Mesmo sendo um terapeuta muito profissional e experiente, Freud lidou com casos complexos em seu trabalho. O homem dos ratos é um exemplo emblemático, sendo a culminação de eventos sequenciados na vida de um homem comum. Entenda um pouco mais dessa história e como isso faz um paralelo com outras pessoas! Caso você deseje ter uma visão mais profunda do caso, leia a obra Freud e o Homem dos Ratos, escrita por Patrick J. Mahony.
Sobre a história
Em meados de outubro de 1907, Freud começa a lidar com o que viria ser um dos seus casos mais conhecidos. O homem dos ratos foi um paciente seu carregado de problemas, principalmente sintomas obsessivos. Por causa de sua construção psíquica, o mesmo acabou experimentando perturbações que abalaram profundamente a sua vida.
Esse homem tinha um pensamento persistente de que alguma coisa terrível estava a se aproximar do seu círculo. Mais especificamente do seu pai e de uma moça à qual ele tinha bastante apreço. De algum modo, ele levava a crença de que estes dois entes sofreriam alguma dor cavalar em suas vidas.
Como bom analista, Freud fazia anotações contínuas sobre o caso, principalmente nos quatro primeiros meses. No Diário de uma análise, Freud mantinha registro do andamento das sessões e do progresso do paciente em relação. Mais abaixo conversaremos sobre o suplício dos ratos.
Interpretação
Em suma, o homem dos ratos se trata de um caso de neurose obsessiva clássica. O comportamento desequilibrado do paciente era respondido graças a esse diagnóstico conclusivo. Além disso, embora haja temas ligados a casos comuns de neurose, esse possuía a sua particularidade inerente.
O argumento imaginário responsável pela procura da análise aconteceu graças a uma narração de tortura feita com ratos. Prisioneiros, segundo a narração, tinham ratos inseridos em seus retos como forma de tortura. Com uma mente fragilizada, o paciente acabou interligando esse episódio com um medo pessoal de represália.
Cabe ressaltar que a neurose do paciente não foi causada por causa desse fantasma em particular. Contudo, isso ajuda a explicar a sua angústia e outros temas encontrados pelo paciente.
O passado
Como mencionado linhas acima, o homem dos ratos teve uma estruturação difícil em sua construção psíquica. Seus pais, por exemplo, somente ficaram juntos em circunstâncias muito específicas e essa relação sofreu transformação no estado imaginário. Por causa da angústia, houve uma resposta que afetou a sua percepção.
Seu pai foi um suboficial do exército, ganhando autoridade e capacidade de ostentação. Entretanto, o mesmo não era tão valorizado assim por seus contemporâneos. Sem contar que o casamento dele com sua mãe foi por conveniência, já que a fortuna dela aumentaria seu prestígio.
Sua mãe tinha o costume de brincar com o pai sobre a figura de uma jovem pobre do passado dele. Segundo relatos, a moça havia sido uma paixão do homem antes de ele casar. Esse artifício usado pela mulher acaba sendo um instrumento de tortura ao marido, embora este sempre diminuísse o valor da antiga relação.
Reflexos
No trabalho com o homem dos ratos, Freud notou que a relação dos pais impactou diretamente no crescimento do paciente. Tanto que este mencionava fatos específicos durante as suas visitas de modo repetitivo.
O primeiro é o jogo de tortura amorosa criado pela mãe em direção ao seu pai. A matriarca tinha um apreço por relembrar ao marido sobre a figura da pobre mulher em seus sonhos, coração e passado. O homem dos ratos mantinha uma atenção especial a essa figura citada em casa.
O outro ponto está numa dívida que o seu pai nunca conseguiu quitar com um amigo. Perdendo o dinheiro do regimento em jogo e com uma enorme dívida, contou com a ajuda de um amigo para pagar, mas nunca pôde retribuir. A dívida e esse amigo citados nunca foram esquecidos pelo paciente nas sessões que fazia.
Ondulações
O homem dos ratos possui uma história de repetição muito conflitante em sua vida. Graças ao eventos traumáticos em sua trajetória, ele foi inconscientemente empurrado a reviver a sua construção anterior. Tudo começou com a imagem da empregada pobre por quem se apaixonou, algo ligado com a história vivida por seu pai.
Outro ponto se dá na imagem vivida ao lado de seu, sendo algo entre amor e conflito. Isso porque o pai disse para casar com uma mulher rica e esquecer a empregada com quem começou a se envolver. O pai, já no início das sessões de terapia, havia falecido,porém ainda imperava no imaginário do filho.
O paciente acabou temendo sofrer a represália com os ratos com essas duas figuras em sua vida. Por ter perdido os óculos em uma manobra militar e outra pessoa ter pagado isso, iniciou seu processo de paranoia. Inicialmente se recusando a pagar, mudou de ideia quando lembrou da tortura em inserir ratos no ânus das pessoas.
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Lenhas da fogueira da angústia
Observando a história sobre o homem dos ratos, notamos pontos recorrentes de extrema importância na sua vida. Tal importância se dá justamente pelo valor de reconhecimento do indivíduo em sua própria vida e argumentação. São eles:
Tortura efetuada com os ratos
Em uma manobra militar, esse indivíduo se deparou com um capitão com gostos similares ao sadismo. Por meio desse capitão, se fixou em sua mente a imagem de tortura com ratos sendo inseridos no reto de uma pessoa. Além disso, também se iniciou o seu declínio pela sensação semelhante a de seu pai em relação às dívidas.
Impedimento em ficar coma sua amada
Fica entendido que o paciente de Freud ainda conseguiu iniciar um contato mais pessoal com a empregada de sua casa. Entretanto, ao saber da história da mãe com o pai, o mesmo alimenta o conflito mulher rica versus pobre com a empregada. O seu histórico influenciava a reprodução de eventos do passado no presente.
O fantasma do pai influenciando em suas decisões
A figura do pai se tornou uma presença fantasma em sua vida, já que o influenciava mesmo após falecido. Por conta de sua história antes e depois do casamento, o mesmo acabou levando o seu filho no mesmo caminho. Todavia, esse movimento ajudou a levantar o declínio experimentado por seu filho.
Sintomas
Os relatos anotados sobre o homem dos ratos evidenciavam traços que podemos chamar de sintomas. A sua neurose obsessiva acabava por deixar fragmentada a sua psique, na qual liberava rastros ao seu problema. Nisso, podemos dar destaque à:
Ansiedade exagerada
O paciente de Freud se conectava demais a questões sem tanta importância.
Busca por apoio externo para corroborar com suas questões
Os indícios apontavam que o paciente pedia para outras pessoas confirmarem eventos de seu interesse.
Frustração
Esse homem era exposto ao mesmo tipo de frustração vida por seu pai, como a dívida ou sobre com quem casar.
Considerações finais sobre o homem dos ratos
A história de Freud sobre o homem dos ratos poderia passar despercebida se não fosse sua estranheza atemporal. Coincidentemente, um evento se interliga com outro e acaba por culminar em um homem com uma estrutura mental bastante fragilizada.
Contudo, o trabalho terapêutico foi suficiente para fazer o paciente aprender a lidar com suas questões pessoais e outros impedimentos. Após a terapia, se tornou capaz de trabalhar suas questões e ter mais autonomia de desejo.
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2 thoughts on “O Homem dos Ratos: relato do caso de Freud”
Muito atual o caso “O homem dos ratos ” E com o diagnóstico de neurose obsessiva clássica, ficou mais evidente a nossa realidade! Parabéns pelo artigo!
Um caso muito retratado nos meios da psicologia psicanalítica. Caso Dora, muito bonito também para se estudar. O homem dos ratos sempre em evidencia, caso bem elaborado na sua interpretação.