Conceitos psicanalíticos e estruturas psíquicas não têm definições estritas. Eles, na maioria das vezes, têm significados distintos e até mesmo contraditórios. Como, então, definir esses conceitos, se eles são elásticos e dependem da perspectiva de cada intérprete? A tentativa, portanto, deve ser no sentido de encontrar o significado principal entre os muitos conceitos existentes.
O conceito de Estrutura por exemplo, dá a noção de uma disposição complexa e estável, que precisa das partes que a compõem para formar um todo.
Sendo assim, em relação à matéria psicanalítica, o entendimento é que enquanto as estruturas psíquicas representam o modo de organização permanente do indivíduo, a estrutura clínica é formada em função da maneira como o sujeito haverá de lidar com a falta da mãe, segundo Freud.
Em 1900, no livro “A interpretação dos sonhos”, Freud aborda pela primeira vez a noção de estrutura e o funcionalismo da personalidade.
As estruturas psíquicas: id, ego e superego
Essa teoria refere-se à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Mais de 20 anos depois, Freud altera essa teoria do aparelho psíquico e cria os conceitos de id, ego e superego.
Ainda falando de estruturas psíquicas: para Freud, no desenvolvimento psicossexual de um indivíduo, quando o seu funcionamento psíquico estabelece certo grau de organização, não há mais variação possível.
ID
O id, segundo Freud, é regido pelo princípio do prazer e constitui o reservatório da energia psíquica. É o lugar onde se localizam as pulsões de vida e de morte.
EGO
Ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id. Ele busca a satisfação imediata para as pulsões do ser humano e as “ordens” e o freio do superego.
É regido pelo princípio da realidade. Desse modo, as funções básicas do ego são percepção, a memória, os sentimentos e os pensamentos.
Superego
Já o superego se origina com o Complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A moral é sua função. O conteúdo do superego refere-se às exigências sociais e culturais.
Então, torna-se necessário introduzir a ideia da culpa. É a estrutura repressora da libido, da pulsão, do instinto e do desejo. Porém, Freud entende que superego age a nível também inconsciente.
A relação entre os três conceitos de estruturas psíquicas
A estreita relação entre o Id, o ego e o superego resulta em comportamento de influência mútua entre as estruturas psíquicas do indivíduo. Portanto, estes três componentes (id, ego e superego) compõem o modelo de estruturas psíquicas.
Se o tema abordado for de estruturas clínicas, então a Psicanálise afirma a existência de três delas: a neurose, a psicose e a perversão.
A relação entre neurose, psicose e perversão
Freud, ao contrário de alguns psicanalistas mais modernos, acreditava na possibilidade de mudança de estrutura a partir do tratamento.
No entanto, embora haja polêmica em torno deste assunto, o que se percebe atualmente é uma possível variação ou trânsito entre as neuroses, mas nunca na psicose ou na perversão.
Neurose e psicose
A neurose, de longe a mais comum, manifesta-se no indivíduo por meio do recalque. A psicose constrói uma realidade delirante ou alucinatória. Além disso, a perversão faz com que o sujeito, ao mesmo tempo, aceite e negue a realidade, com uma fixação na sexualidade infantil.
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Perversão
O conceito de perversão sofreu modificações do início freudiano aos nossos dias. Não podemos confundir a estrutura perversa psicanalítica com as perversões listadas por outras matérias e pelas religiões.
A perversão é, psicanaliticamente falando, uma renegação da castração com fixação na sexualidade infantil. O sujeito aceita a realidade da castração paterna, que, para ele, é inegável.
Porém, ainda assim, diferente do neurótico, tenta desmenti-la e negá-la. O perverso se dá o direito de transgredir a lei e viver segundo os seus próprios requisitos, enganando as pessoas.
As estruturas psíquicas e o posicionamento do indivíduo
Neurose, Perversão e Psicose são, portanto, soluções de defesa diante da angústia da castração e irão depender da atuação das figuras parentais.
Para Freud, as estruturas formar-se-ão em função da maneira como o sujeito lida com a falta da mãe. A condição posterior à frustração é que vai determinar a estrutura.
Cada uma destas estruturas apresenta um posicionamento frente a vida bem característico. É a partir desta postura que o sujeito se insere na linguagem e na cultura e faz isso de uma maneira única.
Então, apesar de apresentar uma estrutura clínica predominante, ela se manifesta de maneira própria, a partir da história de vida, origem, acontecimentos, formas de sentir, interpretar e se expressar do indivíduo.
O impacto da teoria freudiana
Esta divisão constituída por Freud foi o passo fundamental na história da psicologia. Através da criação da psicanálise, Freud colaborou enormemente para que a medicina criasse diversas formas de tratamentos para as mais variadas doenças mentais.
Alguns de seus sucessores engrandeceram o conhecimento e aprimoraram o debate sobre algumas novas ideias surgidas de mentes brilhantes e contestadoras.
No entanto, alguns foram discípulos e outros não. Alguns conviveram com o criador da psicanálise e divergiram em alguns aspectos, outros não.
Os sucessores de Freud
Jung
Jung brigou com seu mestre por contestar o poder da influência da sexualidade na formação da personalidade. Com sua nova “psicologia analítica”, criou o conceito de inconsciente coletivo, teoria que é muito respeitada entre os acadêmicos.
Anna Freud
Anna Freud (1895-1982), filha e discípula do mestre, defendeu ao longo de sua vida a necessidade de cuidar das relações da infância.
Para ela, essas relações eram um mecanismo essencial para seu correto desenvolvimento, área negligenciada pelo pai.
Melanie Klein
Melanie Klein (1882-1960) encarou o movimento psicanalítico sob uma perspectiva mais analítica no tratamento com crianças. O desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase fálica), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico do que estático.
Klein acreditava que as três fases estavam presentes nos bebês desde os três primeiros meses de vida. Ela não nega essa divisão, mas dá a elas uma dinâmica até então inédita em psicanálise.
Winnicott
Segundo Winnicott (1896-1971), toda a psicanálise freudiana é baseada na ideia de que o paciente teve um início de vida em que as coisas correram bem o bastante para que, na pior das hipóteses, ele tenha desenvolvido uma neurose clássica.
Isso, de acordo com Winnicott, nem sempre é verdade. O sonho também não teria um papel especial e relevante, como Freud acreditava.
Jacques Lacan
O revolucionário psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981) chacoalhou as normas bem-comportadas da psicanálise. Ele criou uma sofisticada teoria, tornando-se, então, uma lenda entre os seus discípulos.
A grandeza teórica de Lacan deu uma estatura filosófica à teoria de Freud.
Joseph Campbell
Joseph Campbell (1904-1987) em seu “O poder do mito” reforça o conceito do inconsciente coletivo criado por Jung. Além disso, cita a mitologia como a poesia da vida, necessária à sanidade mental.
Todos esses grandes pensadores e tantos outros aperfeiçoaram os estudos do gênio Sigmund Freud.
Esse conhecimento mantém viva e dinâmica a teoria psicanalítica, o que continua ajudando os sofredores a entenderem e se relacionarem melhor com as inevitáveis doenças da alma.
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6 thoughts on “Estruturas Psíquicas: Conceito segundo a Psicanálise”
Muito boa a matéria, me ajudou bastante a elucidar alguns pontos da teoria psicanalítica! Só fiquei me perguntando, ao final, onde está o Reich como sucessor do Freud!?
Excelente matéria, agregou de forma clara conhecimentos sobre a psicanálise.
Vocês esquereram de mencionar o Psicanista Norberto R. Keppe que é um dos maiores psicanalistas de todos os tempos vivos ainda…
Tema oportuno. Os artigos tem me ajudado muito. Abçs
Textos esclarecedores. Bem didático.
òtimo artigo, dá uma noção clara sobre as estruturas da mente