diagnóstico em psicanálise

O Diagnóstico em Psicanálise

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Estudaremos sobre o diagnóstico em psicanálise. Levaremos em consideração que o inconsciente se estrutura, e se manifesta, como discurso e de maneira não absoluta.

Abordaremos os protocolos de cientificidade projetados junto à operação analítica com o objetivo de elaborarmos uma visão sobre os diagnósticos que se organiza de maneira singular, em um sentido muito mais de casos e de especificidades do que de parâmetros absolutos, generalizadores e padronizados

O estatuto do inconsciente e o diagnóstico em psicanálise

Algo que Freud afirma, ainda nos primórdios da psicanálise, é que as relações das pessoas com o meio externo, com a realidade, são mediadas, de alguma maneira, por suas próprias estruturas psíquicas, também elas tidas como reais.

Freud dirá, na Interpretação dos sonhos, que o inconsciente é uma realidade psíquica, e que o seu conhecimento permanece desconhecido para grande parte dos sujeitos, assim como a realidade social, ou como ele gostava de dizer: material e factual.

O que se deve ter em mente é que essas duas formas de realidade não são apreensíveis em sua totalidade, quer dizer, o sujeito não possui consciência absoluta da realidade tão pouco do inconsciente.

O sujeito e a fala e o diagnóstico em psicanálise

Tendo em vista que o inconsciente não se apresenta em sua totalidade aos sujeitos, pode-se dizer que os seus conteúdos, que não se dão a ver de forma direta, emergem a partir da fala, do discurso. Por meio dela se dará o trabalho psicanalítico.

As formas de sofrimento psíquico são figuradas pela fala, podendo o/a psicanalista atuar dialogicamente a partir desse material. De uma forma ou de outra, o cuidado com o sofrimento psíquico de outrem torna-se possível a partir do momento que essa realidade, sempre inconclusa, aparece na clínica por meio de palavras e, também, ações simbólicas.

Os conteúdos psíquicos, tomados como uma dimensão tangível, se manifestam, assim, pela linguagem, que não deve ser percebida de forma tão somente instrumental ou até mesmo utilitária, mas como parte mesmo de uma alteridade específica, algo que vem do outro e que está enredada junto à constituição desse sujeito que fala.

Quebra do dualismo objetivo versus subjetivo

A realidade psíquica não deve ser entendida como uma subjetividade anterior ou apartada da objetividade do mundo. Mundo objetivo e mundo subjetivo devem ser percebidos através da noção de intrincamento.

Esse direcionamento possui consequências para a clínica psicanalítica porque deve se ter enquanto horizonte que o sujeito que observa, o analista no caso, também não é exterior ao sujeito observado, o analisando. Através do processo da transferência o sujeito observado enreda o analista em sua própria realidade psíquica por meio do mecanismo da transferência.

Um diagnóstico estrutural e o diagnóstico em psicanálise

Esse horizonte diferencia a psicanálise das ciências duras porque não é possível o acesso direto ao mundo, o que altera a percepção sobre os fenômenos ou sobre os valores de verdade a eles atribuídos.

O entendimento dessa questão se dá a partir do momento que passamos a não considerar o psicanalista tão somente como um leitor da psique, pois operando através da transferência ele movimenta a descrição das incidências do sujeito na linguagem.

Essa perspectiva torna-se importante porque se passa de uma dimensão fenomenológica para uma abordagem estrutural. A descrição realizada é menos objetiva e mais uma operação de nomeação da estrutura do analisando. Esse tipo de perspectiva é importante porque faz emergir verdades singulares e impede a emergência de uma história única.

Um novo valor de cientificidade para a clínica

A mudança de valoração de verdade posta aos dados da psicanálise, como discorrido acima, não destitui a cientificidade da operação de clínica. É um novo modelo de conhecimento que relativiza o valor da observação ao mesmo tempo que considera o viés subjetivo.

A psicanálise, dialogando abertamente com as reflexões do próprio Freud no texto Pulsões e seus destinos, não deve ser entendida a partir dos horizontes empiristas, mesmo que parta dos fenômenos, tão pouco do racionalismo, mesmo que se funda na interpretação dos fenômenos, ainda que de modo particular.

Terapeuta e pesquisador e o diagnóstico em psicanálise

Dado o diagnóstico e indicado o tratamento, movimento que chama a participação do analista, entendemos a atuação deste a partir de um âmbito bipartite: pesquisador e terapeuta, posto que levamos em consideração a disposição do analisando em incluir o psicanalista em sua estrutura psíquica por meio da transferência.

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    Sabemos que a fala é o canal, e isso não significa uma perspectiva finalística, por meio da qual a realidade psíquica se dá a ver discursivamente, ou seja, como materialidade subjacente. Ele endereça, além disso, o seu discurso a um sujeito que não vai compreendê-lo nem objetivamente, como se fosse um coletor de dado, nem subjetivamente, movendo algum sentido emocional no trabalho.

    Essas duas gestuais se imbricam e se matizam mutuamente, porque o analisando solicita na clínica uma destinação para a sua linguagem, alguém capaz de manejar as suas produções discursivas.

    Uma nova premissa para os diagnósticos

    O diagnóstico é, em psicanálise, autorreflexivo. Se verifica, em compasso com o próprio tratamento, todo o trajeto que levou ao diagnóstico, as condições de possibilidade para tanto, bem como os saberes que foram articulados. Tudo isso levando em consideração o chamado tempo da posteridade, que envolve um processo que vai do entendimento da estrutura psíquica do analisando até a ação do analista.

    Mas cabe, aqui, discutir algo importante e distintivo na psicanálise: a elaboração do tempo. Freud não concebe o tempo de maneira sequencial-evolutiva-linear tão pouco se orienta por uma ideia de regressão para entender o funcionamento do aparelho psíquico.

    Estamos ante a ideia de retroação, que não é o encadeamento passado-presente-futuro como na evolução-regressão. O que o analista invoca é um movimento sobre o passado que prepara um futuro marcado pela retroação. A ideia de significação é importante.

    Conclusão

    Assim, o diagnóstico entrelaça-se com o tratamento. Importante dizer que essa disposição impede o rápido e generalizador processo de classificação diagnóstica, tornando-o, diferentemente, único a cada terapêutica e a cada tratamento.

    Referências

    FIGUEIREDO, Ana Cristina; MACHADO, Ondina Maria Rodrigues. O diagnóstico em psicanálise: do fenômeno à estrutura. Ágora: vol. 3, n. 2, pp. 65-86, 2000.

    Este artigo sobre o diagnóstico em psicanálise foi escrito por Piero Detoni ([email protected]), Professor de História, graduado e mestre em História pela UFOP; doutor em História Social pela USP; PD Júnior na UNICAMP.

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