efeito placebo

Efeito Placebo: resumo em Psicologia

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O artigo que você lerá hoje é uma adaptação de um trabalho de conclusão de curso. A autoria é de Maia Gomesi, que concluiu a nossa formação completa em Psicanálise Clínica 100% online. Neste trabalho, como já mencionamos, você lerá acerca do efeito placebo.

O artigo divide-se nas seguintes partes constitutivas:

  1. Introdução;
  2. Placebo e seus efeitos;
  3. Efeito positivo e negativo do placebo;
  4. Manipulação de expectativas no efeito placebo;
  5. Conclusão.

Introdução

O diagnóstico e tratamento de doenças no Brasil, de forma geral, necessita ser conduzido por procedimentos cientificamente comprovados. Essa é uma medida que garante que medicamentos, métodos e abordagens terapêuticas sempre passem pelo crivo científico.

Assim, libera-se esse tipo de solução apenas depois que elas passarem por todas as etapas do procedimento científico e também uma experiência clínica. Nesse momento, são reduzidos seus ricos e aumenta o êxito após sua aplicação. Só aí ele é liberado para o consumidor final, no caso o paciente. Dessa forma, todo esse cuidado preserva o binômio segurança e eficácia: a pedra filosofal da prática médica.

Práticas terapêuticas brasileiras e o efeito placebo

Mesmo diante de tal rigor científico, as práticas terapêuticas validadas continuam suscetíveis às incertezas geradas por partes das mais variadas respostas de cada organismo do paciente. Assim, elas são por vezes influenciadas pela forma e recursos inadequados de uso.

Essa problemática é usada como mote pelo Conselho Federal de Medicina/CFM, como forma de se contrapor a inclusão de práticas integrativas no rol de serviços oferecidos no Sistema Único de Saúde (SUS). Uma vez que não há garantias de resultados que contam com a confirmação de pesquisas científicas, é difícil que qualquer metodologia seja reconhecida.

Segundo o mesmo Conselho, são práticas que não apresentam resolubilidade que siga o padrão das evidencias científicas disponíveis, oferecendo, quando muito, um efeito placebo aos seus adeptos. O doente pode sentir efeito semelhante ao de um medicamento ou procedimento testado e reconhecido pela ciência. Porém, isso não significando cura ou efeito duradouro.

Práticas integrativas e tratamentos eficazes

A oferta dessas práticas integrativas pelo SUS um tema sério pela confusão que provoca ao paciente em escolher entre um tratamento alternativo e um realmente eficaz. Por esse motivo, fica comprometido o início de tratamentos adequados e eficazes. Assim, ficam reduzidas as chances de recuperação, o que até aumenta o risco de morte.

Dessa forma, os médicos devem apenas atuar na medicina com procedimentos e terapêuticas que têm validade científica. Inseridas nesse contexto, apenas a homeopatia e a acupuntura, dentre as 29 práticas integrativas no SUS anunciadas pelo governo, possuem protocolos clínicos, compromissos e responsabilidades éticas necessárias.

A ignorância a respeito do efeito placebo

No entanto, na visão de Mônica Teixeira, a ciência permanece ignorante sobre a natureza do efeito placebo e as razões de sua eficácia. E é exatamente essa incógnita que faz com que médicos não a utilizem em sua prática diária como poder de cura e alívio.

Mesmo assim, em 2008 o neurocientista Fabrizio Benedetti, da Universidade de Turim, reuniu o conhecimento existente sobre o efeito que a administração de placebo apresenta sobre a bioquímica cerebral. Contudo, não se conseguiu uma explicação científica que fosse aceita pelo establishment da medicina. Pelo menos não no que tange os mecanismos e os efeitos do placebo.

“as evidências em que a medicina contemporânea baseia a prescrição dos tratamentos standards são obtidas por meio de experimentos controlados, nos quais quem fornece a contra prova da eficácia do tratamento são placebos e seus efeitos. Nos casos em que há um tratamento já recomendado, é contra ele que o novo tratamento é testado. Esse tratamento original, no entanto, ou o anterior a esse, foi também testado contra placebo. O medicamento “provado”, os cientistas pensam saber como age e de onde retira sua eficácia; mas, e sobre o placebo?” 

É exatamente essa pergunta que, através de pesquisas bibliográficas, procuramos responder.

O placebo e seu efeitos

O efeito placebo é uma resposta psicobiológica a um suposto tratamento benéfico (Hurst, Foad, Coleman & Beedie, 2017). Nesse contexto, os efeitos do placebo são o resultado de processos psicobiológicos que são ativados durante o contexto do tratamento e podem ser separados das propriedades físicas do próprio tratamento (Geers et al., 2018).

Expectativas auto-realizáveis e condicionamento clássico são os principais mecanismos psicológicos para os efeitos do placebo que foram examinados até agora. Em termos de expectativas, o efeito placebo parece ser motivado pela crença de um indivíduo de que receber um tratamento resultará em uma resposta ou resultado específico (Colloca, 2019). 

A composição do efeito placebo

Ao considerar o condicionamento clássico, o efeito placebo pode ser composto por respostas condicionadas a um tratamento. Isso com medicamentos ativos como estímulos não condicionados e os métodos ou técnicas utilizados para administrar ou acompanhar tratamentos como estímulos condicionados (Burke et al., 2019).

Um procedimento padrão para testar experimentalmente os efeitos do placebo é alterar uma mensagem de eficácia do tratamento dada a um grupo de participantes (por exemplo, esta pílula reduzirá sua dor). Tudo para, em seguida, comparar as respostas desse grupo com as de outro grupo que não receberam essa mensagem de eficácia.

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    Para isolar o impacto dessa expectativa de manipulação dos resultados nos efeitos do tratamento, os tratamentos inertes são normalmente administrados a todos os participantes. Estudos desse tipo oferecem evidências de que a mensagem de tratamento fornecida aos pacientes é central para determinar a experiência da doença e as expressões sintomáticas da doença (Zion e Crun, 2018; Petrie e Rief, 2019).

    Onde encontramos o efeito placebo

    Os efeitos do placebo foram encontrados em culturas, faixas etárias e amostras que variam de crianças saudáveis a pessoas com condições graves de saúde. São exemplos os pacientes com dor neuropática (Zunhammer et al., 2017; Skyt et al, 2018; Finniss et al., 2019).

    Ademais, os efeitos do placebo podem causar efeitos clinicamente significativos. Em alguns casos, os benefícios parecem comparáveis aos fornecidos por tratamentos padrão, principalmente nos domínios de alívio da dor e depressão (Palhano-Fontes et al., 2019; Zilcha-Mano, et al, 2019).

    Comprovando o efeito placebo cientificamente

    Alterações induzidas por manipulações de placebo foram observadas em uma ampla variedade de ferramentas de avaliação. Os efeitos do placebo podem se manifestar em medidas subjetivas de:

    • dor,

    • depressão,

    • humor,

    • dor de cabeça,

    • auto-estima,

    • ansiedade,

    • relaxamento,

    • qualidade do sono,

    • confiança na memória,

    • e desejos de drogas (Fairbain et al., 2019; Pavicic et al., 2019; Kirsch, 2019).

    Ademais, é possível observar instâncias do efeito placebo também em medidas de processamento cognitivo, como:

    • tempo de reação,

    • geração de palavras,

    • recordação,

    • reconhecimento,

    • interferência Stroop,

    • atenção,

    • e aprendizado implícito (Colloca and Miller et al., 2011; Chouchou et al., 2018; Janssens et al., 2019).

    Contudo, por outro lado, esses efeitos também podem ocorrer em medidas comportamentais, incluindo:

    • tolerância à dor,

    • conclusão de tarefas de quebra-cabeça,

    • latência reduzida do sono,

    • abordagem de cobras e choques elétricos,

    • quantidade de álcool consumida,

    • tempo de conversação de indivíduos socialmente ansiosos,

    • velocidade e resistência em atletas aeróbicos,

    • levantamento de peso por levantadores competitivos,

    • e desempenho motor em pacientes com doença de Parkinson (Daguett et al., 2018; Barbagallo et al., 2018). 

    Além disso, as manipulações com placebo alteraram parâmetros fisiológicos, incluindo:

    • pressão sanguínea,

    • frequência cardíaca,

    • excitação sexual,

    • variabilidade da frequência cardíaca,

    • cortisol salivar,

    • reflexo de ligação ocular surpreendente,

    • atividade eletrodérmica,

    • frequência da banda beta durante o sono,

    • e broncoconstrição em asmáticos (Ongaro e Kaptchuk, 2019).

    Finalmente, também há agora fortes evidências neurobiológicas que vinculam o efeito placebo a mecanismos complexos no cérebro e na medula espinhal. Assim, há uma forte indicação de que os efeitos não são apenas o resultado de vieses subjetivos (Jensen, 2018; Yan et al., 2018; ).

    Efeito Positivo e Negativo do Placebo

    Muitos recursos da mensagem de tratamento alteram a magnitude do efeito placebo, incluindo:

    • a cor de uma pílula,
    • o tamanho de uma pílula,
    • o sabor de uma pílula,
    • a intrusão da indução da administração,
    • e o custo de uma droga.

    Além disso, uma variedade de estudos indica que procedimentos de administração médica mais “impressionantes” (por exemplo, injeções, acupuntura) tendem a produzir um efeito placebo mais forte. Isso considerando procedimentos menos impressionantes (Bolton et al., 2019; Ongaro e Kaptchuk, 2019). 

    Expectativas quanto ao tratamento e o efeito placebo

    Também deve ser observado que as expectativas para os resultados do tratamento podem ser negativas e positivas. O efeito nocebo é o oposto, uma resposta psicobiológica a um suposto tratamento prejudicial (Beedie et al., 2018). O termo nocebo foi cunhado por Kennedy (1961) e foi discutido desde o início em relação a relatos socioculturais de morte por vodu.

    Assim como o efeito placebo, a pesquisa contemporânea encontra efeitos nocebo nos domínios dos sintomas e em estudos clínicos e experimentais (Colloca, 2017). Nesse contexto, os efeitos são alterados por fatores de comunicação, como se o tratamento fosse apresentado como marca ou genérico.

    Embora os efeitos nocebo e placebo possam envolver algumas características distintas, os efeitos nocebo podem ser considerados uma variante do fenômeno mais amplo do efeito placebo (Carlino et al., 2019). 

    Limites do efeito placebo

    Mantendo essa perspectiva, muito do que é discutido aqui refere-se aos efeitos placebo e nocebo. Finalmente, deve-se notar que os efeitos do placebo não se restringem à administração de tratamentos inativos. Em vez disso, as expectativas em relação à eficácia do tratamento também podem alterar a eficácia dos tratamentos ativos (Colloca, Lopiano, Lanotte e Benedetti, 2004).

    Por exemplo, os estudos que empregam o projeto de placebo balanceado cruzam experimentalmente duas manipulações.  Aquelas de expectativa de tratamento (por exemplo, indicando explicitamente se uma cápsula contém cafeína ou não) com as de tratamento (por exemplo, administrando pílulas de cafeína ou não). 

    Muitos estudos usando esse projeto constatam que as expectativas de tratamento podem aumentar. Isso independentemente do sucesso dos tratamentos ativos (ver Dinnerstein e Halm, 1970; Hull & Bond, 1986).

    Manipulação de Expectativas no feito Placebo

    A pesquisa do efeito placebo tem implicações para tratamentos e intervenções de saúde que têm efeitos fortes e fracos. Embora a literatura de pesquisa sobre os efeitos do placebo tenha descoberto muita coisa importante, muito permanece desconhecido.

    Por exemplo, em estudos onde surgem efeitos placebo, os tamanhos dos efeitos podem variar substancialmente (Petersen et al., 2014; Vase, Petersen, Riley, & Price, 2009). Ademais, em alguns casos, manipulações de expectativa produzem resultados que contrastam com o expectativa (Ross & Olson, 1981).

    Ainda com relação a isso, Storms e Nisbett (1970) descobriram que os insones realmente dormiam mais rapidamente quando receberam uma pílula placebo. Ela supostamente aumentava a excitação, em comparação com os insones que não receberam uma pílula placebo (Geers & Miller, 2014)

    Conclusão

    Pouco se sabe atualmente sobre a persistência do efeito placebo ao longo do tempo. Ainda há muitas coisas desconhecidas sobre os processos psicológicos envolvidos nos efeitos do placebo. Em particular, em muitos relatos, a discussão dos processos psicológicos começa e termina evocando os mecanismos de expectativas ou condicionamento.

    Tendo isso em vista, sugerimos que a pesquisa existente sobre comunicação persuasiva possa conciliar o que, de outra forma, poderiam ser achados conflitantes na pesquisa com placebo. Isso para enfim oferecer uma maior compreensão das variáveis psicológicas envolvidas nesses efeitos. 

    Esses achados reforçam a noção de que os processos responsáveis pelos efeitos do placebo não afetam apenas os resultados dos tratamentos inertes. Em vez disso, esses processos também estão em jogo com os tratamentos ativos. Assim, os efeitos do placebo podem ser interpretados como um componente de praticamente qualquer efeito do tratamento.

    Esperamos que tenha gostado desse artigo sobre efeito placebo de acordo com uma abordagem psicanalítica. Para aprender a abordar temas espinhosos da teoria psicanalítica assim como nossa aluna Maia Gomesi, matricule-se em nosso curso. A formação em Psicanálise Clínica EAD fará a diferença não só em termos de aprendizado, mas também de evolução profissional.

    O trabalho original foi escrito pela concluinte Maia Gomesi, e os direitos do mesmo ficam reservados à autora.

    5 thoughts on “Efeito Placebo: resumo em Psicologia

    1. Maria Teresinha Gaspar Lopes disse:

      Segundo Emile Coue, 1857 – 1926, farmaceutico e hipnotista, conhecido por seus estudos sobre Autossugestao e Efeito Placebo, de origem francesa, muito contribuiu para a Autossugestao Consciente de comportamentos negativos e positivos. Em suma: Efeito Placebo é Sugestão (Autossugestao).

    2. Eu não entendi a relação das práticas integrativas com o efeito placebo. Alguém dabe explicar? Desde já agradeço.

    3. Discordo com a relação entre as práticas integrativas e o efeito placebo, uma vez que as Práticas Integrativas e Complementares, como a própria denominação já explícita, são COMPLEMENTARES ao tratamento médico convencional, jamais com a pretensão de substituí-lo, apenas de auxiliá-lo a obter êxito, uma vez que a saúde não se restringe apenas ao corpo físico, integrativo quer dizer físico, mental e emocional, tratam-se de conhecimentos milenares utilizados muito antes da medicina moderna, e que têm complementado com eficácia os tratamentos convencionais, (comprovadamente eficazes em ajudar a reduzir o desconforto causado pelos efeitos colaterais da quimioterapia no tratamento de pacientes oncológicos, como um de vários exs.), por isso já a algumas décadas introduzidas no SUS, como já o fizeram à bastante tempo países mais desenvolvidos como a Alemanha, por ex. Nem todas as práticas integrativas e complementares têm comprovação científica por falta de investimentos em pesquisas e experimentos, talvez por não ser tão interessante à indústria farmacêutica a comprovação de que tratamentos mais naturais e acessíveis à população tenham sua eficácia comprovada assim como a medicação industrializada, com o montante de lucro q gera, e tão pouco acessível à maioria da população, infelizmente. A saúde e o bem estar é a prioridade, e as práticas integrativas e complementares contribuem muito para tal, como complemento, e não há nenhum efeito placebo nisso.
      No restante, o artigo está muito bem elaborado.

      1. Psicanálise Clínica disse:

        Edna, seus apontamentos são bem pertinentes. Obrigado pelas reflexões trazidas sobre as práticas integrativas ou complementares em saúde.

        1. Eu que agradeço pela oportunidade de dar a minha pequena contribuição para esse trabalho tão grandioso de compartilhar o conhecimento promovido por vocês, da Psicanálise Clínica.

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