de um profissional capacitado. Além disso, “é justamente na perda que temos a chance de reconhecer nossos próprios limites, o que será muito útil e nos qualificará para arriscarmos nas próximas escolhas afetivas” (MARTINO, 2013, p. 71).
É fato que as experiências traumáticas inevitavelmente deixam marcas em nossa memória. Contudo, é preciso enfrentá-las e superá-las. Isso para que as perdas não se tornem ‘indizíveis’ (MALDONADO e CARDOSO, 2009). O importante é saber respeitar o ritmo de reestruturação de cada um, lembrando que o processo de lamentação não é apenas difícil, mas também lento e progressivo.
Caterina (2015) explica que em nossas vidas, “experimentamos a todo o momento a experiência de perder, abandonar e desistir. Esta condição é permanente e inerente à vida e mesmo assim é dolorosa e o processo de lamentação é difícil e lento” (p. 14). A perda de um elo entre uma pessoa e seu objeto é um fenômeno mental que pode levar o sujeito a um sofrimento além do normal. Contudo, uma ilogicidade perversa tem feito com que exijamos que nosso humor, assim como se fosse a Bolsa de Valores, esteja operando permanentemente em alta.
Riscos e ganhos de viver
O indivíduo exige saber os riscos e os ganhos de antemão que seu investimento irá lhe render. Dada a suposta infalibilidade dos psicotrópicos assegurados pelas neurociências, as psicopatologias assumem um caráter biológico na atualidade. É nesse sentido que discurso científico e econômico são mais convenientes e convincentes comparados às psicoterapias, principalmente as de orientação analítica, já que as intervenções assumem uma incidência pontual.
A psicanálise, todavia, justamente tem como propósito escutar e acolher o sofrimento psíquico pois, muitas vezes, é isso que possibilita deixar aparecer aquilo que o sujeito tem de mais próprio e singular. Além do que, valorizar a dor é não permitir que os indivíduos se sufoquem pela sociedade individualista de consumo.
O cenário contemporâneo aponta que a depressão vem se alastrando junto com as patologias do ato, tais como as drogadições e as compulsões, que se caracterizam pela passagem ao ato e não pelo recurso simbólico (CIELUCK, 2016, p. 26).
A psicanálise da perda
“Quando a perda ocorre, nos recolhemos em direção a nosso ego (eu) e nos desinteressamos em certa medida pelas coisas do mundo (externo), nos voltando para dentro de nós mesmos (interno)” (MARTINO, 2011, p. 92). Ainda não se sabe, ao certo, porque algumas pessoas são mais resistentes em situações de sofrimento, enquanto outras ficam imobilizadas e podem nunca se recuperar.
O que se sabe é que perdas, tristezas, sofrimento e privações precoces podem resultar em raiva e sentimentos hostis exacerbados. Por conta disso, é importante encontrar mecanismos que ajudem a lidar com esses sentimentos. É necessário que o sujeito se convença de que seus padrões antigos de comportamento devem ser modificados, o que implica uma redefinição de si mesmo e da situação. Essa redefinição é fundamental para que se possa passar à fase seguinte (FRANQUEIRA, 2013).
É certo ainda que todo processo de superação de determinado momento de sofrimento costuma ser demorado e doloroso. Porém, não há como ignorar a dor sentida pela ausência repentina. Portanto, é imprescindível respeitar o tempo que cada um necessita para ver a situação sob uma nova perspectiva. Caso contrário, continuaremos assistindo à “patologização generalizada da vida subjetiva, cujo efeito paradoxal é a produção de um horizonte cada vez mais depressivo” (KEHL, 2009, p. 52).
Causas do aumento dos casos confirmados de depressão
Kehl (2009, p. 31) ainda explica que o aumento expressivo da depressão representa um dos principais males do século XXI. Este fato é um:
[…] sinal de alarme contra aquilo que faz água na grande nau da sociedade maníaca em que vivemos… A tristeza, os desânimos, as simples manifestações da dor de viver parecem intoleráveis em uma sociedade que aposta na euforia como valor agregado a todos os pequenos bens em ofertas no mercado.
Nesse sentido, não se pode restringir o tratamento da depressão a receitar pílulas que tiram dos indivíduos suas oportunidades de buscar uma significação real para seu problema e seu sofrimento. Isso seria semelhante a “lançá-lo a vivenciar um maior sentimento de desamparo e vazio existencial que, muitas vezes, são sentidos só no a posteriori”.
Além disso, outro fato que comprova que os modos de subjetivação atuais apontam para a depressão ter se tornado um sintoma social é o número preocupante de tentativas e suicídios de fato. É possível pensar que esses dados apontam que a escuta e o acolhimento do sofrimento humano se fazem mais do que necessário; faz-se urgente.
Polemizando a ideia de felicidade vendida atualmente
Então, será mesmo que soluções rápidas, fáceis e imediatas podem realmente fazer desaparecer uma dor da alma? Será que todos inúmeros ditos depressivos têm apenas déficits fisiológicos de determinados neurotransmissores conforme aponta o discurso neurocientífico? Precisamos falar mais disso! (CIELUCK, 2016, p. 29).
Em vez de superestimar a euforia, considerando a tristeza um defeito ou uma falha, deve-se enxergá-la como ‘um mal necessário’. Isso para nosso próprio amadurecimento.
O ser humano de hoje se debate na luta para conseguir sua própria realização, tendo como modelo compartilhado socialmente a fama e o sucesso – estreitamente vinculados à capacidade de consumo. Surge, pois, o conflito pela impotência e a culpa pelo não-sucesso, que desembocam em um processo de auto-recriminações: ponto central de um estado depressivo. (MARTINS, 2006, p. 13).
Em vez de forçar a alegria, o luto deve ser vivido
Complementando essa mesma linha de pensamento, Andrade e Calazans (2014), dizem que “experiências como a tristeza, a ansiedade, o mau-humor, dentre muitas outras, antes consideradas como traços da personalidade ou como parte do cotidiano, hoje são caracterizados como algum tipo de transtorno psiquiátrico”.
Ou seja, quando o sujeito não conseguir manter esse limite inatingível de alegria absoluta, pensamentos equivocados acreditam que a pessoa pode recorrer aos remédios criados para ajustar os “pequenos desajustes”. Assim, um indivíduo faz uso de pílulas milagrosas que auxiliam a fugir do fracasso de não ser um sujeito feliz.
Algumas pessoas necessitam do uso de medicações específicas, é verdade. Porém, sabe-se que as mesmas não realizam nenhum tipo de ‘milagre’; o ‘remédio’ serve apenas para auxiliar no tratamento da depressão. Dessa forma, é importante que mesmo ingerindo algum tipo de medicação, o sujeito passe por um tratamento psicológico.
O uso dos antidepressivos
Cieluck afirma que “os antidepressivos são apresentados na contemporaneidade como uma solução rápida e eficaz. Esse tipo de tratamento químico tem justamente o efeito demandante do discurso capitalista: curar o sujeito de imediato do desajuste que o impede de produzir, consumir e gozar.”
Nesse contexto, Kehl (2009, p. 159) se impressiona com a expansão da indústria farmacêutica e a quantidade exacerbada de fármacos antidepressivos lançados no mercado. As pessoas agem como se “as dores da vida pudessem ser dispensadas, eliminadas por meio da medicação”.
O problema é que quando o sujeito não é acompanhado por um tratamento psicológico adequado e bane essa infelicidade através da medicalização, a curto prazo, o mesmo sente certo alívio. Porém, a longo prazo esse sentimento vai retornar ainda mais intensificado em forma de angústia e um sentimento de vazio (CIELUCK, 2016).
O ciclo vicioso da cura pelo remédio
É preciso nos questionar se não estamos entrando em um círculo vicioso, conforme exposto por Quinet (1999, p. 88) “a novos males, novos remédios? Ou a novos remédios, novos males?”.
Quanto mais o intuito de acomodar o corpo à felicidade ganha lugar, mais a vida parece potencialmente romper o equilíbrio. Lgo, o “stress”, o sofrimento, as inquietações, que, no passado, pareciam engrandecer o sujeito, hoje são vistas como passíveis de quebrar a “adequação”. O passo seguinte é o de ter de sedar o que pode trazer um tipo de pane ou falência do sujeito; enfraquecido, é claro, por aquilo mesmo que quer combater.
A dose maciça de recalque, com o intuito de pretensamente fortalecer, fragiliza o sujeito a ponto de fazê-lo temer desesperadamente a perda de tal defesa. Assim, o sofrimento hoje não é visto como algo que amadurece o sujeito, ou que lhe é próprio. Ele anuncia uma falência de “tudo” se o tudo for seu afeto de contentamento associado a um corpo mudo (MEES, 2001, p. 13).
A tolerância social com relação ao deprimido
A sociedade não tolera o deprimido porque sua experiência rompe essa rede ilusória de sentido e amparo da qual se constitui o laço social, deixando entrever o vazio que seu psiquismo não mais consegue dissimular (TEIXEIRA, 2008, p. 28).
Por meio da medicalização irrestrita como solução ao pedido de ajuda dos ditos deprimidos, silencia-se a voz do sofrimento, que se expressa pelo sintoma. Medicalizar, nesse sentido, significa remediar os sintomas visíveis, ao preço de se desconsiderar a dimensão simbólica e subjetiva desse desconforto psíquico. A escuta da existência e da história dos ditos depressivos, com isso, vai sendo progressivamente descartada e até mesmo silenciada (CIELUCK, 2016, p. 27).
Comentários finais da seção
A depressão se caracteriza por uma tristeza, é um problema de saúde pública, e essa tristeza faz parte da condição humana.
Porém, distinguir o que é normal e o que é patológico é sempre um desafio para os profissionais da saúde mental. Apesar dessa separação de felicidade e tristeza, o antônimo da depressão não é a felicidade, mas sim, a vitalidade. Ou seja, a sociedade busca por essa vitalidade no seu dia-a-dia, no seu ambiente de trabalho, no seu ambiente familiar.
Para finalizar, entende-se que essa cobrança e busca incansável para se chegar aos padrões que a sociedade impõe para a felicidade, acaba desencadeando um quadro de baixa autoestima, levando até uma depressão severa.
Conclusão
A sociedade contemporânea, frequentemente tem vivido seus dias com pressa, atropelada por:
- muitos afazeres do dia-a-dia,
- trabalho corrido,
- inúmeros compromissos.
Dessa forma, o relógio biológico e mental do indivíduo não tem pausa e não tem descanso (KEHL, 2009). Ou seja, deixa-se de aproveitar as coisas simples e boas que surgem no dia-a-dia para dar lugar ao atropelamento do pouco tempo e dessa correria. Com esses acontecimentos, o ser humano não consegue cumprir sua rotina e ao mesmo tempo cumprir o que a própria sociedade impõe com relação a felicidade em tempo integral.
Atualmente paira no ar a obrigação de ser feliz a qualquer custo como já foi dito anteriormente. Contudo, é preciso ter a consciência de que atitudes como essa colocam a população em risco. Isso porque privam os indivíduos do seu direito de lidar com as perdas, as frustrações, os sofrimentos e as tristezas inerentes à vida humana. Além disso, promovem vários objetivos superficiais como indicativos de felicidade.
Porém, na verdade, sabe-se que a “felicidade” do sujeito não pode estar dependente dessas determinadas conquistas de certa forma “materiais”. O bem-estar, a felicidade, a vitalidade, somente depende do próprio sujeito. Ou seja, é preciso ele estar bem consigo mesmo para ser feliz. Não adianta conquistar essas coisas materiais sem as conquistas “internas”.
Reflita
Assim, é preciso refletir sobre o que está acontecendo no mundo e entender como o cotidiano e determinados padrões estão relacionados com a depressão. Nesse contexto, o mais importante e fundamental é buscar o tratamento adequado com um profissional que vai auxiliar e dar o suporte necessário. Isso para que o sujeito atravesse esse momento de tristeza e angústia da melhor forma possível.
Esperamos que tenha gostado desse artigo sobre a depressão de acordo com uma abordagem psicanalítica. Para aprender a abordar temas espinhosos da teoria psicanalítica assim como nosso aluno Agnaldo, matricule-se em nosso curso. A formação em Psicanálise Clínica EAD fará a diferença não só em termos de aprendizado, mas também de evolução profissional.
O trabalho original foi escrito pelo concluinte Agnaldo Paviani, e os direitos do mesmo ficam reservados ao autor.
8 thoughts on “A depressão para a Psicologia: resumo completo”
Excelente texto. É um tema muito atual que esta presente no cotidiano. Nosso cotidiano foi invadido pelo luto gerado pela pandemia de Covid 19, pelo aumento das mortes por má administração pública e pelo luto da crença política exigindo uma mudança da nossa relação com a política.
Ótimo artigo com uma abordagem muito clara e elucidativa, concordo com o que foi dito e gostei muito.
Parabéns pelo artigo, muito esclarecedor.
Parabéns ao autor do artigo.
texto excelente!!! parabéns ao autor
Parabéns. Texto de fácil entendimento.
Parabéns pelo artigo, muito esclarecedor.
Perfeito!