Entenda sobre a Educação e Psicanálise no texto de hoje. Apesar de muito discutido sobre a importância da educação na sociedade, não se discute na mesma proporção o papel da escola na vida das crianças até o momento em que este adulto está inserido no mundo do trabalho.
Entendendo a relação entre Educação e Psicanálise
Como se os assuntos da escola fossem tratados apenas na escola. Como pai e ex-professor faço questão de estar acompanhando tudo que meu filho faz na escola. A escola é um segundo passo para o processo de sociabilidade e, entender como isso está acontecendo é importante para a criança e para todos que estão em volta do processo de formação de adulto.
Com isso, parto do pressuposto que a escola não resolve tudo – na minha humilde opinião, não tem essa obrigação. Os pais devem ter essa percepção que o papel da formação da identidade do seu filho passa em primeira instância pela relação que ele(a) (criança) estabelece no seio da familiar.
Do outro lado, a escola funciona como antenas captadoras da qualidade das relações que as crianças vivenciam dentro de casa. Crianças que vêm de lares com algum problema de natureza emocional, tendem a manifestar estes problemas em algum aspecto da convivência escolar.
Educação e Psicanálise: relacionamento
Trazendo esse debate para o campo da psicanálise fica mais que evidente a necessidade de melhorarmos a qualidade das relações que se devem estabelecer entre os atores que fazem parte da vida escolar, em especial: os pais, os professores, os gestores escolares, a comunidade como um todo.
Em geral, a escola está mais voltada à transmissão de conteúdos e a preparação para uma vida de trabalho. No entanto, e a preparação para uma vida emocional plena?
A impressão que tenho é que há uma desconexão das realidades vivenciadas no mundo da vida (num cotidiano que as coisas acontecem) e aquilo que as crianças são obrigadas a seguir como uma condição única para o aprendizado.
Freud, Educação e Psicanálise
Freud, no texto “Algumas reflexões sobre a psicologia escolar” (1914) faz uma observação interessante sobre a educação:
“Temos uma sensação esquisita, quando, já na idade madura, mais uma vez recebemos ordem de fazer uma redação escolar. Mas obedecemos automaticamente, como o velho soldado que, à voz de ‘Sentido!’, deixa cair o que tiver nas mãos e se surpreende com os dedos mínimos apertados de encontro às costuras das calças.
É estranho como obedecemos às ordens prontamente, como se nada de particular houvesse acontecido no último meio-século.” (Freud. 1914) Ou seja, Freud parece nos indicar que para além do que aprendemos falta algo nesta aprendizagem.
Atitudes emocionais
A última frase do autor é bastante exemplar nesta crítica: “É estranho como obedecemos às ordens prontamente, como se nada de particular houvesse acontecido no último meio-século” (Freud).
Neste mesmo texto Freud afirma que a psicanálise mostra que as atitudes emocionais das pessoas na sua relação com outras é resultado da qualidade do que a criança vivenciou nos seus primeiros seis anos de vida. Freud nos indica que essa vida “interior” é o ponto de equilíbrio para todas outras dimensões da vida como um todo.
Assim, para além de conteúdos – que é fundamental para nosso progresso como sociedade – deve existir um cuidado na formação como sujeitos, portanto, – trazendo uma perspectiva lacaniana – uma educação ampla, na escuta, onde as subjetividades possam ser compreendidas como necessidades da criança, da família e da sociedade como um todo.
Psique, Educação e Psicanálise
Sei que a ideia é bastante utópica, tendo em vista que não se trata de escola, mas de um sistema pelo qual nossa educação está pautada. No entanto, isso não tira a importância da psicanálise na vida prática.
Não só a psicanálise, mas de outras correntes do conhecimento da psique. Existe uma necessidade de formação para o mundo do trabalho, mas não deveria ser apenas isso.
Precisamos criar uma percepção de significados que nos deem a capacidade de vivenciamos mais as pulsões de vida, ou seja, com mais criatividade e imaginação. Fala-se muito de educação crítica. Prefiro pensar numa educação que nos leve a sermos sujeitos independentes e donos de nossos desejos (pensando a partir de uma perspectiva lacaniana).
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A repetição
A ideia de repetição parece fazer pouco sentido hoje. Precisamos conhecer, porque precisamos nos conhecer. A psicanálise converge com a educação, porque nos convida a conhecer a dúvida.
Por fim, se Freud já se surpreendia com todas as mudanças de uma época e já notava um descompasso com a ideia de uma obediência condicionada, imagina hoje?
“É estranho como obedecemos às ordens prontamente, como se nada de particular houvesse acontecido no último meio-século.” (Freud. 1914)
Conclusão
Com todas as inteligências (artificiais ou não) o que precisamos hoje é nos reinventar. A escola como esse segundo momento, em nossas vidas.
Como espaço de linguagens, que ensine à todos a circularem na vida social. Na prática, não sermos críticos, mas muito além. Conhecedores de nossos desejos e cientes de nossas necessidades. Para além das utopias, pensemos nas transferências possíveis.
Este artigo sobre educação e psicanálise foi escrito por Jorge Alexandro Barbosa([email protected]), Sociólogo. Psicanalista, formado pelo IBPC.
One thought on “Educação e Psicanálise: transferências possíveis”
Muito bom texto! O difícil é convencer os pais que educação começa em casa!