Há duas etapas do tratamento psicanalítico em psicanálise: as entrevistas preliminares para conhecer o paciente, suas dores e desejos, e o processo analítico em si, que aprofunda e trata as questões identificadas. Vamos entender essas etapas e suas especificidades?
Trabalhando o inconsciente para curar doenças psicossomáticas
A psicanálise tem como proposta de trabalho operar sobre algo que é em si impalpável, intangível e invisível: o inconsciente humano. As técnicas psicanalíticas objetivam conhecer e entender a causa de uma série de sintomas, ansiedades, tensões e problemas internos, que afetam a vida das pessoas.
A grande contribuição de Freud foi sem dúvida o seu conceito a respeito do inconsciente, propondo com suas duas tópicas um modelo estruturante para a mente humana.
Os elementos da Primeira Tópica
Podemos entender as duas etapas do tratamento psicanalítico a partir de uma leitura da primeira construção teórica de Freud.
Na primeira tópica (de 1900, capítulo 7 da Interpretação dos Sonhos), Freud propôs a seguinte divisão para o aparelho psíquico humano: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente.
- O Consciente inclui tudo que o indivíduo percebe no momento, tudo sobre o qual ele tem consciência a respeito.
- No Pré-Consciente situam-se os elementos que não estão conscientes, mas que são facilmente acessíveis por ele.
- Já o Inconsciente abarca os elementos psíquicos que são dificilmente ou até mesmo impossíveis de serem acessados.
As etapas do tratamento psicanalítico teria como objetivo, portanto, burlar as defesas que o Ego impõe. Essas defesas são barreiras que impedem o paciente e o analista de alcançarem as causas inconscientes que geram os sintomas.
A Segunda Tópica e seus componentes
A partir de 1923, Freud desenvolve a segunda tópica, denominada estrutural, com foco nas funções das partes da psique e da forma como funcionam e se relacionam. Essas partes são o Id, o Ego e o Superego.
- O id relaciona-se com os impulsos instintivos e com os desejos enquanto que no outro extremo, por assim dizer, temos o Ego.
- O ego procura mediar os impulsos do Id e a relação com o mundo externo.
- O superego é formado pela moralidade e pelas aspirações ideais, bem como o conjunto aprendido de regras e normas socialmente aceitáveis.
É o Superego a principal influência na repressão de memórias e eventos inaceitáveis (segundo a ótica e os padrões morais do Superego) para os “porões” do inconsciente.
Levando conflitos do inconsciente ao consciente
A passagem do inconsciente ao consciente é a essência do trabalho em Psicanálise. Compreender isso é fundamental para identificarmos as fases do tratamento ou etapas do tratamento psicanalítico.
Freud demonstrou com seus estudos e com a sua prática que as causas daquilo que o paciente experiencia como incômodo, no momento presente, situa-se na época da primeira infância do indivíduo.
Nessa fase, os conflitos inerentes do desenvolvimento físico-psíquico-emocional-social foram mal resolvidos ou até mesmo nunca resolvidos.
Por serem conflitos insuportáveis ou inaceitáveis para o indivíduo, eles acabam sendo rechaçados para fora da esfera do consciente, ficando reprimidos no inconsciente. De “lá”, esses elementos reprimidos continuam a afetar a vida diária do indivíduo, transformando-se na raiz de seus sofrimentos físicos e psíquicos.
Durante o período de duração do tratamento psicanalítico, o psicanalista trabalha para conduzir o paciente à essa origem inconsciente dos seus males. O objetivo do trabalho psicanalítico é trazer os conflitos e traumas inconscientes à consciência.
A premissa aqui é de que ao tornar a causa consciente, a energia reprimida será resolvida e consequentemente os sintomas e a angústia cessarão.
A livre associação de ideias e a Interpretação dos sonhos
Os dois principais eixos de trabalho, que formam o método psicanalítico são a livre associação de ideias e a interpretação dos sonhos. Adicionalmente, ao longo da terapia e por causa dela, devido à interação entre terapeuta e paciente surgem dois processos dignos de nota: a resistência e a transferência.
A técnica de associação livre de ideias consiste no ato do indivíduo sob análise associar, espontaneamente e sem nenhum tipo de autocensura, imagens, ideias e recordações (mesmo que sejam dolorosas e/ou embaraçosas). O objetivo é reconstruir o evento que acredita-se ser o causador dos sintomas e males atuais, trazendo-o à consciência do indivíduo, para produzir o efeito terapêutico desejado.
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A técnica de interpretação dos sonhos é utilizada para esclarecer o conteúdo latente (inconsciente) do sonho, por meio da análise do conteúdo manifesto (visto e vivenciado durante o sonho). Essa técnica baseia-se no fato de que o que sonhamos é formado por manifestações de desejos inconscientes que se tornam latentes durante o sonho e que podem ser analisados e decodificados.
Transferência em Psicanálise
A transferência é uma forma de relação que surge entre o psicanalista e o paciente durante e por causa da análise. O indivíduo sob análise experiencia na relação com o psicanalista sentimentos cuja natureza é semelhante a que foi despertada e vivenciada com as figuras parentais, familiares e de relação (ex. pai, mãe, irmãos etc).
A transferência é de suma importância para a psicanálise, pois sem essa forte ligação afetiva, seja ela positiva ou negativa, os resultados da análise ficariam comprometidos e, possivelmente, não teriam valor terapêutico algum.
Resistência nas Etapas do Tratamento Psicanalítico
Entende-se por Resistência um estado de agitação emocional demonstrado pelo paciente, que indica que a análise aproxima-se de um acontecimento significativo que estava até então oculto no inconsciente.
A Resistência pode ocorrer em qualquer uma das etapas do tratamento psicanalítico.
Esse evento pode ser possivelmente a causa de seus sintomas atuais. Por tratar-se de recordações dolorosas e ameaçadoras, o paciente “resiste” a ir ao encontro disso com tentativas de bloqueio e com nítida hesitação.
A análise dos atos falhos – de linguagem (falhas na escrita, fala e leitura), de memória (esquecimentos) e de comportamentos (cair, quebrar, tropeçar etc) – é também importante, já que são também formas do inconsciente se manifestar no dia-a-dia do indivíduo.
As etapas do tratamento psicanalítico
Podemos dividir um tratamento psicanalítico em duas fases ou etapas bem distintas: a fase de entrevistas preliminares (que Freud chamava de “tratamento de ensaio”) e o processo psicanalítico em si.
1. A etapa de Entrevista
O propósito da entrevista na psicanálise é a realização de uma sondagem que reúna dados e impressões suficientes para a determinação de uma hipótese diagnóstica acerca da queixa do paciente, além da identificação da estrutura de personalidade do mesmo (se neurose, perversão ou psicose).
Utiliza-se já na fase de entrevista a técnica de livre associação com esse fim em mente. Vale notar que a hipótese diagnóstica formulada pode divergir da queixa original do paciente. O paciente chega com uma demanda de amor ou de cura. Cabe ao psicanalista construir uma demanda de análise a partir disso.
Ao final da etapa de entrevistas, o psicanalista pode decidir se irá aceitar ou não o paciente. Vencida essa etapa, inicia-se a psicanálise em si, o “deitar-se no divã”. Nesse ponto, espera-se que a transferência esteja estabelecida ao menos em nível simbólico entre o psicanalista e o indivíduo sob análise.
2. A etapa da Análise
Assim começa então a busca (ouso dizer: uma bela aventura) pelas causas profundas, pelos eventos e recordações recalcados e reprimidos, que são as causas da angústia e sofrimento do paciente para chegar-se à cura desejada, ao alívio esperado de sintomas.
Portanto, a entrevista (no início do tratamento) e a análise (o tratamento em si) são as duas grandes fases ou etapas do tratamento psicanalítico.
Conclusão
Se você se interessa pela terapia psicanalítica, tem interesse em entender com mais detalhes as etapas do tratamento psicanalítico e, quem sabe, tornar-se um(a) Psicanalista de atendimento clínico? Deixe seu comentário, dúvida ou sugestão abaixo, inclusive dizendo o que mais você gostaria de aprender sobre o tema.
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Autor: Antonio Albiero, exclusivamente para o blog Psicanálise Clínica.