Muito se discutiu e ainda hoje se discute se a Psicanálise é realmente uma ciência, conforme preconiza os postulados científicos. É necessário compreender a relação entre linguagem e psicanálise e, também, entre linguística e psicanálise para obtermos alguma conclusão sobre o assunto.
Duas correntes de pensamento distintas
Neste sentido encontramos duas correntes de pensamento que rebatem a cientificidade da Psicanálise.
A primeira questiona os seus resultados, quando comparados com outras formas terapêuticas, bem como, a pressão exercida pela indústria farmacêutica com a produção e a imposição cada vez mais acentuada de seus produtos químicos.
A segunda levanta a bandeira de ser um método puramente subjetivo e que não há como mensurá-lo, compará-lo ou estabelecer uma linha regular, lógica, racional e cientificamente estável.
Linguística e Psicanálise
Neste texto vamos considerar a Psicanálise como uma ciência linguística, considerando que seu método de prática ocorre especificamente pelo uso da linguagem. Considere-se ainda, o fato desta mesma linguagem ser expressa por palavras que apresentam símbolos que muitas vezes, o falante não consegue decodificar, encontrar o real significado desta simbologia.
Ora, sendo a Linguística um ramo da ciência que estuda o uso da linguagem,ou seja, sabendo da estrita relação entre linguagem e psicanálise, por que a Psicanálise, que também se utiliza da mesma “ferramenta”, buscando a compreensão e o significado mais profundo, não seria uma ciência?
Para este texto vamos apresentar abaixo, os conceitos de:
- Linguística
- Linguagem
- Maiêutica
- Hermenêutica
- Psicanálise
Procuraremos demonstrar a relação íntima que cada uma deles apresenta e como podem se relacionar entre si.
LINGUÍSTICA
Linguística é o estudo científico da linguagem humana em sua totalidade. Abrange neste conceito, a linguagem do inconsciente e sua manifestação por meio de palavras, atos e pensamentos. Seu fundador foi o suíço Ferdinand de Saussure, um linguista que muito contribuiu para o desenvolvimento autônomo desta ciência.
Neste caminho vamos deparar-nos com a Psicolinguística, que é um ramo da ciência que estuda as conexões entre a linguagem e a mente. Nasceu por volta dos anos de 1950, com a insistência de Chomsky de que a Linguística necessitava de ser vista como parte da Psicologia Cognitiva.
A Psicolinguística tem como área de trabalho a análise de qualquer processo relacionado com a comunicação humana, mediante o uso da linguagem. Estuda, ainda, os fatores que afetam a decodificação, das estruturas psicológicas que nos permitem uma melhor compreensão do uso da linguagem.
LINGUAGEM
O conceito de linguagem abrange o conjunto de sinais falados, escritos ou gesticulados de que se serve o homem para exprimir seus pensamentos e sentimentos. Pode-se dizer que essa forma de expressão é particular e que revela o modo de ser de um indivíduo.
Para Chomsky, a linguagem pode ser considerada como um órgão do corpo humano, uma vez que a mesma não pode ser separada do todo biológico.
Segundo Lacan, Freud sempre deu importância a palavra e a todo jogo de palavras que pudesse servir de subsídio no processo de análise. Para Lacan, “O inconsciente é estruturado como uma linguagem”.
MAIÊUTICA
A Maiêutica, criada por Sócrates no século IV a.C., é um método que consiste em fazer várias perguntas ao ouvinte, com o objetivo de obter, por indução, um conceito geral do ponto que está em estudo.
Também tem como objetivo “trazer à luz” o que estava na escuridão do inconsciente, uma vez que a cada questionamento é necessário que se faça uma imersão cada vez mais profunda em sua psique para buscar novos esclarecimentos.
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HERMENÊUTICA
É um ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação, que pode se referir tanto à arte da interpretação, quanto à prática e treino de interpretação. Existem duas linhas de estudos para a Hermenêutica, a tradicional e a moderna.
A primeira está ligada ao estudo dos textos no campo da literatura, religião e direito. A segunda, chamada também de contemporânea, absorve, além dos textos escritos, tudo o que existe no processo interpretativo, incluindo formas verbais, e não verbais no processo de comunicação, bem como, a filosofia da linguagem e a semiótica.
PSICANÁLISE
A Psicanálise, baseada nos preceitos da Hermenêutica, “pode ser considerada um campo teórico e um método de investigação, que culminam em uma prática clínica dotada de técnicas específicas.”
Conhecida como a teoria do espírito e elaborada por Sigmund Freud, neurologista austríaco, que teve por base suas experiências clínicas com pacientes histéricos. Empregava como técnica a hipnose que evocava a lembrança de fatos passados que foram a causa das perturbações.
Mais tarde abandonou a hipnose e passou a utilizar-se da associação livre, onde o paciente começa a narrar fatos do seu dia-a-dia ou palavras aleatórias que surgiam em sua imaginação.
Conclusão
Vimos que há uma grande relação entre linguagem e psicanálise. Em muitas de suas obras, Freud partiu de análises semânticas. A questão dos chistes, atos falhos e associação livre, técnicas psicanalíticas por excelência, baseam-se na intersecção entre linguística e psicanálise.
Diante do acima exposto, verifica-se que a Psicanálise também pode ser enquadrada no campo das ciências, uma vez que se utiliza principalmente da linguagem falada, como meio de trabalho, estudo e pesquisa em seu campo de atuação.
Dificilmente conseguiremos trabalhar os termos linguagem e psicanálise e linguística e psicanálise, sem considerar a Psicanálise como uma ciência.
Um ponto em comum entre os conceitos apresentados, é que todos, seja de modo mais superficial ou mais aprofundado, se utilizam dos conteúdos submersos no inconsciente. E o que é que faz a Psicanálise, senão trazer para a consciência conteúdos reprimidos nos recônditos da alma?
Referências Bibliográficas
1. Texto – Que tipo de ciência é, afinal, a Psicanálise?
2. Apostila Módulo 1 – História e conceitos fundamentais, 2018 (Curso Psicanálise Clínica)
3. CHOMSKY. Noam Linguagem e Mente – Pensamentos atuais para antigos problemas. DF, UNB, 1998.
4. Dicionário online – http://michaelis.uol.com.br
5. PSICANÁLISE E LINGUAGEM – Artigo de Alberto Philippi May