Afinal, o que são atos falhos? Qual o conceito ou significado de atos falhos na visão da Psicanálise? Que exemplos podemos pensar para entender com mais clareza esse tema? Para Freud, o acesso ao inconsciente é labiríntico, só é acessível por erros, lapsos, distrações. Por isso, devemos conhecer o conceito de atos falhos para dominarmos um recurso poderoso para acessar o inconsciente. Ficou curioso? Continue a leitura e descubra tudo sobre os atos falhos!
A mente humana é muito protetora
É muito interessante descobrir que, quando estamos falhando, na verdade, estamos acertando. Descobrir que nossa mente age de maneira tão protetora conosco é algo surpreendente!
Através do ato falho, pode-se descobrir muitas coisas. Podemos compreender o porquê de a esposa insistir em chamar o atual cônjuge pelo nome do ex marido, por exemplo. Mesmo ela dizendo ao atual esposo que esqueceu o antigo parceiro. Pois, certamente, o objeto dos atos falhos estão em nosso inconsciente.
Por ser o inconsciente um “lugar” de difícil acesso, não há como determinar se um erro é apenas um erro, ou se é um lapso indicativo de um aspecto inconsciente. Como disse Freud, “às vezes um cachimbo é somente um cachimbo“, ou seja, não significa nada além disso.
O que ajuda é estar fazendo análise: nas sessões, o olhar de fora do analista pode identificar esses lapsos significativos, trazendo-os ao debate com o paciente. Para um psicanalista, a atenção flutuante vai sempre supor que um erro pode estar encobrindo um elemento inconsciente.
De toda forma, para considerar um ato falho de esquecimento (por exemplo), pressupõe-se que a pessoa não tenha outros problemas de saúde relativos à memória.
O ato falho surge de uma verdade instalada no inconsciente
Vejamos um exemplo: uma pessoa perde seu cãozinho de estimação, porém este cãozinho era muito peralta e desobediente, e ela sempre reclamava por ele ser assim. Ela o amava muito. Inconsolada, ela fala que não quer mais nenhum cãozinho para que não se apegue e sofra novamente. Entretanto, passa uns dias e ela ganha outro cachorro de alguém que tenta confortá-la pela perda do outro.
Ela fica contente com a possibilidade de ter um novo amiguinho e coloca-lhe, logo, um novo nome. Mas erra, chamando-o pelo nome do que já morreu. O novo cãozinho é mais obediente e até adestrado, mas ela reclama dele. Ou seja, ela não queria um novo cãozinho porque ainda não havia superado a perda do outro.
Assim, ela chama sempre o novo cãozinho pelo nome do antigo, porque, na verdade, ela queria que aquele cãozinho fosse o que morreu e, por isso, também o trata implicando com ele, como se fosse o outro mesmo o novo sendo mais comportado.
Outro exemplo é quando, mesmo querendo dizer (ou escrever) a palavra x, falamos e escrevemos a palavra y. Pode não fazer sentido conscientemente, mas inconscientemente há algo a ser exposto.
Os 4 tipos de atos falhos segundo Freud
Freud considera que existem quatro tipos diferentes de atos falhos:
- Lapsos de língua: na fala, na escrita ou na leitura. Por exemplo, quando uma pessoa troca o nome de uma pessoa pelo nome de outra.
- Esquecimentos ou Lapsos de memória: esquecer-se de nomes próprios, de palavras de outros idiomas, de sequências de palavras, de impressões, de intenções, de lembranças da infância ou lembranças encobridoras, além de esquecimentos que provocam extravios ou perdas.
- Lapsos motores ou Equívocos na ação: parecem ser atos provocados por atitudes desajeitadas ou acidentais, mas que podem indicar uma justificativa inconsciente. Ex.: quando se quebra involuntariamente um objeto.
- Erro: ideias que atribuímos verdadeiras quando, tecnicamente, são equivocadas. Exemplos de erros segundo a psicanálise são os lapsos de memória ou ilusões de memória, em que a pessoa tem plena convicção de um fato aconteceu, quando na verdade foi uma criação ou distorção de memória.
Um ato falho pode ser a chave para um acerto
Então, podemos dizer que o mesmo acontece com pessoas que se casam pela segunda vez, sem ter se recuperado ou esquecido o passado. Quando ela repete o nome do ex cônjuge, é um erro, mas que pode ser a solução para muitas questões de sua vida, se observada essa falha “acertada”.
Certamente, o passado não poderá mais ser corrigido, mas poderemos e devemos tentar corrigir o presente, pois dele depende nosso futuro. É grandioso ver como uma falha pode ser a chave para um acerto.
Assim, também podemos encontrar a solução para aquele casal que vive brigando porque a esposa sempre se esquece de comprar as coisas que ele gosta de comer ou se esquece de passar a roupa que ele vai usar no outro dia.
Ela não consegue se lembrar das coisas do marido, porque elas são importantes para ele, e não pra ela. Ou seja, como essas coisas não são de responsabilidade dela, não há motivos para que ela se preocupe. Cabe a ele cuidar de suas próprias coisas.
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Falhas significativas
Então, agora que ela detectou a falha, pode então se tornar um acerto. Descobrir que os atos falhos na verdade são acertos, faz toda diferença. Em vez de ficarmos nos culpando pelas falhas que cometemos, vamos encontrar uma chave para este ato falho. Teremos assim a solução para nossos problemas familiares, profissionais e sociais.
É como disse Freud: “tais erros não são apenas erros, não são falhas sem significado. Se investigarmos o porquê de acontecerem, veremos que – por um outro ponto de vista – o erro é um acerto”.
Averiguamos, então, que atos falhos são, na verdade, desejos inconscientes. E que, se nos atentarmos a eles, encontraremos a solução para muitos problemas.
Assim, eles deixarão de ser falhos para ser somente coisas que gostaríamos de fazer, mesmo que de forma inconsciente. Se não fosse Freud fazer esta fantástica descoberta, talvez muitos viveriam oprimidos e angustiados com estes atos falhos, sem se quer saber ou imaginar que eles seriam a saída para arrumarmos a bagunça do nosso inconsciente.
Os atos falhos mostrarão os desejos recalcados no inconsciente
Em suma, podemos afirmar sem medo que os atos falhos serão nossos acertos ou são nossos acertos, que a busca em achar a solução para muitos problemas são observar e atentar para os nossos atos falhos.
Isto é, um conteúdo insuportável, por trazer lembranças dolorosas, é “escondido” em nosso inconsciente, pelo mecanismo do recalque ou recalcamento. Só se revelando na forma de sintomas, como transtornos, fobias, sonhos, chistes e atos falhos.
Esses atos são a chave para muitas questões que ficaram mal resolvidas dentro de nós. E que muitas das vezes tentamos mascarar de alguma forma, tentando provar a nós mesmos que está tudo bem.
Mas, se atentarmos para os atos falhos, eles nos revelarão e certamente dirão que não está tudo bem. É preciso dar atenção aos atos falhos, pois deles virão os ajustes e acertos necessários.
Conclusão
O nosso inconsciente tem muito a nos revelar, mesmo aquilo que insiste em ficar lá escondido. E se não fosse através dos atos falhos, talvez não conseguiríamos descobri-lo e solucionar pequenos problemas que podem também se transformar em gigantes.
Enfim, viva os atos falhos que nos conduzem aos acertos!
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Este resumo sobre atos falhos foi criado por Ana L. Guimarães, sob revisão e ampliação de Paulo Vieira (gestor de conteúdos do blog Psicanálise Clínica). Deixe abaixo seu comentário, dúvida, crítica ou sugestão.
11 thoughts on “Atos falhos: significado e exemplos na Psicanálise”
Conteúdo maravilhoso e de fácil compreensão.
Tbm achei Maravilhosa … eh, digo, maravilhoso. (Acho que cometi um ato falho aqui . Rs)
Conteúdo maravilhoso que nos faz entender de forma prática e objetiva.
queria infomaçao sobre a dislexia , seria um ato falho,se existe algum tratamento psicanalitico,
Olá, Ana Carolina. A dislexia é diferente do ato falho. Especialistas dizem que a grande maioria dos diagnósticos de dislexia não são dislexia, mas dificuldades pontuais de leitura e “preguiça” de quem está dando o diagnóstico. Clique aqui para ver um material nosso a respeito da dislexia.
Temos verificado atos falhos em pessoas idosas com frequência, será que também os erros das pessoas idosas não será alguma doença física?
Pode ser sim, Nelson. Como regra, a ideia de identificar um problema como de origem psíquica pressupõe terem se esgotado hipóteses de doenças físicas. Então, um check-up médico (incluindo neurológico) em população idosa é recomendável.
Muito bem explicado e de fácil entendimento.
Muito bom o conteúdo, bem interessante. isso explica muita coisa!
Esse artigo me fez virar de cabeça pra baixo o conceito que eu tinha de “ato falho”. Agora, assim, de ponta cabeça, tudo ficou mais claro.
Os atos falhos são importantes para quem se atenta e é observador, pois através deles podemos corrigir rotas, e nos autoconhecer.