ferida narcísica

Ferida narcísica: relato de caso psicanalítico

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Neste texto, iremos trazer uma reflexão sobre ferida narcísica e depressão. Qual significado de uma pessoa narcisista? O que é narcisismo para Freud? Nossa reflexão partirá de um relato de caso psicanalítico, isto é, um estudo de um caso real de atendimento clínico.

Vale uma observação importante: todos os nomes foram trocados para preservar a identidade dos envolvidos.

Um resumo sobre a vida de uma paciente em tratamento psicanalítico

Márcia tem 37 anos. É casada e mãe de 3 filhas, a mais velha tem 19 anos e a mais nova tem 8. Ela diz que está deprimida já faz dois anos e conta um pouco da sua vida e de seus problemas. Vamos ao relato:

“A minha vida toda passei dentro da igreja, sempre participei das missas, grupos de oração, e das pastorais, sobretudo, na pastoral familiar, onde trabalhava na parte do pré-matrimônio. A minha vida toda estive dentro da igreja, cumprindo aquilo que deus e a igreja pediam…”.

Um fato que gerou um conflito muito grande na vida da paciente

Márcia foi criada e educada na igreja. Sua vida foi formada dentro dela, e ela se diz cumpridora de tudo o que a mesma pedia. Seu senso de moralidade é todo mediado pela instituição. Ela e sua família são pessoas ativas e líderes da comunidade, sobretudo, no que diz respeito aos casais.

Ela passa a falar dos seus problemas familiares:

“Há 15 anos meus pais se separaram. Na época eu não conseguia entender o que havia acontecido. Compreendo que o casamento dos meus pais não estava bom já havia algum tempo, mas o porquê deles se separarem?! Como iria fazer os meus compromissos com a igreja se eles não estavam juntos? Como iria falar de família com os noivos se a minha família estava desestruturada? Ou melhor, a dos meus pais, visto que a minha família sempre esteve bem”.

Márcia relata os conflitos psíquicos e interpessoais que resultaram desse cenário:

“Eu e meu esposo ficamos fora da igreja por algum tempo, eu só chorava e ficava dentro de casa, não tinha coragem de ver as pessoas, o que elas pensariam a respeito da minha vida?!”

A manifestação da ferida narcísica

O primeiro problema que ela aponta como sendo o desencadeador da depressão é o final do relacionamento de seus pais. Porém, olhando entre linhas, vemos que a sua preocupação está voltada para o seu ego. Isto é, nota-se a presença de uma ferida narcísica.

Assim que eles se separam o seu questionamento se dá a respeito de seus trabalhos e de como as pessoas olhariam não para a sua família, mas para a sua vida. No seu ideal de vida por ser da igreja, Márcia deve ser antes de tudo um modelo para as pessoas.

É como se a vida de Márcia devesse ser perfeita e modelo para todos. Mesmo que isso acarrete infelicidade para Márcia.

Essa fase depressiva de ficar apenas em sua casa foi de 2 anos, ela passou por um psiquiatra que receitou antidepressivos e recomendou terapia, o que ela se negou a fazer nesse momento.

As consequências de um comportamento narcísico

Segundo o que ela relatou, após 1 ano, voltou a se integrar à igreja, ajudada pelo padre e logo a seguir a sua vida se estabilizou. Até o momento em que alguns acontecimentos traumáticos associados a perdas aconteceram:

“Depois de voltar a igreja e ver que o que aconteceu com a minha família não interferia no meu trabalho, voltamos com as atividades normais. Nesse tempo de volta, as coisas caminharam normalmente. Meu esposo sempre esteve em casa, trabalhando e ajudando no serviço, minhas filhas fazendo o que eu pedia, e estávamos muito bem na igreja…”.

O nível de sua felicidade e o que ela considera normal se resume ao pensamento de que todos a sua volta façam o que ela quer.

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    Vemos que ela tem um comportamento narcisista, em que todos devem estar disponíveis para realizar os seus caprichos, sem considerar a vida dos outros.

    O entendimento é a cura da ferida narcísica

    “Há dois anos, passei por um dos piores momentos da minha vida. Meu cachorro Biscoito fugiu de casa e a culpa foi minha Deixei o portão aberto por dois minutos e saí para colocar o lixo para fora. Não sei como fiz isso.

    Achei que ele estivesse dentro de casa, procurei em todos os lugares e não consegui achar. A dor que senti foi como se alguém tivesse morrido. Parei de comer e passei a dormir muito.”

    Márcia continua:

    “Depois de dois meses que o biscoito fugiu, tive uma briga com o padre da minha comunidade. Ele tirou a minha chave da igreja e não me chamou mais para nada. Com isso, eu e a minha família saímos da igreja.

    Parei de fazer tudo o que gostava. A vida perdeu a cor, não faz sentido fazer nada! Perdi o meu cachorro, a igreja, não consigo sair de casa, voltei a tomar remédio. Há alguns meses estive pensando em tirar minha vida, afinal, perdi tudo o que amava, não tem mais nada que eu goste ou que faça sentido na vida.”

    Márcia buscou a terapia após uma conversa, principalmente com os seus familiares. O problema central que ela encara é a perda daquilo que ela era. O seu modo de ser narcísico foi três vezes ferido.

    Já com a separação dos pais, sua ferida narcísica cicatrizou-se. Ela entendeu que não era culpada, e que aquilo não feria em demasia a sua vida.

    A consciência de que não somos perfeitos é imprescindível para manter a saúde psíquica

    Na fuga do cachorro ela se diz culpada e aponta de modo profundo para o erro que cometeu. O erro, por mais simples que seja, mostra que ela não é perfeita como ela se julga. A briga com o padre foi o ponto final naquilo que ela julgava ser sua própria vida, o trabalho, as orações e etc.

    Tudo aquilo que ela amava se perdeu em dois meses: o seu próprio ego.

    Conclusão: a ferida narcísica de Márcia

    No caso de Márcia (nome fictício), ela ainda precisa passar por terapia para chegar nas raízes de seu problema.

    Ainda tem um caminho longo pela frente, que deve ser descoberto, levando-a a entender melhor a sua ferida narcísica e a conhecer sua própria vida.

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