Meneghetti: psicologia de um ladrão honesto

Meneghetti: psicologia de um ladrão honesto

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Algumas histórias no Brasil se tornam verdadeiras lendas que sobrevivem graças ao desenrolar incrível que possuem. É o caso de Meneghetti, figura ilustre dentro da cultura nacional por sua forma peculiar de furto. Veja parte de sua trajetória e um perfil psicológico do “Ladrão honesto”.

Juventude de Meneghetti

Gino Amleto Meneghetti, nascido em 1878 na cidade italiana de Pisa, dentro da região de Toscana. Assim, apesar de ser uma lenda brasileira, na verdade ele era italiano! Quando seu pai conseguiu um trabalho em outra cidade, o filho conheceu outros garotos da sua idade. Foi aqui que Meneghetti iniciou a sua trajetória com pequenos furtos, sendo preso e direcionado a um reformatório aos 11 anos.

Contudo, decidiu mudar de vida e investir nos estudos, se tornando um mecânico e serralheiro e mudando para a França. Porém acaba sendo preso por porte ilegal de armas e deportado à Itália. Assim que foi convocado ao exército tratou de simular loucura e enviado a manicômios para escapar da obrigação.

O Brasil como casa nova

Após cumprir a sua última condenação na cidade de Pisa, Meneghetti vem ao Brasil para morar com parentes. O mesmo já havia sido fichado pela Interpol quando ela entregou seu dossiê as autoridades do país. Definindo-o como um “elemento perigoso”, dentre os crimes, havia uma tentativa de violência carnal e condenação a 18 meses de prisão.

Enquanto morava com uma tia em São Paulo, acabou conhecendo Concetta Tovani, sua futura mulher, trabalhadora de um restaurante familiar. Já que o pai dela não aprovava o relacionamento, Gino acabou raptando a mulher e casando com ela. Casado e já pai, se dedicou com afinco ao crime após ser demitido por brigar com um mestre-de-obras.

A Casa Sarli, loja de armas, se protagonizou como o lugar do primeiro furto de grande relevância na distinta carreira dele. Com bastante esforço, conseguiu arrombar o porão do lugar e roubar os armamentos mais valiosos do lugar. Assim que soube do roubo de armas estrangeiras, a polícia já fez a conexão com o autor do crime.

Nasce uma estrela… Do crime

Detido em março de 1914 e condenado a 8 anos, Meneghetti foi descrito como incorrigível. Essa justificativa foi suficiente para que o mesmo fosse bastante castigado. Todavia, astuto, conseguiu escalar as paredes do poço onde fora colocado, forçar a tampa e fugir, ficando nu e faminto em São Paulo. Quando a polícia passou a procurá-lo, mudou de nome e disfarce por variadas vezes.

Embora se estabelecesse como comerciante em Curitiba, conciliava essa vida com os furtos em Buenos Aires e Montevidéu. Surpreendentemente se apresentou as autoridades e conseguiu uma nova identidade falsa e um atestado de boa conduta. Entre prisões e fugas, morou no Bixiga com a mulher e os filhos na tentativa de fugir da polícia.

Os alvos de Meneghetti sempre eram casas e lugares mais luxuosos, agindo rapidamente em cada lugar. A cada novo furto, ele sempre arquitetava engenhosamente maneiras de pegar o que queria de modo fácil e sem ser visto. Até onde se sabe, nunca feriu alguém ou usou de violência, sendo um prato cheio para a imprensa da época.

Fim da linha

As buscas por Meneghetti após suas fugas acabaram por abalar a confiança da população e imprensa na polícia. Em um episódio, disfarçado, Gino chegou a se sentar ao lado do delegado sem ser reconhecido. Depois da polícia prometer pegá-lo em 48 horas, o mesmo saiu da sala e deixou um bilhete a um jornalista, com as palavras: “Então por que não me prendeu agora? Eu era aquele rapaz de chapéu e roupa clara, sentado à sua esquerda”.

Após esse afronte, a polícia armou uma emboscada para ele na casa de sua esposa. Esperando por semanas até que ele aparecesse, conseguiram prendê-lo em casa enquanto 200 agentes se reuniam. Para escapar, tentou cruzar a cidade pelos telhados, mas acabou caindo em falso na casa de uma família e sendo preso.

Mesmo após prendê-lo e confirmar sua identidade, muitas pessoas estavam chocadas em saber que o mito dos furtos era real. Levado à delegacia, acabou sendo forçado a assumir outros crimes de assassinato que não cometeu. Foi jogado em uma cela por 15 anos, onde gritava Io sono un uomo, ou eu sou um homem a quem estivesse perto.

Características dos crimes de Meneghetti

Gino Meneghetti, mesmo não tão famoso hoje, se tornou emblemático numa subcultura criminal do país. Graças ao seu modo de agir, que ainda permanece vivo nos relatos e contos daquela época. As suas principais marcas de atuação são:

Performance

Alguns defendem que os roubos de Gino eram quase que uma dança, sempre performáticos e imprevisíveis. Isso porque ele mantinha a fama de gatuno pulando de telhado em telhado e entrando em frestas para passar. Sem contar as fugas quase impossíveis realizadas com rapidez e agilidade impressionantes.

Elegância

Apesar da vida agitada, Gino mantinha um compromisso com a sua própria imagem diante dos outros. Nesse caminho, sempre se mostrou bem arrumado, usando terno e chapéu enquanto parecia um homem comum.

Vaidade

Ele costumava deixar um cartão de visitas com o seu nome escrito em cada casa que furtava. A ideia é que todos tivessem conhecimento de que era sua ação, sendo até um deboche da sua parte.

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    A ética do ladrão

    Meneghetti tinha uma espécie de código pessoal que caracterizava bastante o seu perfil como ladrão. Era algo que seguia à risca, já que não se nota alterações significativas com o passar do tempo. Assim:

    Nunca usou de violência

    Gino nunca precisou se valer de abordagens violentas para conseguir o que queria. Nas vezes em que foi pego, a própria polícia o encarava sem a presença das vítimas por perto. Ainda que portasse arma de fogo, não há relatos de que houvesse usado o equipamento.

    Roubo apenas dos ricos

    Gino ficou conhecido como “o ladrão honesto” porque nunca atacava os menos desfavorecidos. Seus furtos sempre eram de pessoas mais ricas ou de lugares com grandes recursos financeiros ou material. Operários e pobres eram imunes as mãos habilidosas dele, ao contrário das mansões e casas de câmbio.

    A solidão era a sua única aliada

    Ele nunca levou ninguém em qualquer empreitada que realizou. Segundo dizem, o “ladrão honesto” acreditava que ninguém é confiável para aguentar tortura quando capturado. Se o fizesse, teria um grande risco de liberar informações importantes sobre ele.

    Os crimes do fim da vida

    Saindo da prisão em 1944, se mudou várias vezes enquanto cometia seus crimes, tentando até um trabalho formal. Mas já que as condições eram muito ruins, decidiu retornar à sua vida de delitos. Grande parte do dinheiro que pegava gastava com luxos pessoais enquanto outra era doação aos pobres.

    Em uma de suas prisões, Meneghetti ficou duas semanas de pé amarrado a um tronco pelos pés e braços. A última vez em que foi detido tinha 92 anos, isso no ano de 1970. Isso aconteceu por tentar arrombar um palacete da Fradique Coutinho usando um pé de cabra.

    Acabou falecendo sozinho e pobre no ano de 1976, sendo cremado por Paulo José da Costa Jr, um confidente. Nisso, as cinzas foram jogadas em alguma rua de São Paulo por ele. “Não tenho nenhuma razão plausível para estar cá nesta terra que me causa nojo. Que o vento espalhe meu pó e que ele se dilua no ar.”

    Considerações finais sobre Meneghetti

    Gino Amleto Meneguetti sobrevive como um caso curioso de alguém que burlou um sistema de todas as maneiras que podia. Ao que parece, sempre esteve conectado com o crime no qual as circunstâncias sempre o levaram a esse caminho. Certamente um caso de estudo quando se observa a comoção causada em torno de sua imagem.

    Todavia, queremos deixar claro que o texto não pretende romantizar a postura de Gino como um Robin Hood ítalo-brasileiro. Entende-se a sua postura contrária as normas legais e com a boa postura, mesmo em tempos reclusos como aqueles.

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