Hoje falaremos sobre o desenvolvimento sexual humano. A psique é desenvolvida por construções diárias de acordo com as experiências pelas quais o indivíduo passa, pelo que vê, escuta e sente. O consumo de mídias digitais aumenta a cada dia e é necessário que tenhamos conhecimento sobre o quando isso altera o nosso cotidiano e nossa forma de ver o mundo.
Como hipótese, partimos do princípio de que o conteúdo consumido pode causar mudanças drásticas na libido de um indivíduo, fazendo com que o mesmo supere resistências (vergonha, asco, horror, etc) e passe a desejar algo que antes poderia ser considerado vergonhoso.
Entendendo o desenvolvimento sexual humano
Desde os anos 60 com o início da popularização dos videogames, pais e educadores ao redor do mundo começaram a demonstrar certa preocupação em relação aos efeitos da violência mostrada nos jogos na mente das crianças.
Esse foi um dos assuntos mais discutidos – e mais controversos – dentro da história da psicologia, porém, a discussão segue tendo um papel fundamental, agora com um novo “vilão”: crianças, adolescentes e adultos consomem constantemente alguma forma de mídia, seja ela algum vídeo no celular, filmes, notícias, etc.
Essas mídias que para a maioria da população parecem algo inofensivo podem estar causando danos irreversíveis para as novas gerações. A extrema concentração de atenção em algo é capaz de provocar excitação sexual (FREUD, 1901), e o consumo constante de materiais de cunho sexual pode fazer com que o cérebro humano desempenhe atividades neurológicas semelhantes às de toxicodependentes.
O desenvolvimento sexual humano na cultura atual
Sabemos que o uso de drogas causa alterações no sistema de recompensa do indivíduo, fazendo com que o cérebro sinta que a substância é uma necessidade para a sobrevivência, e estudos recentes mostram que recompensas naturais como comer, dormir, e práticas sexuais podem afetar as mesmas áreas que as drogas psicoativas afetam.
O vício ocorre quando o impulso natural para o prazer sexual fica fora de equilíbrio e, em vez de simplesmente motivar, ele domina e controla. Práticas que antes eram feitas apenas em momentos de maior privacidade são cada vez mais normalizadas na cultura atual – todavia, é importante mencionar que isso não é um ataque à liberdade, e sim, uma análise sobre os efeitos desta normalização de atos de cunho sexual, especialmente em crianças e adolescentes.
Com frequência é na infância que ocorre uma escolha objetal, ou seja, o conjunto de aspirações sexuais orienta-se na direção de um alvo sexual específico, no qual pretende-se alcançar os objetivos. Portanto, é de extrema importância que a criança tenha um desenvolvimento e interação saudáveis com a sexualidade, pois é este período que vai ditar, na maioria dos casos, a forma assumida pela vida sexual depois da puberdade.
A escolha objetal
A escolha objetal ocorre em dois períodos: a primeira começa entre os dois e cinco anos de idade e retrocede (passa por um intervalo) durante o período de latência; a segunda sobrevém com a puberdade, e assim é determinada a configuração sexual. Essa escolha pode passar por mudanças na trajetória de vida de acordo com as experiências e aprendizados.
Dentro das escolhas objetais, cada vez mais vemos casos considerados “bizarros”: que passam pelo asco, nojo, ou até pelo bom senso. Esses casos, que antes eram mantidos como desejos secretos, escondidos e praticados de forma ilícita e escondida do resto do mundo, hoje se tornam até comuns com a popularização de conteúdos de cunho sexual no cotidiano.
Não é incomum taxar um pedófilo ou praticante de zoofilia de louco, porém, dentre os loucos não podemos observar qualquer alteração ou perturbação sexual que se assemelhe a isso.
O desenvolvimento sexual humano: experiências
O asco, vergonha e nojo são naturais e tem seu propósito, e ninguém nasce com o desejo de praticar um ato sexual com um animal de outra espécie, abusar de uma criança, ou se casar com um robô, mas aprende, ao longo de sua vida de acordo com suas experiências a superar as resistências, assim abrindo portal para atos considerados assombrosos por indivíduos normais, trazendo assim a ideia de que tais desvios sexuais não teriam relação com a “loucura”.
Freud denominou como sintoma patológico quando a perversão possui as características de exclusividade e fixação em relação ao alvo sexual, temos por exemplo um indivíduo que só consegue atingir o prazer final por meio de um desejo específico como com sapatos de salto, um tipo específico de roupa ou apenas na forma de masturbação.
“A anormalidade manifesta nas outras relações da vida costuma mostrar invariavelmente um fundo de conduta sexual” (FREUD, 1901) ou seja, quando uma pessoa tem outras áreas de sua vida em ordem, isso também pode ser um reflexo de uma vida sexual saudável – porém, é importante mencionar que isso não é uma regra. Sendo assim, um determinado descontrole em diversas áreas da vida (como alimentação, exposição a telas e compras excessivas) podem ter uma relação sintomática mútua com a vida sexual desordenada.
O aparelho sexual humano
O aparelho sexual é acionado por diferentes formas de estímulos, sejam eles vindos do mundo externo, como pela excitação das zonas erógenas, do interior do organismo (alterações hormonais por exemplo) e da vida anímica, que nada mais é do que um repositório das impressões externas e um receptor de excitação interna.
Qualquer um desses caminhos gera o mesmo efeito excitatório no indivíduo, e isso se manifesta em sinais anímicos (sentimento peculiar de tensão ou leve ansiedade) ou somáticos (ocorre a preparação dos genitais para o ato sexual). Os avanços tecnológicos e a pornificação das mídias sociais mais consumidas pelas gerações atuais parecem estar causando uma transformação cultural, trazendo possíveis riscos para a vida de crianças e adolescentes.
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Para Merleau Ponty, a consciência é constituída de interferências constantes do mundo, numa correlação intersubjetiva em constante ambiguidade. O homem passa a se constituir a partir do momento em que ele existe, vive, cogita e estabelece suas crenças. Os valores que vão sendo formulados passam a fazer parte de suas escolhas e de sua relação com o mundo.
A sexualização
A sexualidade (e a sexualização) são fatores naturais de qualquer humano, e como vimos, se desenvolvida de forma equilibrada pode refletir em outras áreas da vida. O impacto dessa cultura da normalização vai além das questões de desenvolvimento, isso faz com que ocorra um aumento na demanda de conteúdos de SOM (Sexualization of Minors).
Com isso temos também o caso de “deep fakes”, tecnologia que surgiu para suprir uma necessidade por desejos específicos. Ela consiste em uma forma de fazer com que o rosto de qualquer pessoa possa ser usado na edição de vídeos, especialmente na pornografia.
Com isso, surgiu também a criação de vídeos com personagens que se assemelham muito com crianças: algumas vezes apenas o rosto apresenta dita semelhança, porém, ocorrem casos em que a “simulação” do corpo também tem características infantis.
Questionamentos sobre o desenvolvimento sexual humano
Sabemos que a produção e distribuição de conteúdo sexual infantil é proibida, porém, nesse caso, o conteúdo é uma simulação que não precisa de pessoas reais para ser feita, e isso fez com que um determinado grupo de pessoas passasse a defender essas produções, alegando que isso não seria pedofilia.
Esse questionamento foi trazido à tona especialmente após uma decisão do site Reddit em mudar suas regras, proibindo o compartilhamento de pornografia (simulada ou animada) ou materiais sexualmente sugestivos envolvendo menores de idade.
A preocupação em relação a essa preferência em específico se dá pois é comum que as personagens das animações tenham características extremamente infantilizadas, desde a voz até atributos físicos que se assemelham à uma criança – como tamanho, rosto, expressões faciais e forma do corpo.
Desenvolvimento de desvios
Os principais consumidores desse conteúdo costumam ser pessoas que já tinham uma convivência maior com animações e jogos online, também conhecidos como Otakus, esses jovens têm uma tendência a buscar um isolamento da convivência social comum, demonstram timidez e dificuldades na socialização diária fora da vida virtual. Assim, essa população pode estar ainda mais suscetível a um consumo excessivo.
Apesar disso, os conteúdos chamados de “soft porn” – como imagens não diretamente explícitas, mas de cunho sexual, vídeos e piadas – podem ser uma porta de abertura para o desenvolvimento de desvios.
Diversos estudos mostram que a exposição constante a materiais de cunho sexual pode causar uma dessensibilização, fazendo com que o indivíduo se acostume com o que é mostrado e busque outras fontes (possivelmente mais “intensas”) para atingir o prazer.
Conclusão
Apesar dos fatos demonstrados, ainda há o questionamento em relação à liberdade de expressão, talvez não seja possível encontrar o equilíbrio na linha tênue entre a proibição de materiais que podem causar um dano e o consumo de toda e qualquer forma de prazer – desde que não esteja afetando diretamente outra pessoa – de forma neutra.
O presente artigo sobre desenvolvimento sexual humano e a influência das mídias foi escrito por Gabriela Lauxen (instagram: @gabriela.lauxenn), psicoterapeuta especialista no atendimento a mulheres.
1 thoughts on “Influência das mídias no desenvolvimento sexual humano”
Me parece que a Sexualidade hoje é tratada como uma fórmula pronta de matemática: gêneros e atração sexual como inerentes e com uma espécie de check list! Me lembro que numa ocasião um amigo com quem conversava e estava sem se relacionar há alguns dias, antes de nos despedirmos disse: “você gosta” e começamos as “preliminares”! Pela amizade sabia que não era ele um “convicto” hetero e nem um “habitual” bissexual! Chegou a me perguntar que momento até maravilhoso foi aquele que tivemos? Ai respondi a sintonia de nossos corpos: como amadurecido sexualmente já havia desejado ele noutras ocasiões mas Não quis “sugestiona-lo” mas até que ele pareceu perceber que me desejava também. Foi aí que maroto disse Não saber mais onde a gente se “enquadrava” já que sabia que eu era cisgenero também e deixei ele me conduzir e penetrar! Quando disse a ele que outras intimidades iguais poderíamos ter, ele até disse que poderíamos namorar já que ele gostava de conversar comigo e o pessoal já comentava “sempre juntos”!!!