Um dos livros mais marcantes da literatura universal é O Processo de Franz Kafka. Nesse artigo, iremos explicar para você o porquê dessa alcunha. Também vamos explorar os detalhes do enredo e como enxergá-lo de múltiplas formas. Venha conosco e embarque nessa jornada!
1 – Pequeno contexto
Quem escreveu o livro O Processo foi o tcheco Franz Kafka (1883 – 1924), mas sua publicação ocorreu em 1925. Isso só aconteceu pois seu amigo Max Brod não concordou com o pedido do autor: que toda sua obra fosse queimada após sua morte.
Além disso, não só este livro como outras obras, diários e documentos foram publicados por Brod e assim, passamos a conhecer o importante legado que Kafka nos deixou.
2 – Estruturação do livro
Segundo Marcelo Backes, tradutor e organizador da edição publicada pela L&PM Pocket, Max Brod já tinha obtido o manuscrito em 1920. O romance ainda não tinha um título definido, mas nas suas conversas informais, Kafka dizia que o livro já se chamava “O Processo”.
O manuscrito estava dividido em capítulos, alguns inacabados, mas Brod decidiu arrumá-los à sua maneira, causando pequenas confusões. O livro também continha trechos não finalizados, que ficaram fora do original, mas que podem ser acessados pelos leitores.
3 – Resumo
3.1 – Introdução
“Alguém devia ter caluniado Josef K., pois, sem que tivesse feito mal algum, ele foi detido certa manhã”
Assim se inicia a nossa trama. Josef K. é um importante funcionário de um banco e com uma carreira consolidada. Porém, um dia, ele é acusado de um crime no qual não ninguém diz a origem e não há respostas sobre o processo judicial.
Sempre que K. começa a questionar as motivações da denúncia, os integrantes do corpo jurídico apenas dizem que estão “cumprindo ordens”
A partir desse momento, Josef K. é levado a seguir uma série de procedimentos burocráticos, todos sem fundamento. A justiça local é dividida em várias instâncias, mas o inspetor que o convoca não diz em qual situação o processo se encontra, apenas se limitando a dizer que “o réu está em uma situação complicada”.
3.2 – Resolução
Josef K. tenta manter a calma, afinal, ele tem plena ciência que não fez nada de errado. No primeiro interrogatório, o inspetor o trata com desprezo e tenta chantageá-lo a confessar seu crime.
Ao buscar informações sobre seu caso, mais uma vez ele é frustrado; isto é, ele descobre que o seu processo é apenas mais um de tantos outros que ainda estão para ser trabalhados. Por isso, contrata um advogado. No entanto, o mesmo atrapalha mais do que ajuda.
Todo o trâmite do processo é estranho e absurdo. Personagens que poderiam aparecer como aleatórios, de alguma forma têm contato com os membros da justiça. Josef K. se encontra em um labirinto que o impede de alcançar alguma informação, mesmo que básica.
Sendo assim, passado um ano, na véspera de seu aniversário, Josef K. entende que não adianta lutar contra o sistema judiciário. Tudo já foi definido e seu crime é mais do que visível. Ele aguarda dois senhores que o levam a um lugar deserto. Chegando lá, Josef K. é apunhalado no coração. É a conclusão de algo que já estava certo desde o primeiro dia.
4 – Sentimento de culpa
Conforme dito nesse texto anteriormente publicado no blog a culpa é um sentimento. Para a psicanálise, esse sentimento ocorre quando o superego projeta uma imagem, mas o nosso ego acaba não atingindo as expectativas. Por isso, uma sensação de fracasso acaba predominando.
Todos nós vivemos debaixo de um sistema sólido de normas, sejam elas sociais, políticas ou religiosas, que devem ser seguidas. Quando não seguimos essas determinações, somos julgados pelos nossos atos. Daí o motivo pelo qual passamos a ter uma opinião negativa sobre o que fizemos ou deixamos de fazer
Em “O Mal Estar na Civilização”, Freud pontua: “a severidade do superego equivale a severidade da consciência”. Ou seja, o nosso ego, a partir do momento que reconhece o erro, tenta “correr atrás do prejuízo” e ser formalmente aceitável diante do exigente superego.
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Ademais, quando isso não acontece, o nosso pensar é alimentado por pensamentos ruins. E isso pode acontecer por dias, meses ou mesmo anos.
5 – Josef K. e a culpa
Quando sabemos que não fizemos nada de errado, não temos o que temer; “minha consciência está limpa”, é uma frase comum de se pensar. Josef K. sabe disso, por esse motivo que há a alegação de calúnia, inserida no início da nossa análise.
A forma como o processo é conduzido é absurda. Tanto que na página 150 da edição, K. diz: “… e antes de tudo era necessário, caso quisesse alcançar algo, rejeitar de antemão qualquer pensamento de uma possível culpa. Não existia culpa.”. No entanto, K. aceita todo o processo. Como explicar essa contradição?
Josef K, como dito antes, tinha uma carreira consolidada. Além disso, ele vinha de uma família estruturada, sem histórico de acusações criminais nem de qualquer outra natureza. Pessoas que viviam ao seu redor sabiam de sua índole. Tudo estava claro para acreditar na inocência de K.
No entanto, será que com uma acusação formal, tudo continuaria dessa forma? Não é o que presenciamos. À medida que o processo avança, os personagens determinam – isto é, confirmam – sua culpa. Seu pensamento não crê nisso, mas mesmo assim, ele faz questão de cumprir aquilo que os superiores mandam.
Ou seja, ele comparece em audiências confusas, aceita ordens esdrúxulas e compreende a opinião de pessoas próximas. Novamente aqui, o superego exige uma confissão de Josef K., mesmo que não tenha nada o que confessar. Todos os personagens estão entranhados no processo e já sabem o seu fim. Apenas K. se mantém alienado.
6 – Diante da lei
No penúltimo capítulo, K. é chamado para levar um cliente italiano a uma catedral, mas o mesmo não aparece. Dentro da catedral, K. descobre que um sacerdote presente estava o esperando e diz estar muito ciente da sua condição de acusado.
Na conversa, o sacerdote evoca a parábola “diante da lei”. Nela, um homem do campo quer ter acesso à Lei, mas é impedido por um guarda. O homem tenta suborná-lo e desobedecê-lo, mas o guarda adverte que ao fazer isso, ele se arrependeria, tamanha a força dele. Essa ordem acaba levando o homem do campo a sua desumanização.
Ele vai definhando, perdendo suas forças até o fim. Antes de morrer, o homem pergunta ao guarda porque ninguém pediu para entrar na Lei, além dele. Ao que o guarda responde que aquela entrada estava destinada apenas a ele e a mais ninguém.
Ou seja, ao homem do campo, nem o direito de ser preso seria viável, pois era satisfatório demais. Ele estaria retido em algum lugar. Mas para Kafka, pior do que ser preso ou torturado é você estar enjaulado à própria condição humana. Isto é, a existência do Homem e seus questionamentos podem ser torturantes demais para suportar.
7 – Considerações finais sobre o Processo, de Franz Kafka
O Processo de Franz Kafka é um livro excelente que contém análises bem interessantes. Aproveitamos a leitura para indicar o nosso curso online de Psicanálise Clínica, onde você pode investigar sobre as diversas questões da mente.