falta de empatia

Falta de empatia: reflexões a partir do filme Coringa

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“A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não a tivesse”. A frase foi proferida por Arthur Fleck, personagem vivido por Joaquim Phoenix, no filme “Coringa”. Tomando tal frase como reflexão, podemos pensar no seguinte questionamento: um transtorno mental, tal qual uma psicose pode ser agravado pela indiferença e falta de empatia da sociedade?

Sobre ter Empatia: Com quantas indiferenças se forma um “Coringa”?

Ao analisarmos os conflitos internos (e externos) vividos pelo personagem que viria a se tornar o Coringa, podemos notar que, frequentemente, portadores de transtornos mentais ficam relegados aos grupos de pessoas tidas como “indesejáveis”, aos olhos da sociedade e do poder público, contribuindo para a criação de sociopatas. Embora o caso de Arthur Fleck esteja na ficção, nós, enquanto sociedade indiferente ao “diferente”, produzimos constantemente vários “Coringas” na vida real.

Exercitar a empatia, se colocar no lugar do outro e olhar o mundo sob o seu ponto de vista são tarefas escassas em um modelo de sociedade, no qual as pessoas estão muito ocupadas, correndo atrás da carreira de sucesso, do carro do ano, do casamento perfeito ou da foto ideal para servir de status nas redes sociais. E, neste mundo de busca frenética por maquiar a vida por necessidade de exibição, os “indesejáveis” não possuem vez.

Podemos notar tal fenômeno ao analisar os tratamentos dados aos psicóticos (doidos, malucos, birutas, aos olhos da sociedade). Tomemos, por exemplo, pessoas com Esquizofrenia e Transtorno do Espectro Autista. Em grande parte dos casos, estas pessoas são relegadas ao status de “indesejáveis” ainda no seio familiar.

A falta de empatia

Quer seja o pai ou a mãe que nega o problema do filho, quer seja parte dos familiares, que evitam sempre convidar os pais do suposto “indesejável” para comemorações, festas ou demais eventos. Todos estão aptos para aceitar os sobrinhos, netos e primos mais “belos”, “comportados”, tidos como “normais”.

Porém, ninguém quer se deparar com um “surto de loucura” ou com uma “crise de nervos” daquele parente que “não gira bem”, que é “doente”. Afinal, a busca pela suposta perfeição e necessidade de aceitação de terceiros é mais importante.

A presença do parente “indesejável” não é boa, pois “as pessoas vão ficar falando”. E, nesse jogo de união familiar, através de confraternizações excludentes, nada empáticas, quem realmente precisa de acolhimento e momentos de união fica marginalizado. Além da família, a escola também se tornou outro espaço que negligencia e exclui socialmente.

Exemplo e falta de empatia

Um exemplo é o bullying sofrido por estas pessoas no ambiente escolar. Os próprios alunos foram criados em ambientes familiares que excluem seus parentes esquizofrênicos ou autistas. Ouvem seus próprios pais elaborando piadas sobre os “indesejáveis” de suas famílias. Ora, então por que respeitar aquele colega de sala, se o exemplo de casa ensina exatamente o oposto?

Do outro lado, temos, infelizmente, muitos profissionais da educação sem preparo para lidar com este público. Nem todos os autistas ou esquizofrênicos possuem deficiência cognitiva. Porém, a grande maioria deles se sente excluída, inferiorizada por ser diferente.

Ou seja, se sentem “indesejáveis”. Apesar dos avanços acerca da Educação Especial, em países como o Brasil, ainda é preciso se fazer mais. De nada adianta, apenas prestar atendimento especializado, colocar auxiliares de docentes, distribuir remédios e fazer encaminhamentos aos psicólogos e assistentes sociais, se o principal não for feito: moldar a educação da sociedade.

A falta de empatia e a educação humana

Devemos educar para a formação de seres humanos solidários, inclusivos, acolhedores, que despertem empatia. Neste quesito, podemos inferir que o estudo da psicanálise pode ser de suma importância, enquanto uma auxiliar no tratamento de pessoas com transtornos.

Isso não significa invalidar os tratamentos psiquiátricos (a psiquiatria é fundamental, principalmente em casos de psicoses, tais como esquizofrenia), mas atuar como como coadjuvante. Porém, um psicanalista possui algo que, a meu ver, o diferencia de outros profissionais: saber ouvir, analisar e, acima de tudo, não julgar.

Pode até não parecer, mas saber ouvir sem julgamentos é, aos olhos de uma pessoa com transtornos, uma das maiores demonstrações de respeito e consideração.

Psicóticos, Neuróticos e a falta de empatia

Nem todo mundo quer conversar e ouvir psicóticos, neuróticos, autistas. Porém, o bom psicanalista vai na contramão da maioria das pessoas que seguem os padrões da sociedade.

Ele (o profissional da psicanálise) inclui o excluído, contribui para que o autoconhecimento desperte a autoestima de quem se sente inferior e, principalmente (e mais importante), não seleciona pessoas como “desejáveis” e “indesejáveis”.

Numa época em que a depressão figura como o “mal-do-século”, acolher, orientar, estimular o autoconhecimento, se colocar no lugar do outro e despertar empatia são tão importantes quanto diagnosticar transtornos e receitar fármacos.

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    Conclusão

    Mais do que isso, psicanalistas, psiquiatras, psicólogos e demais profissionais devem mostrar para a nossa sociedade que a negligência, indiferença, individualismo, egoísmo, narcisismo e consumismo são hábitos bem piores do que portar uma esquizofrenia ou um TEA.

    Talvez, estes hábitos é que devem ser vistos como os reais “indesejáveis” para um povo que se queixa sempre de mazelas sociais, tais como a violência, ao passo em que, através da indiferença e do espírito egoísta, forma vários Coringas, diariamente.

    O presente artigo foi escrito po Dhierclay Alcântara é professor de História e Psicanalista, com foco em psicanálise e relações socioemocionais na escola. Atua na rede pública de ensino pela Paraíba e pela prefeitura de Parnamirim-RN, onde reside atualmente. Além disso, também atua como hipnoterapeuta na Grande Natal. Email: [email protected]

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