Hoje falaremos sobre neurociência e relacionamento. Certa vez, li um texto no qual, uma pessoa especializada em terapia de casais, afirmava: “a mulher quer atenção, o homem quer paz”.
Apesar do aparente simplismo, e do fato que, como sabemos, existe um “detalhe” básico no comportamento e nas necessidades humanas, chamado de subjetividade, o meu atual aprofundamento na área da Neurociência confirma a validade da afirmação acima.
A neurociência e relacionamento
O que é atenção para a mulher? Ser notada. O fato de receber atenção libera, na mulher, um hormônio chamado dopamina. Produzida pelo hipotálamo e outras regiões do sistema límbico, a dopamina dá uma sensação de prazer e uma felicidade hedônica (momentânea).
A dopamina “estimula” e gera motivação. Logo, ao receber atenção, a mulher se sente mais motivada. A falta de motivação resulta em tédio. Coincidência ou não, à época em que era solteiro e entrava no Tinder (aplicativo de relacionamentos), uma das “palavras-chave” (em realidade uma frase) mais escolhidas pelas mulheres para se definirem, ou definirem a própria vida, rotina e passatempos, era: “converar para afastar o tédio”.
Existem várias maneiras de dar atenção. Se for conversar, é bom que o varão privilegie assuntos capazes de ativar a fantasia emocional dela, ainda que implicitamente. Sim, existe a subjetividade. Por outro lado, existem padrões. Um padrão bastante comum, no universo feminino, é certa sensibilidade para com assuntos ligados a relacionamentos, romances, e temas afins, ou temas que suscitem e estimulem o lado sentimental. Outra ótima maneira de dar atenção a uma mulher é elogiá-la.
Sentimentos: neurociência e relacionamento
O elogio é um excelente meio de liberar dopamina. Elogiar os cabelos, a maquiagem, aquelas coisas que para elas são tão importantes e para as quais investem uma parte significativa do tempo delas. Ainda, outra maneira crucial de dar atenção, é por meio do toque físico.
Não estou falando no ato sexual genital (também muito benéfico) e sim, pequenos gestos, como carícias, beijos e abraços. O abraço, por si só, libera oxitocina, hormônio que remete para os cuidados maternos recebidos nos primeiros meses de vida. A oxitocina reduz o cortisol, hormônio do estresse produzido pelas glândulas suprarenais.
O estresse, além do mais, tende a reduzir a libido, além de aumentar a pressão arterial, e produzir certa irritabilidade. Já, o homem quer paz. Como assim? O homem é biológica e inerentemente caçador. Precisa preservar a espécie, “reproduzindo” a si mesmo através dos filhos.
O inconsciente
O varão precisa aprender com a mulher (sábia) a selecionar. Ela seleciona um homem dotado de bom DNA, para passar boas características à sua prole. Isso tudo é inconsciente, assim como o pobre tende a ter mais filhos, de modo a (inconscientemente) garantir a sua preservação através deles.
É como se, implicitamente, ele assumisse que para um pobre a vida é mais difícil e menos longa, fato pelo qual, ao procriar mais, e tendo um número maior de filhos, ao menos alguns sobreviverão. Fecho o parêntese e volto ao tema do artigo.
Uma vez conquistada, a sua mulher, o homem quer paz. Uma vez que foi conquistada, a mulher quer atenção. Eis a questão! O homem precisa gerenciar o seu fator biológico (naturalmente caçador, ou “vira-lata” que se queira) e direcionar a sua libido para outro objeto, como é o caso de um hobby.
Hormônios, neurociência e relacionamento
Se ele fizer isso, a mulher precisa abrir mão de um pouco de atenção. Já, o varão deve abrir mão de um pouco de paz…para ter paz! Se um dos dois exceder em sua necessidade, vai gerar um desequilíbrio. O homem que só quer paz, será cobrado e, logo, seu cortisol irá aumentar.
Ao mesmo tempo, sua libido vai reduzir (devido ao estresse), principalmente a libido direcionada para a esposa, já que a cobrança vai criar caminhos neurais que associam a mulher ao estresse, à cobrança, enfim, à falta de paz. Cortisol e adrenalina tendem a andar juntos, logo o varão irá para o luta ou foge.
O bruto vai responder à cobrança com agressividade. Os demais vão buscar fugir, de modo a procurar sua paz em: bares, amantes, porn*grafia. O problema é que bares, adultério e porn*grafia proporcionam uma ilusão de bem estar, mas… O álcool pode gerar uma sensação de euforia, deixando mais leve, mas o efeito real e subsequente é o aumento de cortisol, mais uma vez, aquele hormônio ligado ao estresse.
Sentimentos incompreendidos
Na realidade, nem todos os que consomem bebidas alcoólicas sentem euforia ao beber. Alguns sentem melancolia, tristeza. Outros ainda, tornam-se agressivos. Afinal, o álcool amplifica o estado interno. Pessoas frustradas, ou que se sentem incompreendidas, ao beber, podem desenvolver comportamentos agressivos para “demonstrar” o próprio mal estar interior, a própria mágoa ou a própria frustração.
Com relação ao adultério, não vou entrar em questões morais, que bem precisam ser evidenciadas. Ao fugir de uma situação estressante, certo homem vai buscar em outra pessoa a “paz” (e a mulher, a atenção) que não encontra no seu próprio lar e na própria esposa (ou marido, para as damas).
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
No começo, as exigências por atenção e paz são satisfeitas, ou ficam mais “flexíveis”, devido ao “entorpecimento” da consciência, gerado pelo enamoramento (certa vez li numa revista da National Geographic que o estado da paixão pode chegar a ser comparado a um estado psicótico).
A neurociência e relacionamento: estados emocionais
Na medida em que a paixão inicial esvaece, as exigências tendem a vir à tona. Logo, a mesma situação e, consequentemente, o mesmo estado emocional do qual a pessoa procurava fugir, acaba sendo recriado, às vezes até pior. E o estresse aumenta, devido à necessidade de se gerenciar não um, mas agora, dois (ou mais) “relacionamentos”.
E no que diz respeito à porn*grafia, o homem que assiste esses conteúdos tem acesso virtual a inúmeras mulheres (e a mulher, a vários homens). Isso libera muita dopamina, através de descargas intensas. Logo, aumenta a sensação imediata de “prazer”, todavia trata-se de uma satisfação hedônica (momentânea).
Já que, naturalmente, dispomos de um nível adequado, digamos cotidiano de dopamina, então, para podermos obter o referido prazer “virtual”, por meio das descargas de dopamina advindas da fruição da porn*grafia, a “dopamina-nossa-de-cada-dia” reduz drasticamente, facilitando a ativação de um estado depressivo.
Pazer e motivação
Numa analogia financeira, basta pensar na quantia de dinheiro que certa pessoa tem à disposição para viver dignamente durante um mês. Então, é como se esta pessoa, do nada, se deparasse com gastos exorbitantes. Tais gastos, vão reduzir o valor disponível para o gastos básicos do mês e, portanto, o nível ou qualidade de vida vai decaindo. A mesma coisa acontece com a dopamina.
As descargas intensas, que ocorrem quando um homem, virtualmente, tem acesso a inúmeras mulheres diferentes entre si, com uma fisionomia e um gemido diferente, acabam reduzindo a “economia” de dopamina disponível para o dia a dia. Dopamina tem a ver com prazer, satisfação, e motivação.
Logo, a falta de motivação, prazer e satisfação, podem levar a pessoa a entrar num estado depressivo. Aqui falei do homem, mas sabe-se que há muitas mulheres que, também, são viciadas em porn*grafia.
O homem: neurociência e relacionamento
Quanto ao homem, ainda, ocorre que a satisfação oriunda da fruição escopofílica (prazer de ver atos sexuais), provoca o progressivo desinteresse por mulheres reais (ou homens, para as damas), principalmente pela companheira, o que terá consequências catastróficas para o casamento, contribuindo com a redução, justamente, daquela atenção (naturalmente) exigida pela mulher.
A tendência é não ter mais sexo entre o casal. E o sexo faz bem (oxitocina etc.), tanto individualmente, reduzindo os níveis de cortisol (entre inúmeros outros benefícios), como para o casal, estreitando o relacionamento. Concluindo, o vício em porn*grafia tende a gerar disfunção erétil e ejaculação precoce no homem.
Voltemos, então, ao relacionamento entre o casal, e às referidas necessidades, tanto da mulher, como do homem. Certa vez, uma paciente relatou estar sentindo muita angústia. Ela admitiu ter traído o marido após quase duas décadas de fidelidade.
Necessidade de atenção
Disse-me que o amante chegou a levá-la diversas vezes ao motel, sem que fizessem nada mais do que conversar. Ele lhe deu atenção. Mas não foi só isso. O que a mulher lamentou acerca do marido foi que ele era ignorante, desprovido de sensibilidade.
Na hora dele sentir desejo sexual, apenas a agarrava e “se servia”, sem nenhum preliminar e sem dar-lhe um beijo sequer. Aquela necessidade básica de atenção, na forma de toque, carícias e beijos, apesar da tentativa de repressão durante anos seguidos, acabou falando mais alto, e o amante a conquistou.
Quanto à questão ética, trair é algo errado e é preciso aprender a fazer escolhas. Pessoalmente, sempre aconselho lutar para preservar o casamento, porém, num caso extremo, é melhor ser consequente e agir de forma ética: acabar o relacionamento antes de trair.
Conclusão sobre a neurociência e relacionamento
Observe-se que é bastante comum que a traição gere estresse, angústia, ansiedade e até depressão no/a traidor/a. Já, a pessoa traída, comumente, vai sentir aquela energia negativa, pesada, aquele “carrego”, mesmo sem ver ou saber que está sendo traída. Vale frisar, enfim, que a fuga deve-se à falta de satisfação daquelas necessidades básicas: atenção (para a mulher) e paz (para o homem). Disso pode-se facilmente deduzir que vale a pena prevenir (e cuidar), antes do que remediar! Fica a dica.
Neste artigo, fiz algumas ponderações sobre relacionamentos, com ênfase nas necessidades do homem e da mulher. Trouxe alguns conhecimentos da área da Neurociência, campo no qual estou me aprofundando, sendo importante salientar que o funcionamento do SNC, neurônios, sinapses e neurotransmissores, é fundamental para a compreensão do comportamento humano.
Minha intenção foi a de elucidar alguns mecanismos peculiares do homem e da mulher, e desvendar a ilusão subjacente ao mecanismo de "fuga", assim como alguns de seus "efeitos colaterais.
Artigoescrito por Riccardo Migliore. PhD em Letras, Psicanalista clínico, Master em Inteligência Emocional, Master em Hipnose clínica, Professor, Psicopedagogo (ABPp), Neuropsicopedagogo clínico/institucional, autor…e karateka! [email protected]
2 thoughts on “Neurociência e necessidades básicas num relacionamento”
Ricardo Migliori, o seu artigo me chamou a atenção. Gostei do fato de vc descrever e entender tão bem as mulheres.e pq não dizer os homens.
Parabéns pelas colocações quem vê vc de kimono não percebe o psicanalista que vc é
Parabéns pelo artigo.
Toda minha gratidão, Flávia! Só li agora, me desculpe. Veja, o Karatê, na realidade, faz de mim um psicanalista melhor, além de um homem, um pai e um marido! OSS